Após algum
tempo de silêncio, Leonard Cohen voltou ao mundo da música
com um disco que deu muita história e pouco sucesso: Death
Of A Ladies' Man marca para o cantor e compositor canadense um
momento raro: uma parceria e com ninguém menos do que o
legendário produtor Phil Spector. E a conjunção
inusitada rendeu uma tremenda dor de cabeça para Cohen
e um disco de péssimas vendagens. Mas ainda havia mais...
Após
três anos do último disco oficial, Leonard se preparava
para voltar em 1977 em grande estilo. Primeiro, o cantor teve
a coletânea The Best Of lançada
em 1975, algo bem típico quando um grande nome entra em
recesso.
Leonard passou todo seu
tempo em sua casa com esposa e dois filhos, lar localizado em
um bar povoado por imigrantes na cidade de Montreal.
Leonard confessou que a
parada havia sido mais do que providencial: "para falar a
verdade, eu já estava farto de tudo. Uma turnê pode
te curar por algum tempo, mas como não excursiono muito
é bem confortável ficar na minha casa."
Leonard,
no entanto, começou uma pequena turnê em 1975, quando
deu 14 shows entre os meses de janeiro e março; e em 1976
partiu para sua maior turnê até então - 55
shows em solo europeu, passando por Alemanha, Grécia, Inglaterra,
Suécia, Noruega, Dinamarca, França, Holanda, Bélgica,
Suíça e Irlanda.
Leonard estava então
começando a compor, mas confessou dificuldade para finalizá-las:
"Confesso que estou preocupado com o tempo excessivo para
escrever uma música. Eu não sei o porquê disso,
já que elas não são tão boas assim
para levarem tanto tempo. Eu não tenho senso algum de urgência
sobre meus escritos e não acho que a humanidade sofrerá
algum grande dano se eu não lançar um novo disco
ou um novo livro."
Mas,
Cohen estava mostrando algumas novas canções na
excursão de 1976. De fato, Leonard estava compondo até
com alguma regularidade. E, o que era mais surpreendente, estava
tendo um parceiro nas composições. E não
era um parceiro qualquer. O escolhido era um lendário nome
dos anos 60 e conhecido pelo seu perfeccionismo e seu comportamento
exótico; nada menos que o produtor Phil Spector.
Phil e Leonard haviam se
conhecido em Los Angeles, em 1974, quando Cohen encontrou o produtor
em um clube da cidade. Leonard estava lá para dois shows
e após a última apresentação, Spector
ofereceu uma festa informal para o cantor canadense em sua mansão.
Os dois haviam sido apresentados por Martin Machat, empresário
e advogado de ambos, Spector confessou que havia assistido ao
show maravilhado pela técnica de Leonard como violonista
e pelo seu tipo "misterioso".
No
entanto, os dois só voltaram a se falar em 1976, quando
Leonard voltou à Los Angeles e aceitou o convite de Phil
para ser seu hóspede. Logo na primeira noite começaram
a trabalhar e na manhã seguinte tinham escrito duas músicas
em parceria, com Cohen escrevendo as letras e Phil, as melodias.
Leonard disse que não se impressionou com o Spector compositor,
mas com o Spector arranjador: "ele não é um
compositor fantástico, mas possui um tremendo conhecimento
em fazer melodias 'pedestres' e alcançar o público.
É o segredo de seu imenso sucesso."
Com
isso, Leonard escreveu as letras mais auto-biográficas
de sua vida, segundo palavras do próprio. "Elas estão
mais brandas, ternas, mais ainda assim, possuem um grande azedume,
um amargor. Eu até gostaria de ter mais espaço para
contar histórias, mas o disco possui um clima mais aberto."
Ele também ficou
impressionado com o método de trabalho de Spector em estúdio:
"eu achei suas idéias musicais estranhas para mim.
Imagine que ele um dia me fez gravar ao vivo em estúdio
com 25 músicos ao mesmo tempo, incluindo dois bateristas,
dois baixistas e seis guitarristas!"
A influência de Spector
acabou sendo tão grande, que Leonard acabou se mudando
para Los Angeles, por adorar o "desespero que reina no ar".
Os dois ficavam então ouvindo as mixagens e recebendo convidados
ilustres - Bob Dylan, Jim Keltner, Allen Ginsberg, entre outros
- e ouvindo velhos clássicos na jukebox da casa
do produtor. Porém, o que mais fascinava Leonard era a
própria figura de Spector: "ele parecia um desses
ricos exóticos, que vivem em sua mansão vestidos
como Batman."
