429 – Faces

Acredite ou não, mas Rod Stewart já foi bom. Muito bom, aliás. Antes de virar essa coisa xaroposa, cantando standards da música norte-americana em álbuns que jura ter entrado em estúdio sem ter a menor idéia do que cantaria e ficar espantado com o sucesso, Rod era um belo cantor fascinado por blues, soul e r&b e que teve 10 anos de primeira. Eram os tempos em que o magrela escocês emprestava sua voz de “lixa sendo raspada em veludo” (definição dele mesmo) em discos com Jeff Beck, solo e nos Faces, um dos mais importantes grupos ingleses, de curta duração e grandes discos.


A história dos Faces começa quando alguns ex-integrantes dos Small Faces (outra instituição britânica e que terá sua vida contada nesse espaço, em breve) perde o cantor e guitarrista Steve Marriott.

Para a guitarra é convocado, Ronnie Wood, que já havia passado pelos Birds (não confundir com o grupo norte-americano The Byrds), Creation e Jeff Beck Group (neste grupo, como baixista).

E, para os vocais, um jovem que começava a fazer nome: Rod Stewart.

Eles se juntam a Ronnie Lane (baixo), Ian McLagan (piano) e Kenney Jones (bateria), sobreviventes dos Small Faces, resolveram deletar o “Small” e assim, nascia os Faces.

Rod Stewart, porém, já havia começado uma consistente e bem sucedida carreira-solo. Seu primeiro álbum, An Old Raincoat Won’t Ever Let You Down, (conhecido como The Rod Stewart Album, na América) já havia sido lançado com uma vendagem razoável e ele desenvolveria uma carreira-paralela junto ao grupo, lançado álbuns quase ao mesmo tempo e com o grupo, muitas vezes, sendo banda de apoio em seus discos.

Jeff e Rod eram ainda membros do Jeff Beck Group e tomaram a decisão de mudar o nome da banda, já que ambos tinham mais do que 1,70 metro de altura e não havia sentindo em ainda serem chamados de “pequenos”.

O grupo começou a tocar e, em março de 1970, lançam o primeiro disco. Graças à ganância da filial-norteamericana, o álbum batizado apenas de Faces, é chamado de Small Faces, na América, na tentativa de ganhar um extra usando o nome do antigo grupo.

Conhecido também como First Step, a estréia dos Faces mostra um grupo fazendo o que mais sabiam e gostavam: um rock leve, bem tocado, divertido, puxado pela voz de Rod e com boas composições e um som muito parecido ao dos Rolling Stones.

O disco trazia as seguintes composições:

Lado A

1. “The Wicked Messenger” (Bob Dylan) – 4:05
2. “Devotion” (Lane) – 4:54
3. “Shake, Shudder, Shiver” (Lane, Wood) – 3:14
4. “Stone” (Lane) – 5:38
5. “Around The Plynth” (Stewart, Wood) – 5:56

Lado B

6. “Flying” (Lane, Stewart, Wood) – 4:15
7. “Pineapple and the Monkey” (Wood) – 4:23
8. “Nobody Knows” (Lane, Wood) – 4:05
9. “Looking Out The Window” (Jones, McLagan) – 4:59
10. “Three Button Hand Me Down” (McLagan, Stewart) – 5:44

O disco tem uma vendagem modesta ficando apenas na 45ª posição na Inglaterra e, em 119º, nos EUA. A solução é sair em turnê pelo mundo, coisa que os Faces adoravam, já que eram, essencialmente, uma banda de palco.

As turnês dos cinco rapazes é cercada de muitas garotas, sexo, drogas. Em outubro do mesmo ano, Rod lança um novo disco-solo, Gasoline Alley, com a participação dos demais integrantes como músicos convidados. O álbum faz mais sucesso do que o lançado pelos Faces, chega a vender 1 milhão de cópias e as músicas são incorporadas ao show da banda.

