257 - The Doors - L. A. Woman

Durante anos relutei em fazer uma coluna sobre os Doors e basicamente por dois motivos: o primeiro foi o terrível filme feito por Oliver Stone. Ao estereotipar a banda com uma caricatura horrorosa de Jim Morrison, Stone perpetuou uma imagem imutável desde então, fazendo de Jim um bufão sem sentido e drogado. O outro motivo veio em decorrência do próprio filme, que criou legiões de fãs acéfalos que se identificaram com a película, mas sem compreender a banda. Até um bar de nome Morrison surgiu e qualquer bobo que andava com uma garrafa de cachaça na mão começava a se dizer tomado pelo espírito de Jim. Mas minha recusa terminou ao ouvir pela centésima vez meu disco favorito deles, justamente o último, em um período de incertezas, brigas e que culminaria com a morte de Jim.


O ano de 1971 não poderia ser menos tenso para os Doors. O clima entre os integrantes era difícil após tantas polêmicas judiciais de Jim Morrison que começou com em Miami quando insultou a platéia e simulou masturbação no palco.

Jim havia se cansado da imagem de sex symbol que tinham lhe atribuído e começou a cultivar um visual nada bonito: barba cerrada, barriga grande que lhe davam um olhar de profeta.

Mas, apesar disso, os Doors continuavam com o prestígio em alta com os fãs.

Após lançarem um disco frouxo em 1979, The Soft Parade, o grupo voltou à boa forma em 1970 com o excelente Morrison Hotel e também com o duplo ao vivo Absolutely Live, que capturou perfomances entre 1968 e 1970.

capa do disco Absolutely LiveAssim, em 1971 o grupo entrou em estúdio para gravar aquele que seria o sexto disco de estúdio. Mas a situação não era fácil. Logo no início das sessões, o produtor Paul Rotchild, que havia trabalhado com os Doors nos discos anteriores resolveu desistir de tudo. Alegando cansaço e falta de motivação para continuar, Paul simplesmente largou tudo. Segundo Bruce Botnick, engenheiro de som do disco e que acabaria assumindo a função de produtor junto com a banda, Paul afirmou que estava cansado desse som de cocktail jazz, fazendo referência aos primórdios do que seria "Riders on the Storm". Paul confessa que chegou a, literalmente, dormir em algumas sessões.

A sua saída foi um tremendo baque para todos e a solução encontrada por Botnick foi irem até os estúdios da gravadora Elektra e começarem a trabalhar. O clima não ia muito bem, até que Bruce sugeriu que fizessem as gravações no local de ensaios da banda, um prédio de dois andares construído pela banda e pelo empresário Bill Siddons. Ele apenas levaria alguns equipamentos, utilizando um estúdio portátil de oito canais, em uma época em que os 16 canais já eram comuns.

Bruce Bonitck (abaixo, à esquerda e banda durante as gravações)

Mais relaxado, o grupo começou a produzir em estúdio, já que entraram com pouquíssima coisa pronta para o novo disco. Apesar disso, o clima entre os integrantes era calmo e Bruce sugeriu dois músicos de estúdio para a empreitada: o guitarrista-rítmico Marc Benno, que havia trabalhando com Elvis Presley e o baixista Jerry Scheff. Com Benno, Robby Krieger teria mais espaços para fazer seus solos, idéia imediatamente aceita até porque Jim era fã incondicional de Elvis.

A primeira providência foi deixar Jim o mais "limpo" possível, abastecendo-o apenas com algumas cervejas após as sessões. Apesar da falta de material previamente escrito, o grupo conseguiu algo que parecia impossível: gravar rapidamente. Enquanto The Soft Parade, por exemplo, levou quase nove meses para ser gravado, L. A. Woman levou menos de um mês. As músicas eram feitas quase que no ritmo de uma por dia e o disco foi gravado em incríveis seis dias. Segundo Botnick, Jim estava mais feliz do que nunca, cantando seus blues.

