Manic Street Preachers: Estrelas
com Atitude
Ao contrário
dos Sex Pistols, que implodiram ao se tornarem estrelas do punk,
os Manic Street Preachers conseguiram, ao longo de quase vinte
anos de carreira, manter o espírito rebelde mesmo quando
a fama lhes bateu à porta e ainda faturar com isso. Considerados
hoje um dos mais bem-sucedidos grupos de sua geração
no Reino Unido, ainda conservam o mesmo tom provocador nas letras
e atitudes; desprezam os norte-americanos ao mesmo tempo em que
rendem loas ao ditador cubano Fidel Castro, e – talvez por
isso mesmo – fazem sempre shows "sold outs" por
todo o planeta.
Os
Manics (como são carinhosamente chamados por seus fãs)
surgiram em 1989 em Blackwood, País de Gales, em pleno
olho do furacão shoegazer.
Mas, ao contrário
do romantismo e dos imensos efeitos de guitarra verificados nas
bandas daquele estilo, o MSP surgia com um som cru, punk –
guitarra, baixo e bateria, nada mais do que isso - e despejando
letras irônicas na platéia.
Também ao contrário
de bandas locais que começavam a se destacar (Gorkys Zygotic
Mincy e Superfurryanimals), as quais cantavam em galês,
o Manic Street Preachers preferia o inglês, para atingir,
em cheio, as massas.
Nesse início a banda
era formada pelo mesmo trio atual: James Dean Bradfield (vocais
e guitarras), Nicky Wire (baixo) e Sean Moore (bateria).
O primeiro single lançado
pela banda foi “Suicide Alley”, em 1989. Os galeses,
que já não se pautavam pela serenidade, contrataram
para fazer a arte de capa do single um sujeito ainda mais aloprado:
Richey James, que logo seria contratado para entrar no grupo,
assumindo uma das guitarras.
Encarnando o espírito socialista da banda até o
último fio de cabelo, Richey acabou sendo protagonista
dos dois fatos que marcaram o Manic Street Preachers na imprensa
não-musical.
Em 1991, ao ser entrevistado
por um irônico jornalista do semanário inglês
New Music Express, que duvidava da autenticidade do grupo,
ele pegou um canivete e cortou várias vezes seu braço
até formar a frase "4 Real" (pra valer).
O segundo foi concebido
por ele próprio. Em fevereiro de 1995, Richey simplesmente
sumiu do mapa. Seu carro foi encontrado próximo a uma ponte
costumeiramente utilizada por suicidas, porém seu corpo
nunca foi encontrado.
No meio de atitudes e letras
polêmicas, o Manic Street Preachers foi consolidando sua
carreira.
O
primeiro disco, Generation Terrorists, de 1992,
veio na esteira do sucesso do single “You Love Us”,
música de ironia direta contra a crítica musical
britânica, que insistia em ignorar as qualidades musicais
da banda. Nessa época, já eram bastante queridos
do público, seus shows lotavam e as músicas entravam
na parada, para desespero dos críticos.
Os galeses não estavam
nem aí para os jornalistas britânicos. Outro golpe
certeiro para chamar a atenção do público
foi convidar a estrela pornô Traci Lords para dividir os
vocais com James na canção “Little Baby Nothing”,
que também fez estrondoso sucesso na ilha.
De outro lado, em shows,
os Manics faziam seu público delirar com covers tão
díspares como “Rain Keeping Falling In My Head”
(B.J. Thomas) e “The Drowners” (Suede). O astral do
grupo estava em alta, e o single “Suicide in Painless”
chegou ao Top 10 do Reino Unido, marca expressiva para uma banda
iniciante.
Gold
Against The Soul, de 1993, foi um álbum mais elaborado,
com um som mais trabalhado e menos punk, mas mantendo a atitude
socialista nas letras. The Holy Bible, seu sucessor,
marcou o fim de uma era na banda. Com letras tristes e guitarras
angustiadas, o trabalho revelava que algo não ia bem com
os Manic Street Preachers. E não ia mesmo. Richey, após
o lançamento do disco, é internado com um colapso
nervoso. Isso aconteceu em 1994. No ano seguinte, Richey desaparece.
O trio remanescente chegou
a pensar em parar. Entretanto, os familiares do guitarrista desaparecido
deram um belo apoio moral para a continuidade do grupo.
O
resultado foi o belo e (considerado por muitos o melhor trabalho
do MSP) Everything Must Go, ainda com metade
das letras escritas por Richey, lançado em 1996, no auge
do britpop. No título já fica explícito o
conformismo de James, Nicky e Sean com o destino do colega –
suicídio foi a explicação mais aceita na
época. Já no som, houve uma mudança radical.
