Kevin
Kane é uma figura desconhecida para todo mundo que ouve
rock por aqui e não é de surpreender, pois é
um artista independente no Canadá. A primeira vez que ouvi
algo de sua autoria foi na coletânea da Bongo Beat Driving
in the Rain 3 AM. Songs to get lost with, que resenhei para o
Whiplash!
Minha proposta
para entrevistá-lo foi a mesma de todos os outros artistas
estrangeiros ao longo dos anos: ir ao site oficial e solicitar.
Como todo mundo acha curioso um brasileiro conhecê-los sempre
aceitam e aí eu começo a lotar de e-mails e perguntas.
Mas se eu não conhecia Kevin, ele conhece (e muito) o Brasil,
especialmente nossa música. E nos últimos dias trocamos
vários e-mails falando de anos 80, especialmente sobre
o Durutti Column. Mandei algumas perguntas básicas e me
espantei com a vontade de falar do rapaz. Sendo assim vamos aos
fatos...
Pergunta: - Poderia
falar um pouco de você?
Kevin Kane: - Bem, eu tive uma banda razoavelmente famosa
aqui no Canadá nos anos 80 e 90, o Grapes of Wrath. Fizemos
quatro discos, com boas vendagens, mas resolvi apostar em algo
mais pessoal, entre eles um sonho de realizar um disco de covers,
nos moldes de Pin Ups, de David Bowie. Ele acabou
sendo lançado em uma edição limitada de 500
cópias e chamou-se Timmy Loved Judas Priest.
Esse disco está sendo relançado pelo selo Boompa
Records.
Pergunta:
- Como você costuma trabalhar dentro de um estúdio?
Kevin Kane: - Eu gosto de planejar antes, com calma,
porque os estúdios podem ser extremamente caros se você
entra sem estar com as canções prontas em sua cabeça.
Já vi muita gente perder um tempo imenso afinando suas
guitarras ou percebem que suas letras precisam ser reescritas,
que os amplificadores não funcionam, que o cantor não
consegue cantar, ou ver o baixista caindo pelas tabelas de tanto
tomar droga... Eu acredito que tudo deva estar pronto antes de
começar uma gravação e que você saiba
porque está lá e concentre-se no trabalho. Eu já
fiquei jogando horas e horas de vídeo games enquanto o
produtor passava três dias tentando ajustar o som da bateria.
Imagine o dinheiro consumido! E o pior é que depois eu
fazia o disco inteiro em apenas dois dias! Eu prefiro entrar e
tentar captar a energia do local. Eu odeio quando vejo um monte
de dinheiro sendo desperdiçado por pessoas que não
possuem muito respeito pela profissão. Mas quer sabers?
Dois dos meus discos favoritos foram feitos dessa maneira, com
um monte de gente envolvida (Exile on Main St,
dos Rolling Stones e Spirit of Eden, do Talk
Talk). A vida é irônica...
Pergunta: - Você
também trabalha como produtor? Seu esquema de trabalho
é o mesmo?
Kevin Kane: - Gravar discos é como fazer um filme,
porque se você para e pensar tudo o que se tem a fazer é
sair e filmar umas duas perseguições de carro, algumas
cenas de sexo, e alguns diálogos para fazer a ligação
entre a perseguição de carros e as cenas de sexo.
E no final achar que você conseguirá fazer com que
tudo se encaixa, mas na realidade você vai ter produzido
um lixo de filme. Muitos músicos, como muitos atores procuram
apenas a fama por qualquer razão e qualquer preço.
É por esta razão que raramente eu assisto a filmes
e odeio quase todas as músicas de hoje. Assim como um filme,
quando você faz um álbum precisa saber qual é
o seu público alvo (crianças? homens solitários?
zangados?). Então vá e produza este filme (ou álbum),
mas lembre-se de manter uma mente aberta caso alguns "acidentes"
de percurso aconteçam e que podem acabar levando tudo para
um outro lado que nunca imaginou. E quanto menos dinheiro você
estiver gastando na produção, mais chances destes
acidentes serem positivos - tudo está em como acaba enxergando.
Pergunta:
- O que você conhece da música brasileira?
Kevin Kane: - Sou grande fã de Antônio Carlos
Jobim e Mutantes e acho que não conheço ninguém
melhor do que eles!
Pergunta: - Me
fale um pouco sobre seu novo trabalho? Ele será lançado
pela Bongo Beat?
Kevin Kane: - Bem, ainda estou trabalhando nele, mas
posso adiantar que sairá por um selo de Vancouver, o Boompa,
no começo de 2005.
Pergunta: - Quem são os artistas que mais te influenciaram?
Poderiam dar cinco exemplos?
Kevin Kane: - Beatles, Rolling Stones, the Who, the Kinks,
Pink Floyd e David Bowie. E mais Clash, Sex Pistols, Joy Division,
Siouxsie and the Banshees, Echo and the Bunnymen, Durutti Column,
Replacements, R.E.M. (os dois primeiros discos), Husker Dü.
Eu sou altamente influenciado pelo punk e pós-punk. E tem
muito mais. Na verdade sou um apaixonado por música. Aliás,
eu poderia citar também Syd Barrett, DJ Shadow e Nick Drake.
Pergunta: - E quais
são seus cincos discos de cabeceira?
Kevin Kane: - Só cinco? Eu vivo variando... mas
são obrigatórios Exile on Main St
(Rolling Stones), Spirit of Eden (Talk Talk),
Horsie (Twilight Circus Dub Sound System), Electric
Warrior (T. Rex) e LC (Durutti Column).
Pergunta: - Deixe
uma mensagem final para seus possíveis futuros fãs
aqui do Brasil...
Kevin Kane: - Espero um dia poder tocar aí. Obrigado
pela chance de falar com o Brasil!
Para saber mais sobre Kevin,
acesse o site www.kevinkane.net ou o site da Boompa, www.boompa.ca.
Um abraço e até
a próxima entrevista!
Discografia
Grapes of Wrath
September Bowl of Green
(1986)
Treehouse (1987)
Now & Again (1989)
These Days (1991)
Solo
Neighborhood Watch (1996)
Timmy Loved Judas Priest (2001)
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