U2? Smiths? Echo & The Bunnymen?
Waterboys? Não, a banda que produziu minha canção
favorita dos anos 80 foi Katrina and The Waves, com a irresistível
"Walking On Sunshine". Se meus 10 leitores viveram nessa
época ou pelo menos procuraram ouvir os sucessos daquela
década em que muitos torcem o nariz, chegarão a
esta canção. Aquela bateria marcada, um vocal feminino
sensual, um clima de total alegria e descontração.
Essa era a música que eu mais ouvi em meus anos em que
vivi na minha terra natal, Ribeirão Preto. Pois saibam
que esse grupo teve dois discos lançados por aqui simultaneamente,
e sumiram de repente. Em mais uma investida pela Internet achei
o site da ex-vocalista da banda, Katrina Leskanich. Na maior cara-de-pau
mandei um mail pedindo uma entrevista, expediente que usei com
Steve Wynn, Andy Gill, Cosmic Rough Riders, etc... E não
é que deu certo mais uma vez? Essa entrevista era para
ter sido publicada ainda em 2003, mas como a mãe da cantora
foi acometida de um câncer, fiquei meses mandando emails
sem sucesso, até que em novembro, tornei a escrever e ela
deu o ok. Matando uma vontade minha e, de quebra, com fotos que
ela mesmo me mandou e que ilustrarão essa entrevista, começo
o ano de 2004 de ótima maneira, com o discman berrando
o clássico katriniano e rezando para que minha vida entre
finalmente nos eixos.
Em
1981, uma garota do Kansas que morava na Inglaterra resolveu realizar
um sonho: montar uma banda de música. Conheceu um guitarrista
de uma certa fama chamado Kimberly Rew, que fizera parte dos Soft
Boys, e com mais dois novos integrantes, Vince de la Cruz e Alex
Cooper, formaram o Katrina & The Waves.
O som da banda era um rock
and roll básico americano com aquela tradicional pitada
inglesa.
Katrina Leskanich (seu
nome de batismo) era apaixonada por country music e bandas com
vocalistas mulheres, como Pretenders e Blondie. Mas por uma estranha
ironia, seus dois primeiros discos saíram no Canadá,
pela gravadora Attic.
O sucesso mesmo veio em
1985, com "Walking On Sunshine", uma das canções
mais alegres e para cima já feitas. Katrina explica que
a canção foi uma tentativa de soar como um grupo
de soul, uma de suas paixões.
"Usamos metais, e
tentamos imaginar que fôssemos uma banda daquela época,
embora sempre achássemos que tinha virado um pastiche daquilo
tudo", conta, rindo.
Mas
não era Katrina a cantora original da banda, e sim Kim,
que recusou a empreitada por timidez. Kim explica que ficava tremendamente
desconfortável e preferiu ficar com o posto de compositor
da banda.
"Não era fácil
escrever para Katrina, pois sou um homem e inglês e ela
uma garota americana e temos visões completamente diferentes
do mundo. Ainda assim, preferi assumir essa função
e deixá-la interagir com a platéia."
Com o sucesso, o grupo partiu em várias turnês, sendo,
alguma vezes o grupo principal, ou grupos de abertura para lendas
como Kinks e Beach Boys.
Em 1989, ao lançarem
Break of Hearts, o sucesso murchou e a banda
passou por um período estranho. A gravadora da época,
SBK, tentou vendê-los como uma banda de arena, o que foi
um desastre. Quando tudo parecia sem saída, gravaram três
discos na Alemanha, país que idolatrava o grupo.
Mas
tirando isso, eles caíram no esquecimento e Katrina lembra
do desespero que era esperar o telefone tocar para algum show
ou contato.
E, quando ninguém
mais dava nada para eles, eis que em 1997, lançam "Love
Shine a Light", que virou um sucesso maior do que "Walking
On Sunshine" e conquistaram o prêmio Eurovision Song,
no mesmo ano.
Na primeira vez em que
ela apresentou a canção em 1997, em um programa
de televisão, os músicos eram contratados e ela
nem queria usar o nome antigo de sua banda. Apenas quando a Warner
ofereceu um contrato é que ela e Kim resolveram reunir
a banda novamente, que logo depois acabou.
Em 2003 foi lançada
uma coletânea (a capa dela está nesta matéria)
contendo 25 canções, sendo quatro nunca editadas,
além de entrevistas com Katrina e Kimberly Rew em um libreto
de 24 páginas, que, de quebra, tem também um DVD,
com um concerto de 1983, e o vídeo original de "Walking
On Sunshine". As faixas são dos dois primeiros discos
canadenses do grupo.
