455 - Lone Justice

Há uns dois mil anos - é como se fosse - fiz uma coluna da coletânea This World Is Not My Home, do Lone Justice. Mas ficou muito tosca, sem informações relevantes. Oras bolas, sempre adorei a banda e, mesmo tosca, não quis tocar naquele texto. Assim, optei em fazer uma nova, mais completa, torcendo também para que Maria McKee aceite, de fato, meu pedido de entrevista agendada para daqui umas semanas...


Se algum leitor - se eu ainda tiver - viveu na década de 80 do século passado e gostava de fugir do padrão FM, pode ter cruzado com uma banda californiana liderada por uma loirinha linda, com uma voz meio country meio punk de nome Maria McKee.

Ela era a líder, o carisma e o charme do Lone Justice, curiosamente uma banda...cow-punk.

Batizada Maria Luisa McKee, nasceu no dia 17 de agosto de 1964, em Los Angeles e sempre teve a música no sangue e, em casa, pois era meia-irmã de Brian MacLean, ex-guitarrista e compositor do grupo Love, um dos baluartes do psicodelismo angeleno dos anos 60.

"A família toda sempre assistia o Brian tocar no Whisky A-Go-Go. Minha mãe me levava no carrinho. Eu tinha apenas uns dois ou três anos e via todas aquelas dançarinas e aquilo ficou para sempre comigo", lembra Maria.

Desde menina, percorria todo circuito de rockabilly, e participou de duos, com o próprio Brian e com o cantor local de blues, Top Jimmy.

Certo dia, acabou conhecendo Ryan Hedgecock, que tinha os mesmos gostos musicais, especialmente o rockabilly e a country music.

"Eu estava frustrada, não conseguia escrever e queria apenas tocar. Foi quando Ryan apareceu e começamos a tocar no Angelo's. Ryan adorou minha voz e resolvemos montar uma banda."

Os dois começaram o Lone Justice como qualquer iniciante, ou seja, com covers. Durante seis meses, ensaiavam no quarto de Maria e ouviam atentamente os vários discos que Ryan levava.

O grupo apenas começou a ganhar contornos próprios após Ryan se aproximar de do veterano Marvin Etzioni, ex-líder da banda The Model e que ajudou muito com as composições. A banda foi completada por um certo Dave, no baixo e pelo baterista Don Heffington, que já havia tocado com Emmylou Harris. A partir daí, Maria McKee começou a compor material inédito.

Como Los Angeles sempre teve uma interessante cena punk, Maria soube fazer um interessantíssimo crossover com o country e o rock. Aliada à sua beleza, talento e uma carisma irresistível, ao vivo, logo chamaram a atenção da Geffen Records, que lhe ofereceu um contrato a ponto da relações públicas do selo, Carol Childs, adiantar um dinheiro para produzierem uma demo.

A primeira demo não agradou a Geffen, que a considerou "country demais para um selo de rock". Com a saída de Dave, Etzioni foi intimado pela banda a aprender tocar baixo e ser um membro fixo.

A essa altura, o Lone Justice já era uma das grandes atrações locais, com a crítica de joelhos pela banda e por Maria, "uma jovem carismática apaixonada por vestidos de lã da década de 30, sapatos pretos e música de raiz, com uma Telecaster em volta do pescoço, seus lindos cachos loiros caindo em seus olhos e com uma voz que logo a fará reinvidicar um lugar entre as grandes cantoras country, durante varios anos", em um belo artigo escrito por Bruce Kaplan, em fevereiro de 1985 para a Music Connection.

Foi quando Childs percebeu o erro que a Geffen tinha cometido ao dispensá-los, convencendo o presidente Eddie Rosenblatt a dar um dinheiro que não apenas permitia que a banda pudesse se sustentar, como ainda deixou que ficassem um ano ensaiando até entrarem em estúdio.

Em 1985, o grupo lança o disco de estréia, batizando apenas como Lone Justice, com Maria mais linda do que nunca e Ryan com um penteado que o deixava parecido com John Lennon.

