Ele é
considerado o "guitarrista dos guitarristas", o maior
de todos, ainda que a história o tenha eclipsado por Jimi
Hendrix, Jimmy Page, Eric Clapton etc... Mas Beck segue sendo
um dos grandes músicos de todos os tempos e tem um legado
imenso, que começou no Yardbirds (onde substituiu o amigo
Eric e tocou junto com o jovem Page), até começar
uma carreira-solo irregular, com poucos discos. Mas entre uma
fase e outra, Beck montou um grupo fantástico com dois
jovens então desconhecidos - Ron Wood e Rod Stewart - e
fez um dos mais importantes álbuns dos anos 60: Truth.
Pouca
gente sabe que Geoffrey Arnold "Jeff" Beck é
um das grandes lendas do instrumento.
Beck foi um dos três
guitarristas lendários do Yardbirds, ao lado de Eric Clapton
e Jiimy Page, embora os três não tenham sido integrantes
ao mesmo tempo.
Mas Jeff sempre foi um
músico de uma técnica exuberante, criativo e que
poderia ter feito muito mais sucesso não fosse dono de
uma personalidade fortíssima e pouco simpático às
pressões comerciais.
Natural de Wallington,
veio ao mundo no dia 24 de junho de 1944, Jeff adorava ouvir sua
mãe Ethel tocar piano em casa, além de ouvir as
músicas do rádio, que vivia constantemente ligado.
"Para meus pais, que
viviam o período da guerra, a música era uma espécie
de conforto. A vida era muito dura e a música os ajudava
a esquecer os problemas. E isso, certamente, me influenciou muito.
Quando garoto, me lembro de ficar ouvindo jazz pelo rádio,
quando o estilo explodiu na Inglaterra. Eu passava horas e horas
ouvindo, embora meus pais desaprovassem meu hábito."
O jovem Geoffrey fazia
parte do coral da igreja aos 10 anos e ainda adolescente aprendeu
a tocar violão com um instrumento emprestado. Como não
tinha dinheiro para comprar um, o garoto tentou construir o seu,
inúmeras vezes. Jeff era fascinado pela guitarra elétrica,
especialmente de seu ídolo Brad Kinnison, guitarrista-solo
do Gene Vincent and the Blue Caps. Outras grandes influências
foram Chuck Berry e Steve Cropper.
Aos 20 anos, ele já
tinha certeza absoluta que a música seria sua vida e resolveu
se mudar para Londres e tentar a sorte com tantos outros jovens.
Enquanto dava os primeiros
passos, foi estudar na Wimbledon’s Art College, pois não
estava totalmente certo das suas habilidades. Jeff fez de tudo
um pouco: foi pintor, deocrador e através de sua irmã
conheceu um outro jovem igualmente talentoso chamado Jimmy Page.
Aos
poucos foi se tornando músico de estúdio e tocou
com o Screaming Lord Sutch e o Trident.
A sorte começou
a virar em março de 1965 quando Eric Clapton deixou os
Yardbirds, irritando com a banda, que perseguia um caminho mais
comercial, especialmente por causa do single "For Your Love".
Assim, indicado pelo amigo
Page - que ainda não era membro do grupo. Era sorte grande.
Ao entrar no grupo, Jeff
mudou o rumo do grupo, abandonando um pouco a fase mais purista
do blues e levou o grupo de encontro ao psicodelismo que começava
a tomar conta da cena inglesa. Seu primeiro concerto no novo grupo
aconteceu dois dias após a saida de Clapton.
Em agosto daquele mesmo
ano, a banda faz a primeira excursão norte-americana -
seriam ainda mais três - e um grande álbum em 1966,
Yardbirds, conhecido na América como Roger
the Engineer, lançado em abril.
Extremamente talentoso,
Jeff inovou em áreas quase inéditas, revolucionando
o uso do fuzz tone, feedback e distorção. Não
por acaso foi eleito o músico inglês pela revista
Beat Instrumental.
O grupo chegaria a participar
do filme Blow-up, do cineasta Michelangelo Antonioni.
Logo após o lançamento, o baixista Paul Samwell-Smith
deixa a banda para começar uma carreira como produtor.
Em seu lugar entra o jovem Jimmy Page. Page se tornou baixista
por um tempo, até que o outro guitarrista, Chris Dreja
aprendesse a usar o instrumento. Tão logo isso ocorreu,
o Yarbirds era premiado com uma dupla genial de guitarristas:
Beck e Page.
O Yardbirds começa
uma turnê abrindo shows para os Rolling Stones e lançam
singles elaborados. Um exemplo é "Happenings Ten Years
Time Ago", que contava com um excelente baixista, então
desconhecido: John Paul Jones.
Beck
e Page, porém, gravaram pouco na banda e Jeff acaba sendo
demitido no Texas, em outubro de 1966.
