009 – The Smiths – The Queen is Dead

Eles foram um dos maiores fenômenos da música pop. A dupla Morrissey/Marr foi uma das mais perfeitas e produziram grandes momentos. Apesar da curta existência, os Smiths podem ser considerados como um dos grupo mais importantes da história.

 


David Bowie considera Morrissey um mestre em pegar pequenas causas e tratá-las com pompa. Mick Jones, ex-Clash, considera o vocalista e letrista dos Smiths um dos poucos nomes respeitáveis da década. Além disso, foram a banda mais cultuada dos anos 80. Levaram seus fãs à histeria e a um comprometimento com o grupo que beiravam a loucura. O mais incrível é que sempre odiaram todos os meios possíveis de promoção (vídeos, entrevistas…).

Seu líder, Morrissey, descia a lenha na monarquia, nos djs ingleses, na mediocridade reinante. Gravavam por uma independente e venderam milhões. Quando o guitarrista Johnny Marr anunciou o final do grupo, muitos seguidores, desesperados, se suicidaram. Nada mal para um grupo que durou apenas cinco anos.

Esse é um breve resumo dos Smiths. Liderados pelo vocalista Stephen Morrissey e pelo talentoso guitarrista Johnny Marr, foram a banda mais importante de Manchester, cidade que já havia dado grupos como Joy Division/New Order, Buzzcocks, Magazine, The Fall, Durutti Column, entre outros.

Mas o que fez desta banda tão especial? Talvez a maior razão seja o envolvimento de Morrissey com o grupo. Adolescente tímido e desajeitado, voraz leitor de revistas de música e obcecado por Oscar Wilde, Morrissey falava aos fãs tudo aquilo que outros não conseguiam resumir. Apaixonado pelas cantoras pop dos anos, como Cilla Black e pelo rock inglês dos anos 70, de David Bowie, Roxy Music, T. Rex e outros, resolveu montar um grupo em que pudesse extravasar sua timidez e raiva. Aliado ao guitarrista Johnny Marr, dono de um timbre ímpar, formaram a melhor dupla de compositores dos anos 80. Produzindo um clássico em cima do outro e com uma velocidade estonteante, não demoraram para conseguir um fiel público, em 82.

Disputados por várias gravadoras, optaram pela pequena Rough Trade. Lançaram o primeiro compacto (“Hand in Glove”), em maio de 83.

Em 84, sai o álbum intitulado apenas The Smiths. O disco foi aclamado por crítica e público. Ainda em 84, vem o segundo, Hatful of Hollow, feito ao vivo em programas de rádio. Em 85, lançaram Meat Is Murder. Ao mesmo tempo, Morrissey era eleito pelos fãs como o melhor ser humano do planeta, nas votações das revistas inglesas. Sem contar o prêmio de melhor grupo, vocalista, guitarrista, disco, etc…

Foi neste contexto que surgiu The Queen is Dead. A banda atravessava um momento delicado.

O baixista Andy Rourke havia sido preso com heroína. Logo depois, deixou a banda e foi substituído por Craig Gannon. Voltaria em seguida e ficaram um tempo como quinteto. Haviam feito shows para o Partido Trabalhista, ao lado de Billy Bragg, apesar de serem contra política. O grupo estava também discutindo a renovação de contrato com a Rough Trade, com quem ficaram oito meses brigando na justiça. Morrissey e Marr tinham propostas das majors, em especial a EMI. A banda esperava finalmente conseguir conquistar o público norte-americano, pouco receptivo ao som do grupo e ao perfil “gay” da banda.

Para fazer o quarto disco, terceiro de material inédito, os Smiths resolveram atacar a monarquia de maneira mais direta. O disco abre com “Take Me Back To Dear Old Blightly”, extraída do filme The L Shaped Room. Logo em seguida, uma guitarra distorcida entra. “The Queen is Dead” começa. Morrissey inicia um ataque contra a monarquia, avisando que a rainha está morta.

Depois disso, o disco segue com “Franky, Mr. Shankly”. “I Know It’s Over” é uma das baladas mais amargas já escritas. A letra já diz tudo: “Se você se considera tão inteligente, porque está sozinho esta noite?”

