410 – Canned Heat – 1966 a 1968

Apesar de pouco lembrado hoje em dia, o Canned Heat foi uma das melhores bandas de blues surgidas na América, dos anos 60. Conhecido como “os reis do boogie”, o grupo trazia em seu quinteto, dois grandes talentos em sua formação, ambos já falecidos: o vocalista Alan “The Bear” Wilson e o líder Bob Hite. Entre 1967 e 1970 lançaram discos fundamentais, sendo um deles, um LP duplo com John Lee Hooker. Excelentes músicos foram destaques nos dois mais importantes festivais dos anos 60, o de Monterey e o de Woodstock.


Da esquerda para a direita: Larry Taylor, Henry Vestine, Bob Hite, Alan Wilson e Fito de la Parra.

A história do grupo começa em 1966, quando os colecionadores de discos e amantes de blues, Robert “Ther Bear” Hite e Alan “Blind Owl” Wilson resolveram montar uma banda. Hite era apenas um vendedor de uma loja de discos e possuía uma coleção imensa de blues, e compartilhava o mesmo gosto que o erudito Alan Wilson, um apaixonado pela gaita – para muitos, o maior que já existiu -, além de excelente guitarrista e vocalista.

O nome Canned Heat foi tirado de uma canção – “Canned Heat Blues” – composta por Tommy Johnson, que conta os efeitos alucinógenos de uma droga de nome sterno, que matou alguns músicos, incluindo, talvez, o próprio Johnson.

A primeira providência foi convidar o guitarrista Henry “The Sunflower” Vestine, outro apaixonado pelo blues e que já tinha tocado no Mothers of Invetion, de Frank Zappa.

O primeiro baixista do grupo foi Stuart Brotman, mas esse logo resolveu se juntar ao Kaleidoscope. O baterista era Frank Cook.

Com a saída de Brotman, entrou Mark Andes, até se fixarem em Larry “The Mole” Taylor (que havia trabalhado com os Monkees e Jerry Lee Lewis).

Com Larry Taylor, Henry Vestine, Bob Hite, Alan Wison e Frank Cook, a banda começou a ganhar forma. O repertório era construído em cima de antigos clássicos do blues e do boogie-woogie, além de composições próprias.

O Canned sempre teve uma presença marcante em palco, devido à excelência dos músicos. A banda chamou a atenção no histórico festival de Monterey, onde Jimi Hendrix foi apresentado ao público norte-americano.

Um mês depois do festival, a banda lança o primeiro LP, intitulado somente Canned Heat, pelo selo Liberty.

O disco ia na contra-mão do movimento psicodélico e era, essencialmente, um álbum de blues, com o grupo interpretando grandes clássicos dos blues rural de Detroit e Chicago (esse já elétrico).

Além disso, mostrava a excelente técnica dos músicos, especialmente a de Al Wilson, que seria considerado o maior gaitista de todos, por John Lee Hooker e também pelo guitarrista Mike Bloomfield.

Na capa, o grupo aparece consumindo uma base com sterno, o que causou algum problema ao grupo. O sterno era usado bebida alcoólicas como estimulante, como se fosse uma pasta de álcool desnaturado.

O LP trazia as seguintes faixas:

Lado A

1. “Rollin’ and Tumblin'” (Muddy Waters) – 3:11
2. “Bullfrog Blues” (William Harris) – 2:20
3. “Evil Is Going On” (Willie Dixon) – 2:24
4. “Goin’ Down Slow” (St. Louis Jimmy Oden) – 3:48
5. “Catfish Blues” (Robert Petway) – 6:48

Lado B

1. “Dust My Broom” (Robert Johnson, Elmore James) – 3:18
2 . “Help Me” (Sonny Boy Williamson II) – 3:12
3 . “Big Road Blues” (Tommy Johnson) – 3:15
4 . “The Story of My Life” (Guitar Slim) – 3:43
5 . “The Road Song” (Floyd Jones) – 3:16
6 . “Rich Woman” (Dorothy LaBostrie, Millet) – 3:04

O LP teve uma vendagem apenas razoável, ficando no Top 75, mas o suficiente para promover o grupo em suas apresentações. “Rollin’ and Tumblin'” foi escolhida como o primeiro single, formado que a banda não se interassava particularmente.

