parceria com Beatrix Algrave Após a fuga de dois integrantes, os Banshees entraram em crise, embora não por muito tempo. Com dois novos integrantes – o baterista Budgie e o guitarrista John McGeoch – começa a fase considerada a mais clássica do grupo, com três álbuns impecáveis. O primeiro deles foi o mais experimental e que teve grande sucesso comercial: Kaleidoscope. Fúria. Esse foi o sentimento da cantora Siouxsie Sioux e do baixista Steven Severin com as deserções de John McKay e Kenny Morris. No mesmo dia, eles tinham um show e a solução foi usar os membros do The Cure, enquanto Siouxsie pedia aos fãs para cobrirem os dois fujões de pancada caso os encontrassem. “Vocês têm a minha bênção”, berrava, completamente furiosa. “A fuga deles nos deixou desarmados, mas eu e Steven não íamos deixar que eles arruinassem o que havíamos construído de nenhuma maneira.” Após o final da excursão, Steven e Siouxsie se trancaram em um pequeno estúdio, com um gravador de rolo, uma bateria eletrônica simples e teclados e começaram a montar as primeiras composições. Nesses dias nasceram “Christine”, “Arabia” (depois rebatizada como “Lunar Camel”), “Paradise Place” e “Eve White / Eve Black”, além de “Sitting Room”. Em uma entrevista da época, Severin disse que apesar de tudo, havia gostado de ver a banda reduzida a um duo e que, de agora, em diante, o grupo seria apenas os dois, com músicos convidados. Mas, para surpresa do companheiro, na mesma entrevista, Siouxsie revelou que havia convidado Budgie para entrar no grupo. Peter Edward Clarke é um dos bateristas mais criativos e intuitivos do período e já havia passado pelos grupos The Spitfire Boys, Big in Japan e pelo Slits, um grupo de meninas onde era a única figura masculina. Era capaz de explorar vários ritmos, sendo que com as Slits utilizou-se muito dos ritmos jamaicanos. Além de um grande percussionista, Budgie fisgou o coração da vocalista, e começaram um romance imediatamente. Os dois se casariam oficialmente apenas em 1991 e se separariam no ano de 2007. Budgie confessa que o primeiro contato com a banda não foi muito positivo. “Eles eram esnobes e eu não sabia exatamente o que eles queriam e acabei usando o kit de baterista de Kenny. Ficamos uma hora e meia tocando e eles acabaram gostando.” A outra posição desfalcada era a de guitarrista e Robert Smith chegou a ser convidado, já que era muito amigo de Severin. Robert viveu um dilema entre ser um membro do grupo ou o líder do The Cure, mas após ser pressionado pelos integrantes de sua banda original, optou em deixar os Banshees. Assim, a escolha acabou recaindo sobre o guitarrista do Magazine, o brilhante John McGeoch. John conta que após ser convidado por Severin aceitou, mas disse que estava compromissado com o Generation X para um disco, além de outro projeto com Steve Strange, do Visage. No fim, acabou aceitando e após uma rápida reunião começaram a trabalhar em “Happy House”. McGeoch demorou um ano para ser fixado como membro oficial do grupo e por essa razão não aparece na capa do disco ou no vídeo promocional de “Christine”. “Eu demorei para ser um membro fixo porque estava comprometido com outros projetos e eles queriam que eu fosse apenas integrante dos Banshees. E eu andava meio deprimido por ter deixado o Magazine.” A banda fez demos para “Happy House”, “Hybrid” e “Desert Kisses” logo após a excursão que tomou conta de todo mês de março de 1980 e resolveram entrar em estúdio em maio, ao lado do produtor Nigel Gray, que havia trabalhado com o Police, em um estúdio de Surrey. “Nós entramos com um conceito que era fazer canções completamente diferentes uma das outras. E nem pensamos como elas seriam reproduzidas ao vivo. Era nossa primeira oportunidade de entrarmos em um estúdio sem nada planejado, algo que nunca havíamos feito antes. Era um desafio excitante”, conta Severin.
A primeira prova disso foi o single Happy House, lançado em março. A canção foi bem recebida ficando na 17º posição da parada. Dois meses depois é a vez de Christine, que conta a história de Christine Sizemore e suas 22 personalidades. O grupo tinha um grande fascínio por distúrbios mentais e a canção fez um razoável sucesso, ficando no 24º posto da parada de compactos. O sucesso comercial fez com que Siouxsie agradecesse o sumiço de Kenny Morris e John McKay. “Sem eles, fomos obrigados a rever o conceito do grupo e escapamos da monotonia.” Em agosto é editado o novo LP, Kaleidoscope, que chegou ao quinto lugar da parada, de longe, a melhor colocação da banda. Budgie e McGeoch eram músicos superiores e deram às composições novas cores e possibilidades, expandido as opções rítmicas. E Nigel Gray se mostrava um produtor bem mais inspirado que Mike Stavrou. Além de incluir “Happy House” e “Christine”, o disco trazia a participação do ex-Sex Pistol Steve Jones, com sua guitarra em “Paradise Place” e “Skin”, protesto contra a matança de animais para virarem casacos de pele, assunto que particularmente irrita a cantora. Kaleidoscope era um disco inesperado, mais leve por um lado, mas ainda assim cheio das características que fizeram dos Banshees famosos. O grupo havia arriscado ao mudar o som em vários momentos, sem medo de perder a base dos fãs. “Nossos fãs estão prontos para serem desafiados e aqueles que não estão, não são, de fato, admiradores do grupo”, dizia a cantora. O novo LP trazia as seguintes faixas: Lado A 1. “Happy House” Lado B 1. “Christine” Ao ser editado em CD, em 2006, trazia as seguintes faixas: 12. “Christine” (demo version) O novo disco marcaria uma fase de ouro para o grupo que duraria por mais dois discos de estúdios perfeitos, até a saída de McGeoch. Mas isso é papo para outra coluna. Um abraço e até a próxima coluna. Discografia Singles “Hong Kong Garden” (1978) Discos e CDs The Scream (1978) |