Eis-me
aqui de novo entrevistando um ilustre desconhecido no Brasil e
que, de certa forma, me faz encerrar o assunto entre Robyn Hitchcock,
Soft Boys e Katrina and The Waves que tanto circulou por essa
coluna e em minha cabeça nos últimos meses. E para
juntar todo esse elo, consegui entrevistar Kimberley Rew, guitarrista
dos Soft Boys e dos Waves, através do seu site pessoal.
Kimberley, assim como Katrina, Andy Gill e outros, foi extremamente
solícito e respondeu pacientemente meu questionário,
mostrando aquele bom humor que tanto permeou sua carreira e pode
ser ouvido em suas músicas. O compositor de "Walking
On Sunshine" é uma pessoa inteligente e divertida.
Entre suas peripécias, é dele o texto sobre a história
dos Soft Boys no site oficial do grupo e que reproduzirei algumas
partes. Por e-mail, Rew conta como era trabalhar com Robyn, a
recente reunião do grupo para alguns shows e o sucesso
com os Waves. E ficou, assim como Katrina, exultante ao saber
que venceram o prêmio de melhor banda nova em 1985, da extinta
revista "Bizz", no qual fez questão de agradecer
os eleitores. Sendo assim, e como já enchi lingüiça
suficiente nesse início, vamos a um resumo da carreira
do homem e a entrevista propriamente dita...
"Em
1975 tive contato com Robyn Hitchcock, que havia acabado de chegar
em Cambridge procurando músicos para formar um grupo. Robyn
era o protótipo do roqueiro: calças de couro preta,
jaqueta igualmente negra, cabelo comprido e barba. Foi através
de Sunshine Joe, um cara igualmente estranho, que conheci Robyn.
Eu morava então em um quarto alugado de uma casa em que
o porão era um estúdio de gravação,
o Spaceward. Robyn ia lá para trabalhar e durantes os intervalos,
começamos a conversar, na cozinha da casa. Além
dele, circulava Morris Windsore Rob Lamb (que era o cantor original
dos Waves), que formaram o Sheboygan, um grupo de 'pub rock'.
Em 1975, chamaram Robyn e Andy Metcalfe e fundaram Dennis and
the Experts. Os ensaios eram no quarto de Robyn. Rob acabou saindo
e chamaram Alan Davies para a guitarra. Foi em um show de Natal
em uma universidade que Robyn apagou o nome Dennis and the Experts
no quadro negro e escreveu The Soft Boys. E assim nasceu o grupo.
Em 1977 lançaram o EP Give It To The Soft Boys
e começaram a abrir shows para The Pirates, Elvis Costello
e Vibrators. Eu entrei no ano seguinte e assinamos um pequeno
contrato com a Radar Records, que tinha Elvis Costello e Nick
Lowe em seu catálogo. Fizemos shows de abertura para o
Damned - a única vez que toquei para uma platéia
punk na minha vida - e a Radar nos deu dinheiro para gravarmos
um disco no estúdios Rockfield, perto do País de
Gales, por duas semanas. Fazer dinheiro era algo difícil,
pois eram tempos em que Supertramp (com Logical Song) e Dire Straits
(com Sultans of Swing) entupiam as rádios. Em 1979, Robyn
resolveu lançar pelo seu próprio selo nosso primeiro
disco, A Can of Bees, que teve uma pequena repercussão.
No entanto, Andy deixou o grupo para se juntar ao Telephone Bill
and the Smooth Operators. Matthew Selligman acabou entrando como
baixista. Nessa época consegui passar no exame para dirigir
(nenhum de nós tinha habilitação) com uma
van emprestada. Voltamos para o Spaceward e gravamos 'I've Got
the Hots', 'He's a Reptile', 'Song Number Four' e 'You'll Have
to Go Sideways'. Essa última canção consistia
de um simples riff de guitarra repetida várias vezes por
três minutos. O estúdio tinha um Mini Moog, que custava
perto de 600 libras naquele tempo e o usei nessa canção.
