Bandinha curiosa o The La's.
Apesar de estarem na ativa desde 1984, só lançaram
um disco, que virou uma referência do gênero power
pop. E mais nada. Mas não que é agora, em 2010,
saiu uma caixa deles com 4 cds e cheio de músicas inéditas?
Mas quem são eles? De onde vieram? Perguntas, perguntas,
perguntas....
(da
esquerda para a direita: Lee Mavers, Peter "Cammy" Camell,
Neil Mavers e John Power)
Há quem os considere
o "maior segredo de Liverpool".
Os La's poderiam ter sido
uma das maiores bandas dos anos 90 se quisessem, mas deixaram
para a posteridade apenas um disco - ótimo, por sinal!
- e uma história recheada de brigas, perfeccionismo, drogas
e frustração.
Boa parte do La's ter produzido
tão pouco e ter passado longe da fama se deve ao líder
Lee Mavers, um cara tão difícil e temperamental,
que faria Noel Gallagher parecer um coroinha.
Para ser ter uma idéia
de como Lee era uma figura, basta ver a saia justa em que deixou
o repórter Stuart Maconie, do New Musical Express,
em uma entrevista publicada em 20 de outubro de 1990.
Stuart abre a matéria
dizendo que odeia abrir as matérias perguntando para a
banda falar de um novo disco, porque geralmente vem o chavão
"é o melhor que já fizemos" ou "é
bom, mas espere ouvir o próximo"...
Porém, Stuart confessa
que ficou sem reação quando Lee fuzilou: "Odiei.
É um monte de merda. Não há nada de bom que
eu possa falar sobre ele."
Não é lá
uma maneira muito boa de se auto-promover...
A história do grupo
começou bem antes, em 1984, quando Mike Badger, um aluno
de escultura, montou o The La's. O nome, segundo ele, foi inspirado
em um sonho que teve, mas também poderia ser uma brincadeira
com a palavra lads (amigos, companheiros).
Lee
se juntou ao grupo no mesmo ano, apenas como guitarrista rítmico,
mas logo ganhou espaço como compositor, cantor e líder.
John Power foi o próximo a entrar, em 1986, por intermédio
do próprio Badger, que saiu do grupo naquele mesmo ano.
Aos poucos, o grupo começou
a montar um repertório e chamou a atenção
da cena local, graças a uma demo gravada.
Uma dessas revistas parou
na redação da Underground Magazine, que por seu
lado repassaram a Andy McDonald, da gravadora indepedente, Go!
Discs, que tinha em seu cast Billy Bragg e o Housemartins.
Animados, os rapazes lançam
um single, Way Out, em 1987. A canção
fica na 86ª posição da parada britânica
e é elogiada por Morrissey. O futuro da banda parecia promissor
e o La's era visto como um possível herdeiro dos Smiths.
E admiradores famosos é
o que não faltava para o grupo. Ainda em 1987, um dos maiores
fãs era o baterista Pete De Freitas, do Echo and the Bunnymen,
a maior e mais importante banda de Liverpool, na época.
Junto
com o tecladista Jake Brockman - que veio com a banda nos shows
que eles deram no Brasil, no mesmo ano - resolveram bancar algumas
gravações, pagando todas as custas, alugando e equipamentos.
O resultado desses dois
dias de gravações foi extremamente importante, já
que algumas dessas canções entraram no único
álbum do grupo.
Exatamente nessa época,
Lee começou a ter uma idéia do que ele queria para
a banda. O problema é que nem sempre era entendido pelos
demais e exibia um perfeccionismo exagerado.
Em 1988, lançam
um segundo single, There She Goes, uma das mais
belas canções pops já feitas. A música
chegou ao 59º lugar na parada inglesa. Promover a banda,
no entanto, era um tormento para o selo, que via constantemente
darem o cano em shows, gravações...
A Go! Discs se desesperava
com a lentidão para escrever novas canções
e gravá-las, até que abandonaram tudo, infelizes
com o nível das produções. Desesperado, Andy
McDonald convidou Lee para participar de todo o processo de mixagem
e edição, convite este recusado.
(John
Power e Lee Mavers)
Lee, no entanto, recusa
a fama de cara difícil: "podíamos ter feito
o disco com 500 libras, gravando-o em quatro canais, no meu porta-estúdio.
Não sou perfeccionista como as pessoas afirmam. Apenas
queria capturar o espírito das míusicas e queria
soar apenas simples, direto, básico. Mas eles não
entendiam isso."
Durante o período
entre 1988 e 1990, a banda teve inúmeras formações,
restando apenas Lee e Powers da formação original.