Bruce também deixou a banda mais relaxada e por ser menos exigente do que Rothchild a tensão era visivelmente menor. Um dos bons exemplos foi a canção "The Wasp (The Texas Radio and the Big Beat)". Jim havia escrito esse poema e Robby conseguiu criar uma melodia rapidamente e, em menos de uma hora, a canção estava pronta.

capa do compacto Riders on the StormCom "Riders on the Storm" também foi assim: originalmente intitulada "Ghost Riders in the Sky", Jim mudou a letra em minutos e deu origem ao maior clássico do disco, junto da faixa-título.

O disco também teve importante participação do presidente da Elektra Records, Jac Holzman, que aceitou o pedido de Bruce e deixou a banda trabalhar da maneira que deixasse sem qualquer intervenção por parte da gravadora. E Holzman, segundo Botnick, adorou o resultado do disco chegando até a chorar durante a audição do disco.

capa do discapa do disco L. A. WomanO primeiro compacto extraído foi Love Her Madly, que chegou ao 11º posto na parada, em março de 1971. Já era uma boa amostra da sonoridade dos Doors, que buscavam uma volta às raízes. No mês seguinte é editado o disco L. A. Woman, que mostra o grupo revigorado e em ótima forma.

O disco foi puxado pelas duas canções e também pela faixa-título. "Riders on the Storm" fora inspirada - ainda que não totalmente - em Billy Cook, que ficou famoso como um serial killer que pedia carona nas estradas e matava as pessoas durante a viagem.

Jim em ParisO disco foi um grande sucesso alcançando platina dupla nas vendagens - algo em torno de 2 milhões de cópias vendidas - e após isso, Jim Morrison finalmente tirou suas férias em Paris, que tanto sonhara e já agendada.

Infelizmente Jim acabaria não voltando ao morrer em circunstâncias misteriosas e até hoje não explicadas, em 3 de julho, de 1971, após um ataque cardíaco. Com ele, o grupo encerrava uma aura mitológica. Os demais integrantes tentaram continuar produzindo dois discos lamentáveis e que mancharam a imagem da banda. Isso sem falar nos shows caça-níqueis que ainda acontecem pelo mundo.

Mas o que ficou foi a imagem, a música e a poesia dos Doors. Jim Morrison passou de símbolo sexual a inimigo público número 1 da América e quando parecia que iria finalmente retomar sua carreira de poeta - Jim já admitia que sairia da banda - encontrou seu fim.

Deixo vocês com a discografia da banda. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Singles

Break on Through (To The Other Side) (1967)
Light My Fire (1967)
People Are Strange (1967)
Love Me Two Times (1967)
The Unknown Soldier (1968)
Hello, I Love You (1968)
Touch Me (1968)
Tell All The People (1969)
Roadhouse Blues (1970)
Love Her Madly (1971)
Riders on the Storm (1971)
The Mosquito (1972)

Discos de estúdio

The Doors (1967)
Strange Days (1967)
Waiting for the Sun (1968)
The Soft Parade (1969)
Morrison Hotel (1970)
L.A. Woman (1971)
Other Voices (1971)
Full Circle (1972)
An American Prayer (1978)

Ao Vivo

Absolutely Live (1970)
Alive, She Cried (1983)
Live at the Hollywood Bowl (1987)
In Concert (1991)
Live in Detroit (2001)
Bright Midnight: Live in America (2001)
Live in Hollywood (2002)
Live in Philadelphia (2005)
Live in Boston (2007)

Coletâneas

13 (1970)
Weird Scenes Inside the Gold Mine
The Doors Greatest Hits (1980)
The Best Of The Doors (1985)
Essential Rarities (2000)
The Best of the Doors (2000)
The Very Best Of The Doors (2001)
Legacy: The Absolute Best (2003)
The Very Best Of The Doors (2007)

Box Sets

The Doors: Box Set (1997)
The Complete Studio Recordings (1999)
Perception (2006)
The Doors: Vinyl Box Set (2007)
The Doors: Love, Death, Travel (2005)
The Doors: Boot Yer Butt (2003)

 

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