452 – Ian McCulloch – Candleland

Em 1989, o Echo and the Bunnymen parecia ter virado apenas história. Corria um boato – que depois mostraria-se verdadeiro – de que a banda poderia até voltar, mas sem Ian McCulloch, algo chocante para os fãs. Seria como um retorno dos Smiths sem Morrissey. O choque foi ainda maior quando o mesmo Ian anuncia sua carreira-solo e lança um belo disco, Candleland. Um LP que poderia ter sido um novo de sua ex-banda e que trazia uma linda parceria com a não menos maravilhosa Elizabeth Fraser, do Cocteau Twins, em uma faixa de derreter corações: “Candleland”.


Mas Candleland não era a primeira experiência solo de Ian.

Em 1984, havia lançado um compacto, cantando “September Song”, de Kurt Weil e Maxwell Anderson, apenas por diversão.

O single – editado nos formatos 7 e 12 polegadas – alcançou a modesta 51ª posição no Reino Unido e tenho orgulho de ter ambos.

Mas o que era uma brincadeira ficou sério após o adeus do Echo and the Bunnymen. A vida de Ian andava complicada, em termos pessoais, já que descobrira que seu pai estava gravemente enfermo na última turnê da banda.

A banda fazia a última apresentação no Japão, no dia 25 de abril de 1988, em Fukuoka, no Shimin Kaikan Hall, quando o baixista Les Pattinson o avisa sobre outro ataque cardíaco sofrido por seu pai. Sem ter como embarcar de volta para a Inglaterra naquele momento, resolveu subir ao palco, pegando o primeiro vôo disponível minutos depois e desembarcando em casa poucos minutos depois de seu pai falecer.

“Deixei a banda após o último show. Embora a mídia saiba que oficialmente sai do grupo em outubro, meu adeus aconteceu lá pelo dia 26 ou 28 de abril. Foi uma grande apresentação, sabia que meu pai estava muito doente e já tinha tomado a decisão de deixá-los”, confessou em uma entrevista, um ano depois, quando promovia Candleland.

Para piorar o clima, o baterista Pete de Freitas morrera em um estúpido acidente de moto, no dia 14 de junho de 1989, com apenas 27 anos.

O fim da banda, a morte de seu pai e de Pete só fez Ian se tornar mais autodestrutivo, abusando da bebida e da cocaína.

“Em alguns dias, ele parecia duas pessoas”, dizia o guitarrista Will Sergeant. Você não sabia qual Ian estava presente: o cara brilhante, meu chapa de tantos anos ou aquela criatura idiota, drogada, aturdida.”

Ian, no entanto, queria mostrar que estava vivo e poderia seguir em frente. Após ouvir o disco de estréia dos islandeses do Sugarcubes, Life’s Too Good, ficou impressionado com o som das guitarras e acabou pedindo para que o produtor Ray Shulman, ex-Gentle Giant, assumisse o controle de seu primeiro disco.

Acompanhado do próprio Ray (baixo, teclados e programação), Ian assumiu a guitarra e se juntou ao baterista do The Cure, Boris Williams, o baixista Mike Jobson e com a diva Liz Fraser do Cocteau Twins na faixa-título.

Candleland chegou ao 18º posto no Reino Unido, mas teve uma vendagem bem modesta. O disco trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. “The Flickering Wall” – 3:35
02. “The White Hotel” – 3:15
03. “Proud to Fall” – 3:57
04. “The Cape” – 4:09
05. “Candleland” – 3:18

Lado B

01. “Horse’s Head” – 4:47
02. “Faith and Healing” – 4:36
03. “I Know You Well” – 4:06
04. “In Bloom” – 5:02
05. “Start Again” – 5:00

A grande faixa sem dúvida é “Candleland”, embora o primeiro compacto tenha sido “Proud to Fall”.

“É uma das melhores coisas que já fiz, a melhor música que ouvi este ano. É bem suave. Mesmo as músicas mais “rock” do disco são suaves. É um álbum reflexivo. Eu não queria tentar provar que ainda sou um rocker. Muitas coisas aconteceram na minha vida nos últimos dezoito meses”, explicou o vocalista à jornalista Anamaria G. de Lemos, em uma entrevista para a Revista BIZZ.

Sempre sonhador, Ian disse que ainda poderia escrever a melhor canção de todos os tempos e confessava que sua favorita era “Ceremony”, do New Order.

“Houve uma época em que pensei que ‘Killing Moon’ fosse essa música, e ainda acho que é a melhor escrita nos anos 80. ‘Birthday’ (do Sugarcubes) chega perto porque não explica nada. É magia, um truque, mas não um mistério. ‘Candleland’ está num nível próximo, mas não é o bastante. Há algo em ‘Killing Moon’ que partiria o meu coração, mais do que ‘Candleland’. Talvez… não no próximo álbum, mas no terceiro, Deus me abençoe com o talento divino para compor.”

Justiça seja feita, Candleland é uma boa estréia, um LP superior à segunda tentativa do próprio, Mysterio, de 1992.

Certamente há arranjos parecidos demais com o Echo, ou até mesmo o New Order. Mas a beleza da faixa-título, ou a bela “Proud to Fall” , o primeiro single fez do disco um bom investimento.

Para promover o disco, Ian montou uma nova banda, batizada de Prodigal Sons (antiga canção do Rolling Stones, editado no LP Beggar’s Banquet, de 1968), formada pelo baterista Steve Humphries, ex-Marc Almond, por um baixista de nome Ed, de apenas 18 anos e de Liverpool. Para a guitarra rítmica, foi chamado um outro desconhecido, John ex-Timberwalle e o também guitarrista Mike Mooney, que tocou com a banda, em 1983, durante alguns shows da turnê.

Subir em um palco e ver os fãs berrarem pelos clássicos do Echo and the Bunnymen era muito doloroso para Ian, que tentava valorizar as novas composições.

Após um segundo disco solo igualmente sem sucesso, acabaria reencontrando o velho amigo Will no projeto Electrafixion… Mas isso é papo para um outro dia.

Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Discos

Candleland (1989)
Mysterio (1992)
Slideling (2003)
Pro Patria Mori (2012)

Singles

“September Song” (1984)
“Proud to Fall” (1989)
“Faith and Healing” (1990)
“Candleland (The Second Coming)” (1990)
“Honeydrip” (1992)
“Lover Lover Lover” (1992)
“Dug for Love” (1992)
“Sliding” (2003)
“Love in Veins” (2003)