O Cambridge City Rowing Club Boathouse passou a ser um local freqüente
para as bandas locais poderem ensaiar, sendo que uma das bandas
que lá tocava e que ficou bastante famosa foi o Captain
Sensible. Trabalhamos duro nas novas canções que
viriam a ser nosso novo disco Underwater Moonlight.
Nossos últimos suspiros como um grupo independente veio
com o pequeno selo Armaggedon que lançou nosso EP The
Kingdom of Love, que ficou entre as 25 mais da parada
alternativa da New Musical Express. Embarcamos em uma turnê
pela Escócia, ficando em um quarto de hotel, em Edimburgo,
com cinco camas, como se fôssemos todos uma família.
Underwater
Moonlight foi lançado no verão
de 1980 e nessa época tínhamos mudado para Londres
e Robyn havia gravado The Man Who Invented Himself.
Nossa vida estava mudando. 'Only The Stones Remain' foi nosso
último grande esforço, e que apareceu somente na
coletânea póstuma, Two Halves For The Price
Of One. Partimos então para nossa maior aventura,
uma viagem para Nova York, onde tocamos no Mudd Club e no Danceteria.
Nosso último show acabou sendo na segunda parte da nossa
turnê pela Inglaterra. Foi no Golden Lion, em Fullham, Londres.
Tinhamos então nossos projetos paralelos - Robyn com os
Egyptians, Morris tocava com os Gliders, Matthew com os Snail
e eu já completava 18 meses com Katrina and the Waves.
Cada um seguiu sua vida até que em 2001 nos reunimos para
tocar em um disco tributo a Paul McCartney. Dessa reunião
surgiram alguns ensaios e lançamos um novo disco, Nextdoorland.
Começamos a fazer shows abrindo para os Pretty Things e
acabamos saindo em uma turnê pela América, em 2002,
para promovermos o nosso trabalho. E as coisas caminham muito
bem...
Esse texto foi roubado
e adaptado do site
oficial dos Soft Boys e mostra um pouco da vida e personalidade
de Kimberley, autor da imensa história do grupo, que lá
está dividida em capítulos. Depois de deixar os
Boys, Rew se dedicou de corpo e alma no Katrina and the Waves,
onde virou o principal compositor e teve um grande sucesso. Além
de “Walking On Sunshine”, vale destacar a bela versão
que as Bangles fizeram de “Going Down to Liverpool), que
virou um mini-hit da banda feminina. Em 1982, lançou um
disco tendo como banda suporte os americanos do dB’s, um
grupo que tinha as mesmas idéias do Soft Boys, que era
resgatar o som dos anos 60 para a década de 80. Durante
e depois do Katrina, tocou com vários artistas (a relação
completa está na discografia do rapaz ao final do texto).
Sempre criativo e amante dos sons antigos (Beatles, Byrds, Beach
Boys, Kinks), Rew é hoje uma pessoa que não liga
muito para a atual cena roqueira, preferindo se concentrar mais
nos sons da “era dourada” como ele mesmo definiu na
entrevista. Sua amizade com os velhos companheiros permanece intacta
e vira e mexe se encontram, para alguns shows, como foi a excursão
com os Soft ou mesmo participar do disco de Katrina. Fique agora
com um pouco das idéias de Kimberley e saiba mais sobre
ele, um quase anônimo por aqui (para não dizer totalmente
desconhecido) e leia como ele enfrentou o sucesso com os Waves
e a sua volta para uma audiência menor...
Pergunta:
- Gostaria que você me contasse um pouco como foi reencontrar
Robyn Hitchcock e o pessoal dos Soft Boys na recente reunião
do grupo.
Kimberley Rew: - Foi algo extraordinário, já
que o grupo se separou quando eu tinha 29 anos, após ter
ficado três anos no Soft Boys. A reunião me possibilitou
completar algo que eu tinha abandonado 20 anos atrás, algo
que não ocorre freqüentemente em sua vida.
