466 – The Byrds – Fifth Dimension

Fifth Dimension é um dos discos mais importantes dos Byrds em vários aspectos: é o primeiro a se aproximar do psicodelismo, sem perder, no entanto, a ternura característica dos álbuns anteriores. É também o primeiro sem Gene Clark, o que obrigou que Jim McGuinn e David Crosby evoluíssem como compositores. O resultado foi exuberante e mostrava que a banda estava em melhor forma do que nunca e é o primeiro LP sem uma canção de Bob Dylan, além de uma curiosa versão de “Hey Joe”, meses antes de Jimi Hendrix gravá-la e torná-la quase sua.


O ano de 1966 seria muito importante para a banda. Após dois LPs lançados no ano anterior e com a carreira solidificada, o sucesso começava a causar brigas no quinteto. O primeiro a deixar seria o principal compositor, Gene Clark.

As gravações para um novo disco haviam começado dias antes do Natal de 1965.

Os Byrds tentavam gravar três canções: uma versão (incompleta) para “The Times They Are A-Changin'”, de Bob Dylan, além de duas novas composições próprias: “Eight Miles High” e “Why” (que seria utilizada apenas no disco seguinte, Younger Than Yesterday), tendo como produtor o empresário Jim Dickson.

Naquela época, a Columbia exigia que todas as gravações fossem feitas no estúdio da gravadora, com produtores da casa e, por isso, elas não foram utilizadas.

Durante as excursões, a banda viajava com uma fita cassete contendo em um lado, John Coltrane e, no outro, Ravi Shankar. Ambos seriam influências fundamentais no próximo compacto, justamente com as canções “Eight Miles High” e “Why” e já com a produção de Allen Stanton.

“Eight Miles High” era outra prova do talento de Gene Clark e foi escrita por ele durante um encontro com o rolling stone Brian Jones, em Londres, durante a excursão londrina. Clark havia ficado assustado com o longo vôo. Jim McGuinn e David Crosby ajudaram em alguns trechos da letra e no arranjo, nascendo um clássico instantâneo.

McGuinn tentava emular em sua Rickenbacker de 12 cordas o som do sax de John Coltrane e a ausência de um vocalista solo – Clark, McGuinn e Crosby cantavam juntos, em harmonia, mostravam que o som mais pop e doce dos dois primeiros LPs haviam ficado para trás.

Enquanto o compacto era editado, algumas brigas encarnicadas ocorriam entre a banda e a gravadora Columbia.

A primeira acontecia entre o empresário Jim Dickson e o produtor Terry Melcher, que havia trabalhado com o grupos nos dois primeiros discos.

Dickson sonhava com o posto de Melcher e a Columbia não aceitava isso e exigia que Melcher continuasse, animados com o sucesso comercial obtido sob sua batuta.

Os Byrds exigiam Dickson na produção, mas receberam em troca o vice-presidente da Costa Leste da Columbia, Allen Stanton.

Stanton ficaria no selo por pouco tempo e iria para a A&M Records, pouco depois após o lançamento do disco.

Gene Clark, porém, não conseguia superar o medo de voar e devido aos enormes compromissos assumidos pelo grupo, acabou sendo sacado.

Sem Gene, Jim McGuinn começava a ganhar corpo como letrista, dando vazão à sua paixão sobre espaço e foguetes – “Mr. Spaceman” – ou escrever sobre a Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, após ler o livro 1-2-3-4, More, More, More, More, de Don Landis.

O som era pomposo, com um órgão e um piano elétrico, ambos executados por Van Dyke Parks, com influências de Bach. A música encantou a todos e o baixista Chris Hillman a considera uma das maiores, ou a maior, composição de McGuinn.

(capa do compacto Mr. Spaceman)

Outra faixa interessante era “Hey Joe (Where You Gonna Go),” muito popular na época e com várias versões de grupos americanos e bem antes de Jimi Hendrix dar a forma definitiva. Apesar do bom trabaho vocal de David Crosby, o que mais impressionaram foram as linhas de baixo de Chris Hillman e da guitarra de McGuinn.

“Mr. Spaceman” nada mais era do que uma composição country-rock, embora Jim a tivesse pensado como algo séria e melodramática sobre comunicação com seres de outros planetas.

Outra colaboração de McGuinn para o disco seria “2-4-2 Fox Trot (The Lear Jet Song), uma homenagem a John Lear, amigo de Jim.

A composição gerou uma séria briga entre ele e Crosby sobre o uso dos poucos recursos eletrônicos disponíveis na concepção sonora.

Coube ao baterista Michael Clarke (sem parentesco com Gene Clark) a idéia de gravarem a instrumental “Captain Soul”, uma típica canção R&B.

Os Byrds arriscavam muito para uma banda comercial e “I Come and Stand At Every Door” era a prova disso. Inspirado em um poema de Nâzim Hikmet, onde conta a história de um menino de sete anos, vitima da bomba atômica de Hiroshima e cujo seu espírito tem como missão vagar pela Terra. A interpretação, digamos, gótica, de McGuinn dá mais força e ênfase às letras.

Ao ser editado, em 18 de julho de 1966, Fifth Dimension não teve o mesmo sucesso comercial (ficou apenas na 24ª posição na parada norte-americana), o que frustou um pouco a Columbia, embora o disco mostrasse os Byrds anos-luz à frente do que uma simples banda pop e que regrava Bob Dylan.

