40 - Morrissey - Viva Hate

capa originalQuem me conhece sabe minha predileção pelos Smiths e por toda sua obra. Mas eu gosto, e muito, da carreira-solo de Morrissey. O cantor e letrista foi o único com talento e vontade em manter-se vivo e trabalhando depois que o maior grupo inglês dos anos 80 resolveu sair de cena, mantendo uma obra perfeita e intacta.

A questão é: teria como Morrissey fazer algo tão bom e ainda sem Johnny Marr do seu lado? A resposta mais correta seria não, e de fato, Morrissey apresentou alguns momentos irregulares nos anos 90. Mas seus acertos são muito maiores e seu primeiro disco solo, meses após o final do grupo é a maior prova disso.

Viva Hate é um belíssimo disco e um alento aos fãs, que temiam ver o cantor se matar, como alguns fãs fizeram. Bobagem. Morrissey podia ser um homem inconsolável com o fim do grupo, mas não seria assim, de uma maneira tão boba que iria morrer. Ainda mais quando tantas canelas mereciam ser chutadas...

Como Morrissey nunca compôs uma melodia na vida - "sempre tive uma voz interior que me pediu para me manter puro" - o cantor dividiu as composições com Stephen Street, que havia sido o produtor do último disco dos Smiths, "Strangeways, Here We Come". E o resultado é notável.

O disco é feito com um time que deixa pouco a desejar em relação ao seu antigo quarteto, com destaque para o excepcional guitarrista do Durutti Column, Vini Reilly (banda que virará coluna em breve...). Vini gosta de relembrar que Morrissey possui uma maneira toda peculiar em trabalhar, pontuando suas canções da maneira mais estranha possível e que só fazem sentindo quando ele as canta.

Mas Vini não gosta de seu trabalho neste disco, já que os arranjos soam convencionais demais, muitoi rígidos e foram guiados de maneira quase autoritária por Stephen Street. Ainda assim, Vini introduziu alguns elementos incomuns na obra de Morrisssey, como alguns sintetizadores, French Horns via um sampler e até bateria eletrônica, além de alguns arranjos orquestrais que o cantor não teria permitido nos Smiths.

O guitarrista relembra de como o cantor parecia perdido nas sessões sem ter Johnny Marr ao seu lado e como as pessoas evitavam confrontá-lo. Mas, até por tudo isso, Viva Hate traz alguns dos melhores momentos de sua carreira.

Duas dessas canções são clássicos absolutos: "Everyday Is Like Sunday" e "Suedehead", que deu a Morrissey o quinto posto na parada de compactos da Inglaterra, feito não conseguido pelos Smiths. O disco foi ainda mais longe, chegando a ser número 1 na Inglaterra, feito que os Smiths havia conseguido em 1985 com Meat Is Murder.

Mas Morrissey está irresistível nas outras dez faixas: "Break Up The Family" é um chute no saco do conservadorismo inglês; "I Don't Mind If You Forget Me" falm da solidão, o principal combustível do cantor. Em "Little Man, What Now?", Morrissey comenta um famoso caso de um astro mirm que havia sido colocado pra fora de um programa nos anos 70. Em "Angel, Angel, Down We Go Together" Morrissey canta o suicídio em meio a uma arranjo de cordas.

O disco conta ainda com uma bela cutucada no então governo da Dama de Ferro, Margareth Thatcher, "Margaret On The Guillotine".

A capa original, lançada em LP, era um luxo só, com letras em alto-relevo, assim como no último disco dos Smiths. Os dois foram lançados simultaneamente no Brasil, em 1988.

capa da edição norte-americana Existe ainda uma edição norte-americana com três diferenças significativas da original inglesa: a primeira é a mudança da capa. A segunda é a total ausência das letras, um pecado para alguém como Morrissey. E a terceira é a inclusão de outras oito faixas bônus, de sua fase posterior.

Morrissey possui uma das mais belas trajetórias dos anos 80 e 90 e seu legado será analisado, com mais calma, brevemente. Enquanto isso, corra atrás dessa preciosidade. E procure as letras do maior desbocado compositor inglês na internet.