46 - Magazine - Na Honestidade

Se você tiver mais de 30 anos e viveu no Brasil na década de 80, vai se lembrar do Magazine. Era uma banda francamente pop, que marcou o rock brasileiro com clássicos como "Eu Sou Boy" e "Tic-Tic Nervoso", entre outras. Também é inesquecível a performance de um cantor de roupas estranhas e trejeitos frenéticos em frente ao microfone. O então quase desconhecido (pelo menos do grande público, já que era mais do que respeitado entre os conhecedores do rock), Antônio Carlos Senefonte, criou uma "persona" até hoje cultuada na mídia: Kid Vinil. Mas se você tem menos de 30 anos, também ouviu e viu com certeza Kid Vinil em algum lugar. Basta lembrar de programas como Lado B na MTV, em que apresentava as mais emergentes bandas de qualquer canto do planeta. Além da TV (passou também pela Cultura), Kid rodou várias rádios paulistas e trabalhou em gravadoras, sendo a última, a Trama. Portanto, se você ama bandas como Belle and Sebastian, Luna, Guitar Wolf, Pavement, Yo La Tengo, Galaxie 500, Damon & Naomi, Cosmic Rough Riders , The Hives, Sigur Rós, Marky Ramone, Bad Brains, entre outros, pode acender uma vela toda noite para este rapaz, na flor da idade de seus 47 anos, que foi o responsável por lançamentos desses grupos aqui.


Mas Kid queria mais. Mesmo trabalhando do outro lado do mundo do rock, como executivo, sempre quis voltar aos palcos e mostrar um pouco do seu vasto e interminável conhecimento de rock. Nada melhor do que remontar o Magazine. Mantendo o baterista Trinkão da formação original, convidou Ayrton Mugnaini Jr. para o baixo e o guitarrista Carlos Nishimiya (ex-Maria Angélica) para voltar a ensaiar de maneira descompromissada, no distante ano de 1997. O que era no início uma mera diversão, virou trabalho sério após anos e anos de ensaio. Os rapazes resolveram então montar um novo repertório e gravar novamente.

Durante quatro anos ficaram escrevendo e ensaiando canções novas, já que segundo o próprio vocalista "não valia a pena remontar o grupo para ficar regravando os sucessos." Nesse contexto, caiu como uma luva o guitarrista Carlos, de 42 anos. Dono de um conhecimento musical que beira o absurdo (até Kid vira e mexe o consulta sobre as mais obscuras bandas do planeta), era dono da melhor loja de discos de São Paulo e do Brasil, a Sweet Jane Rock Records, onde orgulhosamente trabalhei, aprendi e fiz várias dívidas. Matando a curiosidade de pessoas, como o meu colega de coluna, Cláudio Vigo, de "On The Road", trago a história de dois dos maiores conhecedores do gênero musical do planeta (sem exagero nenhum, embora desconversem quando falo disso) e também espero parar de receber e-mails de internautas que sempre me perguntam que raios de Sweet Jane é essa que sempre cito em minhas colunas. Por isso, coloque um bom disco de rock, apague a luz da sala e sente-se confortavelmente, porque o que não falta é história.


Confesso que sempre quis fazer uma matéria com os dois. Primeiro, porque me ensinaram muito sobre música. No caso de Carlos, além de amigo particular e patrão por um tempo, é o principal culpado pela minha atual ruína financeira. Mas acima de tudo, são dois caras que já passaram dos 40 anos, humildes, divertidos e sempre dispostos a jogar horas e horas de conversa fora por puro amor à música.

A entrevista foi tranqüila. O que eu não poderia esperar era o local: nada menos que o apartamento de Kid. Mesmo que você colecione e tenha milhares e milhares de discos, cds, compactos, livros, fitas de vídeo e DVDs, é impossível não ficar abobalhado na sala da casa dele, por um motivo: não saberá por onde começar a olhar. Parece que vai ser soterrado por toneladas de objetos. Caixas lacradas, discos piratas, vinis, cds, e tudo organizado, pelo menos para ele. Se você leu ou viu no cinema Alta Fidelidade terá uma idéia do que falo.

Durante quase 80 minutos Kid e Carlos contaram sobre a paixão pela música, como se conheceram, o novo trabalho e a expectativa de começarem a turnê de divulgação do CD Na Honestidade.

Mofo: Kid, eu gostaria que você falasse do novo disco. Como foi a idéia de montar o grupo novamente, chamando o Carlos e o Ayrton.

