Ao contrário dos Beatles ou Rolling Stones, é muito difícil e complicado começar a conhecer o universo sonoro de Frank Zappa através de uma coletânea. Zappa não é homem de compactos, das 10 mais. Sua vasta e complexa obra não abre concessões às melodias fáceis, às paradas. Para se conhecer Zappa, é preciso ouvir seus discos com muita atenção e várias vezes. Assim, quando resolvi comprar meu primeiro vinil, optei por um lançamento recente no Brasil, à época, até por ser um disco ao vivo, e discos ao vivos geralmente trazem sucesso. Bem… com Zappa não funciona bem assim…

Mesmo sendo um completo neófito da obra zappeana, confesso que não poderia ter escolhi melhor. Tinseltown Rebellion é uma bela maneira de adentrar no mundo de Frank Zappa.

Está tudo lá: seu humor ácido, suas brincadeiras com a platéia, anarquia, grandes músicos e interpretações únicas. De fato, me apaixonei tanto pelo disco que o ouvia de uma maneira obssessiva.

Zappa sempre gostou da reação dos fãs nos shows. Ao ser perguntado, certa vez, se considerava seu público mais refinado e inteligente dos demais, apenas rebateu com “se você for às apresentações verá que são pessoas normais e que desejam apenas se divertir.”

Frank Zappa atravessava um momento de grande sucesso comercial. Em 1979 havia lançado seu selo próprio, Zappa Records e tinha conseguido um ótimo retorno comercial o álbum duplo Sheik Yerbouti, indicado ao Grammy apesar de uma polêmica com a canção “Jewish Princess”, acusada de anti-semita.

Polêmicas e processos, aliás, sempre foram constantes na carreira do músico. Como ele passava boa parte do tempo na estrada, um disco ao vivo era um passo natural.

Dessa maneira, Tinseltown Rebellion foi concebido e como novidade, trazia um músico ainda desconhecido e que ficou conhecido por ser o único a conseguir escrever partituras das intricadas composições zappeanas: Steve Vai.

Certa vez, Steve teve a audácia de mandar partituras de “The Black Page”, composição de Frank, junto com uma fita com suas intervenções na guitarra.

Segundo o baterista Terry Bozzio, Zappa escreveu a composição após um concerto que fizemos com uma orquestra de 40 pessoas. “Ele achava curioso o medo que os músicos de estúdios tinham, ao começarem uma gravação pela manhã, com receio de encararem uma ‘página negra’. Assim, escreveu a composição e me deu. Não consegui tocar muitas partes, mas ele não me pressionou e me deixou trabalhar nela até eu conseguir. Após duas semanas, mostrei pra ele que me disse “grande, e escreveu a melodia, as mudanças de acordes e começamos a tocá-la”.

E foi essa “simples composição que Vai destrinchou. Impressionou tanto que acabou sendo encarregado de transcrever as intricadas composições do patrão do disco Joe’s Garage.

O disco marca a estréia de novo selo do cantor, Barking Pumpkin Records e o materal foi extraído da turnê feita em 1980. Zappa tinha uma banda com excepcionais músicos. O outro guitarrista era Warren Cuccurullo, que anos depois se tornou membro do Duran Duran. O baterista Vinnie Colaiuta tocou também com Sting, Chick Corea, Jeff Beck, Herbie Hancock, entre outros.

A obra abre com uma composição de estúdio, “Fine Girl”. A partir daí, Zappa e sua banda mostram uma enorme versatilidade, passando por blues, reggae e uma brincadeira com o público, em “Panty Rap”.

Muitos criticaram o sexismo das letras, bem com muitas experimentações técnicas digitais, que não tiveram bons resultados no áudio, causando bronca dos fãs mais ardorosos.

No geral, o álbum duplo apresenta canções famosas do repertório zappeano, tanto solo como com o Mothers. Não é um excepcional disco, mas serve como uma boa introdução ao complexo e vasto material do músico.

O LP duplo trazia as seguintes faixas:

Lado 1

A1. Fine Girl 3:30
A2. Easy Meat 9:17
A3. For the Young Sophisticate 3:13

Lado 2

B1. Love of My Life 2:15
B2. I Ain’t Got No Heart 2:00
B3. Panty Rap 4:36
B4. Tell Me You Love Me 2:06
B5. Now You See It-Now You Don’t 5:03

Lado 3

C1. Dance Contest 3:01
C2. The Blue Light 5:26
C3. Tinsel Town Rebellion 4:36
C4. Pick Me, I’m Clean 5:37

Lado 4

D1. Bamboozled by Love 5:46
D2. Brown Shoes Don’t Make It 7:14
D3. Peaches III 4:56

O melhor foi deixado pra o final com duas ótimas interpretações de favoritas dos fãs: nada menos que “Brown Shoes Don’t Make It”, do segundo disco com o Mothers, Absolutely Free e “Peaches en Regalia” (rebatizada de Peaches III, do disco Hot Rats).

Tinseltown Rebellion é apenas mais um dos vários títulos que lançou em 1981 – os outros foram You Are What You Is e Shut Up ‘n Play Yer Guitar – e passou quase batido pelos fãs e até pelo próprio músico, cada vez mais prolífico e obcecado em gravar.

