348 - Inocentes

Os Inocentes podem perfeitamente reinvidicar o título de banda punk mais importante do Brasil, afinal, desde o início dos anos 80 lutam pela causa, desde os tempos em que Clemente, Calegari e Marcelino faziam parte dos Condutores de Cadáver. Após várias formações, discos por selos independentes e pela poderosa Warner, a banda ainda mostra sangue nas veias para continuar a missão de não deixar o estilo morrer no Brasil.


A história do grupo começa em 1979, quando o baixista Clemente resolveu deixar os Condutores de Cadáver e montar um novo grupo. Clemente já era um veterano da cena punk, pois havia formado o Restos de Nada com Douglas Viscaino, em 1978.

Junto com os companheiros de Condutores, o guitarrista Antônio Carlos Calegari e o baterista Marcelino Gonzales, convidaram Maurício para ser o vocalista de um novo grupo, Inocentes.

Rapidamente, os Inocentes se tornam um dos pilares da cena punk paulistana, ao lado do Cólera e Olho Seco. Os três grupos, aliás, são convidados para participarem da coletânea Grito Suburbano, registro vital da época e lançado pelo selo Punk Rock, em 1982.

O disco trazia 4 faixas de cada uma das três bandas, a saber:

Lado A

"Desespero" (Olho Seco)
"Sinto" (Olho Seco)
"Medo de Morrer" (Inocentes)
"Garotos do Subúrbio" (Inocentes)
"João" (Cólera)
"Gritar" (Cólera)

Lado B

"Lutar, matar" (Olho Seco)
"Sinto" (Olho Seco)
"Guerra nuclear" (Inocentes)
"Pânico em SP" (Inocentes)
"Subúrbio Geral" (Cólera)
"Hhei" (Cólera)

Em 1983, a banda participa de outra coletânea fundamental para a solidificação do gênero, O Começo do Fim do Mundo, gravado ao vivo, no recém-inaugurado Sesc Pompéia, nos dias 27 e 28 de novembro.

Foi o primeiro evento punk do Brasil, organizado por Antonio Bivar, que lançava o livro O que é o Punk? e que ainda teve exposição de objetos e vídeos, além de apresentações de vários artistas, destacando-se o novato Ratos de Porão.

Participaram as seguintes bandas e respectivas canções:

Lado A

1. Dose Brutal . Faces da Morte
2. M.19 . 19 de Abril
3. Neuróticos . Careca
4. Inocentes . Salvem El Salvador
5. Psykóze . Papo Furado
6. Fogo Cruzado . Ratos de Esgoto
7. Juízo Final . Liberdade
8. Desertores . Não Quero
9. Cólera . CDMP
10. Negligentes . Herói

Lado B

1. Extermínio . Holocausto
2. Suburbanos . Era Suburbanos
3. Passeatas . Direito de Protestar
4. Lixomania . Punk
5. Olho Seco . Haverá Futuro?
6. Decadência Social . Decadência Social
7. Estado de Coma . Marginal
8. Ratos de Porão . Novo Vietnã
9. Hino Mortal . Desequilíbrio

Em CD, foi incluída a banda Ulster com a faixa "Heresia".

Os Inocentes já eram uma das estrelas do movimento. Clemente havia marcado presença ao escrever um manifesto para a revista Gallery Around, com uma frase que ficaria famosa: "Nós estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira, pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer."

Eles também foram personagens do documentário Garotos do Subúrbio, feito por Fernando Meirelles. No festival do Sesc já tinham um novo vocalista, Ariel.

Em 1983 lançam o primeiro disco, Miséria e Fome, por selo próprio. Na verdade, o LP virou um EP, já que quase todas as músicas foram vetadas pela censura. Mais tarde acabou sendo lançado pela Devil Discos. A primeira capa é a do compacto, a segunda se encontra em CD, com as seguintes músicas:

1. Miséria e Fome
2. Morte Nuclear
3. Aprendi a Odiar
4. Calado
5. Não à Religião
6. Salvem El Salvador
7. Torturas, Medo e Repressão
8. Não Diga Não
9. Vida Submissa
10. Meninos do Brasil
11. Maldita Polícia

Logo após, a banda - já um trio, com Clemente nos vocais - se dissolve em cima do palco no Napalm, casa noturna de São Paulo e pára por um ano.

O grupo retorna em 1984, com uma nova formação, tendo Tonhão na bateria, André, o baixo, Ronaldo, na guitarra e Clemente na segunda guitarra e vocais, com um som mais perto do pós-punk. São incluídos na coletânea internacional Life Is a Joke e vêem o LP Grito Suburbano ser lançado na Alemanha com o nome Volks Grito.

A vida começa a mudar quando um dos membros do Titãs, Branco Mello, convence a WEA a contratá-los.