O temperamento forte, o
perfeccionismo e o fato dos outros músicos - exceção
a Page - não conseguirem executar o que ele queria, o deixavam
frustrado e enfurecido. Para piorar, os instrumentos utilizados
nos shows, nem sempre eram de boa qualidade, o que o irritava
ainda mais.
Após deixar o Yardbirds,
Beck voltou para Londres e foi contatado pelo empresário
Mickie Most para montar um novo grupo.
Most queria que Beck começasse
uma nova banda com um jovem cantor, totalmente desconhecido, mas
com um timbre único: Roderick David Stewart, ou simplesmente
Rod Stewart, um londrino nascido em 10 de janeiro de 1945, e que
havia dado os primeiros passos como vocalista do Steampacket e
do Long John Baldry, além de alguns compactos lançados
pela Decca e Immediate Records.
Jeff não conhecia
Rod e se encontraram pela primeira vez em um clube em Cromwellian.
Junto com Rod Stewart veio um outro guitarrista, Ronnie Wood (Ronald
David Wood, nascido no dia 1º de junho de 1947, em Londres)
e que já havia passado por um grupo de nome The Birds (não
confundir com o californiano The Byrds), grupo de curta existência
(aproximadamente entre 1964 até 1967), onde Ronnie escreveu
algumas músicas.
O
primeiro baixista a ser testado foi Jet Harris, do Shadows, de
quem Beck gostava.
Mas os primeiros ensaios
mostraram que ele não era o músico que procuravam.
Outro tentado foi Dave
Ambrose, igualmente um fracasso.
A solução
acabou se tornando caseira, com Ronnie assumindo a função,
após roubar um Fender Jazz Bass, em uma loja no West End
londrino. Reza a lenda que anos depois, Ron adentrou na mesma
loja e pagou pelo instrumento.
O primeiro baterista foi
Ray Cook e os primeiros shows foram infernais. Em uma apresentação,
a banda teve os amplificadores desligados.
Na mesma noite, se apresentariam
o Small Faces. Outros bateristas passaram pelo grupo, como o renomado
e extremamente versátil Aynsley Dunbar, que não
se encaixava no som que Beck desejava.
Jeff
só sossegou quando encontrou o baterista Mick Waller. "Ele
não tinha a atitude 'heavy metal' que eu buscava, mas era
muito bom, muito técnico e com classe. Começamos
a cair na estrada como um quarteto, embora no estúdio tivéssemos
a companhia de Nicky Hopkins (tecladista). Mas nas apresentações
éramos nós quatro que fazíamos todo o 'trabalho
sujo'".
Enquanto montava a banda,
Jeff levava uma vida "dupla", pois tinha lançado
um compacto solo - Hi Ho Silver Lining -, que
trazia "Beck's Bolero", no lado B e chegou a ficar na
14ª posição na parada britânica.
A banda das gravações
consistia em no baterista Clem Cantini, no baixista Mick Ambrose
e tinha a produção de Mickie Most.
Jeff vivia angustiado,
pois odiava a imagem do compacto e tinha medo de ser eternamente
lembrado como o menino bonito que tinha um lenço rosa em
volta do seu pescoço. Por outro lado, Mickie Most não
queria saber do novo grupo de Beck. "Eu assinei com um cantor
e não com uma banda que tem um cantorzinho", dizia
Most, enquanto Beck só queria uma banda onde pudesse tocar
alto e cada vez mais potente.
Para desespero de Jeff,
a Columbia ouvia os primeiros registros do grupo e dizia "grande
cantor, Jeff. Mas quem é esse na guitarra?". Beck
temia, e com razão, que Rod rapidamente sumisse do grupo,
já que era apenas um empregado.
Enquanto
se sentia perdido, foi salvo por um empresário que se tornaria
lendário nos anos 70: Peter Grant, o mesmo que fez do Led
Zeppelin, a maior banda dos anos 70.
Peter acolheu Jeff e disse
para abandonar a carreira-solo, Mickie Most e ir para a América,
para fazer dezenas de shows, onde havia milhares de pequenos clubes
e assentos para serem preenchidos.
Em 1968 entram em estúdio
para a gravação do primeiro álbum, Truth.
O disco é um marco em vários
aspectos, embora tenha falhado em outros.
Produzido igualmente por
Mickie Most e tendo Ken Scott como engenheiro de som - anos depois
Ken usaria todos os truques aprendidos nessas sessões com
o guitarrista Mick Ronson, nos primeiros álbuns deste com
David Bowie - Truth é um tremendo disco
que misturava blues, hard, heavy metal e até alguns detalhes
do que viria a ser o rock progressivo.
O grande problema do álbum
era a falta de grandes composições dos próprios
integrantes: embora Rod fosse um bom compositor, suas músicas
tinham um sabor mais folk, totalmente inapropriado para o som.