Pergunta: - Você
e Robyn são ótimos compositores. Como era o processo
de trabalho dentro da banda?
Kimberley Rew: - Obrigado pelo elogio. Os Soft Boys eram
na verdade um meio para Robyn veicular suas canções.
Eu desenvolvi meu lado de compositor mais tarde, com o Katrina
and the Waves e na minha carreira solo.
Pergunta:
- Havia muita diferença entre as duas bandas?
Kimberley Rew: - Completamente, eram dois grupos totalmente
diferentes, em personalidades, no modo de trabalhar. Robyn sempre
determinava o que cada um faria, ele trabalhava de maneira muito
consistente, sabendo o que desejava e no início facilitava
um pouco meu trabalho, que era tocar de maneira correta a minha
guitarra. Com a Katrina, eu era compositor e tinha a preocupação
de estruturar as canções.
Pergunta: - E como
é seu método de trabalho, de composição?
Kimberley Rew: - O mais importante é saber que
cada um trabalha de uma maneira completamente distinta do outro,
então o meu jeito serve apenas para mim. Talvez a maneira
mais simples para que eu possa compor, é pegar as palavras
mais importantes (refrão, início) e desenvolvê-las
ao mesmo tempo.
Pergunta:
- Você teve um sucesso imenso dentro do Katrina and the
Waves com "Walking On Sunshine". Qual foi a sensação?
Kimberley Rew: - É algo que te transporta para
um outro plano e, em nosso caso, nos deixou completamente fora
de órbita, durante 12 anos. Mas penso que não estaria
aqui hoje com tudo que tenho se não tivesse passado por
essa experiência.
Pergunta: - Um
dos grandes fãs dos Softs é Peter Buck (guitarrista
do R.E.M.). Você chegou alguma vez a tocar com ele ou com
o R.E.M.? Qual sua opinião sobre eles?
Kimberley Rew: - Peter se juntou ao Soft em palco uma
ou duas vezes. Ele é muito mais ligado ao Robyn do que
a mim durante todos esses anos. Eu não tenho uma opinião
sobre os grupos que se dizem influenciados pelos Softs, mas acho
o R.E.M. uma boa banda, sem dúvida.
Pergunta: - E o
que você acha da atual cena do rock?
Kimberley Rew: - O mesmo que disse sobre o R.E.M. Não
há nada que me afete.
Pergunta:
- Me fale um pouco de sua carreira-solo, seus discos...
Kimberley Rew: - Bem, deixe eu fazer um pouco de propaganda
então... Tunnel into Summer está
disponível para compra no site
da Gadfly Records e Grand Central Revisited você
pode comprar através do site
da Bongo Beat. São bons discos (risos).
Pergunta: - Em
1997, Katrina and the Waves conquistou o Eurovision Song, com
a canção "Love Shine a Light". Ela é
sua canção favorita da banda, já que você
também a compôs?
Kimberley Rew: - Ela é minha favorita, como "Walking
On Sunshine" é minha favorita também. Mas ainda
prefiro "Walking On Sunshine", mas "Love..."
vem logo abaixo.
Pergunta:
- Quais são suas maiores influências?
Kimberley Rew: - Os Beatles, obviamente, e todos os artistas
que eram populares por volta de 1962. Eu me considero uma pessoa
de sorte por ter nascido exatamente na década de ouro da
música.
Pergunta: - Quais
são suas cinco canções favoritas?
Kimberley Rew: - "I only have eyes for you"
(The Flamingos), "Waterloo Sunset" (Kinks), "What
I'd Say" (Ray Charles), "Roll 'em Pete (Big Joe Turner)
e "Good Vibrations" (Beach Boys).
Pergunta:
- Quais são seus próximos projetos?
Kimberley Rew: - Recentemente fiz um disco com minha
companheira Lee, Spring Forward (que está
à venda no site
do The Bass Place) e estou trabalhando em um novo disco solo.
