Van Morrison é um dos grandes nomes do rock. Considerado por John Lee Hooker como o maior cantor do mundo e idolatrado por nomes como Dylan, Bruce Springsteen, Bono, Rod Stewart, entre outros, sempre teve uma carreira brilhante, apesar de pouco sucesso comercial.

Você provavelmente não conhece Van Morrison de nome, mas com certeza já ouviu suas músicas, especialmente se for fã de cinema. Alguns exemplos: em Patch Adams – O Amor é Contagiante, com Robin Williams, Van Morrison aparece, no momento mais romântico do filme, com “Into The Mystic”. Em Ouro de Ulisses, com Peter Fonda, a música que fecha o filme, “Tupelo Honey”, é dele. Em Além da Eternidade, filme de Steven Spielberg, com Richard Dreyfuss, Van canta “Crazy Love”. Isso sem contar outros vários filmes. Van é assim. Você até pode não saber quem é, mas sua voz já esteve viajando na sua mente.

Eu tive o orgulho de entrevistá-lo e publicar a matéria. Falar com um de seus ídolos é sempre complicado, mas ele foi muito educado e paciente. Van é um cara de poucas palavras e que produz muito. Só esse ano lançou dois discos completamente diferentes, um de skiffle e outro de rockabilly com a irmã de Jerry Lee Lewis, Linda Gail.

Dono de um temperamento complicado, esse irlandês de Belfast sempre primou pelo perfeccionismo. Depois de brigar em sua banda de origem, Them, (vale a pena dar uma ouvida), resolveu apostar em uma carreira solo e mudou-se para a América. O resto é história. Depois de lançar um álbum fraco (Blowin’ Your Mind), se recuperou totalmente com Astral Weeks, Moondance e His Band and Street Choir. Saint Dominic’s Preview é o álbum a seguir.

Pode parecer até uma escolha complicada pra quem gosta, por isso deixei meu gosto pessoal falar mais alto. Moondance foi o primeiro CD que comprei na minha vida e “Brand New Day” a música que mais gosto. Mas Saint Dominic’s foi o primeiro vinil que comprei de Van no distante ano de 1986.

O disco já abre com uma daquelas músicas que conquista o ouvinte: “Jackie Wilson Said”, um soul em que Van mostra como se canta. Depois da abertura, ataca de momentos folk, mostrando seu lado mais cigano e místico que tanto moldou sua carreira, em “Gypsy”.

Com “Listen To The Lion”, uma peça de mais de onze minutos, Van encanta os ouvintes, cantando, berrando, fazendo scat, mostrando toda sua versatilidade.

Ele se lembra bem desse período. “Foi a minha fase mais cigana, eu estava mergulhado em todo esse clima. A musica em si não é grande música, mas eu fiquei brincando com ela como se tivesse entrando em transe. Originalmente era pra durar uns quatro minutos, mas acabei viajando e ela se estendeu”.

Nessa época começou a chamar a atenção de outros músicos. Bob Dylan considera Astral Weeks um dos 10 melhores discos de todos os tempos. John Lee Hooker acha Van o maior cantor do mundo. Bono adoraria gravar alguma coisa com ele. Perdeu a chance em 1989, no disco Avalon Sunset.

Van explica a faixa título: “Eu vinha trabalhando nesta canção sobre a cena de Belfast, que cada vez mais estava triste. Eu não estava certo do que estava escrevendo, mas a imagem central me parecia uma igreja chamada St. Dominc’s, onde as pessoas iam ouvir missas sobre paz na Irlanda do Norte. De qualquer forma, uns anos antes, eu estava no Reno, em Nevada, para um concerto na universidade local. Enquanto jantávamos, abri o jornal e em uma página tinha um anúncio sobre uma missa de paz para a Irlanda no Norte, no mesmo dia, em San Francisco, em uma igreja chamada Saint Dominic’s. Parecia que eu nunca tinha ouvido falar em Saint Dominic’s. Historicamente, Saint Dominic foi um fundador de uma ordem médica, que agregava frades e freiras, em 1216.

Referências sempre foram o forte de Morrison. Um homem que foi condecorado com um título honorário de filosofia da Universidade de Belfast e que teve a casa que nasceu tombada como patrimônio histórico da cidade, apesar de seus protestos, pois odeia homenagens, e que sempre foi referência mundial.

Apenas um conselho: se você não conhece e quer ouvir algo, esqueça as coletâneas. Elas nunca mostram as melhores músicas. Van Morrison é um dos poucos caras, que mesmo sem ter hits monumentais, consegue emocionar o ouvinte com sua delicadeza e beleza. Humildes sugestões para começar: Moondance, o próprio Saint Dominic’s Preview, Tupelo Honey, o duplo ao vivo It’s Too Late To Stop Now e Enlightenment. Se você quiser ouvir o lado mais celta, fique com Astral Weeks e Irish Heartbeat, que fez com os Chieftains e que tem uma história muito divertida (por favor, dê uma lida na entrevista ainda disponível neste site).

Se quiser começar por quem foi influenciado, pode ir conferir Waterboys (que regravaram “Sweet Thing” em Fisherman’s Blues), Dexys Midnight Runners (fizeram uma versão de “Jackie Wilson” em Too Rye Ay. Se gosta de blues, saiba que Van produziu alguns discos de John Lee Hooker, na década de 90. Ele tem ainda fãs incondicionais, como Bruce Springsteen, Rod Stewart (que regravou “Have I Told You Lately”), o próprio Dylan, Bowie, Sting, Stones, etc…

Não deixe passar em branco caso ache algum disco. Você não irá se arrepender.

Discografia

Blowin’ Your Mind (1967)
Astral Weeks (1968)
Moondance (1970)
His Band and the Street Choir (1971)
Tupelo Honey (1971)
Saint Dominic’s Preview (1972)
Hard Nose the Highway (1973)
It’s Too Late to Stop Now (1974)
T. B. Sheets (1974)
Veedon Fleece (1974)
A Period of Transition (1977)
Wavelength (1978)
Into the Music (1979)
Common One (1980)
Beautiful Vision (1982)
Inarticulate Speech of the Heart (1983)
Live at the Grand Opera House Belfast (1984)
A Sense of Wonder (1985)
No Guru, No Method, No Teacher (1986)
Poetic Champions Compose (1987)
Irish Heartbeat (with the Chieftains) (1988)
Avalon Sunset (1989)
The Best of Van Morrison (1990)
Enlightenment (1990)
Hymns to the Silence (1991)
Bang Masters (1991)
The Lost Tapes (1992)
Best of Van Morrison Volume Two (1993)
Too Long in Exile (1993)
A Night in San Francisco (1994)
Days Like This (1995)
How Long Has This Been Going On (1996)
Tell Me Something: The Songs of Mose Allison (1997)
The Healing Game (1997)
The Philosopher’s Stone (1998)
Back On Top (1999)
The Skiffle Sessions – Live in Belfast (2000)
You Win Again (2000)
Down The Road (2002)
What’s Wrong With This Picture? (2003)
Magic Time (2005)
Pay the Devil (2006)
Live at Austin City Limits Festival (2006)
At the Movies (2007)