Beck também não conseguia escrever muitas coisas
e o grupo acabou gravando um fabuloso disco de covers.
O álbum trazia as
seguintes faixas:
Lado A
1. "Shapes of Things" 3:22 (Chris
Dreja, Jim McCarty, Keith Relf, Paul Samwell-Smith)
2. "Let Me Love You" 4:44 (Jeff Beck. Rod Stewart)
3. "Morning Dew" 4:40 (Bonnie Dobson, Tim Rose)
4. "You Shook Me" 2:33 (Willie Dixon, J. B. Lenoir)
5. "Ol' Man River" 4:01 (Jerome Kern, Oscar Hammerstein)
Lado B
1. "Greensleeves"
1:50 (Traditional, arranged by Jeff Beck)
2. "Rock My Plimsoul" 4:13 (Jeff Beck, Rod Stewart)
3. "Beck's Bolero" 2:54 (Jimmy Page)
4. "Blues De Luxe" 7:33 (Jeff Beck, Rod Stewart)
5. "I Ain't Superstitious" 4:53 (Willie Dixon)
O
álbum fez um bom sucesso, chegando ao 15º posto nos
EUA, mas algumas composições ficaram esquecidas,
como é o caso da versão de "You Shook Me,"
pois seis meses depois, o Led Zeppelin fez uma versão bem
mais pesada em seu álbum de estréia.
Truth abre com uma antiga
canção dos Yardbirds, "Shapes of Things",
onde Rod começa a mostrar ao que veio.
Com seus vocais rasgados
(o próprio descreveu como uma lixa sendo passada em veludo).
A segunda é uma composição de Rod e Jeff,
o blues "Let Me Love You", passando pela balada "Morning
Dew".
Segue-se "You Shook
Me" e "Ol' Man River", onde Beck toca baixo e John
Paul Jones brlha no órgão e Keith Moon faz uma aparição
tocando timpani, atrás dos vocais de Rod.
O lado B abre com a tradicional
"Greensleeves", gravada por gente como John Coltrane,
com Jeff brilhando no violão, ao melhor estilo Chet Atkins.
Jeff era grande fã de Chet e quando mostrou a versão
a Most, o produtor adorou e decidiram incluí-la.
O
blues volta com força em "Rock My Plimsoul",
outra composição de Rod e Jeff, improvisada em cima
de "Rock Me Baby", de B.B. King.
A seguir vem uma composição
de Jimmy Page em homenagem ao seu amigo, ainda nos tempos de Yardbirds,
"Beck's Bolero", feita uma sessão com Nicky Hopkins,
John Paul Jones e um demente Keith Moon na bateria.
"Eu ficava espantando
com Keith, parecia que queria demolir o kit inteiro. Puro heavy
metal!".
O disco traz outra composição
da dupla Rod-Jeff, "Blues De Luxe" (novamente chupando
B.B, desta vez em "Gambler's Blues") e fecha com outro
clássico de Willie Dixon, "I Ain't Superstitious".
Em 2006, o disco foi editado
em CD com várias faixas bônus, trazendo, inclusive,
os compactos solos de Jeff Beck, como "Tallyman" e "Hi
Ho Silver Lining":
Faixas:
1. "Ive Been Drinking"
Stereo mix - B-Side of "Love is Blue" single (3:25)
(Mercer, Tauber)
2. "You Shook Me" Take - minus piano overdub (2:31)
(Willie Dixon, J. B. Lenoir)
3. "Rock My Plimsoul" - Faster tempo take, B-Side of
"Tallyman" single (3:42) (Jeff Beck, Rod Stewart)
4. "Beck's Bolero" Mono Mix with backwards guitar ending
(3:11) (Jimmy Page, Jeff Beck, uncredited)
5. "Blues De Luxe" Take 1 (7:33) (Jeff Beck, Rod Stewart)
6. "Tallyman" 1967 Single A-side (2:46) (Graham Gouldman)
7. "Love is Blue" (2:57) Single A-side (Popp, Cour,
Blackburn)
8. "Hi Ho Silver Lining" (3:46) (Scott English, Lawrence
Weiss)
O grupo ainda gravaria
outro disco - Beck-Ola - antes de se desfazer.
Mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
Truth (1968)
Beck-Ola (1969)
Rough and Ready (1971)
Jeff Beck Group (1972)
Beck, Bogert & Appice (1973)
Live in Japan (1974)
Blow by Blow (1975)
Wired (1976)
Jeff Beck With the Jan Hammer Group Live (1977)
There and Back (1980)
Flash (1985)
Jeff Beck's Guitar Shop (1989)
Beckology (1991)
Frankie's House (1992)
Crazy Legs (1993)
Best of Beck (1995)
Who Else! (1999)
You Had It Coming (2001)
Jeff (2003)
Live At BB King Blues Club (2006)
Performing This Week...Live At Ronnie Scotts (2008)
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