E meu disco The Bible of Bop (de 1982) está
sendo relançado pela Bongo Beat.
Pergunta: - Você
participou do primeiro trabalho solo de Katrina Leskanich. O que
pode me dizer sobre ele?
Kimberley Rew: - Eu ainda não o ouvi, mas gostei
de algumas canções que ouvi em 2000. Fico muito
feliz por ser o tipo de som que ela gosta de fazer desde quando
estávamos nos Waves.
Pergunta:
- Deixe eu repetir a mesma pergunta que fiz a ela. Em 1985, vocês
foram eleitos como a revelação do ano por uma revista
brasileira já extinta, "Bizz". Ela disse que
nunca ficou sabendo dessa notícia. Você também
nunca soube disso?
Kimberley Rew: - Que grande notícia você
está me dando 19 anos depois, já que nunca vencemos
um prêmio de "melhor banda nova" à época.
Infelizmente não era possível estar em todos lugares
do planeta em que "Walking On Sunshine" era apreciada.
Mas agradeço por ter me contado isso!
Pergunta:
- Bem, essa é aquela velha pergunta clássica de
um jornalista brasileiro. O que você conhece da música
do Brasil?
Kimberley Rew: - Infelizmente nada, excetuando um pouco
de bossa nova. Mas se a música de vocês não
for cheia de computadores e cheia de ritmo, certamente deve ser
muito boa. Me mande algo para que eu possa conhecer!
Pergunta: - Para
encerrar deixe uma mensagem para seus fãs brasileiros...
Kimberley Rew: - Gostaria de agradecer com certo atraso
pelo prêmio de 1985 e espero que meus discos sejam lançados
por aí e que as pessoas gostem deles. Fiquem de olho nesse
novo trabalho da Katrina. E tenham certeza que, tanto ela, como
Robyn e até eu continuaremos a escrever novas músicas.
Obrigado pela chance de falar com o Brasil.
Fiquem com a imensa discografia
de Kimberley, não apenas os seus discos solos, mas em todos
os projetos em que tocou. Um abraço e até a próxima
coluna!
Discografia-solo
Bible of Bop (1982)
Tunnel into Summer (2000)
Great Central Revisited (2002)
Com os Soft Boys
Give It To The Soft Boys
(EP, 1977)
(I Want to Be an) Anglepoise Lamp (EP, 1978)
A Can of Bees (1979)
Underwater Moonlight (1980)
Near The Soft Boys (1980)
I Wanna Destroy You (EP,1981)
Only The Stones Remain (EP,1981)
Two Halves For The Price Of One (EP, 1981)
Nextdoorland (2002)
Com Robyn Hitchcock
Black Snake Diamond Role
(1981)
Jewels For Sophia (1999)
A Star for Bram (2000)
Com o Katrina and
The Waves
Shock Horror (Mini álbum
independente inglês pela Aftermath Records, 1983)
Black and White Album (título canadense de Walking on Sunshine,
1983)
Katrina and the Waves 2 (1984)
Katrina and the Waves (1985)
Waves (1986)
Break of Hearts (1989)
Pet the Tiger (1991)
Edge of the Land (1993)
Turnaround (1994)
Roses (compilação canadense Edge of the Land e Turnaround,
de 1995)
Anthology (1996)
Walk on Water (1997)
Walking on Sunshine - Greatest Hits (Compilação
sueca dos albums de 85/86/89/91) (1997)
The Original Recordings 1983-1984 (reunião do dois primeiros
discos canadenses mais um DVD) (2003)
Com The Lonely
Rarer Gifts (1997)
Underground (1998)
Com Julian Dawson
As real as Disneyland (1987)
Steal that Beat (1996)
Spark (1999)
Under the Sun (1999)
Com Ashley Hutchings
All Stars
As You Like it (1988)
Com Boo Hewerdine
Ignorance (1992)
Com Deni Bonet
Bigger is always Better
(2001)
Com Lee Cave-Berry
Spring Forward (2003)
|