“The Boy With The Thorn in His Side” é o hit instantâneo, mas “Bigmouth Strikes Again” pode ser considerada a canção do disco. A letra tem várias lendas: uma delas é que foi feita como um pedido de desculpas após atacarem Margareth Tatcher, a então Dama de Ferro do Governo Inglês. Versos como, “Querida, eu estava bricando quando disse que queria esmagar sua cabeça”, era uma forte ironia do grupo.

“Eu me senti como Joana D’Arc após toda polêmica e por isso coloquei essa metáfora na canção. As críticas vinham de todos os lados”, lembra Morrissey.

O vídeo, mostrando a banda tocando em um palco, vale ser visto por uma curiosidade: é um dos poucos registros como quinteto, afinal Gannon entrou somente após a gravação do LP. Nos créditos, permanece a formação original.

O disco tem ainda uma grande canção, intitulada “There Is A Light That Never Goes Out”. Uma delicada canção de amor e desespero, que traduzia o espírito de Morrissey. Eis a letra:

Me leve para fora onde há musica e
onde há pessoas jovens e vivas
Dentro do seu carro eu não quero voltar para casa
pois não tenho casa
Me leve para passear porque quero ver luzes e ver pessoas
Dentro do seu carro,
oh, por favor, não me jogue para fora
Por que aquela não é minha casa, é a casa deles,
e não sou mais bem vindo
E se um ônibus de dois andares nos esmagar
Morrer ao seu lado será uma linda maneira de morrer
E se um caminhão de dez toneladas nos matar
Morrer ao seu lado será um prazer e um privilégio meu
Leve-me para passear onde quiser, eu não me importo
Eu pensei, Ó Deus, minha chance finalmente apareceu
(mas um estranho medo me atacou e não pude perguntar)
Leve me pare fora, vamos para qualquer parte, eu não me importo
Apenas estando no seu carro, eu não quero voltar para casa
Eu não quero voltar para casa, porque não tenho uma

Morrissey sempre prestou homenagem a escritora Shelagh Delaney, que aos 19 anos, escreveu uma peça de teatro chamada A Taste of Honey, que influenciou muito a juventude inglesa no final dos anos 50 e confessa que mais da metade do que escreveu se deve a ela. A estória de uma jovem inglesa que fica grávida de um marinheiro negro e vai morar com um homossexual até a criança ser nascida fez a cabeça de vários jovens ingleses e ganhou muitos prêmios. Em 1960, foi feito um filme homônimo, dirigido por Tony Richardson. O livro pode ser encontrado em alguns sites da internet. Já o filme está fora de catálogo e em apenas alguns sites que vendem filmes raros pode ser adquirido.

Com o fim da banda, em 87, após o disco Strangeways, Here We Come, os integrantes nunca mais conseguiram ser os mesmos. Morrissey fez uma boa carreira solo, em especial no primeiro álbum, Viva Hate, em que Vini Reilly do Durutti substituía Marr. O cantor continuou produzindo muito, lançando vários compactos e discos, mas sem a mesma classe de antes. Johnny Marr tocou com Keith Richards, Bryan Ferry, Pretenders, Talking Heads, formou o Electronic com Bernard Summer, do New Order, foi para o The The e nunca mais se achou. Andy Rourke e Mike Joyce tocaram com Sinéad O´ Connor, Adult Net (banda de Brix E. Smith, esposa, de Mark E. Smith, do Fall). Em 98, Rourke e Joyce ganharam um processo contra Morrissey e Marr, para receberem mais direitos autorais sobre vendas e toda obra da banda. Cada um só tinha direito a 10%, ficando 80% para a dupla de compositores.

Apesar de durarem apenas cinco anos, os Smiths marcaram profundamente a música da década. E espero que NÃO VOLTEM. Afinal, dificilmente conseguiriam manter a qualidade de antes. Uma grande banda que jamais teve um período de baixa.

Discografia

The Smiths (1984)
Hatful of Hollow (1984)
Meat is Murder (1985)
The Queen is Dead (1986)
The World Won’t Listen (1987)
Louder Than Bombs (1987)
“Strangeways, Here We Come” (1987)
“Rank” (1988)
The Best of The Smiths, Vol.1 (1992)
The Best of The Smiths, Vol.2 (1992)
Singles (1995)
The Very Best of The Smiths (2001)