Kid Vinil : Bem, nós já tocávamos com o Carlos há algum tempo, até fazíamos alguns ensaios que nada tinha a ver com a banda. Ele juntava o pessoal para tocar por diversão, sem maiores problemas. E ele ajudou a reestruturar o Verminose (banda punk de Kid), mas não participou da gravação por problemas, no começo da década de 90. Aí pensamos em voltar com o Magazine. Na verdade, já tínhamos algum esboço de um disco, e queríamos até lançar de forma independente.

Mofo: Vocês mudaram muito de estilo nessa volta. As letras continuam irreverentes, mas o grupo trocou aquela batida mais pop por um rock mais básico, cheio de distorção e mais peso. Como foi isso?

Kid Vinil: A gente queria voltar, mas com uma sonoridade diferente. Quando remontei o grupo, achei que tínhamos que tocar o que gostávamos. E o Carlos veio bem a calhar, porque sabia o som que o grupo queria, e deu uma química perfeita.

Mofo: Como entrou o Ayrton na banda?
Kid Vinil:
Nesta época de ensaio sem compromisso, chamamos o Ayrton várias vezes. Como o Lou (Stopa) foi tocar com o Marcelo Nova, ele ficou com a gente.

Mofo: Quando começaram a ensaiar, sonhavam em voltar a gravar ou era mais uma diversão? Vocês pretendem viver somente da banda, ou é algo mais livre, e se não der certo, continuam tocando como amigos?
Kid Vinil:
No começo era mais diversão. Quando vimos que estava ficando sério, eu aproveitei por estar na gravadora Trama e comecei a tentar arranjar um espaço para o grupo. Nós sabíamos que não teríamos uma projeção como teve o RPM, porque a nossa gravadora é menor, mas estamos fazendo tudo para dar certo. Mas se não der, continuamos ensaiando como velhos amigos.

Mofo: Vocês se espelharam em algumas bandas para voltar?
Kid Vinil:
Olhe, acho que não. O Carlos é o mais próximo do meu gosto, mas por exemplo o Trinkão (baterista) curte de Rolling Stones até Amado Batista.

Mofo: Sua saída da Trama prejudicou a divulgação do Magazine?
Kid Vinil:
A Trama teve uma série de mudanças e isso complicou para nós, já que sabíamos que não éramos prioridade do selo. Eles prometeram nos ajudar, mas quando percebemos, vimos que estavam nos esquecendo. Aí cobramos e estão tirando o atraso. Mas nunca houve uma promessa deles em sermos o principal nome, até porque éramos a única banda de rock da gravadora. Eu não acho que eles nos prejudicaram. Apenas o processo de divulgação deles é lento.
Carlos: O problema é que não souberam como nos lançar no mercado, já que o estilo da gravadora não tem quase nada a ver com nosso tipo de som.

Mofo: O que você acha da volta das bandas dos anos 80, como o RPM e Capital Inicial, que fizeram acústico, o Ira!, que fez um disco de covers, um ao vivo, e outro de estúdio e hoje estão sem gravadora?
Kid Vinil:
Eu não sei dizer, acho legal, mas veja bem o RPM: eles voltaram sem um novo "sabor". Ficaram muito igual ao que era antes. O próprio Titãs, que nunca parou, vive uma situação complicada porque cada um tem sua carreira, e fica muito difícil criar uma coesão.
Carlos: No caso do Titãs, o Nando Reis só saiu depois que conseguiu emplacar sua carreira solo, senão ainda continuaria por lá.
Kid Vinil: E hoje em dia tem o problema que muitas bandas brasileiras cantam em inglês. Eu acho que deveriam cantar em português. Muitas querem o sucesso no exterior, mas isso é muito complicado.

Mofo: Até porque existe um certo preconceito com os brasileiros...
Kid Vinil:
Não acho que existe um preconceito. O problema é que eles querem exatamente o ritmo brasileiro. Eu lembro da Isabel Monteiro (cantora e líder do Drugstore), quando o NME (New Musical Express), desceu o pau nela porque fez uma cópia de uma canção do Elastica. Eles argumentaram que ela era legal, mas que não precisava imitar uma banda inglesa para tocarem.

Mofo: Vocês têm muito paralelo com o Ultraje a Rigor, principalmente pela irreverência. Como está a banda de Roger?
Kid Vinil:
Eles continuam gravando. Eles saíram da Abril e foram para um selo independente, e portanto, tiveram muitos problemas de divulgação. Mas estão tocando pelo país inteiro.

