443 – The La’s

Bandinha curiosa o The La’s. Apesar de estarem na ativa desde 1984, só lançaram um disco, que virou uma referência do gênero power pop. E mais nada. Mas não que é agora, em 2010, saiu uma caixa deles com 4 cds e cheio de músicas inéditas? Mas quem são eles? De onde vieram? Perguntas, perguntas, perguntas….


(da esquerda para a direita: Lee Mavers, Peter “Cammy” Camell, Neil Mavers e John Power)

Há quem os considere o “maior segredo de Liverpool”.

Os La’s poderiam ter sido uma das maiores bandas dos anos 90 se quisessem, mas deixaram para a posteridade apenas um disco – ótimo, por sinal! – e uma história recheada de brigas, perfeccionismo, drogas e frustração.

Boa parte do La’s ter produzido tão pouco e ter passado longe da fama se deve ao líder Lee Mavers, um cara tão difícil e temperamental, que faria Noel Gallagher parecer um coroinha.

Para ser ter uma idéia de como Lee era uma figura, basta ver a saia justa em que deixou o repórter Stuart Maconie, do New Musical Express, em uma entrevista publicada em 20 de outubro de 1990.

Stuart abre a matéria dizendo que odeia abrir as matérias perguntando para a banda falar de um novo disco, porque geralmente vem o chavão “é o melhor que já fizemos” ou “é bom, mas espere ouvir o próximo”…

Porém, Stuart confessa que ficou sem reação quando Lee fuzilou: “Odiei. É um monte de merda. Não há nada de bom que eu possa falar sobre ele.”

Não é lá uma maneira muito boa de se auto-promover…

A história do grupo começou bem antes, em 1984, quando Mike Badger, um aluno de escultura, montou o The La’s. O nome, segundo ele, foi inspirado em um sonho que teve, mas também poderia ser uma brincadeira com a palavra lads (amigos, companheiros).

Lee se juntou ao grupo no mesmo ano, apenas como guitarrista rítmico, mas logo ganhou espaço como compositor, cantor e líder. John Power foi o próximo a entrar, em 1986, por intermédio do próprio Badger, que saiu do grupo naquele mesmo ano.

Aos poucos, o grupo começou a montar um repertório e chamou a atenção da cena local, graças a uma demo gravada.

Uma dessas revistas parou na redação da Underground Magazine, que por seu lado repassaram a Andy McDonald, da gravadora indepedente, Go! Discs, que tinha em seu cast Billy Bragg e o Housemartins.

Animados, os rapazes lançam um single, Way Out, em 1987. A canção fica na 86ª posição da parada britânica e é elogiada por Morrissey. O futuro da banda parecia promissor e o La’s era visto como um possível herdeiro dos Smiths.

E admiradores famosos é o que não faltava para o grupo. Ainda em 1987, um dos maiores fãs era o baterista Pete De Freitas, do Echo and the Bunnymen, a maior e mais importante banda de Liverpool, na época.

Junto com o tecladista Jake Brockman – que veio com a banda nos shows que eles deram no Brasil, no mesmo ano – resolveram bancar algumas gravações, pagando todas as custas, alugando e equipamentos.

O resultado desses dois dias de gravações foi extremamente importante, já que algumas dessas canções entraram no único álbum do grupo.

Exatamente nessa época, Lee começou a ter uma idéia do que ele queria para a banda. O problema é que nem sempre era entendido pelos demais e exibia um perfeccionismo exagerado.

Em 1988, lançam um segundo single, There She Goes, uma das mais belas canções pops já feitas. A música chegou ao 59º lugar na parada inglesa. Promover a banda, no entanto, era um tormento para o selo, que via constantemente darem o cano em shows, gravações…

A Go! Discs se desesperava com a lentidão para escrever novas canções e gravá-las, até que abandonaram tudo, infelizes com o nível das produções. Desesperado, Andy McDonald convidou Lee para participar de todo o processo de mixagem e edição, convite este recusado.

(John Power e Lee Mavers)

Lee, no entanto, recusa a fama de cara difícil: “podíamos ter feito o disco com 500 libras, gravando-o em quatro canais, no meu porta-estúdio. Não sou perfeccionista como as pessoas afirmam. Apenas queria capturar o espírito das míusicas e queria soar apenas simples, direto, básico. Mas eles não entendiam isso.”

