059 – World Party – Goodbye Jumbo

Em 1990, estava voltando da faculdade de engenharia e passei por uma lojinha de discos pertinho de casa (eu ainda não tinha aparelho de cds). Olhei uma banda estranha chamada World Party, com uma capa divertida. Ao olhar os créditos e ao descobrir que o líder era Karl Wallinger, ex-integrante do Waterboys, banda que eu até hoje adoro, comprei na hora. Fiquei surpreso com o que saía dos sulcos: um rock alegre, contagiante e de forte influência dos Beatles, principalmente de Paul McCartney, de quem Karl parece ser filho direto. Acabei correndo atrás de tudo deles nos anos seguintes. Goodbye Jumbo tornou-se um dos discos mais queridos da minha coleção. Além de meu herói de adolescência, Steve Wickham, conta com a participação de Sinéad O’Connor, que estava começando a estourar. Este é o segundo disco do grupo – o primeiro também havia saído no Brasil anos antes e eu nem sabia – e talvez um trabalho que muitos gostariam de chamar “obra-prima esquecida”. Se alguém usará este termo não sei dizer, mas com certeza eu o farei, e sem medo de errar. Uma dessas bandas subestimadas e que merecem ser comentadas.



Poucos ouviram falar em Karl Wallinger, um destes músicos completos, capazes de tocar vários instrumentos e ainda ser responsável pela produção, gravação e o que mais aparecer. Karl teve importância decisiva em This Is The Sea, disco que fez estourar os Waterboys. Sem ele, os arranjos de “The Whole of the Moon”, “Don’t Bang The Drum”, para ficarmos nas mais famosas, seria impossível. Mike Scott era o líder, mas era Karl quem dava charme às canções. Essa galês, nascido na pequena cidade de Prestatyn, no dia 19 de outubro de 1957, notou que poderia voar sozinho e sem ter horas e horas de discussão com Mike. Sendo assim, montou em 1987, o World Party e lançou o primeiro disco Private Revolution.

“Com o Waterboys eu experimentei os dois lados da moeda: a possibilidade de trabalhar nos arranjos, mas ao mesmo tempo ficar em segundo plano, já que a estrela era Mike. Além disso, ficávamos discutindo no estúdio e nos shows. Foi quando pensei que estava na hora de arriscar e montar um grupo ao meu estilo.”

O seu estilo era nada mais do que uma homenagem aos Beatles. Karl gosta de contar como foi influenciado não só pelo grupo de Liverpool, mas também pelos irmãos: “eu adorava ouvir The Boxtops e The Turtles, devido aos arranjos nos vocais. Um dia, um dos meus irmãos trouxe o Forever Changes do Love e, logo em seguida, chega minha irmã com Sgt. Pepper’s. Sem falar que através dele eu aprendi amar Chuck Berry, Eddie Cochran… Era impossível não virar músico desse jeito.”

Depois de lançar o primeiro álbum, Karl trabalhou no disco de estréia de Sinéad O’Connor, The Lion and The Cobra, em 1988. “Foi uma excelente oportunidade para colocar em prática várias idéias e conceitos em estúdio. Sinéad é uma grande cantora e muito aberta para idéias. E não entendo porque muita gente antipatiza com ela, já que é de uma extrema doçura.”

Karl resolveu então lançar o segundo disco do World Party, e em 1990, saiu Goodbye Jumbo. Citar uma ou duas canções inesquecíveis é um sacrilégio. Os dois singles foram “Way Down Now” e “Put The Message in The Box”, mas em “When The Rainbow Comes”, faz uma homenagem aos Beatles, brincando com “Please, Mr. Postman”, que apesar de não ser da autoria da banda, virou sucesso com o grupo na década de 1960. O disco acabou sendo escolhido o álbum do ano pela revista Q.

