Se você acha que o rock brasileiro é
feito todo no eixo Sul-Sudeste, com alguma exceção
para a Bahia, precisa prestar atenção nesse grupo
que vem de Maceió, Alagoas. Se você acha que rock
é apenas emular nomes do passado, sem nenhuma criatividade,
inteligência ou bom gosto, precisa ouvir esses rapazes
de Maceió, Alagoas. E se você perdeu a fé
na música, dê uma chance a esse Messias... de Maceió,
Alagoas.
Ao
ouvir o disco, fiquei tão intrigado com a sonoridade
"arrasa quarteirão", que logo pedi uma entrevista,
gentilmente respondida pelo baterista Fernando Coelho. Tudo
é legal, a começar pelo nome - Messias Elétrico
- até desaguar no som.
O quarteto é formado por Pedro
Ivo Araújo (voz e guitarra e flauta); Leonardo Luiz (teclados
e vocais); Alessandro Mendonça (baixo) e Fernando Coelho
(bateria).
A primeira coisa que me veio à
cabeça, foi Deep Purple fase David Coverdale-Glenn Hughes.
Uns funks pesados, cheios de grooves, guitarras fortes.
Mas, em alguns momentos, haviam passagens
meio Floyd, meio Yes. E tinha balanço, vocais ácidos,
músicas longas, curtas...
Cacete, que coisa legal!
O digo abre com "Sigo Cantando",
que lembra um pouco os Mutantes, em sua fase final, com muito
teclado e ótima cozinha. O vocal vai na linha Purple,
citada acima, com algo de Arnaldo e Serginho. Bem contagiante.
Isso sem falar no belo verso de entrada: "Correndo
atrás do sonho / Não tenho medo de lutar / Se
aqui é o inferno / No purgatório não vou
passar."
A faixa título é, igualmente
puro anos 70. Bela introdução de guitarra e teclados
e vocais uivando, alto. Caramba, cismei com Purple de novo!
A terceira faixa é a mais "prog":
"The Last Groove" tem 12 minutos, é dividida
em quatro partes e começa um lindo solo de guitarra,
ao melhor estilo Gilmour, com a diferença que o Floyd
não teria aquele groove todo do título. Os teclados
no meio da canção parece saída do disco
Hot Rats, do Zappa. (Espero que minhas referências
não estejam sendo bizarras demais...). Destaque
para a flauta de Pedro Ivo Araújo.
Além do belo instrumental, vale
prestar atenção nas letras. Longe das bobagens
que proliferam no rock atual, as letras do Messias falam de
angústias, medos, sonhos, da realidade, sem cair naquela
ingenuidade constrangedora dos seus contemporâneos.
O disco fecha com "Desejo, Loucura
& Barulho", que parece resumir a banda. O Desejo de
sucesso os obrigou a cometerem a Loucura de fazer um disco de
rock and roll, com muito Barulho. E dos bons.
Ah, já falei que eles são
de Maceió, Alagoas?
Um belo lançamento da Baratos
Afins, que já havia lançado os discos do grupo
Mopho, de onde saiu Leonardo Luiz e que será, em breve,
comentada aqui, também.
O Mopho? Ah, é também
de Maceió, Alagoas.
Faixas
01. Sigo Cantando
02. Messias Elétrico
03. The Last Groove
I. Quarto Branco
II. Não Sei Fazer Mais Nada
III. Longa Jornada
IV. Uma Casa, Meu Jardim
04. Que Mundo é Esse
05. Desejo Loucura & Barulho
A seguir, uma entrevista com o baterista
Fernando Coelho. Todas
as fotos da banda são de autoria de Rafaella Kissy.
Mofo:
- Gostaria que
vocês falassem como nasceu a banda, a origem do nome e
sobre a proposta de vocês.
Fernando Coelho: -
O Messias foi formado em abril de 2010. A ideia veio de Alessandro
Aru, que tocava com Pedro Ivo, na extinta Canela Seca, uma banda
com a clássica sonoridade de rock and roll brasileiro
dos anos 70.
Comigo na bateria, fizemos os primeiros
ensaios como um power trio e a sonoridade flertou com
o rock groovado e o progressivo. Logo percebemos que
um tecladista seria fundamental e o Leonardo seria o nome perfeito.
Ele passou a frequentar os ensaios e desde então começamos
a elaborar as músicas. O nome veio de uma música
de Pedro Ivo, a segunda do CD.