O LP recebeu excelentes críticas, apesar de vendagens modestas, ficando apenas na 56ª posição da parada norte-americana. Com produção de Jimmy Iovine e tendo a participação de Little Steven (guitarrista de Bruce Springsteen), o disco trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. "East of Eden" (Marvin Etzioni) – 2:37
02. "After the Flood" (Maria McKee) – 3:40
03. "Ways to Be Wicked" (Mike Campbell, Tom Petty) – 3:28
04. "Don't Toss Us Away" (Bryan MacLean) – 4:19
05. "Working Late" (Etzioni) – 2:45

Lado B

01. "Sweet, Sweet Baby (I'm Falling)" (Little Steven & the Disciples of Soul, McKee, Benmont Tench, Steven Van Zandt) – 4:12
02. "Pass It On" (Etzioni, McKee) – 3:40
03. "Wait 'Til We Get Home" (Etzioni, Hedgecock, McKee) – 3:18
04. "Soap, Soup and Salvation" (Etzioni, McKee) – 4:04
05. "You Are the Light" (Etzioni) – 3:59

A banda acabou caindo na estrada abrindo shows para uma banda que começava a fazer sucesso na América: U2.

Após a excursão, Maria resolveu tomar um outro rumo musical, deixando de lado o cow-punk do primeiro disco. A decisão irritou os demais e Hedgecock, Etzioni e Heffington deixaram o grupo.

Maria saiu à caça de outros músicos, convocando o guitarrista Shane Fontayne, o baixista Greg Sutton, o baterista Rudy Richman e o tecladista Bruce Brody, para gravarem o segundo disco, Shelter.

Produzido por Little Steven, Shelter era um álbum mais comercial, com baladas, uma tentativa desesperada de emplacar. E, apesar da bela faixa-título, o único compacto do LP, teve uma vendagem ainda mais modesta, ficando apenas no 65º posto.

O LP tinha as seguintes músicas:

Lado A

01. "I Found Love" 4:15 Maria McKee, Steven Van Zandt
02. "Shelter" 4:37 McKee, Van Zandt
03. "Reflected (On My Side)" 4:57 Shane Fontayne, McKee
04. "Beacon" 4:18 Fontayne, McKee
05. "Wheels" 5:05 McKee

Lado B

06. "Belfry" 5:03 Fontayne, McKee, Van Zandt
07. "Dreams Come True (Stand Up and Take It)" 4:06 McKee, Gregg Sutton
08. "The Gift" 4:16 McKee
09. "Inspiration" 3:49 McKee, Sutton
10. "Dixie Storms" 3:37 McKee

Com o fracasso do disco, Maria encerrou a banda e partiu para uma sólida carreira-solo.

Postumamente foram lançados dois discos: BBC Radio 1 Live in Concert e a coletânea This World Is Not My Home, que trazia sucessos, lados Bs e trechos de shows.

O disco que possui vários momentos deixados de lado nos dois LPs e abre com sete canções inéditas: "Drugstore Cowboy", a punk "Rattlesnake Mama", "This World is Not My Home", "Working Man Blues", "Cotton Belt", "Go Away Little Boy" e "The Train", e segue com canções manjadas dos dois primeiros discos, até cair em uma curiosa versão ao vivo de "Sweet Jane", do Velvet Underground, ao lado de Bono, onde o cantor do U2 muda completamente a letra.

O CD tinha as seguintes faixas:

01. Drugstore Cowboy 2:54
02. Rattlesnake Mama 1:46
03. This World Is Not My Home 2:33
04. Working Man Blues 2:37
05. Cottonbelt 3:11
06. Go Away Little Boy 2:40
07. The Train 2:51
08. East of Eden 2:35
09. Ways to Be Wicked 3:26
10. Don't Toss Us Away 4:19
11. You Are the Light 3:59
12. Sweet Jane (live) 3:55
13. I Found Love 4:18
14. Shelter 4:33
15. Dixie Storms 3:36
16. Sweet, Sweet Baby 5:01
17. Wheels (live) 6:48

Espero que tenham gostado da coluna. Um abraço e até mais!

Discografia

Singles

"Sweet, Sweet Baby (I'm Falling)" (1985)
"Ways to Be Wicked" (1985)
"Shelter" (1986)

Discos

Lone Justice (1985)
Shelter (1986)
BBC Radio 1 Live in Concert (1993)
This World Is Not My Home (1998)


 

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