O brilhantismo continuava em outros números, como o clássico “Dust My Broom” e “Bullfrog Blues”.

No palco, a banda mostrava o que tinha de melhor, como o boogie-woogie, tendo como destaque o enorme Bob Hite.

O Canned Heat mostrava ao público antigo blues e a audiência e não tinha a menor idéia de que essas canções fossem meras covers, afinal o estilo era quase marginal entre os brancos, na América. E como o quinteto tocava alto, com muita intensidade e animação, sempre agradava os fãs.

Logo após o lançamento, Cook é substituído pelo experiente baterista mexicano Adolfo “Fito” de la Parra, fechando a formação clássica do grupo. Parra havia passado pelos Los Sinners e Los Hooligans, além de ter tocado com The Platters, The Shirelles, T-Bone Walker e Etta James.

E é essa formação que lança o primeiro grande LP do grupo, Boogie with Canned Heat.

Boogie with Canned Heat já traz composições próprias, além de “On The Road Again”, top 20 nos Estados Unidos e o maior sucesso do grupo.

O disco também ficaria entre as 20 mais na América, fazendo um sucesso ainda maior no Reino Unido, já que o álbum ficou entre os 5 mais vendidos, enquanto o compacto alcançou o Top 10.

O compacto era uma composição de Alan Wilson baseada em uma antiga canção de Floyd Jones, lançada em 1953. Nela, Wilson mostra todo seus talento como gaitista, além de seu vocal frágil, que deu uma harmonia perfeita.

O sucesso como músico escondia vários problemas pessoais do principal talento do grupo. Depressivo, Alan sempre extremamente inseguro em relação às mulheres por sua aparência e pelos grossos óculos que usava. Por isso, sua morte é especulada – embora não confirmada – como suicídio.

O grupo começava a mostrar composições mais longas, improvisações, como é o caos de “Fried Hockey Boogie”, apesar de ainda estar longe da sonoridade do disco duplo, Living the Blues, onde a banda soltaria todas as amarras em longas e intricadas e experimentais jams.

O LP trazia as seguintes faixas:

Lado A

1. “Evil Woman” (Larry Weiss) – 2:59
2 .”My Crime” (Canned Heat) – 3:57
3 .”On the Road Again” (Floyd Jones, Alan Wilson) – 5:01
4 . “World in a Jug” (Canned Heat) – 3:29
5 . “Turpentine Moan” (Canned Heat) – 2:56
6 . “Whiskey Headed Woman No. 2” (Bob Hite) – 2:57

Lado B

1. “Amphetamine Annie” (Canned Heat) – 3:56
2. “An Owl Song” (Wilson) – 2:43
3. “Marie Laveau” (Henry Vestine) – 5:18
4. “Fried Hockey Boogie” (Larry Taylor) – 11:07

O lançamento foi seguido de uma apresentação no festival de New Pop e uma extensa turnê pela Europa, onde causaram furor e impulsionaram as vendas.

O Canned Heat estava no auge da fama quando lançou um dos discos mais ousados de 1968, mesmo ano em que Hendrix confundiu o mundo com Electric Ladyland e os Beatles lançaram The Beatles (conhecido como White Album): Living the Blues. E assim com os dois citados, era também um álbum duplo.

Living the Blues é um grande disco de blues, embora a banda tenha ousado experimentalmente em altas dosagens – e para alguns até demais.

O primeiro disco abre com grandes composições, casos de “Going Up the Country,” que virou um hino do festival de Woodstock. O disco abre com “Pony Blues” e a banda mostra uma excelente forma. O entendimento do grupo é perfeito e as próximas faixas – “My Mistake” e “Sandy’s Blues” são convites irresistíveis, com arranjos cuidadosamente preparados. Logo após a clássica, a banda começa a dar o pulo do gato. Seguem-se “Boogie Music” e “One Kind Favor”, até o primeiro susto: a longa suíte experimental “Parthenogenesis”.