Deixo vocês com a discografia de Zappa. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Freak Out!* (June 27, 1966), US #130
Absolutely Free* (May 26, 1967), US #41
We’re Only in It for the Money* (January 1968), US #30
Lumpy Gravy (May 1968)*, US #159
Cruising with Ruben & the Jets* (December 2, 1968), US #110
Uncle Meat (April 1969)*, US #43
Hot Rats (October 1969), US #173
Burnt Weeny Sandwich* (February 1970), US #94
Weasels Ripped My Flesh* (August 10, 1970), US #189
Chunga’s Revenge (October 1970), US #119
Fillmore East – June 1971 (August 1971), US #38
200 Motels (October 1971), US #59
Just Another Band from L.A. (March 1972), US #85
Waka/Jawaka (July 1972), US #152
The Grand Wazoo (November 1972)
Over-Nite Sensation (September 1973), US #32
Apostrophe (‘) (March 1974), US #10
Roxy & Elsewhere (September 1974), US #27
One Size Fits All (June 1975), US #26
Bongo Fury (October 1975), US #66
Zoot Allures (October 1976), US #71
Zappa in New York (March 1978), US #57
Studio Tan (September 1978), US #147
Sleep Dirt (January 1979), US #175
Sheik Yerbouti (March 1979), US #21
Orchestral Favorites (May 1979), US #168
Joe’s Garage (September 1979), US #27
Tinsel Town Rebellion (May 11, 1981), US #66
Shut Up ‘n Play Yer Guitar (May 1981)
You Are What You Is (September 1981), US #93
Ship Arriving Too Late to Save a Drowning Witch (May 1982), US #23
The Man from Utopia (March 1983), US #153
Baby Snakes (March 1983)
London Symphony Orchestra, Vol. 1 (June 1983)
Boulez Conducts Zappa: The Perfect Stranger (August 1984)
Them or Us (October 18, 1984)
Thing-Fish (November 1984)
Francesco Zappa (November 1984)
The Old Masters Box One (April 1985)
Frank Zappa Meets the Mothers of Prevention (November 21, 1985), US #153
Does Humor Belong in Music? (January 1986)
The Old Masters Box Two (November 1986)
Jazz from Hell (November 1986)
London Symphony Orchestra, Vol. 2 (September 17, 1987)
The Old Masters Box Three (December 1987)
Guitar (April 1988)
You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 1 (May 1988)
You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 2 (October 1988)
Broadway the Hard Way (October 14, 1988)
You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 3 (November 1989)
The Best Band You Never Heard in Your Life (April 1991)
You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 4 (June 14, 1991)
Make a Jazz Noise Here (June 1991)

Beat the Boots (July 1991), 8 discs (boxed or separate):
As an Am (recorded 1981 – 1982)
The Ark (recorded 1969)
Freaks & Motherfu*#@%! (recorded 1970)
Unmitigated Audacity (recorded 1974)
Anyway the Wind Blows (2 discs) (recorded 1979)
Tis the Season to Be Jelly (recorded 1967)
Saarbrucken 1978 (recorded 1978)
Piquantique (recorded 1973)

Beat the Boots II (June 1992), 8 discs (boxed only):
Disconnected Synapses (recorded 1970)
Tengo Na Minchia Tanta (recorded 1970)
Electric Aunt Jemima (recorded 1968)
At the Circus (recorded 1978)
Swiss Cheese/Fire! (2 discs) (recorded 1971)
Our Man in Nirvana (recorded 1968)
Conceptual Continuity (recorded 1976)

You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 5 (July 1992)
You Can’t Do That on Stage Anymore, Vol. 6 (July 1992)
Playground Psychotics (October 1992)
Ahead of Their Time (March 1993)
The Yellow Shark (with Ensemble Modern) (November 1993), US #2

* como Mothers of Invention

Coletâneas Póstumas

Civilization, Phaze III (December 1994)
The Lost Episodes (February 1996)
Läther (September 1996)
Frank Zappa Plays the Music of Frank Zappa: A Memorial Tribute (October 1996)
Have I Offended Someone? (April 1997)
Mystery Disc (September 1998)
Everything Is Healing Nicely (December 1999)
FZ:OZ (August 16, 2002)
Halloween (February 4, 2003)
Joe’s Corsage (May 30, 2004)
QuAUDIOPHILIAc (September 14, 2004)
Joe’s Domage (October 1, 2004)
Joe’s XMASage (December 21, 2005)
Imaginary Diseases (January 13, 2006)
Trance-Fusion (October 24, 2006)
The Making Of Freak Out! Project/Object (December 5, 2006)
The Making Of Freak Out! Project/Object (deluxe) (December 12, 2006)
The Frank Zappa AAAFNRAA Birthday Bundle (December 15, 2006 (iTunes exclusive)
Buffalo (April 1, 2007)
The Dub Room Special (August 24, 2007)
Wazoo (October 30, 2007)

Compilações

Mothermania: The Best of the Mothers (March 1969)
The **** of the Mothers (October 13, 1969)
The Mothers of Invention (July 20, 1970)
Worst of the Mothers (March 15, 1969)
The Guitar World According to Frank Zappa (June 1987)
Cucamonga Years (December 10, 1991)
Strictly Commercial, the best of Frank Zappa (August 1995)
Strictly Genteel, a “classical” introduction to Frank Zappa (May 1997)
Cucamonga (February 24, 1998)
Cheap Thrills (April 1998)
Son of Cheep Thrills (April 1999)
The Secret Jewel Box: Archives Vol. 2. FZ Original Recordings (December 2001)
Zappa Picks by Jon Fishman of Phish (October 2002)
Zappa Picks by Larry LaLonde of Primus (October 2002)