06 - Kevin Kane - entrevista

Kevin Kane é uma figura desconhecida para todo mundo que ouve rock por aqui e não é de surpreender, pois é um artista independente no Canadá. A primeira vez que ouvi algo de sua autoria foi na coletânea da Bongo Beat Driving in the Rain 3 AM. Songs to get lost with, que resenhei para o Whiplash!

Minha proposta para entrevistá-lo foi a mesma de todos os outros artistas estrangeiros ao longo dos anos: ir ao site oficial e solicitar. Como todo mundo acha curioso um brasileiro conhecê-los sempre aceitam e aí eu começo a lotar de e-mails e perguntas. Mas se eu não conhecia Kevin, ele conhece (e muito) o Brasil, especialmente nossa música. E nos últimos dias trocamos vários e-mails falando de anos 80, especialmente sobre o Durutti Column. Mandei algumas perguntas básicas e me espantei com a vontade de falar do rapaz. Sendo assim vamos aos fatos...

 


 

Pergunta: - Poderia falar um pouco de você?
Kevin Kane: -
Bem, eu tive uma banda razoavelmente famosa aqui no Canadá nos anos 80 e 90, o Grapes of Wrath. Fizemos quatro discos, com boas vendagens, mas resolvi apostar em algo mais pessoal, entre eles um sonho de realizar um disco de covers, nos moldes de Pin Ups, de David Bowie. Ele acabou sendo lançado em uma edição limitada de 500 cópias e chamou-se Timmy Loved Judas Priest. Esse disco está sendo relançado pelo selo Boompa Records.

 

capa de Timmy Loved Judas PriestPergunta: - Como você costuma trabalhar dentro de um estúdio?
Kevin Kane: -
Eu gosto de planejar antes, com calma, porque os estúdios podem ser extremamente caros se você entra sem estar com as canções prontas em sua cabeça. Já vi muita gente perder um tempo imenso afinando suas guitarras ou percebem que suas letras precisam ser reescritas, que os amplificadores não funcionam, que o cantor não consegue cantar, ou ver o baixista caindo pelas tabelas de tanto tomar droga... Eu acredito que tudo deva estar pronto antes de começar uma gravação e que você saiba porque está lá e concentre-se no trabalho. Eu já fiquei jogando horas e horas de vídeo games enquanto o produtor passava três dias tentando ajustar o som da bateria. Imagine o dinheiro consumido! E o pior é que depois eu fazia o disco inteiro em apenas dois dias! Eu prefiro entrar e tentar captar a energia do local. Eu odeio quando vejo um monte de dinheiro sendo desperdiçado por pessoas que não possuem muito respeito pela profissão. Mas quer sabers? Dois dos meus discos favoritos foram feitos dessa maneira, com um monte de gente envolvida (Exile on Main St, dos Rolling Stones e Spirit of Eden, do Talk Talk). A vida é irônica...

Pergunta: - Você também trabalha como produtor? Seu esquema de trabalho é o mesmo?
Kevin Kane: -
Gravar discos é como fazer um filme, porque se você para e pensar tudo o que se tem a fazer é sair e filmar umas duas perseguições de carro, algumas cenas de sexo, e alguns diálogos para fazer a ligação entre a perseguição de carros e as cenas de sexo. E no final achar que você conseguirá fazer com que tudo se encaixa, mas na realidade você vai ter produzido um lixo de filme. Muitos músicos, como muitos atores procuram apenas a fama por qualquer razão e qualquer preço. É por esta razão que raramente eu assisto a filmes e odeio quase todas as músicas de hoje. Assim como um filme, quando você faz um álbum precisa saber qual é o seu público alvo (crianças? homens solitários? zangados?). Então vá e produza este filme (ou álbum), mas lembre-se de manter uma mente aberta caso alguns "acidentes" de percurso aconteçam e que podem acabar levando tudo para um outro lado que nunca imaginou. E quanto menos dinheiro você estiver gastando na produção, mais chances destes acidentes serem positivos - tudo está em como acaba enxergando.

Pergunta: - O que você conhece da música brasileira?
Kevin Kane: -
Sou grande fã de Antônio Carlos Jobim e Mutantes e acho que não conheço ninguém melhor do que eles!

Pergunta: - Me fale um pouco sobre seu novo trabalho? Ele será lançado pela Bongo Beat?
Kevin Kane: -
Bem, ainda estou trabalhando nele, mas posso adiantar que sairá por um selo de Vancouver, o Boompa, no começo de 2005.



Pergunta: - Quem são os artistas que mais te influenciaram? Poderiam dar cinco exemplos?
Kevin Kane: -
Beatles, Rolling Stones, the Who, the Kinks, Pink Floyd e David Bowie. E mais Clash, Sex Pistols, Joy Division, Siouxsie and the Banshees, Echo and the Bunnymen, Durutti Column, Replacements, R.E.M. (os dois primeiros discos), Husker Dü. Eu sou altamente influenciado pelo punk e pós-punk. E tem muito mais. Na verdade sou um apaixonado por música. Aliás, eu poderia citar também Syd Barrett, DJ Shadow e Nick Drake.

Pergunta: - E quais são seus cincos discos de cabeceira?
Kevin Kane: -
Só cinco? Eu vivo variando... mas são obrigatórios Exile on Main St (Rolling Stones), Spirit of Eden (Talk Talk), Horsie (Twilight Circus Dub Sound System), Electric Warrior (T. Rex) e LC (Durutti Column).

Pergunta: - Deixe uma mensagem final para seus possíveis futuros fãs aqui do Brasil...
Kevin Kane
: - Espero um dia poder tocar aí. Obrigado pela chance de falar com o Brasil!

Para saber mais sobre Kevin, acesse o site www.kevinkane.net ou o site da Boompa, www.boompa.ca.

Um abraço e até a próxima entrevista!

Discografia

Grapes of Wrath

September Bowl of Green (1986)
Treehouse (1987)
Now & Again (1989)
These Days (1991)

Solo
Neighborhood Watch (1996)
Timmy Loved Judas Priest (2001)