Os Inocentes
podem perfeitamente reinvidicar o título de banda punk
mais importante do Brasil, afinal, desde o início dos anos
80 lutam pela causa, desde os tempos em que Clemente, Calegari
e Marcelino faziam parte dos Condutores de Cadáver. Após
várias formações, discos por selos independentes
e pela poderosa Warner, a banda ainda mostra sangue nas veias
para continuar a missão de não deixar o estilo morrer
no Brasil.
A história do grupo
começa em 1979, quando o baixista Clemente resolveu deixar
os Condutores de Cadáver e montar um novo grupo. Clemente
já era um veterano da cena punk, pois havia formado o Restos
de Nada com Douglas Viscaino, em 1978.
Junto
com os companheiros de Condutores, o guitarrista Antônio
Carlos Calegari e o baterista Marcelino Gonzales, convidaram Maurício
para ser o vocalista de um novo grupo, Inocentes.
Rapidamente, os Inocentes
se tornam um dos pilares da cena punk paulistana, ao lado do Cólera
e Olho Seco. Os três grupos, aliás, são convidados
para participarem da coletânea Grito Suburbano,
registro vital da época e lançado pelo selo Punk
Rock, em 1982.
O disco trazia 4 faixas
de cada uma das três bandas, a saber:
Lado A
"Desespero" (Olho Seco)
"Sinto" (Olho Seco)
"Medo de Morrer" (Inocentes)
"Garotos do Subúrbio" (Inocentes)
"João" (Cólera)
"Gritar" (Cólera)
Lado B
"Lutar, matar"
(Olho Seco)
"Sinto" (Olho Seco)
"Guerra nuclear" (Inocentes)
"Pânico em SP" (Inocentes)
"Subúrbio Geral" (Cólera)
"Hhei" (Cólera)
Em
1983, a banda participa de outra coletânea fundamental para
a solidificação do gênero, O Começo
do Fim do Mundo, gravado ao vivo, no recém-inaugurado
Sesc Pompéia, nos dias 27 e 28 de novembro.
Foi o primeiro evento punk
do Brasil, organizado por Antonio Bivar, que lançava o
livro O que é o Punk? e que ainda teve
exposição de objetos e vídeos, além
de apresentações de vários artistas, destacando-se
o novato Ratos de Porão.
Participaram as seguintes
bandas e respectivas canções:
Lado A
1. Dose Brutal . Faces da Morte
2. M.19 . 19 de Abril
3. Neuróticos . Careca
4. Inocentes . Salvem El Salvador
5. Psykóze . Papo Furado
6. Fogo Cruzado . Ratos de Esgoto
7. Juízo Final . Liberdade
8. Desertores . Não Quero
9. Cólera . CDMP
10. Negligentes . Herói
Lado B
1. Extermínio . Holocausto
2. Suburbanos . Era Suburbanos
3. Passeatas . Direito de Protestar
4. Lixomania . Punk
5. Olho Seco . Haverá Futuro?
6. Decadência Social . Decadência Social
7. Estado de Coma . Marginal
8. Ratos de Porão . Novo Vietnã
9. Hino Mortal . Desequilíbrio
Em CD, foi incluída a banda Ulster
com a faixa "Heresia".
Os Inocentes já
eram uma das estrelas do movimento. Clemente havia marcado presença
ao escrever um manifesto para a revista Gallery Around,
com uma frase que ficaria famosa: "Nós estamos aqui
para revolucionar a música popular brasileira, pintar de
negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores
de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer."
Eles também foram
personagens do documentário Garotos do Subúrbio,
feito por Fernando Meirelles. No festival do Sesc já tinham
um novo vocalista, Ariel.
Em 1983 lançam o
primeiro disco, Miséria e Fome, por selo
próprio. Na verdade, o LP virou um EP, já que quase
todas as músicas foram vetadas pela censura. Mais tarde
acabou sendo lançado pela Devil Discos. A primeira capa
é a do compacto, a segunda se encontra em CD, com as seguintes
músicas:
1. Miséria e Fome
2. Morte Nuclear
3. Aprendi a Odiar
4. Calado
5. Não à Religião
6. Salvem El Salvador
7. Torturas, Medo e Repressão
8. Não Diga Não
9. Vida Submissa
10. Meninos do Brasil
11. Maldita Polícia
Logo após, a banda
- já um trio, com Clemente nos vocais - se dissolve em
cima do palco no Napalm, casa noturna de São Paulo e pára
por um ano.
O grupo retorna em 1984,
com uma nova formação, tendo Tonhão na bateria,
André, o baixo, Ronaldo, na guitarra e Clemente na segunda
guitarra e vocais, com um som mais perto do pós-punk. São
incluídos na coletânea internacional Life
Is a Joke e vêem o LP Grito Suburbano
ser lançado na Alemanha com o nome Volks Grito.
A vida começa a
mudar quando um dos membros do Titãs, Branco Mello, convence
a WEA a contratá-los.
