Durante anos
relutei em fazer uma coluna sobre os Doors e basicamente por dois
motivos: o primeiro foi o terrível filme feito por Oliver
Stone. Ao estereotipar a banda com uma caricatura horrorosa de
Jim Morrison, Stone perpetuou uma imagem imutável desde
então, fazendo de Jim um bufão sem sentido e drogado.
O outro motivo veio em decorrência do próprio filme,
que criou legiões de fãs acéfalos que se
identificaram com a película, mas sem compreender a banda.
Até um bar de nome Morrison surgiu e qualquer bobo que
andava com uma garrafa de cachaça na mão começava
a se dizer tomado pelo espírito de Jim. Mas minha recusa
terminou ao ouvir pela centésima vez meu disco favorito
deles, justamente o último, em um período de incertezas,
brigas e que culminaria com a morte de Jim.
O
ano de 1971 não poderia ser menos tenso para os Doors.
O clima entre os integrantes era difícil após tantas
polêmicas judiciais de Jim Morrison que começou com
em Miami quando insultou a platéia e simulou masturbação
no palco.
Jim havia se cansado da
imagem de sex symbol que tinham lhe atribuído e começou
a cultivar um visual nada bonito: barba cerrada, barriga grande
que lhe davam um olhar de profeta.
Mas, apesar disso, os Doors
continuavam com o prestígio em alta com os fãs.
Após lançarem
um disco frouxo em 1979, The Soft Parade, o grupo
voltou à boa forma em 1970 com o excelente Morrison
Hotel e também com o duplo ao vivo Absolutely
Live, que capturou perfomances entre 1968 e 1970.
Assim,
em 1971 o grupo entrou em estúdio para gravar aquele que
seria o sexto disco de estúdio. Mas a situação
não era fácil. Logo no início das sessões,
o produtor Paul Rotchild, que havia trabalhado com os Doors nos
discos anteriores resolveu desistir de tudo. Alegando cansaço
e falta de motivação para continuar, Paul simplesmente
largou tudo. Segundo Bruce Botnick, engenheiro de som do disco
e que acabaria assumindo a função de produtor junto
com a banda, Paul afirmou que estava cansado desse som de cocktail
jazz, fazendo referência aos primórdios do que
seria "Riders on the Storm". Paul confessa que chegou
a, literalmente, dormir em algumas sessões.
A sua saída foi
um tremendo baque para todos e a solução encontrada
por Botnick foi irem até os estúdios da gravadora
Elektra e começarem a trabalhar. O clima não ia
muito bem, até que Bruce sugeriu que fizessem as gravações
no local de ensaios da banda, um prédio de dois andares
construído pela banda e pelo empresário Bill Siddons.
Ele apenas levaria alguns equipamentos, utilizando um estúdio
portátil de oito canais, em uma época em que os
16 canais já eram comuns.
Mais relaxado, o grupo
começou a produzir em estúdio, já que entraram
com pouquíssima coisa pronta para o novo disco. Apesar
disso, o clima entre os integrantes era calmo e Bruce sugeriu
dois músicos de estúdio para a empreitada: o guitarrista-rítmico
Marc Benno, que havia trabalhando com Elvis Presley e o baixista
Jerry Scheff. Com Benno, Robby Krieger teria mais espaços
para fazer seus solos, idéia imediatamente aceita até
porque Jim era fã incondicional de Elvis.
A
primeira providência foi deixar Jim o mais "limpo"
possível, abastecendo-o apenas com algumas cervejas após
as sessões. Apesar da falta de material previamente escrito,
o grupo conseguiu algo que parecia impossível: gravar rapidamente.
Enquanto The Soft Parade, por exemplo, levou
quase nove meses para ser gravado, L. A. Woman
levou menos de um mês. As músicas eram feitas quase
que no ritmo de uma por dia e o disco foi gravado em incríveis
seis dias. Segundo Botnick, Jim estava mais feliz do que nunca,
cantando seus blues.
