055 – The Housemartins – Now That’s What I Call Quite Good

Em 1989, o Brasil foi atacado por uma música chamada “Build”, que ficou criminosamente conhecida como “Melô do Papel”, chegando a ser comercializada com esse nome em algumas coletâneas tupiniquins para lá de horríveis. Uma grande injustiça com os Housemartins: apesar da melodia pop e com um lindo arranjo vocal, trazia uma letra amarga, que o público não entendia por ser cantada em inglês. Mas injustiças parecem sempre terem marcado esse simpático grupo da pequena Hull. No começo foram taxados de mera cópias dos Smiths. Até havia uma certa similaridade nos vocais, mas as duas bandas seguiram caminhos diferentes. Após dois discos brilhantes – London 0 Hull 4 e The People Who Grinned Themselves To Death (que foi lançado aqui e trazia “Build”), desmancharam, mas não antes de deixarem um grande legado: a coletânea de compactos e de out-takes chamadas Now That’s What I Call Quite Good.


Há bandas que acabam no momento certo (como os Smiths), outras que já perderam totalmente o tempo e a mensagem original (Stones e Who). Mas há também grupos que foram dissipados quando ainda podiam oferecer mais. Nessa categoria estão os Housemartins. Formada originalmente em 1984, pelo guitarrista e vocalista Paul Heaton, pelo guitarrista Stan Collimore, além de Ted Key (baixo) e Hugh Whitaker (bateria), se autodenominaram ironicamente como a “quarta melhor banda de Hull”. Apesar da brincadeira e modéstia, foram verdadeiros mestres em compor grandes canções. No ano seguinte entraria Norman Cook no lugar de Ted. Pausa para mais um ano de trabalho duro. Assinam com a independente Go! Discs (a mesma gravadora de Billy Bragg) e meses depois conseguem um sucesso nas paradas com o terceiro single, “Happy Hour”. Intitulada originalmente “French England”, a canção chegou a ser número 3 na parada britânica, fazendo com que o disco de estréia, London 0 Hull 4 alcançasse a mesma posição.

Começava a comparação com o grupo de Morrissey & Marr, com quem chegaram a excursionar, como banda de abertura. Embora houvesse semelhanças nos vocais e até nas guitarras acústicas, a proposta do Housemartins era muito mais acessível, tendo como característica notável, os arranjos à capela, ou seja, harmonizações vocais, sem instrumentos. Um dos grandes momentos do primeiro disco é uma versão arrepiante do clássico de Curtis Mayfield, “People Get Ready” (incluindo apenas na versão CD). E foi exatamente uma versão neste estilo que deu o primeiro e único número 1 nas paradas: “Caravan of Love”, dos compositores Isley/Jasper/Isley. Apesar de não ter escrito nenhum grande sucesso do grupo (a dupla de compositores mais consistente era Cullimore e Heaton), Norman Cook era o grande arranjador, tocando piano e chamando alguns músicos extras para as sessões de gravações. O disco vendeu a respeitável marca de 500 mil cópias na Inglaterra e o mesmo número no resto do mundo.

Com tanto sucesso foram eleitos em 1987 a melhor banda jovem do país. Apesar disso, Hugh deixa a bateria para Dave Hemmingway. Influenciados por Billy Bragg, abraçaram a causa do grupo trabalhista “Red Wedge” e promovem alguns concertos no intuito de angariar fundos para o partido. Outro artista que ficaria famoso pela sua adesão ao movimento era Paul Weller, já com seu Style Council. Voltam a se reunir em estúdios e produzem mais um trabalho, o single “Five Get Over Excited”, novamente um sucesso de público e crítica.

Mas os problemas já existiam. Paul havia feito “Me and the farmer” inspirado nas lutas das classes operárias. Para o segundo disco, ele preferia dar mais ênfase aos arranjos vocais, enquanto Norman queria trabalhar um pouco mais a parte experimental, testando loops e seqüenciadores nos arranjos e Stan desejava colocar mais camadas de guitarras. Paul começou a tomar atitudes dignas de um ditador, chegando ao cúmulo de editar sílabas de diferentes takes para compor uma canção, digitalmente. Simplesmente ignorava as idéias de seus companheiros, sendo o ápice da discórdia durante as gravações do vídeo para “Build”. A única opção comum era que a banda estava se esgotando. Ironicamente escreveram na parede do estúdio “Housemartins R. I. P.” (Housemartins, descansem em paz).

