O rock brasileiro
dos anos 80 produziu bandas de todos os tipos, inclusive um dos
melhores grupo de punk e pós-punk feminino do planeta,
as Mercenárias. Com uma proposta muito ousada para a época,
deixaram apenas dois discos, além de uma coletânea
lançada no exterior mostrando o respeito que possuem. Uma
vida breve, mas importante para as futuras gerações.
Tudo
começou em 1983, com três meninas e um menino.
As meninas eram Sandra
Coutinho (baixo), Rosália (vocal) e Ana Machado (guitarra),
todas estudantes - Rosália fazia Psicologia na PUC e Ana
e Sandra estudavam jornalismo, na ECA da USP. Na bateria, acreditem
ou não, estava o ainda desconhecido Edgard Scandurra, que
dividia seu tempo entre as Mercenárias, Smack e o nascente
Ira (sem ponto de exclamação nessa época).
Mas, Edgard, ficou pouco
tempo por excesso de bandas - logo depois também sairia
do Smack -, entrando Lou em seu lugar. As meninas começaram
a se apresentar em pequenas casas de São Paulo chamando
a atenção pela força dos temas e pela sonoridade,
mesclando o punk de primeira hora dos Sex Pistols, com arranjos
que lembravam Siouxsie and the Banshees, Joy Division, Slits,
entre outros.
Após
muita luta, pouco dinheiro e divulgação, fecham
um contrato com a loja Baratos Afins, que lança o primeiro
LP das garotas, Cadê as Armas?
Mesmo com poucos recursos
financeiros, as Mercenárias estrearam com um LP de 10 faixas
curtas, urgentes, destacando-se as faixas, a curta e violenta
"Polícia" (apesar do nome, não tem nada
a ver com a faixa gravada pelos Titãs em Cabeça
Dinossauro), Santa Igreja e "Pânico".
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado A
01. Me Perco Nesse Tempo
02. Polícia
03. Imagem
04. Inimigo
05. Pânico
Lado
B
01. Amor Inimigo
02. Loucos Sentimentos
03. Labirintos
04. Além Acima
05. Santa Igreja
Com um disco na praça,
a aprovação da crítica e uma óima
presença de palco, as Mercenárias começam
a chamar a atenção de grandes gravadoras.
Em 1988, acabam assinando
um contrato com a gigante EMI, que lançaria o segundo LP,
Trashland.
Apesar
de estarem em uma major, a EMI pouco fez pelas meninas,
dando o trabalho apenas de lançarem o LP e jogá-lo
ao mercado.
Com uma bela capa, feita
por Michel Spitale, o disco foi eleito o melhor do ano pela revista
BIZZ.
Apesar disso, receberam,
meses depois, um telegrama da EMI, avisando que estavam dispensadas,
sem dar maiores explicações.
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado A
01. Lembranças
02. Há dez anos passados
03. Somos milhões
04. Tempo sem história
05. Ação na Cidade
06. Matinê
Lado B
01. Mesmas Leis
02. Cadê as Armas?
03. Provérbios do Inferno
04. Kyrie
05. Angelus
06. Trashland
As
Mercenárias se separaram em seguida. Rosália, Ana
e Lou abandonaram a carreira musical e Sandra acabou se mudando
para Berlim, onde ficou anos trabalhando sozinha no meio alternativo
alemão com sequenciadores e samplers.
Em 2005, foi editado no
exterior, a coletânea O Começo do Fim do
Mundo - Beginning of the End of the World: Brasilian Post-Punk
1982-85. O disco reúne as 10 faixas de Cadê
as Armas? e mais seis de Trashland.
O CD traz as seguintes
faixas:
01. Me Perco Nesse Tempo
02. Polícia
03. Imagem
04. Inimigo
05. Pânico
06. Amor Inimigo
07. Loucos Sentimentos
08. Labirintos
09. Além Acima
10. Santa Igreja
11. Lembranças
12. Há dez anos passados
13. Somos milhões
14. Ação na Cidade
15. Kyrie
16. Trashland
Após
14 anos fora do Brasil, Sandra voltou ao Brasil e reativou as
Mercenárias, que seguem dando shows, com Geórgia
Branco na guitarra, Pitchu Ferraz na bateria e a velha amiga Rosália
nos vocais.
Apesar de quase 20 anos
afastado do público, as Mercenárias conseguem soar
atuais e contundentes.
Deixo vocês com a
letra de "Polícia". Um abraço e até
a próxima coluna.
Polícia
(Ana / Lou / Rosália Munhoz / Sandra Coutinho)
a polícia vem, a polícia
vai
a polícia vem, a polícia vai
pelas ruas da cidade
polícia vai
pelas ruas da cidade
polícia vai
pelas ruas do subúrbio
polícia vai
com toda velocidade
vai matar assaltante
vai pedir os documentos
polícia vem, a polícia
vai
a polícia vem, a polícia vai
onde não é chamada
polícia vai
onde não é chamada
polícia vai
onde não é chamada
polícia vai
onde não é chamada
polícia vem, a polícia
vai
a polícia vem, a polícia vai
pelos ruas da cidade
polícia vai
pelas ruas da cidade
polícia vai
pelas ruas do subúrbio
polícia vai
com toda velocidade
vai matar assaltantes
vai pedir os documentos
a polícia vem, a polícia
vai
a polícia vem, a polícia vai
onde não é chamada
polícia vai (3x)
onde não é chamada,
ela vai também!
Discografia
Cadê as Armas (1986)
Trashland (1988)
O Começo do Fim do Mundo - Beginning of the End of the
World: Brasilian Post-Punk 1982-85 (2005)
|