“Acho realmente o meu melhor disco. A atmosfera era a mais leve possível e chamei todos os meus amigos para trabalharem. Eu não tinha uma banda, e por isso não precisava ficar brigando na hora de estruturar uma canção. E sinceramente, era um prazer ter Steve, Guy Chambers, Chris Whitten me ajudando. Até Sinéad me deu uma força, fazendo backing em “Sweet Soul Dream”.

Um dos maiores méritos de Karl é saber imitar com perfeição Paul McCartney, sem perder seu estilo. “Sempre achei Paul o mais talentoso dos Beatles. John podia ser o mais carismático, George o misterioso, mas o grande músico e arranjador era Paul e o melhor cantor da banda.” Tanta adoração pelo ex-Beatle o fez participar de um tributo a McCartney na década de 90.

“Não foi um disco de grandes hits ou vendagens imensas, mas consolidou o meu nome. Bang! (disco de 1993) fez muito mais sucesso e consegui ficar em segundo lugar nas paradas britânicas. É um mistério entender os fãs. Quando você acha que fez seu melhor disco, as pessoas elegem outro. Muitos falavam que eu era muito lento para lançar álbuns, já que entre Private Revolution e Goodbye Jumbo demorei três anos e mais três para lançar Bang!, outros quatro para Egyptology e mais três para Dumbing Up. Foram apenas cinco discos em 13 anos, mas eu gosto de poder trabalhar os arranjos, dar um tempo, ouvir as canções, não tenho necessidade de ficar me expondo sempre.”

Entre Goodbye Jumbo e Bang! o World Party lançou um EP Thank You World, em 1991, onde finalmente regravou uma canção de Lennon & McCartney, “Happiness Is A Warm Gun”.

Mas não tente fazer dele um cara “cool”: “devo ser o pior cara para criar essa imagem. Meu jeito quieto esconde um verdadeiro maluco. Meu método de composição é completamente incomum. Eu ligo um gravador e fico experimentando vários instrumentos, gravando em vários canais. Alguns engenheiros perguntavam o que eu queria com aquilo tudo. Eu só ria e não respondia, porque não sabia a resposta. Minha vida ficou bem mais fácil com os computadores, quando eu não precisava ficar perdendo horas e horas colando um pedaço com outro e até dispensava músicos na construção de canções.”

Apenas os dois primeiros discos do World Party saíram no Brasil e mesmo assim, em vinil, mas não se desesperem, pois estão em catálogos, ainda que apenas no exterior. Uma curiosidade: a balada mais bonita que Wallinger escreveu está em Egyptology, de 1997 e se chama “She’s The One”. Se ainda restava alguma dúvida sobre o poder de fazer grandes canções pop, aqui está a prova definitiva. E sabe quem ele imita? um tal de Paul nos áureos tempos de uma certa bandinha de Liverpool… É ver (e ouvir) para crer.

Fiquem com a letra de “Put The Message in the Box”. Um abraço!

Put The Message in the Box

And if you listen now
you might hear
A new sound coming in
As an old one disappears
See the world in just one grain of sand
You better take a closer look
Don’t let it slip right thru your hand
Won’t you please hear the call
The World says

Put The Message in the Box
Put the box into the car
Drive the car around the world
Until you get heard

Now is the moment
Please understand
The road is wide open
To the heart of every man
A few simple words
So a mule could understand
He don’t want tomorrow
If it’s just crumbling into sand
Won’t you please hear the call
She says

Put The Message in the Box
Put the box into the car
Drive the car around the world
Until you get heard

The World says
Give a little bit
Give a little bit of your love to me
Cos I’m waiting right here with my open arms

Give a little bit
Give a little bit of your soul to me
Cos I’m waiting to behold your many charms
Is that love in the air?
She says

Put The Message in the Box
Put the box into the car
Drive the car around the world
Until you get heard

Until you get heard
Until you get heard
Until you get heard
Until you get heard

Discografia


Private Revolution (1987)
Goodbye Jumbo (1990)
EP Thank You World (1991)
Bang! (1993)
Egyptology (1997)
Dumbing Up (2000)