471 – Dust

Se você é punk de carteirinha, mas tem vontade de curtir uma banda dos anos 70 que misturava hard e prog sem deixar seus amigos te xingando de “traidor do movimento”, saiba que o Dust é sua salvação. Primeiro, porque a discografia oficial é pequena, apenas dois LPs. E, principalmente, por causa do baterista Marc Bell.

Mas quem diabos é Marc Bell? Oras, ele foi baterista do Richard Hell & The Voidoids e de outra banda mais ou menos famosa: Ramones. Sim, Marc Bell é Marky Ramone! Pronto. Está salvo. Agora é só aumentar o som e curtir, porque isso é rock and roll!


null(O Dust, da esquerda para a direita: Richie Wise, Marky Bell e Kenny Aaronson)

O começo dos anos 70 ficou marcado pela explosão dos grupos de hard rock, heavy metal e progressivos: Led Zeppelin, Deep Purple, Black Sabbath, Pink Floyd, ELP, Genesis, etc, todas elas inglesas.

Eram poucos grupos norte-americanos que se aventuravam nessas praias. Um dos primeiros foi o Dust.

Como toda banda iniciante, o Dust nasceu fazendo covers de Stones ou Who, até começarem a desenvolver um repertório pessoal.

O grupo começou com o baixista Kenny Aaronson – baixista extraordinário e que colaborou com dezenas de artistas – de Bob Dylan a Billy Idol; de Joan Jett a Tony Iommi, de David Gilmour a Hall & Oates -, que sonhavam em ser um novo Ringo Starr, antes de mudar de instrumento.

null(capa do primeiro disco)

Kenny acabaria conhecendo o guitarrista e vocalista Richie Wise e o baterista Marc Bell e juntos começaram a moldar um som mais pessoal, pesado, melódico, infuenciados pelos grupos ingleses citados acima. Coube a Wise a incumbência de escrever as canções, ao lado do letrista Kenny Kerner, que não fazia parte do grupo.

As primeiras demos mostravam um grupo bem interessante, com uma sonoridade totalmente dos grupos nova-iorquinos da época. Uma dessas demos foi enviada ao selo Kama Sutra, com quem assinaram.

Com um contrato na mão lançam o primeiro disco, que leva apenas o nome do grupo, em 1971.

Em sete faixas longas, o grupo mostra um belíssimo potencial e Kenny se destaca como um músico de muito talento tocando, além do baixo, dobro e bottleneck.

O disco trazia sete faixas, sendo a última de Kenny Aaronson e as restantes da dupla Richie Wise e Kenny Kerner.

Lado A

01. “Stone Woman” – 4:03
02. “Chasin’ Ladies” – 3:39
03. “Goin’ Easy” – 4:30
04. “Love Me Hard” – 5:30

Lado B

01. “From a Dry Camel” – 9:52
02. “Often Shadows Felt” – 5:12
03. “Loose Goose” – 3:49

Ao ser reeditado em CD, em 2008, no formato digipack, trazia o single Stone Woman, em uma versão menor do que a do LP original.

Dust mostra uma coesão surpreendente e um peso incrível para um power trio, um Blue Cheer bem mais melódico. O som varia de hard pesado a momentos mais country, como “Goin’ Easy”, que tem um começo mais lento até entrar o grupo mostrando toda sua competência sonora.

O disco não vendeu muito, mas ainda assim a Kama Sutra resolveu investir novamente no trio, que lançou, em 1972, o segundo e definitivo álbum: Hard Attack.

Com uma bela capa desenhada por Frank Frazetta, Hard Attack trazia arranjos de cordas, feito por Larry Wilcox e apenas confirmava o talento do trio e da dupla Wise-Kerner, como compositores.

Lado A

01. “Pull Away/So Many Times” – 5:02
02. “Walk In The Soft Rain” – 4:25
03. “Thusly Spoken” – 4:27
04. “Learning To Die” – 6:27

Lado B

01. “All In All” – 4:06
02. “I Been Thinkin'” – 2:12
03. “Ivory” – 2:42
04. “How Many Horses” – 4:18
05. “Suicide – 4:53
06. “Entrance” – 0:19

null(Marc Bell)

Apesar de receber muitos elogios, a banda acabou se separando, logo depois e cada um resolveu seguir rumos opostos.

Aaronson entraria em outro grupo da gravadora, o Stories, antes de virar um músico de estúdio, tocando com todos os artistas acima citados e muitos outros.

Wise e Kerner montaram uma produtora, trabalhando com o próprio Stories e nos dois primeiros discos do Kiss (Kiss e Hotter Than Hell), entre outros.

E Marc Bell? Bem, Marc foi um dos primeiros abraçar um novo estilo, barulhento e estranho chamado de punk.

Passou primeiro pelo grupo Wayne County and the Backstreet Boys, depois pelo Richard Hell & The Voidoids, onde gravou o excepcional LP Blank Generation, em 1977, até adentrar em um grupo nova-iorquino que virou no grande ícone do movimento, ao lado do Clash e dos Sex Pistols: os Ramones, como Marky Ramone e, a partir do quarto LP, Road to Ruin (meu favorito), substituindo Tommy Ramone, que assumiria a produção do mesmo disco.

nullHá uma edição 2 em 1 dos LPs, editada em 2004, embora ainda seja possível comprar as edições digipack, com som bem superior.

E por hoje é só, pessoal. Espero que tenham gostado. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Dust (1971)
Hard Attack (1972)