Enquanto isso, a gravadora se descabelava e dava ao La's os melhores
produtores disponíveis: John Porter, as well as John Leckie
e Mike Hedges, sem que nada acontecesse.
Foi
apenas em 1989 que a banda começou a caminhar rumo ao disco,
tendo como produtor o ultra-famoso Steve Lillywhite.
Durante três meses
- dezembro de 1989 até fevereiro de 1990 - Lillywhite e
banda se trancaram no Eden Studios para trabalharem.
Lee, no entanto, continuou
infeliz com o resultado, reclamando sempre que possível.
A Go! Discs não
aguentava mais tamanha pressão, sem falar nos custos, afinal
Lillywhite era apenas mais um nome entre vários produtores
que tentaram trabalhar com o La's: John Porter, Gavin MacKillop,
John Leckie, Bob Andrews, Jeremy Allom e Mike Hedges foram os
outros.
As rusgas fizeram com
que a banda abandonassem as gravações e coube ao
selo pedir a Lillywhite que fizesse o melohor possível
para que, finalmente, editassem um disco.
Sem a aprovação
de Lee, é lançado o CD, The La's,
que ele tanto desprezou. Editado em outubro de 1990, o disco foi
recebido com elogios pela crítica e considerado uma influência
fundamental para artistas, como Liam Gallagher, Pete Doherty,
entre outros.
O disco chegou ao 30º
posto na Inglaterra e vendeu mais de 50 mil cópias, nos
Estados Unidos. Um resultado tímido, até certo ponto,
mas que ajudou, ao menos a cobrir os custos.
Ao ser editado, trazia
as seguintes faixas:
01. "Son of a Gun"
1:56
02. "I Can't Sleep" 2:37
03. "Timeless Melody" 3:01
04. "Liberty Ship" 2:30
05. "There She Goes" 2:42
06. "Doledrum" 2:50
07. "Feelin'" 1:44
08. "Way Out" 2:32
09. "I.O.U." 2:08
10. "Freedom Song" 2:23
11. "Failure" 2:54
12. "Looking Glass" 7:52
Com
o álbum, a banda resolveu finalmente fazer alguns shows
promocionais, embarcando até para a América.
A turnê, no entanto,
foi estafante para John Powers, que abandonou o grupo em 13 de
dezembro de 1991, alegando estar cansado de tocar as mesmas músicas
desde 1986.
Para seu lugar foi convocado
James Joyce, que tocou em alguns concertos, no ano seguinte, e
participou dos ensaios para um novo repertório.
O grupo, no entanto, nunca
mais lançou nada e se reunia ocasionalmente, em 1994, 1995,
convidados por fãs - Oasis, Paul Weller e Dodgy.
Em 1996, Mavers começou
a gravar novas músicas, que se estendeu por dois anos.
Enquano isso, a Go! Discs fechou as portas e o contrato do grupo
foi adquirido pela Polygram, até expirar em 1998.
Sem selo, Mavers procurou
o antigo líder, Mike Badger e juntos, venderam para o selo
The Viper, algumas demos, que acabaram sendo editadas em dois
discos: Lost La's 1984–1986: Breakloose
(1999) e Lost La's 1986–1987: Callin' All
(2001).
Em
2003 é editado uma biografia - In Search of The
La's: A Secret Liverpool -, recheado de entrevistas com
Lee Mavers, Mike Badger, Paul Hemmings, Barry Sutton, Peter "Cammy"
Camell e Neil Mavers.
Em 2005, a banda volta
para uma série de apresentações.
Desde então, Lee
é figura carimbada em shows, à frente do La's ou
com o Lee Rude & The Velcro Underpants.
Em 2010, é editado
a caixa de 4 CDs, Callin' All, aumentando ainda
mais o mito do La's.
Um novo disco? Talvez.
Quem sabe? Nem Lee. Mas nada é impossível. Basta
torcer para que as gravações sejam menos tensas
e, quem sabe, em 2020, teremos um novo La's. E, desta vez, soando
como Lee Mavers sempre sonhou. Seja lá o que isso signifique.
Um abraço e até
a próxima coluna.
Discografia
Disco
The La's (1990)
Coletâneas
Lost La's 1984–1986: Breakloose
(1999)
Singles Collection (2001)
Lost La's 1986–1987: Callin' All (2001)
BBC in Session (2006)
Lost Tunes (2008)
De Freitas Sessions '87 (2010)
Callin' All (2010)
Singles
Way Out (1987)
There She Goes (1988)
Timeless Melody (1990)
There She Goes (remix) (1990)
Feelin' (1991)
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