Mas
antes dessa coletânea sair e após o sucesso de 1997,
Katrina teve uma carreira como DJ na BBC, entre outras coisas,
e está lançando agora em 2004 um disco solo que
está ocupando boa parte de seu tempo e, por enquanto, só
está aceitando encomendas antecipadas em seu site pessoal
(ver link na entrevista).
Essa garota, que comemorará
44 anos no dia 10 de abril, foi extremamente simpática
e gentil comigo e mesmo tendo alguns desencontros, conversamos
e me prometeu um cd de presente de Natal, que ainda deve chegar.
Fique agora com o papo com uma das pessoas mais bacanas desse
meio todo: Katrina Leskanich.
Pergunta: - Você
é americana, mas o Katrina and The Waves foi formado na
Inglaterra. Por que você foi para a Europa?
Katrina: - Eu me mudei para a Inglaterra porque meu pai
ganhou um posto na RAF (Royal Air Force, força aérea
inglesa) quando ele estava nas Forças Armadas dos Estados
Unidos.
Pergunta: - Os dois primeiros álbuns da banda foram
lançados primeiro no Canadá. Por que escolheram
esse país?
Katrina: - Escolhemos o Canadá porque foram os
primeiros a fecharem um contrato conosco. Isso aconteceu em 1983,
com a Attic Records.
Pergunta: - Vocês
se tornaram um grupo de grande sucesso com a explosão de
"Walking On Sunshine" no meio da década de 80.
Como foi essa experiência?
Katrina: - Foi fabulosa! Nós já estávamos
na estrada há quatro anos e lutávamos por esse tipo
de reconhecimento. Fizemos shows em todos os países do
mundo (exceto no Brasil!) e foi um período maravilhoso
para mim.
Pergunta:
- As Bangles gravaram uma música que era de Kimberly Rew
(guitarrista dos Waves), "Going Down to Liverpool",
que vocês também utilizaram. As duas bandas são
extremamente populares na Alemanha até hoje. O que acha
delas, ouviu o novo cd que lançaram em 2003?
Katrina: - Sim, ouvi algumas faixas
do novo trabalho das Bangles e adorei. As duas bandas se conhecem
muito bem e tocamos uma vez juntos, no Palace, em Los Angeles,
no ano de 1985. São meninas adoráveis, muito, muito
divertidas!
Pergunta: - Você
sempre foi bonita e com muita presença no palco. Alguma
vez pousou ou foi chamada de símbolo sexual?
Katrina: - Não, nem em meus sonhos mais delirantes
me considerei ou passei por uma sex symbol.
Pergunta: - Por
que hoje em dia é tão complicado conseguir um cd
do Katrina & The Waves? Eu demorei anos e anos para achar
um e foi apenas uma antologia reunindo faixas dos dois primeiros.
Katrina: - O problema é que em cada país
fizemos um tipo de contrato e isso acabou dificultando muito.
Pergunta: - E
os anos de esquecimento, quando gravaram discos na Alemanha e
as pessoas não comentavam mais sobre o grupo? Como você
reagiu a tudo isso?
Katrina: - Foi uma época difícil. Nós
não estávamos mais fazendo sucesso na Inglaterra
ou na América, e para muitos quando isso acontece é
a morte comercial.
Eu
ficava muito ressentida e triste quando falava que tínhamos
feito um disco novo na Alemanha, que lá fazia um certo
sucesso e as pessoas me olhavam com um certo desprezo e deboche,
por lá não ser um grande mercado.
Ficava enfurecida com esse
tipo de reação! Nossa última excursão
na América foi em 1989, a "That's The Way". Até
estourarmos novamente com "Love Shine a Light", em 1997.
Pergunta: - Essa
era minha próxima pergunta. "Love Shine a Light"
foi um sucesso maior, até superior a "Walking On Sunshine".
Na Inglaterra ela
chegou a ficar em terceiro lugar nas paradas. "Walking..."
tinha conseguido, no auge, a oitava posição...
Katrina: - Ela teve um sucesso maior porque a indústria
da música mudou demais nesses anos todos. Era só
ligar a rádio e ouvir fofocas, o que acontecia demais na
época.
Pergunta:
- Você ainda trabalha como DJ na BBC?
Katrina: - Não. Eu tinha um programa na Radio
2 da BBC por um ano e meio. Adorei a experiência! O público
era muito receptivo.
Pergunta: - Quem
eram seus ídolos na música quando adolescente?