Para irritar ainda mais os outros integrantes, Paul disse em uma carta ao semanário New Musical Express, que “em uma época liderada por Rick Astley, Shakin’ Stevens e Pet Shop Boys, eles (Housemartins) não eram bons os suficientes.”


Após isso, o fim era a única saída. Os músicos se separaram, sendo Norman Cook o que obteve maior sucesso, principalmente com o Fatboy Slim. Como despedida, editaram uma coletânea de compactos, Now That’s What I Call Quite Good. A seguir vejam os comentários dos próprios músicos sobre algumas canções.

Happy Hour: “Nosso terceiro single alcançou a posição número 3 nas paradas e ajudou nosso LP de estréia a ficar entre os 10 mais.”

Think for a minute: “Segunda canção nossa a ficar entre as 20 mais (número 18). Fez parte da mesma sessão de “I Smell Winter”. Norman cuidou dos teclados e Guy Barker tocou trumpete.”

Five Get Over Excited: “Nosso sexto single e o primeiro com Dave na bateria. Foi uma produção nossa com John Williams. Gravado entre 13 e 24 de abril de 1987, tinha Sandy Blair tocando tuba e ficou na 11ª posição.”

Build: “Número 15 nas paradas. Extraída do segundo disco acabou sendo conhecida como a canção “Euro-Martin”. Pete Wingfield está nos teclados.”

You’ve Got a Friend: “Essa demo crua do clássico de Carole King dos anos 70 foi gravada no dia 27 de março de 1987. A formação é a mesma da “Euro-Martin” e os backing vocals são de Dave. Norman desafinou cinco vezes com seu baixo. Vejam se são capazes de descobrir.”

Caravan of Love: “Nosso único single número 1. Gravada durante a mixagem de “Think for a minute”. Era a nossa canção de inverno e no dia 16 de dezembro chegou ao topo, e segundo alguns, esgotaram-se as cópias no Natal.”


Fiquem com as letras de “Caravan of Love” única canção número 1 do grupo e com a de “Build”, maior sucesso da banda no Brasil.

Caravan Of Love
Are you ready?
Are you ready?
Are you ready?
Are you ready?
Are you ready for the time of life?
It’s time to stand up and fight
So alright
So alright
Hand in hand we take a caravan to the marble land
One by one we gonna stand up with pride
One that can’t be denied
Stand up!
Stand up!
From the highest mountain of valley old
We all shall together with heart of gold
Now the children of the world can see
This a better place for us to be
The place is which we were born
So neglected and torn apart

Every woman every man
Join the caravan of love!
(Stand up!) stand up!
Stand up!
Every body take a stand
Join the caravan of love!
(Stand up!) stand up!
Stand up!

I’m your brother
I’m your brother don’t you know?
She’s my sister
She’s my sister don’t you know?

We’ll be living in the world of peace
And the day when everyone is free
Bring the young and the old
Want you let chilled flow from your heart

Every woman every man
Join the caravan of love!
(Stand up!) stand up!
Stand up!
Every body take a stand
Join the caravan of love!
(Stand up!) stand up!
Stand up!

I’m your brother
I’m your brother don’t you know
She’s my sister
She’s my sister don’t you know

So are you ready? ( he’s coming )
Are you ready? ( he’s coming )
Are you ready? ( he’s coming )
Are you ready? ( he’s coming on the caravan )
You better get ready ( go for it )
You better get ready ( go for it )
You better get ready ( go for it )
You better get ready

Build
Clambering men in big bad boots
Dug up my den, dug up my roots
Treated us like plasticine town
They built us up and knocked us down
From Meccano to Legoland
Here they come with a brick in their hand
Men with heads filled up with sand
It’s build

It’s build a house where we can stay
Add a new bit everyday
It’s build a road for us to cross
Build us lots and lots and lots and lots and lots

Whistling men in yellow vans
They can and drew us diagrams
Showed us how it all worked it out
And wrote it down in case of doubt

Slow, slow, quick, quick, quick
It’s wall to wall and brick to brick
They work so fast it makes you sick
It’s build

It’s build a house where we can stay
Add a new bit everyday
It’s build a road for us to cross
Build us lots and lots and lots and lots and lots

It’s build

Down with sticks and up with bricks
In with boots and up with roots
It’s in with suits and new recruits
It’s build

Discografia

London 0 Hull 4 (Go! Discs, 1986)
The People Who Grinned Themselves To Death (Go! Discs, 1987)
Now That’s What I Call Quite Good! (Go! Discs, 1988)