12 - Jupiter Apple - Hisscivilization

Em 2000, após o lançamento do já clássico álbum Plastic Soda, Jupiter Apple recebeu vários elogios pelo trabalho e não foram apenas no Brasil. Além dos ídolos Mutantes, Rita Lee e Arnaldo Baptista (que chegou inclusive a enviar um e-mail), o disco teve boa projeção na Europa, por meio das declarações empolgadas de Sean Lennon (alguém sabe quem foi o pai dele?) e do pessoal do Stereolab. Plastic Soda é um excelente exemplar de como misturar jazz, bossa com camadas e mais camadas de psicodelismo.

Aproveitando o sucesso, a banda gaúcha (que também era conhecida como Jupiter Maçã no início), entrou em estúdio em 2002 para lançar o terceiro trabalho, Hisscivilization. Para ilustrar um pouco a história e falar de sua carreira, Jupiter, explicou o projeto. Essa gaúcho de fala ritmada e com milhões de idéias para o futuro (lançou inclusive um filme de média-metragem que será exibido em São Paulo no final de março), mostrou que pretende diversificar seus horizontes, seguindo o exemplo do cultuado Beck Hansen faz hoje e que o lendário Prince produziu nos anos 80 e 90.

O disco é composto por 13 canções ou peças instrumentais (o que talvez o próprio não me perdoe pela definição). As referências básicas não deixam dúvidas sobre o bom gosto: Beatles, Mutantes e Barrett. Hisscivilization é um passo à frente de Plastic Soda.

A produção do novo trabalho seguiu um caminho diferente. Jupiter explica: "Plastic Soda foi mais autoral, utilizando o jazz e a bossa como bases. Neste novo trabalho, consegui me divertir mais. Eu queria experimentar a eletrônica, principalmente o low tech, traduzindo para o real futurismo. Minha idéia era que soasse como uma trilha sonora de seriados como Perdidos no Espaço, uma coisa meio retrô, sem perder o foco no futurismo.”

Uma das causas da “maior diversão” foi a mudança de selo: “quando estava fazendo Plastic eu tinha assinado com a Trama, que é um selo bacana, mas que não queria me dar autonomia para desenvolver meu projeto. Já na Voiceprint, o pessoal me deixou à vontade para desenvolver minhas idéias.”

Sua entrada para o selo Voiceprint surgiu durante os primeiros ensaios para o disco. “Eu vim para São Paulo trabalhar no estúdio El Rocha e acabei encontrando o Fabio (Golfetti), que eu havia chamado para participar do disco. Ele acabou me fazendo um convite para lançar pela Voiceprint e aceitei.”

Hisscivilization parece mais desestruturado que Plastic Soda, um pouco mais anárquico, embora Jupiter não goste desta definição: “não o considero anárquico ou caótico. A diferença começa na textura. Quando comecei a gravar em São Paulo, utilizei fita de duas polegadas e em processo analógico. Mantive essa base em 40% do álbum e quando voltei para Porto Alegre investi na tecnologia digital. A combinação dos dois dá ao Hisscivilization uma sonoridade diferente, mas não há nada de anárquico ou caótico.”

Além dos artistas já relacionados, outra forte inspiração foram as bandas dos anos 80 que soavam como grupos sessentistas, gente como Jesus and Mary Chain, Echo and the Bunnymen, Clash e até Pretenders. “Eu gosto muito deles porque sempre souberam avançar em cada disco, buscar um novo padrão estético.”

Multi-instrumentista, Jupiter mostrou incrível versatilidade: além de cantar, tocou baixo, guitarras, teclados, efeitos eletrônios, bongô, reco-reco, pandeiro, além de assinar de cuidar da produção e mixagem. “Claro que não seria possível concluir sem a ajuda de vários amigos meus, que espero poder incorporá-los definitivamente ao grupo.”

Os amigos citados por Jupiter são: Talitha F. Jones - vocais e percussão; Astronauta Pinguim - moog e órgão; Biba Graeff; voz e teclados; Cuca Medina; sintetizador e dois bateristas: Luciano Bolobang e Rodrigo Simson.

As letras variam entre o inglês e o português. Mas não há nenhuma referência literária marcante: “Já me perguntaram qual escritor ou poeta mais me influenciam. Eu respondo que são os mesmos que marcaram a minha música: Syd Barrett, Lennon & McCartney, Arnaldo e Rita e por uma razão muito simples: escreviam incrivelmente bem. Se parar para ler o que escrevem, mesmo sem ouvir a melodia, perceberá que eram donos de um grande lirismo e talento.”

Ele também explica que procura passar imagens em suas músicas, ao invés de mensagens: “é o que quero fazer, pois sou um músico e não um escritor”. Seu caleidoscópio pode ser sentido (e lido) em faixas como “Act not Suprised” ou em “The Futuristica Waltz”.

Jupiter conta que participou de uma grande banda gaúcha na década de 80, o TNT: quando o grupo lançou o primeiro disco (que havia um vaso na capa, semelhante ao de “Power, Corruption and Lies” , do New Order) eu já não fazia parte da formação, mas assinei quase todas as composições. O TNT foi um grande aprendizado.”

(Apenas um parêntesis: para quem nunca ouviu, o TNT foi uma das gratas revelações do rock brasileiro nos anos 80 e uma das grandes bandas do Sul, ao lado do De Falla e Replicantes e idolotrada por ninguém menos do que Renato Russo).

Apesar da retração do mercado nacional para o rock, conta que possui boa receptividade em seus shows: “realmente o espaço para o rock brasileiro diminuiu, mas dei shows em São Paulo, por exemplo, para 200, 300 pessoas, o que é um número bom. É claro que fica mais no circuito indie, porém, não me desanima nem um pouco. Pelo contrário, acho que posso até extrapolar os horizontes.”

Apesar de elogios no exterior, disse que nunca foi convidado para tocar fora do país, mas que gostaria da experiência. “Minha única experiência lá fora foi em Londres, quando fiquei por lá um tempo e toquei com um pessoal, mas nada sério. Gostaria, por exemplo, de conversar com o Sean ou o pessoal do Stereolab, mesmo por e-mail, para trocarmos experiências, porque também acho que somos sintonizados na parte artística.”

Além da música, também deu um chute inicial com cineasta. Apartment Jazz, média-metragem, em preto e branco, será exibido na capital paulista, no dia 26 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil.

Jupiter conta que não se importa de ser chamado de Apple ou Maçã. “a troca de nome foi durante as gravações do Plastic Soda. Eu desejava dar uma maior unidade ao projeto e como as letras eram basicamente em inglês, adaptei também meu nome. Mas podem me chamar da forma que quiserem.”

Quem quiser saber mais sobre a banda ou falar com o próprio, pode enviar seu e-mail para jupiterapple@hotmail.com. E se alguém também souber o e-mail de Sean ou do Stereolab, mande para ele... e para mim!