Dividida em nove partes, a faixa apresenta experimentações sonoras, colagens, alguns efeitos eletrônicos, construindo um mantra hipnótico, estranho, mas ao mesmo tempo, surpreendente e fascinante.

Se “Parthenogenesis” era um espanto, o que dizer da próxima faixa, que ocuparia o disco 2 completamente? “Refried Boogie”, parts 1 e 2, mostram o máximo de ousadia que a banda se permitia. Inicia-se com uma apresentação ao vivo no palco da Kaleidoscope, em Los Angeles, parecia um blues tradicional. O que ninguém podia esperar é que durasse 41 minutos e levasse os músicos aos limites, bem como os fãs. Longas improvisações, andamentos diferentes, solos de todos os tipos fazem dela um dos símbolos do grupo.

O disco teve a participação de Dr. John (piano e arranjos de metais em “Boogie Music), Miles Grayson (arranjos de metais em “Sandy’s Blues”) e Joe Sample, piano também em “Sandy’s Blues”.

O álbum duplo trazia as seguintes faixas:

Disco 1

Lado A

1. “Pony Blues” (Charley Patton) – 3:48
2. “My Mistake” (Alan Wilson) – 3:22
3. “Sandy’s Blues” (Bob Hite) – 6:46 Canned Heat, Joe Sample
4. “Going Up the Country” (Wilson) – 2:50
5. “Walking by Myself” (Jimmy Rogers) – 2:29
6. “Boogie Music” (L.T. Tatman III) – 3:19
7. “One Kind Favor” (Tatman) – 4:43

Lado B

8. “Parthenogenesis” (Medley) (Canned Heat) – 19:57

“Nebulosity”
“Rollin’ and Tumblin”
“Five Owls”
“Bear Wires”
“Snooky Flowers”
“Sunflower Power”
“Raga Kafi”
“Icebag”
“Childhood’s End”

Disco 2

Lado 1

“Refried Boogie – Part I” (Canned Heat)

Lado 2

” Refried Boogie – Part II” (Canned Heat)

O grupo teria uma guinada a partir de 1969, mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Discos

Canned Heat (1967)
Boogie with Canned Heat (1968)
Living the Blues (1968)
Hallelujah (1969)
Live at the Kaleidoscope (1969)
Cookbook (1969)
Canned Heat ’70 Concert Live In Europe (1970)
Future Blues (1970)
Hooker ‘N Heat (1970)
Live At Topanga Corral (1971)
Historical Figures and Ancient Heads (1972)
The Best of Canned Heat (1972)
The New Age (1973)
One More River to Cross (1973)
The Very Best of Canned Heat (1975)
Memphis Heat (1974)
Gates On Heat (1974)
Human Condition (1978)
Captured live (1980)
Hooker’n’Heat, Live at the Fox Venice Theatre (1981)
The Heat Brothers ’84 (1984)
Infinite Boogie (1986)
Boogie Up The Country (1987)
Reheated (1988)
Let’s Work Together: The Best of Canned Heat (1989)
Burnin’ live (1991)
Boogie Assault (1991)
Canned Heat Live (1993)
Internal Combustion (1994)
Uncanned! The Best of Canned Heat (1994)
King Biscuit Flower Hour (1995)
Live at Turku Festival (71) (1995)
Canned Heat Blues Band (1996)
Best of Hooker ‘n’ Heat (1996)
The Ties That Bind (1997)
House of Blue Lights (1998)
Boogie 2000 (1999)
The Boogie House Tapes (2000)
Friends in the Can (2003)
The USA Sessions w/ Javier Batiz (2003)
The Boogie House Tapes Volume 2 (2004)
Under Dutch Skies, Mlp (2007)
Christmas Album (2007)
The Very Best of Canned Heat (2007)