Durante o período entre 1988 e 1990, a banda teve inúmeras formações, restando apenas Lee e Powers da formação original. Enquanto isso, a gravadora se descabelava e dava ao La’s os melhores produtores disponíveis: John Porter, as well as John Leckie e Mike Hedges, sem que nada acontecesse.

Foi apenas em 1989 que a banda começou a caminhar rumo ao disco, tendo como produtor o ultra-famoso Steve Lillywhite.

Durante três meses – dezembro de 1989 até fevereiro de 1990 – Lillywhite e banda se trancaram no Eden Studios para trabalharem.

Lee, no entanto, continuou infeliz com o resultado, reclamando sempre que possível.

A Go! Discs não aguentava mais tamanha pressão, sem falar nos custos, afinal Lillywhite era apenas mais um nome entre vários produtores que tentaram trabalhar com o La’s: John Porter, Gavin MacKillop, John Leckie, Bob Andrews, Jeremy Allom e Mike Hedges foram os outros.

As rusgas fizeram com que a banda abandonassem as gravações e coube ao selo pedir a Lillywhite que fizesse o melohor possível para que, finalmente, editassem um disco.

Sem a aprovação de Lee, é lançado o CD, The La’s, que ele tanto desprezou. Editado em outubro de 1990, o disco foi recebido com elogios pela crítica e considerado uma influência fundamental para artistas, como Liam Gallagher, Pete Doherty, entre outros.

O disco chegou ao 30º posto na Inglaterra e vendeu mais de 50 mil cópias, nos Estados Unidos. Um resultado tímido, até certo ponto, mas que ajudou, ao menos a cobrir os custos.

Ao ser editado, trazia as seguintes faixas:

01. “Son of a Gun” 1:56
02. “I Can’t Sleep” 2:37
03. “Timeless Melody” 3:01
04. “Liberty Ship” 2:30
05. “There She Goes” 2:42
06. “Doledrum” 2:50
07. “Feelin'” 1:44
08. “Way Out” 2:32
09. “I.O.U.” 2:08
10. “Freedom Song” 2:23
11. “Failure” 2:54
12. “Looking Glass” 7:52

Com o álbum, a banda resolveu finalmente fazer alguns shows promocionais, embarcando até para a América.

A turnê, no entanto, foi estafante para John Powers, que abandonou o grupo em 13 de dezembro de 1991, alegando estar cansado de tocar as mesmas músicas desde 1986.

Para seu lugar foi convocado James Joyce, que tocou em alguns concertos, no ano seguinte, e participou dos ensaios para um novo repertório.

O grupo, no entanto, nunca mais lançou nada e se reunia ocasionalmente, em 1994, 1995, convidados por fãs – Oasis, Paul Weller e Dodgy.

Em 1996, Mavers começou a gravar novas músicas, que se estendeu por dois anos. Enquano isso, a Go! Discs fechou as portas e o contrato do grupo foi adquirido pela Polygram, até expirar em 1998.

Sem selo, Mavers procurou o antigo líder, Mike Badger e juntos, venderam para o selo The Viper, algumas demos, que acabaram sendo editadas em dois discos: Lost La’s 1984–1986: Breakloose (1999) e Lost La’s 1986–1987: Callin’ All (2001).

Em 2003 é editado uma biografia – In Search of The La’s: A Secret Liverpool -, recheado de entrevistas com Lee Mavers, Mike Badger, Paul Hemmings, Barry Sutton, Peter “Cammy” Camell e Neil Mavers.

Em 2005, a banda volta para uma série de apresentações.

Desde então, Lee é figura carimbada em shows, à frente do La’s ou com o Lee Rude & The Velcro Underpants.

Em 2010, é editado a caixa de 4 CDs, Callin’ All, aumentando ainda mais o mito do La’s.

Um novo disco? Talvez. Quem sabe? Nem Lee. Mas nada é impossível. Basta torcer para que as gravações sejam menos tensas e, quem sabe, em 2020, teremos um novo La’s. E, desta vez, soando como Lee Mavers sempre sonhou. Seja lá o que isso signifique.

Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Disco

The La’s (1990)

Coletâneas

Lost La’s 1984–1986: Breakloose (1999)
Singles Collection (2001)
Lost La’s 1986–1987: Callin’ All (2001)
BBC in Session (2006)
Lost Tunes (2008)
De Freitas Sessions ’87 (2010)
Callin’ All (2010)

Singles

Way Out (1987)
There She Goes (1988)
Timeless Melody (1990)
There She Goes (remix) (1990)
Feelin’ (1991)