Mofo: Eu queria que você falasse da repercussão na mídia do novo trabalho de vocês. Todo mundo deve ter rotulado "ah, aquela velha banda do Kid..."
Kid Vinil:
É, realmente focaram sempre em cima de mim. Tivemos muitas críticas boas, menos na Folha de S. Paulo, que repercute mais. Eu não sei se teve a ver com a minha imagem.

Mofo: Aliás, por falar em comunicação, como vocês acham que está o mercado editorial no Brasil?
Kid Vinil:
É realmente um negócio muito sério. Todo mundo lê mais a Folha, não há muitas revistas para a divulgação. Mas não são apenas os jornais e revistas que estão ruins. As rádios também são culpadas. Elas passaram batidas pelos anos 90 e só fazem aqueles revivals dos anos 80, com coisas tenebrosas.

Mofo: Eu queria perguntar para o Carlos, já que trabalhei com ele na loja, por que não temos espaço na mídia. Por exemplo, você precisava ficar lendo revistas importadas para ficar antenado com as novidades e trazer em primeira mão. Por que não há espaço aqui?
Carlos:
Basicamente porque a gravadora acha mais fácil divulgar um artista do seu "cast" para estourar e o resto vai por tabela...

Mofo: Mas lá fora também não é assim?
Kid Vinil:
Aqui é um problema mais cultural. Lá existe uma indústria cultural, paralela, independente, que funciona muito bem. Aqui não. Quando você fala em indústria cultural no Brasil, é muito dividida e eu não sei o motivo.
Carlos: E muitas vezes porque as pessoas não acham que o rock faz parte da cultura.
Kid Vinil: Isso também é verdade. Muitas vezes eu tive problemas até dentro das gravadoras para divulgar bandas.

Mofo: O que é até uma contradição porque, bem ou mal, o rock é a expressão musical mais popular do século 20. Você não vai falar para um garoto de Cole Porter. Você fala de Beatles, Elvis, Hendrix...
Kid Vinil:
Se voltasse, por exemplo, ao mercado de revistas, não existem mais pessoas dispostas a trabalhar com este tipo de coisa, porque sabe que não dá certo.
Carlos: O maior exemplo é a revista da MTV, que fala de tudo, menos de música. Essa última edição que fala da bandas dos anos 80, então...
Kid Vinil: E quando falam é cada besteira... Tem um comentário meu, uma bobagem que eu disse, e nem tem foto da gente...

Mofo: Que dicas vocês dariam para os mais jovens que querem ter mais informações sobre rock? Sites, revistas... Mas falem também de algo brasileiro, porque muitas pessoas mais novas não sabem falar inglês. Enfim, o que há por aí?
Kid Vinil: Bem, eu sempre acesso o site do NME, da Rough Trade (antigo selo dos Smiths), do All Music Guide. Eu mesmo dou muitos toques na rádio, falando de revistas como Mojo, Uncut...
Carlos: Um bom site brasileiro é o do Senhor F. Um problema da internet é que há tanta informação que muitas vezes desorientam quem não conhece.
Kid Vinil: Existe inclusive alguns sites nacionais que nós nem ouvimos falar.

Mofo: Vocês já pensaram em montar um site pessoal ou até um da banda ou é inviável no Brasil?
Kid Vinil:
Eu acho legal isso, inclusive falo muito na rádio sobre isso. Muitas vezes a garotada me pede para tocar heavy metal, mas eu não faço, até porque eu prefiro falar de coisas novas, que não têm espaço ainda. E muitos ouvintes me agradecem.

Mofo: Você responde muito e-mail na Brasil 2000?
Kid Vinil:
Pra caramba.

Mofo: Basicamente o que eles querem?
Kid Vinil:
Informação. Muitos começam elogiando e depois complementam com uma pergunta. É muito raro eu receber críticas, embora isso exista, porque ninguém é uma unanimidade.

Mofo: Como vocês vêem a cena do rock mundial? Quais são as bandas novas mais legais?
Kid Vinil:
Olha, eu ouço muita coisa, principalmente com raiz punk, eles dão muita energia, mas sem esses neo-punks americanos chatos como Offspring, Green Day. Estão redescobrindo os grupos de garagem. Mas daqui a pouco eles mesmos serão incorporados pelas grandes gravadoras. Mas tudo bem, é um resgate legal, sem ser aquela coisa americana, pós-Bad Religion, quando os grupos da América não tinham muita noção do que eles estavam fazendo. Hoje quem faz punk ouve mais os de 77 (Sham 69, Buzzcocks, Damned).