As guitarras afiadas foram trocadas por violões e orquestrações.
O vocal de James ganhou
um tom amargo, ao invés do agressivo usual. As letras desviaram-se
um pouco da temática social e passaram a tratar de assuntos
mais intimistas. Bingo! O resultado foi a explosão do Manic
Street Preachers para além do circuito independente, tornando-se
um dos mais respeitados artistas britânicos da época.
A música-tema dessa virada foi a própria que dá
nome ao disco.
Para
sorte dos Manics eles conseguiram se desviar de todos os hypes
que a imprensa britânica criava a cada temporada.
Assim, conseguiu passar
ao largo da briga entre Blur e Oasis e tocar sua carreira com
dignidade. Os temas sociais voltaram a fazer parte do repertório
dos galeses no disco This Is My Truth Tell Me Yours,
de 1998. Críticas ao sistema político norte-americano
e ao próprio sistema educacional britânico deram
o tom no trabalho que, musicalmente falando, ficava a dever ao
antecessor (os próprios Manics consideram This
Is My Truth... um ponto baixo de sua carreira).
Cada vez mais famosos,
os Manics fazem concorridas turnês. Param um pouco depois
deste trabalho, de 1998, e demoram três anos para lançar
o próximo – os críticos, sempre ácidos,
diziam que a banda aproveitara esse espaço de tempo para
ler Marx. Sob o ponto de vista político pode-se até
considerar essa afirmação correta, depois de uma
audição atenta de Know Your Enemy,
de 2001.
O
disco é um verdadeiro tratado contra o capitalismo, traz
canções abertamente favoráveis ao sistema
socialista e faz a ponte entre a banda e Cuba. Sim... os Manics
incluíram a ilha de Fidel Castro como parada obrigatória
da turnê, convidado o próprio Fidel para suas apresentações.
Convite, aliás, que foi aceito.
Nos dois anos o MSP lançou
duas coletâneas: Forever Delayed: The Greatest Hits,
de 2002 que, como o próprio nome diz, é uma seleção
das músicas mais conhecidas dos galeses, e Lipstick
Traces (A Secret Story of Manic Street Preachers), de
2003, com b-sides e faixas ao vivo, um item obrigatório
para os fãs da banda.
O último trabalho
dos Manics a vir a público foi Lifeblood,
que encontra influências gritantes de bandas dos anos 80,
principalmente U2, New Order, The Cure, e até uma guitarra
a lá Johhny Marr é sentidas em canções
como “A Song For Departure”. Já na primeira
frase da música que abre o disco, “1985”, isso
pode ser notado (“In 1985 / Morrissey and Marr gave me choice”).
A dançante “Miss Europe Discodancer”, à
parte a ironia da letra, é uma das menos Manic Street Preachers
da carreira da banda.
Aproveitando uma pausa
nos trabalhos com a banda, o vocalista James Dean Bradfield lançou
em 2006 o ótimo The Great Western, com
toda a agressividade que mostra no comando dos Manics, ornamentada
por belos arranjos de metais. Vale a pena conferir.
Discografia
CDs
Generation Terrorists (1992)
Gold Against The Soul (1993)
The Holy Bible (1994)
Everything Must Go (1996)
This Is My Truth Tell Me Yours (1998)
Know Your Enemy (2001)
Lifeblood (2004)
Singles e EPs
Stay Beautiful (1991)
Theme From M.A.S.H. (Suicide Is Painless) (1992)
Love's Sweet Exile (1997)
Stay Beautiful (1997)
If You Tolerate This Your Children Will Be Next (1998)
The Everlasting (1998)
You Stole the Sun from My Heart (1998)
The Everlasting, Pt. 1 (1999)
The Everlasting, Pt. 2 (1999)
You Stole the Sun from My Heart, Pt. 1 (1999)
You Stole the Sun from My Heart, Pt. 2 (1999)
Tsunami (1999)
Tsunami (1999)
You Stole the Sun from My Heart (1999)
Masses Against the Classes (2000)
So Why So Sad Sony (2001)
New Art Riot (2001)
Ocean Spray (2001)
There by the Grace of God, Pt. 1 (2002)
There by the Grace of God, Pt.2 (2002)
Motorcycle Emptiness (2003)
There by the Grace of God (2003)
Love of Richard Nixon (2005)
Empty Souls, Pt. 1 (2005)
Empty Souls, Pt. 2 (2005)
Coletâneas
Forever Delayed: The Greatest
Hits (2002)
Lipstick Traces / A Secret Story of Manic Street Preachers (2003)
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