116 – Violeta de Outono – Dia Eterno – Ao Vivo

Em 1988, eu fazia cursinho em São Paulo e morava numa quitinete mínima com um outro amigo quando, de tarde, liguei o rádio e descobri que haveria um show do Violeta de Outono no MASP naquele mesmo dia.

Eu morava atrás do Cemitério da Consolação e saí feito um maluco e subi a ladeira da Consolação como se fosse um queniano nos metros finais (quem me conhece e sabe do meu tamanho pode imaginar a proeza). Simplesmente saí voando, feito um desesperado, na esperança de comprar algum ingresso solitário e foi com uma alegria imensa que consegui e pude ver, pela primeira vez, o Violeta de Outono, ao vivo.

Esse foi meu primeiro contato com a banda. Em 1997, escrevi pela primeira vez para o Fabio Golfetti e, três anos depois, fiz minha primeira entrevista com ele. Nestes 20 anos, assisti o Violeta umas 10 vezes, até mesmo aqui em São Luís e mantivemos amizade e correspondência constantes.

Para ha surpresa, recebi um email avisando que havia sido lançado um novo CD do Violeta, gravado em 2017 e tendo como base o primeiro LP, da RCA-Plug, de 1987, justamente minha fase predileta.

Fabio talvez não tenha ideia de como o Violeta desta primeira fase foi (e ainda é) bom e o quanto o trio é a formação ideal, especialmente com os parceiros originais – o baixista Angelo Pastorello e o baterista Claudio Souza.

Nas conversas que tive com ele, enquanto o disco não chegava, me dizia que lembraria muito o live Eclipse, de 1995. É verdade, com a vantagem do outro ser quase um pirata oficial com um som meio abafado, enquanto Dia Eterno foi gravado com uma qualidade bem superior.

É no trio que o Violeta se encontra e celebra o melhor de sua forma. A cozinha de Angelo e Claudio conhece todos os segredos da guitarra de Fabio, que com sua voz e suas letras abstratas criam um caleidoscópio único. Não há uma única banda nacional capaz de replicar o que eles fizeram, essa mistura de rock progressivo, psicodelismo, Beatles, com new wave, mantendo o som extremamente simples, porém, tão sofisticado.

O Violeta de 2017 (e de 2020) continua sendo igualmente maravilhoso quanto o de 1987, o que é um excelente alento para uma época tão dura como a atual e foi apenas mais uma desculpa extra para não guardar a montanha de CDs e CDRs que tenho deles em cima da minha mesa e que se recusa a voltar para a estante.

Desde a abertura em grande estilo com “Interstellar Overdrive” (Pink Floyd), até o encerramento com “Citadel” (Rolling Stones) – duas faixas do saudoso cassete The Early Years -, o Violeta percorre o repertório clássico daqueles dias: “Outono”, “Dia Eterno”, “Sombras Flutuantes”, “Declínio de Maio”, “Reflexos da Noite” e arrepiante cover de “Tomorrow Never Knows”, que fecha o álbum Revolver, dos Beatles e o primeiro do Violeta, de 1987.

São tantas as maravilhas de um tempo perdido. Está mais do que na hora do Violeta de Outono reinvidicar seu posto de melhor power trio brasileiro da história e de uma das mais preciosas e vitais bandas do rock nacional.

Faixas:

1. Interstellar Overdrive
2. Dia Eterno
3. Outono
4. Transe
5. Declínio de Maio
6. Outra Manhã
7. Sombras Flutuantes
8. Trópico
9. Luz
10. Reflexos da Noite
11. Tomorrow Never Knows
12. Em Toda Parte
13. Citadel