Mofo: Buddy Guy disse que sente que o blues que toca está voltando às suas origens, ou seja, aos guetos, pois não há mais espaço para músicos como ele. O verdadeiro rock também está assim?
Kid Vinil:
Lá é diferente porque cada um pode abrir um selinho e ter um espaço garantido. Mas é pequeno. Eles começam imprimindo 500, 1000 cópias. Mas tudo depende de como a banda se desenvolve. Mas funciona, há um espaço para cada um, não precisa estar numa major. Veja o Belle and Sebastian: foram para a Rough Trade porque era a gravadora dos Smiths. Tiveram propostas das grandes, mas recusaram.
Carlos: Além disso, mesmo que as bandas não estourem, eles ficam com seu espaço. Como o Bevis Frond: estão há quase 20 anos na estrada e continuam com o circuito deles.

Mofo: Me falem da participação no Programa do Jô. Aquilo não prejudicou a banda?
Kid Vinil:
Aquilo foi um erro nosso de estratégia. Nós íamos tocar uma canção, mas acabamos mudando e fazendo uma besteira. Foi uma pena, porque prejudicou a imagem da banda e perdemos uma chance de ouro. Só iríamos conseguir reverter ao nosso favor se voltássemos ao programa do Jô. Mas isso é muito difícil.

Mofo: Como vocês dois se conheceram?
Carlos:
Nós nos conhecemos através do (Fernando) Naporano, quando ele convidou o Kid para produzir a segunda demo do Maria Angélica, em 86 ou 87. Era muito gozado. Nós dentro do estúdio perguntávamos "e aí Kid?" e ele acenava com um positivo, ao lado do engenheiro... risos.
Kid Vinil: (rindo)... Eu nunca tinha produzido nada, o Naporano inventou que eu tinha que ser produtor, e eu queria morrer...
Carlos: A gente acabou ficando amigo e comecei a participar do Magazine.

Mofo: Kid, eu não queria perguntar, mas não resisto: como é que você faz para achar algum disco nessa montanha toda? Tem algum esquema meio "Alta Fidelidade"?
Kid Vinil:
É cronologia da minha cabeça. Aqui (aponta) é alfabética, essa aqui é por selos, aqui dos 60’s, psicodelias, progs, relançamentos. A outra parte é mais atual, e por aí, sei lá, mas eu acho.
Carlos: É incrível. Você pede alguma coisa e ele acha.

Mofo: O pessoal não sabe, mas o Carlos é outro doente. Ele chega ao cúmulo de colecionar singles de bandas que não gosta, mas só porque é raro. Você também é assim, Kid?
Kid Vinil:
Sim. Já aconteceu de ter coisas que eu não sou fã, mas tenho. Por exemplo, não sou super-fã de jazz, mas tenho vários Miles Davis. O importante é ter referências para conhecer, mas que não entram dentro da minha cultura específica.

Mofo: Uma pergunta bem difícil, mas que não tem como escapar: qual é a banda de cabeceira de vocês? Eu sei que é complicado citar uma...
Kid Vinil:
Olha, eu tenho muito Beatles, Stones, que comecei a ouvir, mas a banda que mais ouço é Faces com o Rod Stewart. Eu acho o Rod o maior cantor de rock de todos os tempos.
Carlos: Bem, eu tenho muito R.E.M. (quase 170 peças) e Tori Amos...

Mofo: Qual a referência em termos de som quando foram gravar o disco?
Carlos:
Quando entramos em estúdio, eu levei uma pilha de discos para o técnico saber o que tínhamos na cabeça, coisa como Wannadies, Urge Overkill, Manic Street Preachers, por causa da sonoridade das guitarras, mas não tínhamos uma influência única: têm faixas meio britpop, outras meio setentistas (hard, prog).

Mofo: Vocês participaram de um evento homenageando o Clash. Mas quando se fala em punk, todo mundo fala mais dos Sex Pistols. Vocês tiveram muita influência do Clash?
Kid Vinil:
Olha, quando eu tinha o Verminose, eu ouvia muito o Clash. A gente ouvia Pistols, Ramones, mas o Clash misturava muito reggae, o ska, o rockabilly. Nós tocávamos "Brand New Cadillac", que é um rockabilly. O London Calling é o melhor exemplo disso. Eles atiraram em várias direções e fizeram um disco que pode ser considerado um dos 10 melhores da história. O primeiro deles era bem punk, mas depois eles evoluíram.

Mofo: Como no caso do The Jam?
Kid Vinil:
O Jam, o Stiff Little Fingers, o Damned...