Dessa maneira, se tornam a primeira banda punk a gravar por uma multinacional e logo são taxados de "vendidos" e "traidores do movimento", por gente que talvez desconhecesse que Sex Pistols, Clash e muitos outros artistas punks lançaram seus discos por grandes gravadoras. O importante, para os Inocentes, era espalhar a mensagem e não se vender.

Assim, em 1986, lançam o mini-LP Pânico em SP, com apenas seis músicas, com produção do próprio Branco Mello e de Pena Schmidt.

Lado A

1 Rotina
2 Ele Disse Não
3 Não Acordem a Cidade

Lado B

4 El Salvador
5 Expresso Oriente
6 Pânico em SP

O disco chegou a ser bem executado nas rádios mais rocks dos país, em especial a faixa-título e "Não Acordem a Cidade".

No ano seguinte, lançam o primeiro LP pela Warner, Adeus Carne, produzido por Geraldo D’Arbilly e Pena Schmidt.

O disco traz alguns hits, como "Pátria Amada".

O LP tinha as seguintes músicas:

 

Lado A

01. Patria Amada
02. Eu
03. Morrer aos 18
04. Não Sei Quem Sou
05. Tambores
06. Não é Permitido

Lado B

01. Em Pedaços
02. Cidade Chumbo
03. Na Sarjeta
04. Pesadelo 1
05. Adeus Carne

Apesar das ótimas críticas e boa receptividade, a Warner demora a colocar o grupo novamente em estúdio, fato que só ocorreria em 1989, com o disco Inocentes, produção assinada por Roberto Frejat, do Barão Vermelho.

Talvez por pressão da gravadora ou por tentarem parecer mais ecléticos, o disco não faz tanto sucesso, devido aos diferentes estilos, além de contar com uma capa um tanto constrangedora, onde todos apareciam algemados e nus. O disco marca a saída de Tonhão e André, substituídos por César (bateria) e Mingau (baixo). A faixa de destaque é e "O Homem que Bebia Demais" e uma regravação de "Garotos do Subúrbio".

O LP trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. Animal Urbano
02. Mais Um na Multidão
03. A Face de Deus
04. Promessas
05. A Lei do Cão

Lado B

06. O Homem que Bebia Demais
07. Nosso Tempo
08. Marcha das Máquinas
09. A Voz do Morro
10. Garotos do Subúrbio

O fiasco comercial culminou com a saída da Warner e alguns anos de ostracismo para o grupo. O movimento punk perdia cada vez mais força e o grupo só voltou à cena com o disco Estilhaços, em 1992.

Em 1994 lançam Subterrâneos e banda abre shows para os Ramones e com a banda tendo de volta Calegari, no baixo, em lugar de Mingau. Mas Calegari logo sairia novamente, assim como César, entrando em seus lugares, Nonô e Anselmo.

O grupo também participa do curta-metragem Opressão, de Mirella Martinelli e Clemente grava com Thayde e DJ Hum, uma versão "Pânico em SP", que acaba sendo rebatizada como "Testemunha Ocular". A faixa acaba entrando na coletânea No Majors Baby, editada pela Paradoxx.

Em 1996 é lançado o disco Ruas, pela Paradoxx, pequeno selo que tinha promovido também a volta do Ira!, nos anos 90.

O grupo acaba se apresentando no festival Close-Up Planet, ao lado dos Sex Pistols e de Marky Ramone.

Em 1998, lançam Embalado a Vácuo, pela Paradoxx, que acaba o vendendo para a Abril (edita o CD com capa diferente e duas faixas extras), selo que os despede pouco tempo depois.

Em 2001 perdem Ronaldo, que simplesmente some minutos antes de uma apresentação em São Paulo, obrigando a banda fazer o show como trio.

Começa um enorme rodízio de músicos na banda e, em 2004, o grupo lança o disco Labirinto, pelo selo Ataque Frontal.

Mais ou menos na mesma época, Clemente se junta à Plebe Rude como membro fixo, dividindo seu tempo entre os dois grupos.

A banda continua na ativa, fazendo shows e sendo, talvez, o nome mais importante do movimento punk no Brasil, quase 30 anos depois.

Deixo vocês com a discografia do grupo. Um abraço e até a próxima coluna.


Discografia

Grito Suburbano (1982) - Punk Rock Discos
O Começo do Fim do Mundo - (1983) - SESC
Miséria e Fome EP (1983) - Inocentes Discos
Life is a Joke (1984) - Weird System
Volks Grito (1984) - Vinnyl Boogie
Pânico em SP (1986) - Warner
Adeus Carne (1987) - Warner
Miséria e Fome (1988) - Devil Discos
Inocentes (1989) - Warner
Estilhaços (1992) - Camerati
Subterrâneos (1994) - Eldorado (2002) -RDS
Ruas (1996) - Paradoxx
Embalado a Vácuo (1999) - Abril Music
Garotos do Subúrbio (1999) - RDS
O barulho dos Inocentes (2000) - Abril Music
Vinte anos ao vivo (2002) - RDS
Labirinto (2004) - Ataque Frontal



 


 

 

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