Bruce também deixou
a banda mais relaxada e por ser menos exigente do que Rothchild
a tensão era visivelmente menor. Um dos bons exemplos foi
a canção "The Wasp (The Texas Radio and the
Big Beat)". Jim havia escrito esse poema e Robby conseguiu
criar uma melodia rapidamente e, em menos de uma hora, a canção
estava pronta.
Com
"Riders on the Storm" também foi assim: originalmente
intitulada "Ghost Riders in the Sky", Jim mudou a letra
em minutos e deu origem ao maior clássico do disco, junto
da faixa-título.
O disco também teve
importante participação do presidente da Elektra
Records, Jac Holzman, que aceitou o pedido de Bruce e deixou a
banda trabalhar da maneira que deixasse sem qualquer intervenção
por parte da gravadora. E Holzman, segundo Botnick, adorou o resultado
do disco chegando até a chorar durante a audição
do disco.
O
primeiro compacto extraído foi Love Her Madly,
que chegou ao 11º posto na parada, em março de 1971.
Já era uma boa amostra da sonoridade dos Doors, que buscavam
uma volta às raízes. No mês seguinte é
editado o disco L. A. Woman, que mostra o grupo
revigorado e em ótima forma.
O disco foi puxado pelas
duas canções e também pela faixa-título.
"Riders on the Storm" fora inspirada - ainda que não
totalmente - em Billy Cook, que ficou famoso como um serial
killer que pedia carona nas estradas e matava as pessoas
durante a viagem.
O
disco foi um grande sucesso alcançando platina dupla nas
vendagens - algo em torno de 2 milhões de cópias
vendidas - e após isso, Jim Morrison finalmente tirou suas
férias em Paris, que tanto sonhara e já agendada.
Infelizmente Jim acabaria
não voltando ao morrer em circunstâncias misteriosas
e até hoje não explicadas, em 3 de julho, de 1971,
após um ataque cardíaco. Com ele, o grupo encerrava
uma aura mitológica. Os demais integrantes tentaram continuar
produzindo dois discos lamentáveis e que mancharam a imagem
da banda. Isso sem falar nos shows caça-níqueis
que ainda acontecem pelo mundo.
Mas o que ficou foi a imagem,
a música e a poesia dos Doors. Jim Morrison passou de símbolo
sexual a inimigo público número 1 da América
e quando parecia que iria finalmente retomar sua carreira de poeta
- Jim já admitia que sairia da banda - encontrou seu fim.
Deixo vocês com a
discografia da banda. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Singles
Break on Through (To The Other Side) (1967)
Light My Fire (1967)
People Are Strange (1967)
Love Me Two Times (1967)
The Unknown Soldier (1968)
Hello, I Love You (1968)
Touch Me (1968)
Tell All The People (1969)
Roadhouse Blues (1970)
Love Her Madly (1971)
Riders on the Storm (1971)
The Mosquito (1972)
Discos de estúdio
The Doors (1967)
Strange Days (1967)
Waiting for the Sun (1968)
The Soft Parade (1969)
Morrison Hotel (1970)
L.A. Woman (1971)
Other Voices (1971)
Full Circle (1972)
An American Prayer (1978)
Ao Vivo
Absolutely Live (1970)
Alive, She Cried (1983)
Live at the Hollywood Bowl (1987)
In Concert (1991)
Live in Detroit (2001)
Bright Midnight: Live in America (2001)
Live in Hollywood (2002)
Live in Philadelphia (2005)
Live in Boston (2007)
Coletâneas
13 (1970)
Weird Scenes Inside the Gold Mine
The Doors Greatest Hits (1980)
The Best Of The Doors (1985)
Essential Rarities (2000)
The Best of the Doors (2000)
The Very Best Of The Doors (2001)
Legacy: The Absolute Best (2003)
The Very Best Of The Doors (2007)
Box Sets
The Doors: Box Set (1997)
The Complete Studio Recordings (1999)
Perception (2006)
The Doors: Vinyl Box Set (2007)
The Doors: Love, Death, Travel (2005)
The Doors: Boot Yer Butt (2003)
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