O ano de 1971 é a vez de terem dois discos fabulosos lançados, Long Player e A Nod Is as Good as a Wink… to a Blind Horse. Já estabelecidos como um dos grandes grupos ao vivo, correndo América de costa a costa, os Faces dão duas aulas de rock and roll bem tocado, em estado bruto, com muito balanço, humor e suingue.

Long Player trazia as seguintes faixas:

Lado A

1. “Bad ‘n’ Ruin” (McLagan, Stewart) – 5:24
2. “Tell Everyone” (Lane) – 4:18
3. “Sweet Lady Mary” (Lane, Stewart, Wood) – 5:49
4. “Richmond” (Lane) – 3:04
5. “Maybe I’m Amazed” (Paul McCartney) – 5:53

Lado B

1. “Had Me a Real Good Time” (Lane, Stewart, Wood) – 5:51
2 . “On the Beach” (Lane, Wood) – 4:15
3 . “I Feel So Good” (Big Bill Broonzy) – 8:49
4 . “Jerusalem” (Traditional, arr. Wood) – 1:53

Co-produzido com Glyn Johns, A Nod Is as Good as a Wink… to a Blind Horse traz as seguintes faixas:

Lado A

1. “Miss Judy’s Farm” (Stewart, Wood) – 3:42
2. “You’re So Rude” (Lane, McLagan) – 3:46
3. “Love Lives Here” (Lane, Stewart, Wood) – 3:09
4. “Last Orders Please” (Lane) – 2:38
5. “Stay with Me” (Stewart, Wood) – 4:42

Lado B

1. “Debris” (Lane) – 4:39
2 . “Memphis, Tennessee” (incorrectly titled on original U.S. pressings of the album as simply “Memphis”) (Chuck Berry) – 5:31
3 . “Too Bad” (Stewart, Wood) – 3:16
4 . “That’s All You Need” (Stewart, Wood) – 5:05

No mesmo ano, Rod começa a ficar grande demais para a banda, ao lançar o megasucesso Every Picture Tells a Story, que trazia o sucesso “Maggie May”.

O disco chegou ao topo da parada na América e na Inglaterra, vendendo mais de 4 milhões de cópias, além do primeiro lugar também entre as mais tocadas.

A convivência entre eles ainda era boa, tanto que um clip promocional da música é feita com todos os Faces brincando, numa grande bagunça.

O sucesso de Rod, no entanto, começa a encobrir o grupo e muitos começam a achar que os Faces é apenas um grupo de apoio ao cantor.

Em 1972, o grupo cai novamente na estrada e os Faces eram quase colocado de lado pelos fãs do cantor, aumentando o desconforto interno. As brigas se sucedem e o cantor é acusado de ter mais cuidado com as canções que interpreta em seus discos do que com o grupo.

Ele fica ainda mais desconfortável quando um novo álbum, Never A Dull Moment, chega novamente ao topo da parada e com vendas superiores aos 2 milhões.

Em 1974, novo disco solo de Stewart, Smiler (3 milhões de cópias vendidas), mostra que o cantor iria mesmo se tornar um músico solo.

Assim, é editado no mesmo o último trabalho de estúdio, Ooh La La, que chega ao topo da parada inglesa, mas fica apenas em 21º lugar nos EUA.

Ooh La La mostra os Faces se despedindo por cima, em um belo trabalho, coeso, como todos os anteriores. Infelizmente, Rod havia ficado grande demais para eles.