Mas
o que era uma grande idéia acabou virando um grande pesadelo
para Cohen. Spector se trancou para mixar o disco, não
permitindo ninguém, nem mesmo Leonard. E, pior, lançou
o disco sem mesmo consultá-lo. Quando Death Of
A Ladies' Man foi lançado em 1977, grande parte
dos fãs ficaram chocados com o que ouviram. Arranjos grandiosos,
pomposos, feitos à revelia quase liquidaram grandes letras
- "Memories" ganhou arranjo doo-wop, por exemplo - e
não foi uma surpresa de ter sido um imenso fiasco comercial
e gerar resenhas negativas.
'Talvez meu grande erro
foi ter me sentido feliz em Los Angeles. Eu estava vivendo uma
vida que não me pertencia, trabalhando de uma maneira incomum.
Eu não concordava com algumas coisas, mas resolvi dar crédito
a Spector, por sua fama. Mas não posso confessar meu desapontamento
e uma certa raiva ao ouvir o disco. Ele fez coisas que não
tínhamos combinado e sequer me consultou."
Com
um disco fraco, Leonard resolveu dar mais um tempo e não
saiu em excursão no ano de 1978, fazendo isso no ano seguinte,
quando fez 51 apresentações na Europa.
Durante essa excursão
seria registrado alguns de seus melhores shows de toda sua carreira.
Com uma banda coesa, competente, Leonard mostrava-se inteiramente
à vontade em cena. Vale salientar que nessa época
ele contava com a cantora Jennifer Warners, que no início
dos anos 80 ganharia um Oscar ao lado de Joe Cocker, com a canção
"Up Where We Belong".
Essa
excursão também seria lançada em CD no ano
de 2001 com o nome de Field Commander Cohen - Tour of
1979 e mostra que Leonard realmente estava em um ótima
forma.
O ano de 1979 estava sendo
particularmente bom para ele, já que havia lançado
um novo álbum, Recent Songs, onde voltava
ao seu velho estilo.
Leonard havia decidido
não cometer os antigos erros feitos sob a batuta de Phil
Spector, Leonard fez os arranjos e foi co-produtor do trabalho.
Um dos motivos para isso foi a velha reclamação
de que jamais seus discos tiveram o som que desejou: "eles
sempre me viram como um poeta e nunca admitiram as minhas idéias.
É por isso que algumas canções têm
um arranjo suave, quando eu queria algo mais forte, feroz."
Leonard
disse que teve uma preocupação em fazer arranjos
para sua voz: "eu sei que minha voz é ruim, muito
ruim, a ponto de precisar berrar pela manhã para me ouvir.
Porém, ela funciona bem para as canções que
escrevo. E ouvindo antigos cantores/compositores como Leadbelly
aprendi que o importante é encontrar a sua própria
voz. E acho que fiz isso nesse disco."
Uma das curiosidades de
Recent Song. Ela é basicamente a mesma
do Field Command Cohen, isso porque foram feitas
durante as filmanges do documentário The Song of
Leonard Cohen, feito por Harry Rasky, pelo fotógrafo
Hazel Field, realizado na Europa e em Montreal.
"Sempre achei que
minha música tem um sabor mais europeu, tanto que meu maior
público está na França." De fato, Leonard
sempre foi tratado com um astro de primeira grandeza entre os
francesas, e não raro, seus concertos precisavam ter um
grande contigente policial para acalmar as imensas platéias.
Após os shows, o
músico entraria em um segundo grande recesso em sua vida
e que desta vez duraria até 1985. Mas isso é papo
para outro dia. Um abraço e até a próxima
coluna!
Discografia
Songs of Leonard Cohen
(1967)
Songs From a Room (1969)
Songs Of Love And Hate (1971)
Live Songs (1973)
New Skin For The Old Ceremony (1974)
The Best Of (1975)
Death Of A Ladies’ Man (1977)
Recent Songs (1979)
Various Positions (1984)
I’m Your Man (1988)
The Future (1992)
Cohen Live (1994)
More Best Of (1997)
Field Commander Cohen - Tour of 1979 (2001)
Ten New Songs (2001)
The Essential Leonard Cohen (2002)
Dear Heather (2004)
Livros que escreveu
Let Us Compare Mythologies
(1956)
The Spice Box of Earth (1961)
The Favorite Game (1963)
Flowers for Hitler (1964)
Beautiful Losers (1966)
Parasites of Heaven (1966)
Selected Poems 1956-1968 (1968)
The Energy of Slaves (1972)
Death’s of a Lady Man (1978)
Book of Mercy (1984)
Credo (1985)
Stranger Music (1993)
Dance Me To The End of Love (1996)
God is Alive, Magic Is Afoot (2000)
Book of Longing (2006)
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