A proposta do Messias Elétrico
é tocar o que nos dar prazer ao segurar um instrumento:
rock. Como a influência comum remete aos ícones
dos anos 60 e 70, a musicalidade do grupo enveredou por esses
caminhos. Mas estamos sempres atentos às sonoridades
contemporâneas.
Mofo: - Assim como os dois primeiros
discos do Mopho, vocês lançaram o trabalho pela
Baratos Afins, que era a ex-banda do Leonardo. No entanto, o
Messias assume um lado mais funk, dançante, repleta de
grooves. Em alguns momentos, os vocais mais agudos
me lembram um pouco o Deep Purple, fase Glenn Hughes e David
Coverdale. Um exemplo disso é na faixa "Messias
Elétrico". Estou falando algum absurdo?
Fernando Coelho: - Nenhum. Você matou a charada.
Esse é o principal ponto de convergência entre
todas as nossas influências. Na verdade, a trinca clássica
- Purple, Zeppelin e Sabbath - tem muito groove em
suas músicas.
Mofo:
- Na página de vocês do facebook, citam como influências
Deep Purple, Led Zeppelin, Pink Floyd, Mutantes, O Som Nosso
de Cada Dia, Yes, Genesis, Black Sabbath, Whitenaske, Joelho
de Porco, The Beatles... Como esses elementos são trabalhados
no som do grupo?
Fernando Coelho: - Na verdade, não colocamos
todas as influências nessa lista (risos). Eu mesmo sou
apreciador de diversos outros gêneros, inclusive alguns
possivelmente antagônicos aos grupos citados acima.
Não procuramos trabalhar tais influências de modo
calculado. Simplesmente fazemos o som. Vez ou outra, podemos
citar algum grupo como referência para uma passagem ou
um arranjo, mas nada além disso.
Mofo: - Vocês dizem que sonham em abraçar
o Brasil, mas estão contentes com Maceió, quebrando
um pouco essa hegemonia do eixo Sul-Sudeste. Sendo assim, gostaria
de saber como é a aceitação do som do grupo,
especialmente no Nordeste. A proposta sonora é bem diferente
do que se ouve por aqui (atualmente moro no Maranhão,
desde 2003). Não seria mais fácil tentar
a vida em SP ou RJ?
Fernando Coelho: - Estamos começando a divulgação
agora. O disco saiu há pouco tempo e não temos
um feedback palpável. Na banda, há aqueles
que sobrevivem de música e outros que não vivem
sem ela (risos), mas que possuem outras profissões. Como
diz nosso release, nós gostamos de tocar. Por outro lado,
sabemos que o retorno com música autoral - e ainda mais
assim tão direcionada - vem com muito tempo e ralação,
por isso, nosso maior objetivo agora é tocar. Gostaríamos
muito de mostrar a nossa sonoridade em outros estados brasileiros.
Inclusive aí, em São Luís (risos). Não
é difícil contratrar o Messias (risos).
Mofo: - Como é a rotina de shows, estrada,
gravações? Vocês vivem apenas da banda ou
possuem outros empregos?
Fernando Coelho: - Pois é, como falei acima.
Leonardo e Pedro tocam em diversos grupos na noite de Maceió.
Já a "cozinha" tem outros empregos. Eu sou
jornalista (atualmente faço mestrado em Comunicação
na Universidade Federal de Pernambuco) e Alessandro Aru é
professor e contador.
Mofo:
- Pensam em lançar um novo trabalho?
Fernando Coelho: - Sim. Já temos novas músicas,
que precisamos burilar mais em estúdio. No entanto, o
show já contempla três ou quatro novas.
Mofo: - Qual é o espaço que o artista
que faz rock, especialmente de forma alternativa tem no Brasil
de hoje? Como é a relação de vocês
com os fãs, especialmente via internet?
Fernando Coelho: - Bem, espero poder responder melhor
essa quando tivemos a sorte de retorno dos apreciadores de nossa
música.
Por enquanto, a banda é pouco conhecida. Bem, ao menos
aqui em Maceió, onde já fizemos alguns shows,
o retorno é bem positivo. Acredito que quem curte rock
and roll clássico, cheio de groove e com pitadas
de progressivo tende a curtir o Messias Elétrico.
Mofo: - Agradeço a entrevista. Deixe uma mensagem
aos fãs.
Fernando Coelho: - Procurem ouvir o disco, ele foi
feito com muita determinação. E, se possível,
tentem convencer algum produtor local para levar o Messias Elétrico
para a sua cidade.