Lado A

1. “Silicone Grown” (Stewart, Wood) – 3:05
2. “Cindy Incidentally” (McLagan, Stewart, Wood) – 2:37
3. “Flags and Banners” (Lane, Stewart) – 2:00
4. “My Fault” (McLagan, Stewart, Wood) – 3:05
5. “Borstal Boys” (McLagan, Stewart, Wood) – 2:52

Lado B

6. “Fly in the Ointment” (Jones, Lane, McLagan, Wood) – 3:49
7. “If I’m on the Late Side” (Lane, Stewart) – 2:36
8. “Glad and Sorry” (Lane) – 3:04
9. “Just Another Honky” (Lane) – 3:32
10. “Ooh La La” (Lane, Wood) – 3:30

Para ganhar mais um troco, a gravadora lança um disco póstumo ao vivo, creditado como Rod Stewart and the Faces, Coast to Coast: Overture and Beginners, com três músicas do quinteto e seis de Rod.

O disco contava com o baixista Tetsu Yamauchi no lugar de Ronnie Lane e foi gravado em outubro de 1973, no Anaheim Convention Center e no Hollywood Palladium.

O álbum trazia as seguintes faixas:

Lado A

1. “It’s All Over Now” (Bobby Womack-Shirley Womack) – 4:38
2. “Cut Across Shorty” (Wayne Walker-Marijohn Wilkin) – 3:45
3. “Too Bad” (R. Stewart-R. Wood) / “Every Picture Tells A Story” (R. Stewart-R. Wood) – 7:34
4. “Angel” (Jimi Hendrix) – 4:28
5. “Stay With Me” (R. Stewart-R. Wood) – 4:50

Lado B

6. “I Wish It Would Rain” (Roger Penzabene-Barrett Strong-Norman Whitfield) – 4:20
7. “I’d Rather Go Blind” (B. Foster-E. Jordan) – 5:55
8. “Borstal Boys” (I. McLagan-R. Stewart-R. Wood) / “Amazing Grace” (Traditional, arr. D. Throat) – 9:52
9. “Jealous Guy” (John Lennon) – 4:25

Após a dissolução da banda, cada um foi cuidar da vida. Kenny Jones entrou no The Who após a morte de Keith Moon; Ronnie Lane foi acometido de esclerose múltipla, doença que o maltratou até 4 de junho de 1997, quando faleceu, aos 51 anos.

Ron Wood acabou entrando definitivamente para a história como guitarrista dos Rolling Stones e Ian McLagan tocou com vários grupos ao longo da carreira, tendo recusado um convite de Pete Townshend para entrar no Who.

Em 24 de setembro de 2009, a banda se reuniu para um concerto no Royal Albert Hall, em prol da Performing Rights Society’s Music Members’ Benevolent Fund, mas uma excursão foi descartada.

O grupo, no entanto, resolveu angariar um troco extra para a aposentadoria e fez uma pequena excursão, com Bill Wyman ocupando o posto de baixista e com Mick Hucknall, ex-Simply Red, nos vocais. Em 2010, a banda resolveu continuar, desta vez com o ex-baixista dos Sex Pistols, Glen Matlock, em lugar de Wyman.

Acreditem ou não, mas os Faces foram considerados uma das influências dos punks, na Inglaterra. É difícil ver Rod hoje e pensar que foi modelo para Johnny Rotten, não?

Deixo vocês com a discografia. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Singles

“Flying” (1969)
“Had Me a Real Good Time” (1971)
“Maybe I’m Amazed” (1971)
“Stay with Me” (1971)
“Cindy Incidentally” (1972)
“Ooh La La” (promo only) (1973)
“Pool Hall Richard” (1973)
You Can Make Me Dance, Sing or Anything (Even Take the Dog for a Walk, Mend a Fuse, Fold Away the Ironing Board, or Any Other Domestic Shortcomings) (1974)

Discos

First Step (1970)
Long Player (1971)
A Nod Is as Good as a Wink… to a Blind Horse (1971)
Ooh La La (1973)
Coast to Coast: Overture and Beginners (1974)

Coletâneas

Rod Stewart and the Faces (1972)
Snakes and Ladders / The Best of Faces (1976)
Best of Faces (1977)
Good Boys… When They’re Asleep (1999)
Five Guys Walk into a Bar… (2004)
The Best of Faces (2009)