Mofo: Vocês estavam antenados quando o movimento punk estourou?
Kid Vinil:
Sim. Eu trabalhava em gravadora quando lançava algo lá fora. Eu ouvi o single "God Save The Queen" na mesma semana de lançamento. Era um desespero para conseguir algo de fora.
Carlos: Quando o movimento punk estourou, por sorte, eu tinha amigos que costumavam ir para Londres e traziam tudo na mala. Assim eu também já estava antenado com Pistols, Clash, Sham em 1977, 78. Mas depois disso eu aprendi muito com o programa pioneiro do Kid. O programa do Kid na Antena 1 se chamava New Beat; o do Naporano era o Blue Moon.

Mofo: Me fale de sua carreira: você fez muita televisão, rádio... conte um pouco sobre isso.
Kid Vinil:
Na TV Cultura fiz o Som Pop, o Boca Livre e o Lado B na MTV. Em rádio eu comecei em 1979, na Excelsior. Depois fui para a Antena 1, onde fazíamos um programa chamado "Geração 80". O Naporano tinha um programa na mesma época na emissora. Começamos a mostrar Smiths, REM... Depois fui para a 89, quando estava começando, era apenas uma rádio alternativa. Depois fui para a Brasil 2000, na 97 quando era rock ainda, voltei para a 89, mas fiz umas coisinhas na parte jornalística e voltei para a Brasil 2000 FM.

Mofo: E quais são seus horários na Brasil 2000?
Kid Vinil:
Diminuiu um pouco, já que era diário. Agora o programa vai ao ar, quartas às 11 da noite, quinta também 11 da noite e aos sábados, três da tarde.

Mofo: Você escreveu para algum lugar?
Kid Vinil:
Eu escrevi para a Folha, para o Estado, na época que o Naporano estava lá. Fiz a primeira matéria sobre os Pixies no Brasil, comentando Come on Pilgrim, Surfer Rosa... E de vez em quando fazia alguns especiais. Mas é um mercado muito fechado.

Mofo: Você já deixou de ler jornal ou revistas por informações erradas ou mesmo quando falavam do Magazine?
Kid Vinil:
Algumas vezes ficava puto quando falavam de nossos discos sem ouvir. Teve uma vez que fizemos um show para o Junta Tribo e demos o maior sangue no palco, tocamos até Teenage Fanclub, e um cara, que nem lembro de qual veículo era, confessou depois que nem tinha visto o nosso show, mas que desceu o cacete na gente porque era a "banda do Kid Vinil".

Mofo: Você se irrita ainda com isso?
Kid Vinil:
Com certeza. Pô, é foda, às vezes você faz um trabalho e o cara não consegue escrever nem três linhas "pessoais"!
Carlos: Nem copiar o release...
Kid Vinil: É, nem copiar o release ele quis. Quis ser pessoal e falar "ah, não vou com a cara dele, esse cara vive na mídia...".
Carlos: Teve uma crítica que nem lembro onde saiu e nem fiquei irritado porque foi tão ridícula, sobre a cover de "Conversível Irresistível"...
Kid Vinil: "Conversivel Irresistivel" foi feita no final dos anos 80 exclusivamente para o Magazine gravar. O Roger nos deu essa música nessa época porque era uma música que ele fez pensando na gente, e disse que não tinha intenção de gravá-la com o Ultraje. Ninguém gosta de ser criticado, mas às vezes você tem que aceitá-las, desde que seja com base, desde que ele tenha ouvido o disco e não gostou de um riff de guitarra, de um vocal em uma canção. Aí tudo bem, porque pelo menos ouviu o disco antes de opinar. Generalizar é que é foda! Muitas vezes deixo de ler jornais. Eu não leio a Folha, mas às vezes lia porque estava na Trama e ficava irritado com o que era publicado.

Mofo: Você acha que o som de vocês é muito diferente do que é tocado pelas outras bandas brasileiras?
Kid Vinil:
Não. O problema é que as gravadoras maiores pagam para que as rádios toquem algumas bandas. Mas temos músicas de apelo comercial. Veja no show do tributo ao Clash: quando tocamos "Conversível Irresistível" chocou a platéia. Quando coloco na rádio, a molecada escreve elogiando.

Mofo: Com quem vocês excursionariam hoje em dia?
Kid Vinil:
Das bandas novas tocamos com o Lambrusco Kids, que faz um punk básico. Se você incluir as antigas, obviamente o Ultraje, já que é muito semelhante ao nosso som. Enfim, bandas com sonoridades mais punk rock, mais da safra 77. Quem mais? Talvez Raimundos, Velhas Virgens, o próprio Marcelo (Nova), e até o CPM 22.