Dessa
maneira, se tornam a primeira banda punk a gravar por uma multinacional
e logo são taxados de "vendidos" e "traidores
do movimento", por gente que talvez desconhecesse que Sex
Pistols, Clash e muitos outros artistas punks lançaram
seus discos por grandes gravadoras. O importante, para os Inocentes,
era espalhar a mensagem e não se vender.
Assim, em 1986, lançam
o mini-LP Pânico em SP, com apenas seis
músicas, com produção do próprio Branco
Mello e de Pena Schmidt.
Lado A
1 Rotina
2 Ele Disse Não
3 Não Acordem a Cidade
Lado B
4 El Salvador
5 Expresso Oriente
6 Pânico em SP
O
disco chegou a ser bem executado nas rádios mais rocks
dos país, em especial a faixa-título e "Não
Acordem a Cidade".
No ano seguinte, lançam
o primeiro LP pela Warner, Adeus Carne, produzido
por Geraldo D’Arbilly e Pena Schmidt.
O disco traz alguns hits,
como "Pátria Amada".
O LP tinha as seguintes
músicas:
Lado A
01. Patria Amada
02. Eu
03. Morrer aos 18
04. Não Sei Quem Sou
05. Tambores
06. Não é Permitido
Lado B
01. Em Pedaços
02. Cidade Chumbo
03. Na Sarjeta
04. Pesadelo 1
05. Adeus Carne
Apesar
das ótimas críticas e boa receptividade, a Warner
demora a colocar o grupo novamente em estúdio, fato que
só ocorreria em 1989, com o disco Inocentes,
produção assinada por Roberto Frejat, do Barão
Vermelho.
Talvez por pressão
da gravadora ou por tentarem parecer mais ecléticos, o
disco não faz tanto sucesso, devido aos diferentes estilos,
além de contar com uma capa um tanto constrangedora, onde
todos apareciam algemados e nus. O disco marca a saída
de Tonhão e André, substituídos por César
(bateria) e Mingau (baixo). A faixa de destaque é e "O
Homem que Bebia Demais" e uma regravação de
"Garotos do Subúrbio".
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado A
01. Animal Urbano
02. Mais Um na Multidão
03. A Face de Deus
04. Promessas
05. A Lei do Cão
Lado B
06. O Homem que Bebia Demais
07. Nosso Tempo
08. Marcha das Máquinas
09. A Voz do Morro
10. Garotos do Subúrbio
O
fiasco comercial culminou com a saída da Warner e alguns
anos de ostracismo para o grupo. O movimento punk perdia cada
vez mais força e o grupo só voltou à cena
com o disco Estilhaços, em 1992.
Em 1994 lançam Subterrâneos
e banda abre shows para os Ramones e com a banda tendo de volta
Calegari, no baixo, em lugar de Mingau. Mas Calegari logo sairia
novamente, assim como César, entrando em seus lugares,
Nonô e Anselmo.
O grupo também participa
do curta-metragem Opressão, de Mirella
Martinelli e Clemente grava com Thayde e DJ Hum, uma versão
"Pânico em SP", que acaba sendo rebatizada como
"Testemunha Ocular". A faixa acaba entrando na coletânea
No Majors Baby, editada pela Paradoxx.
Em 1996 é lançado
o disco Ruas, pela Paradoxx, pequeno selo que
tinha promovido também a volta do Ira!, nos anos 90.
O
grupo acaba se apresentando no festival Close-Up Planet, ao lado
dos Sex Pistols e de Marky Ramone.
Em 1998, lançam
Embalado a Vácuo, pela Paradoxx, que acaba
o vendendo para a Abril (edita o CD com capa diferente e duas
faixas extras), selo que os despede pouco tempo depois.
Em 2001 perdem Ronaldo,
que simplesmente some minutos antes de uma apresentação
em São Paulo, obrigando a banda fazer o show como trio.
Começa
um enorme rodízio de músicos na banda e, em 2004,
o grupo lança o disco Labirinto, pelo
selo Ataque Frontal.
Mais ou menos na mesma
época, Clemente se junta à Plebe Rude como membro
fixo, dividindo seu tempo entre os dois grupos.
A banda continua na ativa,
fazendo shows e sendo, talvez, o nome mais importante do movimento
punk no Brasil, quase 30 anos depois.
Deixo vocês com a
discografia do grupo. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Grito Suburbano (1982)
- Punk Rock Discos
O Começo do Fim do Mundo - (1983) - SESC
Miséria e Fome EP (1983) - Inocentes Discos
Life is a Joke (1984) - Weird System
Volks Grito (1984) - Vinnyl Boogie
Pânico em SP (1986) - Warner
Adeus Carne (1987) - Warner
Miséria e Fome (1988) - Devil Discos
Inocentes (1989) - Warner
Estilhaços (1992) - Camerati
Subterrâneos (1994) - Eldorado (2002) -RDS
Ruas (1996) - Paradoxx
Embalado a Vácuo (1999) - Abril Music
Garotos do Subúrbio (1999) - RDS
O barulho dos Inocentes (2000) - Abril Music
Vinte anos ao vivo (2002) - RDS
Labirinto (2004) - Ataque Frontal
|