Há uns
dois mil anos - é como se fosse - fiz uma coluna
da coletânea This World Is Not My Home, do Lone Justice.
Mas ficou muito tosca, sem informações relevantes.
Oras bolas, sempre adorei a banda e, mesmo tosca, não quis
tocar naquele texto. Assim, optei em fazer uma nova, mais completa,
torcendo também para que Maria McKee aceite, de fato, meu
pedido de entrevista agendada para daqui umas semanas...
Se
algum leitor - se eu ainda tiver - viveu na década de 80
do século passado e gostava de fugir do padrão FM,
pode ter cruzado com uma banda californiana liderada por uma loirinha
linda, com uma voz meio country meio punk de nome Maria McKee.
Ela era a líder,
o carisma e o charme do Lone Justice, curiosamente uma banda...cow-punk.
Batizada Maria Luisa McKee,
nasceu no dia 17 de agosto de 1964, em Los Angeles e sempre teve
a música no sangue e, em casa, pois era meia-irmã
de Brian MacLean, ex-guitarrista e compositor do grupo Love, um
dos baluartes do psicodelismo angeleno dos anos 60.
"A família
toda sempre assistia o Brian tocar no Whisky A-Go-Go. Minha mãe
me levava no carrinho. Eu tinha apenas uns dois ou três
anos e via todas aquelas dançarinas e aquilo ficou para
sempre comigo", lembra
Maria.
Desde menina,
percorria todo circuito de rockabilly, e participou de duos, com
o próprio Brian e com o cantor local de blues, Top Jimmy.
Certo
dia, acabou conhecendo Ryan Hedgecock, que tinha os mesmos gostos
musicais, especialmente o rockabilly e a country music.
"Eu estava frustrada,
não conseguia escrever e queria apenas tocar. Foi quando
Ryan apareceu e começamos a tocar no Angelo's. Ryan adorou
minha voz e resolvemos montar uma banda."
Os dois começaram
o Lone Justice como qualquer iniciante, ou seja, com covers. Durante
seis meses, ensaiavam no quarto de Maria e ouviam atentamente
os vários discos que Ryan levava.
O grupo
apenas começou a ganhar contornos próprios após
Ryan se aproximar de do veterano Marvin Etzioni, ex-líder
da banda The Model e que ajudou muito com as composições.
A banda foi completada por um certo Dave, no baixo e pelo baterista
Don Heffington, que já havia tocado com Emmylou Harris. A partir
daí, Maria McKee começou a compor material inédito.
Como Los Angeles sempre
teve uma interessante cena punk, Maria soube fazer um interessantíssimo
crossover com o country e o rock. Aliada à sua
beleza, talento e uma carisma irresistível, ao vivo, logo
chamaram a atenção da Geffen Records, que lhe ofereceu
um contrato a ponto da relações públicas
do selo, Carol Childs, adiantar um dinheiro para produzierem uma
demo.
A primeira demo não
agradou a Geffen, que a considerou "country demais para um
selo de rock". Com a saída de Dave, Etzioni foi intimado
pela banda a aprender tocar baixo e ser um membro fixo.
A essa altura, o Lone Justice
já era uma das grandes atrações locais, com
a crítica de joelhos pela banda e por Maria, "uma
jovem carismática apaixonada por vestidos de lã
da década de 30, sapatos pretos e música de raiz,
com uma Telecaster em volta do pescoço, seus lindos cachos
loiros caindo em seus olhos e com uma voz que logo a fará
reinvidicar um lugar entre as grandes cantoras country, durante
varios anos", em um belo artigo escrito por Bruce Kaplan,
em fevereiro de 1985 para a Music Connection.
Foi
quando Childs percebeu o erro que a Geffen tinha cometido ao dispensá-los,
convencendo o presidente Eddie Rosenblatt a dar um dinheiro que
não apenas permitia que a banda pudesse se sustentar, como
ainda deixou que ficassem um ano ensaiando até entrarem
em estúdio.
Em 1985, o grupo lança
o disco de estréia, batizando apenas como Lone
Justice, com Maria mais linda do que nunca e Ryan com
um penteado que o deixava parecido com John Lennon.
