O Mondo Jet Set
é uma dessas novas bandas que pouca gente ouviu falar.
Um crime, pois os rapazes são talentosos. Uma banda que
parece ser filho direto do movimento shoegazer, ou seja
da mesma linhagem de Pale Saints, My Blood Valentine, Ride etc.
Mas rótulos são sempre restritivos e o Mondo Jet
Set injeta alguma coisa de anos 60 em seu som. Ficou curioso?
Leia então a entrevista que James Laming e Mark Robbins
concederam e veja se aumenta a larica...
Rubens,
faça-nos famosos e felizes!
Foi esse o pedido de James
e Mark quando me mandaram as respostas via e-mail. Bem, rapazes,
vou ser sincero, o escriba aqui tem pouquíssima fama, mas
ainda assim tentarei ajudar ao Mondo Jet Set virar o hype
da vez.
Vai ser difícil,
porque pouca gente lê meu site, mas não custa tentar.
Afinal, boa música sempre merece ser divulgada.
Pergunta: - Como
surgiu a banda?
James: - Eu começo Mark há séculos.
Nós estudávamos na mesma escola, mas ele quase não
conversava comigo quando eu puxava papo. Anos depois, nossas bandas
terminaram e me pareceu meio óbvio que poderíamos
formar uma outra.
Mark: - James ficou me perseguindo desde 1982
e em 1991 resolvi conversar com ele. Finalmente, anos depois (e
para a sorte dos freqüentadores dos pubs de Weymouth) nossas
bandas terminaram e nós formamos o Marlowe, que depois
viraria o Mondo Jet Set.
Pergunta:
- Henry After A Nightlife é um grande disco. Me fale do
processo de criação de vocês...
James: - Nós passamos muito tempo compondo um
disco chamado No Fun para o Marlowe, que nos
deixou quebrados, tanto mentalmente, como fisicamente e espiritualmente.
Parecia que ele nunca veria a luz do dia. Henry After
A Nightlife, ao contrário foi escrito e gravado
rapidamente e de uma maneira muito mais prazeirosa. Eu estou muito
feliz com esse álbum e ele tem muita consistência,
já que ele existia apenas em nossa selvagem e frutífera
imaginação.
Mark: - Fico feliz que tenha gostado do disco.
Como todos nossos discos, tivemos a intenção de
gravá-lo em uma semana, coisa que nunca havia acontecido.
Como as canções escritas, a banda ganhou novos integrantes
- Robert Lane e Craig Parsons -, o que nos permitiu maiores variações
nos arranjos. Era a primeira vez que gravávamos com um
baterista e queríamos fazer um disco de guitarra com melodias
pops. Algumas coisas mudaram na mixagem, porque sempre ouço
coisas que desejo mudar e provavelmente irei sempre querer..
Pergunta: - Vocês
se consideram compositores pops ou isso é uma definição
muito limitada?
James: - Eu adoro a idéia de "pop songs",
mas é bom subverter a idéia das pessoas sobre o
que é "pop". Apesar dos tons de dor e miséria
eu ainda considero (talvez ingenuamente) o Mondo Jet Set como
um grupo pop, embora, de uma maneira levemente existencialista.
Poderia dizer que tentamos evitar as limitações
a todo custo.
Mark: - Depende da sua definição
de "pop". Se você fala da "música
popular", então definitivamente não somos pops.
Então, às vezes me considero um compositor "pop"
e outras vezes não, mas isso nunca me limitou, apenas desafia
minha idéia de "pop"..
Pergunta:
- O quanto as letras representam suas vidas?
James: - Provavalmente mais do que eu imagino. Alguma
vezes eu converto uma situação real em uma história
ficcional ou personagens sem realmente me preocupar com isso.
Quem não usa esse expediente? Eu tento evitar minhas emoções
muitas vezes para não entendiar os outros. Muitas frustrações
minhas vazaram para esse disco. Acho que quem escreve canções
se sente culpado das mesmas coisas, o que é uma resposta
evasiva, eu sei, mas ser evasivo combina com meu comportamente
inglês.
Mark: - Uma resposta curta: sim. Eu só
escrevi uma letra do disco e ela fez todo sentido para mim. Não
consigo escrever letras coisas sobre o que desconheço (o
que é uma limitação, reconheço).
Pergunta: - Vocês
se sentem parte de alguma cena em particular? Como vocês
descreveriam a música do Mondo Jet Set?