Mofo: Carlos, agora você vai matar a curiosidade de várias pessoas quando cito nas minha colunas a Sweet Jane. Fale como foi o começo, a proposta da loja, os anos de ouro, quem freqüentou...
Carlos:
Bom, começamos em 89, como loja de vinil usado. Sweet Jane mesmo começou em 91, quando aproveitamos a abertura das importações, coisas antigas, novas, lançamentos, e começamos a ficar sintonizados com o exterior. Quanto às pessoas famosas que frequentaram a loja: além do Kid, o Marcelo Nova, o João Ricardo (Secos e Molhados). O nosso ponto era legal, e passaram por lá Pet Shop Boys, Marky Ramone, Henry Rollins, Tony Levin (King Crimson), Cássia Eller (levou um box do Nirvana). Os melhores anos foram 94 e 95, porque o dólar ficou igual ao real. A gente abastecia muito com a discoteca básica do rock mesmo...

Mofo: O que vocês indicariam para quem quer começar a ouvir rock?
Kid Vinil:
Elvis, o primeiro disco, Beatles. O Álbum Branco me abriu muito.
Carlos: The Who, o Live at Leeds foi o primeiro disco de rock que comprei. O primeiro do Doors também me influenciou muito. Hendrix, com certeza...
Kid Vinil: Os dois primeiros do Hendrix, Ramones..
Carlos: Television, Blondie...

Mofo: A banda tem algum e-mail para que os fãs possam se comunicar com vocês?
Kid Vinil:
Tem. Na nossa página da Trama (www.trama.com.br/magazine), tem um e-mail para correspondência. Outro e-mail pode ser o da Brasil 2000: kidvinil@brasil2000.com.br.
Carlos: O meu é kingofrock@uol.com.br

Mofo: Uma última mensagem que vocês dariam para quem começar a ouvir rock.
Kid Vinil:
Ouçam mais Beatles! Essa é uma mensagem boa.
Carlos: Tem que se informar bastante. Nada é novo. Tudo já foi reciclado.

Mofo: Para finalizar, citem alguns nomes básicos para quem nunca ouviu o rock mais antigo...
Carlos:
Dylan é indispensável. Ele definiu a poesia no rock...
Kid Vinil: (concordando) Ele é singular. Neil Young, Bowie, Rolling Stones. Aliás, a primeira fase dos Stones é maravilhosa! Hoje, eles estão cansados, claro! Mas são os Stones, é indiscutível. Outro dia eu estava ouvindo e dá vontade de falar para essa molecada o quão foram geniais.

Mofo: E das bandas atuais?
Kid Vinil:
Eu gosto do Oasis, do Travis, do Strokes. Sei lá, se eu ficar lembrando, vamos ficar até amanhã.
Carlos: Principalmente lançamentos e coletâneas de bandas de garagens dos anos 60, como é a Nuggets.

Mofo: Para finalizar, qual é o melhor momento do rock?
Kid Vinil:
Eu estava comentando com o Carlos que talvez a melhor fase seja entre 1963 até 1972. Qualquer coisa dessa época você pode pegar de olho fechado, porque é difícil errar. Digamos que 90% é coisa boa. Às vezes compro sem saber e sem medo. Até bandas da Grécia, Japão, Israel, sei lá de onde (risos)... É uma fase seminal do rock. Todo mundo sabe que ali está a essência e bebendo nesta fonte, até os grupos de hoje em dia.
Carlos: E também não podemos esquecer Neil Young, David Bowie, Lou Reed... É só parando para ouvir mesmo.

Mofo: Juro que é a última pergunta. Vocês estão com algum show marcado?
Carlos:
Sim, faremos dois shows no Centro Cultural Vergueiro, na sala Adoniran Barbosa, nos dias 25 e 26 de outubro, às 19 horas. Será o lançamento do CD Na Honestidade e tocaremos, além dos nossos hits, covers do Undertones, Clash, Johnny Thunders e The Who. Na Honestidade será vendido no local e haverá sessão de autografos após os shows.

Discografia

Compactos

Sou Boy (1983)
Adivinhão (1983)
Tic Tic Nervoso (1984)
Comeu (1985)
Glub Glub no Clube (1985)

Discos

Magazine (1983)
Na Honestidade (2002)

 

 

Colunas