Katrina: - Eu sempre amei Etta James, Linda Ronstadt,
Emmylou Harris, Blondie, Pretenders, Hearts, e os artistas das
gravadoras de soul da Stax e da Motown (onde se podem incluir
Otis Redding, Aretha Franklin, Margin Gaye, Stevie Wonder, etc...).
Pergunta: - Você
está lançando um disco solo agora em 2004. Como
é ficar sozinha?
Katrina: - É totalmente diferente, mas estou adorando
a idéia! Ele ainda não está à venda.
Quem quiser encomendar primeiro, por favor vá até
o meu site.
Adoraria que várias pessoas o ouvissem!
Pergunta:
- Em 1985, uma revista brasileira já extinta, BIZZ, fez
uma eleição popular e Katrina & The Waves foi
eleita a banda revelação do ano. Você sabia
disso? Vocês foram informados na época?
Katrina: - Jura? Nunca me disseram. Que barato! Só
posso dizer que BIZZ é maravilhosa! Gostaria
de ver isso!
Pergunta: - No
filme Alta Fidelidade, existe uma cena em que o personagem de
Jack Black entra na loja e toca à todo volume "Walking
On Sunshine". Por que a música não consta na
trilha sonora?
Katrina: - Não sei dizer. Fiquei surpresa quando
vi o filme e a escutei.
Pergunta:
- Kimberly Rew fez alguns shows recentemente com sua banda pré-Waves,
os Soft Boys. Você sabe o que andam fazendo os demais ex-integrantes
do grupo?
Katrina: - Infelizmente não. Acho que devem estar
produzindo ou trabalhando em novos grupos. Apenas Kim mantém
uma carreira solo ao que me consta.
Pergunta: - Deixe
uma mensagem para seus fãs brasileiros...
Katrina: - Eu nunca fui até o Brasil, mas adoraria
tocar aí se me convidassem. Agradeço de coração
o carinho de vocês e peço desculpas por nunca ter
podido manter um contato com os brasileiros. Adoraria tocar "Walking
On Sunshine" e conversar com todos. Quem quiser manter contato
comigo basta ir à minha página (repetindo: www.katrinasweb.net)
e me escrever, que prometo responder. Beijos a todos!
Encerrando
a entrevista deixo para vocês a letra da minha canção
favorita. Um abraço e até mais!
Walking On Sunshine
I used to think
maybe you loved me, now baby I'm sure
And I just can't wait till the day when you knock on my door
Now everytime I go for the mailbox, gotta hold myself down
Cause I just can't wait till you write me you're comin' around
Now I'm walking
on sunshine (whoa oh)
Said I'm walking on sunshine (whoa oh)
Said I'm walking on sunshine (whoa oh)
And its startin' to feel good
All right now
And its startin' to feel good
Oh yeah
I used to think
maybe you loved me, now I know that it's true
And I don't wanna spend my whole life just a waitin' for you
Now I don't want you back for the weekend, not back for a day
(no no no)
I said baby I just want you back and I want you to stay
Now I'm walking
on sunshine (whoa oh)
Said I'm walking on sunshine (whoa oh)
Said I'm walking on sunshine (whoa oh)
And its startin' to feel good
All right now
And its startin' to feel good
All right now
Walkin' On Sunshine
Walkin' On Sunshine
I feel alive, I feel a love
I feel a love that's really real
I feel alive, I feel a love
I feel a love that's really real
I feel alive, I feel a love
I feel a love that's really real
I feel alive, I feel a love
I feel a love that's really real
Now I'm walking
on sunshine (whoa oh)
Said I'm walking on sunshine (whoa oh)
Said I'm walking on sunshine (whoa oh)
And its startin' to feel good
(All Right Now)
And its startin' to feel good
(I say it, I say it, I say it again, now)
And its startin' to feel good
(All Right Now)
And its startin' to feel good...
Discografia
Shock Horror (Mini álbum independente inglês pela
Aftermath Records, 1983)
Black and White Album (título canadense de Walking on Sunshine,
1983)
Katrina and the Waves 2 (1984)
Katrina and the Waves (1985)
Waves (1986)
Break of Hearts (1989)
Pet the Tiger (1991)
Edge of the Land (1993)
Turnaround (1994)
Roses (compilação canadense Edge of the Land e Turnaround,
de 1995)
Anthology (1996)
Walk on Water (1997)
Walking on Sunshine - Greatest Hits (Compilação
sueca dos albums de 85/86/89/91) (1997)
The Original Recordings 1983-1984 (reunião do dois primeiros
discos canadenses mais um DVD) (2003)
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