004 – The Clash – London Calling

Eles foram amigos dos Sex Pistols, e embora mais elaborados, eram tão cultuados pela horda punk quanto a banda de Johnny Rotten. Com o disco duplo London Calling se consagraram como um dos maiores grupos da história, mesmo após a morte do movimento. “Mofo” tenta explicar um pouco da importância do The Clash.


The ClashEles foram conhecidos como a única banda que valia a pena no final dos anos 70. Após a separação dos Sex Pistols e da “morte” decretada do movimento punk, o Clash sobrou como uma das últimas bandeiras do movimento e a mais importante. Desde sua formação, em 1976, a banda apoiou-se na força de suas letras, sua energia no palco e no carisma da dupla Strummer e Jones.

Considerada uma das melhores duplas de compositores do rock, Mick Jones e Joe Strummer dividiam vocais, guitarras e letras de forte apelo social.

O grupo começou a ganhar notoriedade na Inglaterra ao abrir uma turnê dos Sex Pistols. O carisma era todo da turma de Johnny Rotten, mas o som feroz vinha do Clash.

O baterista Topper Headon sempre citou que embora fossem amigos dos Pistols, pouco tinham a ver com a imagem da banda de Rotten.

“Nós nunca quisemos chocar as pessoas, com auto-mutilações no palco como os Sex Pistols faziam.” “Eu jamais colocaria um brinco no nariz”, acrescentaria Jones.

Para lançar London Calling, o Clash fez uma série de exigências para a CBS, sua gravadora. A primeira e mais cara de todas para o selo, foi vender o disco, que seria duplo, pelo preço de um LP normal. A CBS chiou, mas concordou. O grupo faria o mesmo com o disco seguinte, o triplo Sandinista!, que foi um fracasso de vendas na época e estremeceu muito as relações da banda com o selo.

A idéia ao lançar London Calling era conquistar de vez o mercado norte-americano. O Clash vinha de bem-sucedidas excursões norte-americanas, com Bo Diddley no inverno, e Sam & Dave, Ian Dury and The Blockheads, entre outros no outono. O disco foi produzido por Guy Stevens, que já havia trabalhado com Mott The Hoople.

Embora uma banda de temática punk, eles nunca tiveram um som basicamente cru como os Pistols. Bons músicos, sabiam afinar os intrumentos e tinham boa noção de melodias. A força vinha de suas letras e das apresentações, onde os fãs literalmente arrancavam cadeiras e botavam fogo nos teatros em que a banda se apresentava.

E podiam se dar ao luxo de serem meninos bem educados. Strummer era filho de um embaixador e morou em vários países. Paul Simonon era estudante de arte e Jones e Headon eram músicos com certa reputação no meio rocker de Londres.

Mesmo com boa formação, sempre odiaram a burguesia. Strummer deixava claro que odiava tocar em universidades, por considerar os estudantes um bando de esnobes e otários. “Pelo menos pagam minhas contas. Mas eu não ligo nem um pouco para essa parte dos nossos fãs.”

Para o disco, a banda procurou se esmerar nas letras e nas influências rítmicas. A certeza de que o disco seria um divisor de água na carreira do grupo era tão grande, que o primeiro nome para o trabalho foi pomposamente chamado de “New Testament”. Faixas como “London Calling”, “Spanish Bombs” e “The Guns of Brixton” citam temas políticos e revoluções. Mas não parava por aí: problemas familiares, rebeliões de operários, tudo era colocado no caldeirão do grupo. Misturado com rockabilly, reggae, R&B até pitadas de jazz, fizeram um dos discos mais aclamados do ano. A banda conseguiu emplacar “Train in Vain”, a última canção do álbum duplo e que, curiosamente, não tinha o nome incluinda nos créditos da contra-capa do disco. A música da banda fica um pouco mais acessível para o grande público. Diferente da temática 1-2-3-4, Go!, que marcavam as bandas punks, o Clash se tornou mais elaborado.

“Nós estávamos mais relaxados no estúdio, sabíamos o que queríamos. Isso não significa que perdemos nossa força, muito pelo contrário. Canções como ‘London Calling’, ‘The Guns of Brixton’, ‘Clapdown’ e ‘Brand New Cadillac’ não são nada calmas. Há muita intensidade”, explica Mick Jones.

Um exemplo pode ser a letra de “The Guns of Brixton”: “Quando eles batem na porta da sua casa / O que você acha que virá? / As mãos na cabeça ou o gatilho de suas armas?”

Ou então em “London Calling”: “Londres chamando as cidades distantes/ Agora a guerra foi declarada e a batalha começou / London chamando o submundo / Saíam de seus abrigos, meninos e meninas / Londres chamando, não olhem para nós / A Beatlemania já foi derrubada.”

A capa era uma homenagem a Elvis Presley e ao rocker britânico Vince Taylor. Perguntado sobre qual era o objetivo da banda com London Calling, Jones esclareceu. “Meu objetivo é chegar ao topo da montanha. E tenho que lutar muito até lá. Sabe com que isso parece? É a mesma coisa que ficar dando cabeçadas contra uma parede. Há algumas vitórias, mas são pequenas demais.”

Jones afirmava que era difícil definir os rumos da banda. “Eu acho que estamos melhorando. É legal fazer parte de uma banda que o público não possui uma pré-concepção . Nós podemos subir ao palco e tocarmos qualquer coisa, até jazz se quisermos, e não precisamos fazer exatamente o que as pessoas esperam. Considero isso uma grande evolução.”

A banda continuou firme em suas posições. Mesmo o disco cheio de dub e ska que foi Sandinista! ou a pitada mais acessível de Combat Rock, não tiraram o brilho de uma banda que soube como poucas, usar o sistema a seu favor.

London Calling foi aclamado como o melhor álbum da década de 80, pela revista norte-americana Rolling Stone, apesar de ter sido lançado em dezembro de 1979.

Caso queria conferir a energia da banda, corra atrás do disco From Here to Eternity, último lançamento póstumo da banda e que traz apresentações de várias épocas do grupo. O CD saiu no Brasil e pode ser encontrado em várias lojas.

Discografia

T)he Clash (1977)
Give ‘Em Enough Rope (1978)
London Calling (1979)
Sandinista! (1980)
Black Market Clash (1980)
Combat Rock (1982)
Cut The Crap (1985)
The Story of The Clash Vol. 1 (1988)
The Singles Collection (1991)
Clash On Broadway (1991)
From Here To Eternity (1999)
The Singles (2000)
The Essential Clash (2003)