O LP recebeu excelentes
críticas, apesar de vendagens modestas, ficando apenas
na 56ª posição da parada norte-americana. Com
produção de Jimmy Iovine e tendo a participação
de Little Steven (guitarrista de Bruce Springsteen), o disco trazia
as seguintes faixas:
Lado A
01. "East of Eden"
(Marvin Etzioni) – 2:37
02. "After the Flood" (Maria McKee) – 3:40
03. "Ways to Be Wicked" (Mike Campbell, Tom Petty) –
3:28
04. "Don't Toss Us Away" (Bryan MacLean) – 4:19
05. "Working Late" (Etzioni) – 2:45
Lado B
01. "Sweet, Sweet
Baby (I'm Falling)" (Little Steven & the Disciples of
Soul, McKee, Benmont Tench, Steven Van Zandt) – 4:12
02. "Pass It On" (Etzioni, McKee) – 3:40
03. "Wait 'Til We Get Home" (Etzioni, Hedgecock, McKee)
– 3:18
04. "Soap, Soup and Salvation" (Etzioni, McKee) –
4:04
05. "You Are the Light" (Etzioni) – 3:59
A
banda acabou caindo na estrada abrindo shows para uma banda que
começava a fazer sucesso na América: U2.
Após a excursão,
Maria resolveu tomar um outro rumo musical, deixando de lado o
cow-punk do primeiro disco. A decisão irritou os demais
e Hedgecock, Etzioni e Heffington deixaram o grupo.
Maria saiu à caça
de outros músicos, convocando o guitarrista Shane Fontayne,
o baixista Greg Sutton, o baterista Rudy Richman e o tecladista
Bruce Brody, para gravarem o segundo disco, Shelter.
Produzido por Little Steven,
Shelter era um álbum mais comercial, com
baladas, uma tentativa desesperada de emplacar. E, apesar da bela
faixa-título, o único compacto do LP, teve uma vendagem
ainda mais modesta, ficando apenas no 65º posto.
O LP tinha as seguintes
músicas:
Lado A
01. "I
Found Love" 4:15 Maria McKee, Steven Van Zandt
02. "Shelter" 4:37 McKee, Van Zandt
03. "Reflected (On My Side)" 4:57 Shane Fontayne, McKee
04. "Beacon" 4:18 Fontayne, McKee
05. "Wheels" 5:05 McKee
Lado B
06. "Belfry" 5:03 Fontayne, McKee,
Van Zandt
07. "Dreams Come True (Stand Up and Take It)" 4:06 McKee,
Gregg Sutton
08. "The Gift" 4:16 McKee
09. "Inspiration" 3:49 McKee, Sutton
10. "Dixie Storms" 3:37 McKee
Com
o fracasso do disco, Maria encerrou a banda e partiu para uma
sólida carreira-solo.
Postumamente foram lançados
dois discos: BBC Radio 1 Live in Concert e a
coletânea This World Is Not My Home, que
trazia sucessos, lados Bs e trechos de shows.
O disco que possui vários
momentos deixados de lado nos dois LPs e abre com sete canções
inéditas: "Drugstore Cowboy", a punk "Rattlesnake
Mama", "This World is Not My Home", "Working
Man Blues", "Cotton Belt", "Go Away Little
Boy" e "The Train", e segue com canções
manjadas dos dois primeiros discos, até cair em uma curiosa
versão ao vivo de "Sweet Jane", do Velvet Underground,
ao lado de Bono, onde o cantor do U2 muda completamente a letra.
O CD tinha as seguintes
faixas:
01. Drugstore Cowboy 2:54
02. Rattlesnake Mama 1:46
03. This World Is Not My Home 2:33
04. Working Man Blues 2:37
05. Cottonbelt 3:11
06. Go Away Little Boy 2:40
07. The Train 2:51
08. East of Eden 2:35
09. Ways to Be Wicked 3:26
10. Don't Toss Us Away 4:19
11. You Are the Light 3:59
12. Sweet Jane (live) 3:55
13. I Found Love 4:18
14. Shelter 4:33
15. Dixie Storms 3:36
16. Sweet, Sweet Baby 5:01
17. Wheels (live) 6:48
Espero que tenham gostado
da coluna. Um abraço e até mais!
Discografia
Singles
"Sweet, Sweet Baby (I'm Falling)"
(1985)
"Ways to Be Wicked" (1985)
"Shelter" (1986)
Discos
Lone Justice (1985)
Shelter (1986)
BBC Radio 1 Live in Concert (1993)
This World Is Not My Home (1998)
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