O disco trazia as seguintes faixas:

Lado 1

01. “5D (Fifth Dimension)” (Jim McGuinn) – 2:33
02. “Wild Mountain Thyme” (traditional, arranged Jim McGuinn, Chris Hillman, Michael Clarke, David Crosby) – 2:30
03. “Mr. Spaceman” (Jim McGuinn) – 2:09
04. “I See You” (Jim McGuinn, David Crosby) – 2:38
05. “What’s Happening?!?!” (David Crosby) – 2:35
06. “I Come and Stand at Every Door” (Nâzim Hikmet) – 3:03

Lado 2

01. “Eight Miles High” (Gene Clark, Jim McGuinn, David Crosby) – 3:34
02. “Hey Joe (Where You Gonna Go)” (Billy Roberts) – 2:17
03. “Captain Soul” (Jim McGuinn, Chris Hillman, Michael Clarke, David Crosby) – 2:53
04. “John Riley” (traditional, arranged Jim McGuinn, Chris Hillman, Michael Clarke, David Crosby) – 2:57
05. “2-4-2 Fox Trot (The Lear Jet Song)” (Jim McGuinn) – 2:12

(capa do compacto Fifth Dimension)

Ao ser relançado em CD, em 1996, trazia as seguintes faixas bônus:

“Why” [Single Version] (Jim McGuinn, David Crosby) – 2:59
“I Know My Rider (I Know You Rider)” (traditional, arranged Jim McGuinn, Gene Clark, David Crosby) – 2:43
“Psychodrama City” (David Crosby) – 3:23
“Eight Miles High” [Alternate RCA Version] (Gene Clark, Jim McGuinn, David Crosby) – 3:19
“Why” [Alternate RCA Version] (Jim McGuinn, David Crosby) – 2:40
“John Riley” [Instrumental] (traditional, arranged Jim McGuinn, Chris Hillman, Michael Clarke, David Crosby) – 16:53
NOTE: this song ends at 3:10; at 3:20 begins “Byrds Promotional Radio Interview”

 

Fifth Dimension marcaria um novo rumo na carreira da banda. Aos poucos, os Byrds deixariam de ser uma banda para adolescentes e musiquinhas fáceis e se aventurariam nas drogas, na psicodelia, em brigas e canções e discos ainda mais antológicos.

Deixo vocês com a discografia da banda. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Discos

Mr. Tambourine Man (1965)
Mr. Tambourine Man (EP, 1965)
Turn! Turn! Turn! (1965)
Fifth Dimension (1966)
Younger Than Yesterday (1967)
The Byrds Greatest Hits (1967)
The Notorious Byrd Brothers (1968)
Sweetheart of the Rodeo (1968)
Dr. Byrds & Mr. Hyde (1969)
Ballad of Easy Rider (1969)
(Untitled) (1970)
Byrdmaniax (1971)
Farther Along (1971)
The Best of The Byrds: Greatest Hits, Volume II (1972)
Byrds (1973)
The Byrds Play Dylan (1980)
The Original Singles: 1965–1967, Volume 1 (1980)
The Original Singles: 1967–1969, Volume 2 (1982)
The Byrds (box com 4 CDs, 1990)
The Very Best of The Byrds (1997)
Super Hits (1998)
Live at the Fillmore – February 1969 (2000)
The Preflyte Sessions (2001)
The Essential Byrds (2003)
There Is a Season (2006)
Live at Royal Albert Hall 1971 (2008)

compactos

“Mr. Tambourine Man” / “I Knew I’d Want You” (1965)
“All I Really Want To Do” / “I’ll Feel a Whole Lot Better” (1965)
“Turn! Turn! Turn!” / “She Don’t Care About Time” (1965)
“Set You Free This Time” / “It Won’t Be Wrong” (1966)
“Eight Miles High” / “Why” (1966)
“5D (Fifth Dimension)” / Captain Soul (1966)
“Mr. Spaceman” / “What’s Happening?!?!” (1966)
“So You Want to Be a Rock ‘n’ Roll Star” / “Everybody’s Been Burn” (1967)
“My Back Pages” / “Renaissance Fair” (1967)
“Have You Seen Her Face” / “Don’t Make Waves” (1967)
“Lady Friend” / “Old John Robertson” (1967)
“Goin’ Back” / “Change Is Now” (1967)
“You Ain’t Goin’ Nowhere” / “Artificial Energy” (1968)
“I Am A Pilgrim” / “Pretty Boy Floyd” (1968)
“Bad Night at the Whiskey” / “Drug Store Truck Drivin’ Man” (1969)
“Lay Lady Lay” / “Old Blue” 132 (1969)
“Wasn’t Born To Follow” / “Child of the Universe” (1969)
“Ballad of Easy Rider” / “Oil in My Lamp” (1969)
“Jesus Is Just Alright” / “It’s All Over Now, Baby Blue” (1969)
“Chestnut Mare” / “Just a Season” (1970)
“I Trust (Everything Is Gonna Work Out Alright)” / “(Is This) My Destiny” (1971)
“Glory, Glory” / “Citizen Kane” (1971)
“America’s Great National Pastime” / “Farther Along” (1971)
“Things Will Be Better” / “For Free” (1973)
“Full Circle” / “Long Live the King” (1973)
“Cowgirl in the Sand” / “Long Live the King” (1973)