347 - As Mercenárias

O rock brasileiro dos anos 80 produziu bandas de todos os tipos, inclusive um dos melhores grupo de punk e pós-punk feminino do planeta, as Mercenárias. Com uma proposta muito ousada para a época, deixaram apenas dois discos, além de uma coletânea lançada no exterior mostrando o respeito que possuem. Uma vida breve, mas importante para as futuras gerações.


Tudo começou em 1983, com três meninas e um menino.

As meninas eram Sandra Coutinho (baixo), Rosália (vocal) e Ana Machado (guitarra), todas estudantes - Rosália fazia Psicologia na PUC e Ana e Sandra estudavam jornalismo, na ECA da USP. Na bateria, acreditem ou não, estava o ainda desconhecido Edgard Scandurra, que dividia seu tempo entre as Mercenárias, Smack e o nascente Ira (sem ponto de exclamação nessa época).

Mas, Edgard, ficou pouco tempo por excesso de bandas - logo depois também sairia do Smack -, entrando Lou em seu lugar. As meninas começaram a se apresentar em pequenas casas de São Paulo chamando a atenção pela força dos temas e pela sonoridade, mesclando o punk de primeira hora dos Sex Pistols, com arranjos que lembravam Siouxsie and the Banshees, Joy Division, Slits, entre outros.

Após muita luta, pouco dinheiro e divulgação, fecham um contrato com a loja Baratos Afins, que lança o primeiro LP das garotas, Cadê as Armas?

Mesmo com poucos recursos financeiros, as Mercenárias estrearam com um LP de 10 faixas curtas, urgentes, destacando-se as faixas, a curta e violenta "Polícia" (apesar do nome, não tem nada a ver com a faixa gravada pelos Titãs em Cabeça Dinossauro), Santa Igreja e "Pânico".

O LP trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. Me Perco Nesse Tempo
02. Polícia
03. Imagem
04. Inimigo
05. Pânico

Lado B

01. Amor Inimigo
02. Loucos Sentimentos
03. Labirintos
04. Além Acima
05. Santa Igreja

Com um disco na praça, a aprovação da crítica e uma óima presença de palco, as Mercenárias começam a chamar a atenção de grandes gravadoras.

Em 1988, acabam assinando um contrato com a gigante EMI, que lançaria o segundo LP, Trashland.

Apesar de estarem em uma major, a EMI pouco fez pelas meninas, dando o trabalho apenas de lançarem o LP e jogá-lo ao mercado.

Com uma bela capa, feita por Michel Spitale, o disco foi eleito o melhor do ano pela revista BIZZ.

Apesar disso, receberam, meses depois, um telegrama da EMI, avisando que estavam dispensadas, sem dar maiores explicações.

O LP trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. Lembranças
02. Há dez anos passados
03. Somos milhões
04. Tempo sem história
05. Ação na Cidade
06. Matinê

Lado B

01. Mesmas Leis
02. Cadê as Armas?
03. Provérbios do Inferno
04. Kyrie
05. Angelus
06. Trashland

As Mercenárias se separaram em seguida. Rosália, Ana e Lou abandonaram a carreira musical e Sandra acabou se mudando para Berlim, onde ficou anos trabalhando sozinha no meio alternativo alemão com sequenciadores e samplers.

Em 2005, foi editado no exterior, a coletânea O Começo do Fim do Mundo - Beginning of the End of the World: Brasilian Post-Punk 1982-85. O disco reúne as 10 faixas de Cadê as Armas? e mais seis de Trashland.

O CD traz as seguintes faixas:

01. Me Perco Nesse Tempo
02. Polícia
03. Imagem
04. Inimigo
05. Pânico
06. Amor Inimigo
07. Loucos Sentimentos
08. Labirintos
09. Além Acima
10. Santa Igreja
11. Lembranças
12. Há dez anos passados
13. Somos milhões
14. Ação na Cidade
15. Kyrie
16. Trashland

Após 14 anos fora do Brasil, Sandra voltou ao Brasil e reativou as Mercenárias, que seguem dando shows, com Geórgia Branco na guitarra, Pitchu Ferraz na bateria e a velha amiga Rosália nos vocais.

Apesar de quase 20 anos afastado do público, as Mercenárias conseguem soar atuais e contundentes.

Deixo vocês com a letra de "Polícia". Um abraço e até a próxima coluna.

Polícia
(Ana / Lou / Rosália Munhoz / Sandra Coutinho)

a polícia vem, a polícia vai
a polícia vem, a polícia vai

pelas ruas da cidade
polícia vai
pelas ruas da cidade
polícia vai
pelas ruas do subúrbio
polícia vai
com toda velocidade
vai matar assaltante
vai pedir os documentos

polícia vem, a polícia vai
a polícia vem, a polícia vai

onde não é chamada
polícia vai
onde não é chamada
polícia vai
onde não é chamada
polícia vai
onde não é chamada

polícia vem, a polícia vai
a polícia vem, a polícia vai

pelos ruas da cidade
polícia vai
pelas ruas da cidade
polícia vai
pelas ruas do subúrbio
polícia vai
com toda velocidade
vai matar assaltantes
vai pedir os documentos

a polícia vem, a polícia vai
a polícia vem, a polícia vai

onde não é chamada
polícia vai (3x)

onde não é chamada,
ela vai também!

Discografia

Cadê as Armas (1986)
Trashland (1988)
O Começo do Fim do Mundo - Beginning of the End of the World: Brasilian Post-Punk 1982-85 (2005)


 


 

 

Colunas