398 – Bruce Springsteen – Nebraska

Bruce Springsteen é um dos maiores ícones do rock norte-americano. Apelidado de “The Boss” pelos fãs que o veneram berrando “Brruucceee!” nos shows, Springsteen é um grande contador de histórias, seguindo uma linhagem que começou com Woody Guthrie, Pete Seeger, Bob Dylan, entre outros. Com uma sensível e apurada visão da sua América querida, Bruce tornou-se um dos mais importantes e afamados músicos de todos os tempos e um dos maiores performers que o rock já conheceu.


Bom, há anos eu ensaio uma bio completa sobre Bruce e tinha planos para começar nesse ano. Mas tenho escrito tão pouco, se comparado a 2008, que vou primeiro falar de um disco que gosto muito e feito de material e por isso optei, primeiro, em falar desse disco lançado em 1982, inteiramente acústico e sem a presença dos fiéis escudeiros da E-Street Band.

Nebraska traz a marca da ousadia, algo que só os grandes artistas têm peito de fazer. Afinal, durante 10 anos Bruce foi um dos maiores nomes do rock ianque, desde o estouro com Born to Run, em 1975, quando muitos o catalogaram como o novo Bob Dylan, para horror de ambos.

Com uma vida onde o palco é sua casa – e Bruce valoriza cada dólar dos fãs, tocando por mais de duas horas e sempre no limite – vivia um momento de extremo prestígio após o aclamadíssimo disco duplo The River.

Bruce sempre teve um ritmo irregular em termos de lançamento, não se obrigando a lançar um disco a cada ano. Seus sumiços são entendidos pelos fãs e seus álbuns são comprados avidamente sempre que aparece um novo, mesmo hoje, quase 40 anos após seu disco de estréia.

Essa independência de não lançar disco atrás de disco, fez dele um artista que entra em estúdio só quando realmente tem algo a dizer.

E Bruce resolveu fazer o inesperado: após cinco álbuns elétricos, dispensou a E-Street Band e começou a gravar sozinho algumas canções. Sua idéia era gravar apenas umas bases em sua casa em um gravador de quatro canais, com instrumentos acústicos.

Porém, ao contrário dos álbuns anteriores, as novas composições mostravam um homem desiludido com a América, uma nação que simplesmente não entrega a “terra prometida” aos norte-americanos, que vêem seus sonhos devastados.

Springsteen sempre gostou do tema, tocado em alguns dos seus grandes clássicos, como “The River”.

A curiosidade é que agora Bruce não dá trégua ao ouvinte, abordando temas pesados e densos para o consumidor médio.

Enquanto as canções eram escritas, Bruce percebeu que elas não deveriam ter uma banda “suavizando” as letras.

Seu desejo era gravar, ele mesmo, todos os instrumentos, utilizando apenas elementos acústicos. Lembre-se que estávamos em 1982, quase 10 anos antes da moda “unplugged” e que era extremamente fora do padrão um grande rock star se despir dessa forma.

Quando soube do projeto, a Columbia Records foi chocada: um de seus maiores astros iria abandonar o grupo e tocar folk music, ainda por cima, gravada de maneira crua, com Bruce cantando baixo, de maneira apressada e muitas vezes engolindo as palavras? E as letras? Apenas más notícias, nenhum hit em potencial, como vender aquilo?

As 10 canções foram gravadas em único dia em sua casa, em New Jersey, no dia 3 de janeiro de 1982.

O disco abre com uma das histórias mais macabras já escritas, por ele, a faixa-título, onde conta a real história do serial killer Charles Starkweather, de 19 anos, condenado à morte, levado ao corredor da morte.

Ao longo do disco, Bruce mostra um lado soturno, amargo dos Estados Unidos. Bruce tem algumas simbologias interessantes, como carros e estradas e isso se mostra em faixas como “State Trooper” – relato de um patrulheiro honesto que persegue, na estrada, o irmão que matou uma pessoa e o deixa escapar de maneira proposital, não cumprindo seu dever.

Nebraska é um disco denso, intimista demais e que demorou oito meses para ser lançado. Vendo que seu astro não cederia às pressões, a Columbia exigiu que ao menos o álbum tivesse uma qualidade sonora melhor.

Ao ser editado, Nebraska trazia as seguintes faixas:

Lado A

1. “Nebraska” – 4:32
2. “Atlantic City” – 4:00
3. “Mansion on the Hill” – 4:08
4. “Johnny 99” – 3:44
5. “Highway Patrolman” – 5:40
6. “State Trooper” – 3:17

Lado B

01. “Used Cars” – 3:11
02. “Open All Night” – 2:58
03 . “My Father’s House” – 5:07
04. “Reason to Believe” – 4:11

Todos os temores da Columbia mostraram-se exagerados: o disco recebeu elogios rasgados dos jornalistas, chegou ao terceiro posto nas paradas e teve o single Atlantic City, no top 10. O prestígio de “The Boss” mostrava-se intacto.

Após o lançamento, a estrada era o caminho natural e Bruce ficou quase dois anos com shows (como esse, ao lado de Jackson Browne), enquanto gestava a segunda grande virada em sua carreira: Born in the U.S.A.

Mas isso é papo para outra coluna, que espero não demora muito.

Um abraço e até mais.

Discografia

Greetings from Asbury Park, N.J. (1973)
The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle (1973)
Born to Run (1975)
Darkness on the Edge of Town (1978)
The River (1980)
Nebraska (1982)
Born in the U.S.A. (1984)
Bruce Springsteen & the E Street Band Live/1975-85 (1986)
Tunnel of Love (1987)
Human Touch (1992)
Lucky Town (1992)
In Concert/MTV Plugged (1993)
The Ghost of Tom Joad (1995)
Greatest Hits (1995)
Tracks (1998)
18 Tracks (1999)
Live in New York City (2001)
The Rising (2002)
The Essential Bruce Springsteen (2003)
Devils & Dust (2005)
We Shall Overcome: The Seeger Sessions (2006)
Hammersmith Odeon London ’75 (2006)
Magic (2007)
Live in Dublin (2007)
Working on a Dream (2009)
Greatest Hits (2009)