James: - Francamente, não me sinto parte de cena
alguma. As novas bandas inglesas são tediosas, sem imaginação
e nao cuidam de si muito bem. O Mondo Jet Set existe em um vácuo
próprio e peculiar, não somos chapas de uma cena.
Acho que isso faz nosso som meio sacana, espirituoso, mas não
somos assim. Somos adoráveis, bons amigos com nossos cabelos
e dentes. Acho que temos uma tendência a observar as novas
bandas americanas e as do passado.
Mark: - Também não me sinto parte
de uma cena. Essas "cenas" possui vantagens e desvantagens;
podem ser boas para descobrir novas bandas, mas é o lixo
que se segue a isso que me desanima. É muito difícil
algumas bandas ultrapassarem a barreira do movimento na qual fazem
parte. A nossa idéia é fazer aquilo que queremos;
essencialmente discos que gostaríamos de ouvir. É
muito limitante essa coisa de querer soar diferente a toda hora.
Pergunta: - O que
vocês conhecem de música brasileira, fora bossa nova?
James: - Na Inglaterra, estamos impressionados com a
cena da Tropicália, o que para vocês deve ser muito
batido: Caetano Veloso, Os Mutantes, Gilberto Gil. Temos uma queda
imensa por isso. Eu e Mark vimos Os Mutantes ao vivo no ano passado
e apesar de alguma coisa datada do ano 1200, eles foram excepcionalmente
maravilhosos. Acho que a música deles possui uma imensa
influência aqui, apesar de muito calcada nas bandas britânicas
dos anos 60.
Mark: - James me apresentou todos esses artistas
mencionados e me apaixonei por todos. Ver Os Mutantes foi inesquecível
e jamais imaginei que os veria, portanto já posso morrer
feliz. No entanto, eu preciso mencionar outra paixão minha
que é Sérgio Mendes. "Chove Chuva" é
uma de minhas canções preferidas.
Pergunta: - Poderia
me citar cinco artistas e cinco discos favoritos?
James: - Oh, diabos, essa é uma questão
horrível e você é muito cruel. No momento,
sem ordem definida: The Shins, The Smiths (sempre), Fairport Convention
(do começo), Ivor Cutler e Leonard Cohen. Os discos seriam:
Vauxhall and I (Morrissey);If you’re
feeling sinister (Belle and Sebastian); o primeiro disco
de Leonard Cohen; Friends (The Beach Boys) e
no momento, o EP do Television Personalities Where's Bill
Grundy Now.
Mark: - Além desses citados, gosto de
Pavement, Dylan, Neil Young, Field Music e Yo La Tengo. Meus cinco
discos favoritos (que podem mudar diariamente): o novo do Shins,
And Then Nothing Turned Itself Inside Out (Yo
La Tengo); Autobahn (Kraftwerk); Reckoning
(R.E.M.) e Histoire De Melody Nelson (Serge Gainsbourg).
Pergunta: - O que
vocês acham da cena rock de hoje em dia?
James: - É diferente hoje e os melhores grupos
estão fora da cena, mas melhorando a cada dia e ficando
raízes cada vez mais fortes. Minha grande preocupação
é a falta de vontade dos artistas mais populares em arriscarem
um pouco. Claro que é uma questão de gosto e no
quanto você deseja investir no novo álbum do Oasis,
mas essas novas bandas do NME (New Musical Express) não
fazem parte da minha vida de maneira nenhuma.
Mark: - Eu ouço muito pouco essas bandas
novas, portanto me sinto pouco qualificado a comentar a cena rock
de hoje. Mas como você me perguntou, eu os acho tediosos,
um bando de imbecis famintos por fama e não me agradam.
Pergunta:
- Deixem uma mensagem para seus fãs...
James: - Particularmente, acho bizarro quando alguém
diz que gosta de nossas músicas, se é que alguém
gosta. Eu tenho uma tendência a ficar acanhado e deliciado
quando elogiado. Se alguém gosta do barulho que fazemos
só posso dizer 'obrigado' e que o novo disco será
muito melhor que o anterior.
Mark: - Bem, eu não sou muito sábio
para falar algo, mas se você comprar algum disco esse ano
- além do nosso - compre o novo do Shins. Ele irá
mudar sua vida. Espalhe o amor do Mondo Jet Set e talvez um dia
tenhamos fãs suficientes para tocarmos no Brasil.
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