233 - Motörhead - Ace of Spades

Afinal, qual o estilo do Motörhead? punk, heavy metal, thrash, hardcore, speed metal, rock and roll? Bem, todos esses e outros mais. Na verdade, o grupo liderado pelo impagável Lemmy Kilmister já andou por todos os estilos dentro do rock em mais de 30 anos de carreira. Mas, sem dúvida alguma, o ponto alto foi Ace of Spades, disco de 1980, que alargou ainda mais as fronteiras da banda e fez dela a grande inspiração para futuras gerações, Metallica incluindo. Sendo assim, conheça um pouco mais da carreira do Motörhead.


Sim, você sabe quem é o Motörhead ou pelo menos conhece o líder, Lemmy Kilmister.

Afinal, quem canta com a cabeça para cima, com o microfone colocado acima de sua cabeça? Porém, Lemmy é muito mais do que o líder do Motörhead; é quase uma verdadeira instituição do rock britânico.

Ian Fraiser Kilmister (nome real da fera) nasceu no dia 24 de dezembro de 1945, em Burslem, Stoke-on-Trent, Staffordshire, na Inglaterra. Era filho de um vigário, que saiu de casa quando o pequeno Ian tinha apenas três meses. Esse trauma parece acompanhá-lo até hoje, tamanha a raiva que possui da igreja, registrada em dezenas de canções do Motörhead.

Desde cedo, mostrou vontade de ser músico, passando por bandas como Opal Butterfly, Sam Gopal, The Rockin' Vickers e trabalhando como roadie para Jimi Hendrix e The Nice. Alguns garantem que foi nesse período que recebeu o apelido de Lemmy, de gozação: de tanto pedir grana emprestado - "would you lend me?..." - virou Lemmy.

Em 1972, Lemmy entrou para o grupo Hawkind, que fez algum sucesso com a canção "Silver Machine", terceiro lugar na parada britânica daquele ano. Ele também começava a marcar seu estilo, usando o baixo de maneira agressiva, valorizando muitos os acordes de seus eternos Rickenbackers 4001 e 4003.

Lemmy gravou quatro discos com a banda, mas acabou saindo em 1975, após ser detido pela polícia na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá, portando anfetaminas. A polícia achava que ele levava substâncias mais pesadas e com isso, acabou preso por cinco dias no lado canadense até que se apurasse a verdade. O resultado disso foi sua demissão e a entrada de Paul Rudolph, ex-guitarrista dos Deviants e dos Pink Fairies.

Sem emprego, Lemmy resolveu montar uma nova banda com o guitarrista Larry Wallis e o baterista Lucas Fox. O primeiro nome escolhido foi Bastard, mas após ser criticado pelo empresário, dizendo que jamais seria aceito pela parada com esse nome, mudou para Motörhead, nome de uma antiga canção do Hawkind. Lemmy queria formar a "banda de rock mais suja do planeta" e gostava de dizer que "se formos seus vizinhos, sua grama irá morrer". Motörhead era também uma gíria para designar viciados em anfetaminas.

capa do disco On ParoleEm 1976, o grupo entrou em um pequeno estúdio de Rockfield, de propriedade de Dave Edmunds, para gravar o primeiro disco.

O disco já trazia toda a essência do som do Motörhead: muito peso, letras inspiradíssimas e ácidas de Lemmy. Porém, nessas gravações Lucas Fox deixa o grupo e aparece um novo baterista, amigo de Lemmy (e segundos alguns, seu traficante), Phil "Philty Animal" Taylor. Taylor regrava todas as baterias do disco, mas o contrato com a Liberty Records é rescindido e o disco, engavetado. Ele só sairia em 1979, com o nome de On Parole.

Phil conta que não ficou muito animado para entrar na banda, já que tocava de forma amadora e apenas reggae, soul e que conhecia Lemmy apenas de alguns porres juntos. O encontro se deu quando leu um pequeno bilhete afixado na porta de sua casa dizendo para que fosse encontrar Lemmy nos estúdios. Phil foi, ainda que relutante, pois não era fã do Hawkind. O resto é história...

Lemmy, no entanto, queria mais um guitarrista para o grupo e convidou Eddie "Fast" Clarke. O quarteto, no entanto, nem decolou, já que Lucas pulou fora durante os primeiros ensaios. Nascia então a clássica formação do Motörhead, com Lemmy (letras, baixo e vocais); Eddie (guitarra) e Animal (bateria).

capa do disco MotörheadEm 1977, ano da explosão punk, o grupo lança o primeiro disco, apenas com o nome do grupo. Motörhead foi lançado pela pequena Chiswick e mostrava um grupo muito mais coeso, cheio de raiva e energia e que satisfazia tanto os punks como os headbangers.

O disco foi gravado em incríveis dois dias, no mês de junho, durante a primeira turnê britânica. A idéia era gravar uma canção por dia, mas acabaram produzindo treze!

Após vários problemas - Phil quebrou o punho em uma briga - e o cancelamento de algumas turnês, o Motörhead conseguiu um novo contrato com outra gravadora, a Bronze Records e ainda em 1978, gravaram uma cover de Louie Louie.

capa do disco OverkillO disco rendeu algum sucesso e em 1979 lançam o segundo disco, Overkill.

Produzido pelo experiente Jimmy Miller (produtor dos Rolling Stones), entre dezembro de 1978 e janeiro de 1979, Overkill é a primeira mostra do som definitivo do trio, com muita coesão, força e violência.

Das 10 faixas, apenas "Tear Ya Down", foi produzida por Neil Richmond e o disco alcançou a 24ª posição nas paradas britânicas. Canções, como a faixa-título, "No Class", "Stay Clean" e outras fizeram dele um clássico. Como curiosidade, vale ouvir Lemmy fazendo um solo de guitarra na segunda parte de "Limb from Limb".

capa do disco OverkillO grupo saiu novamente para vários shows pela Europa e se trancou novamente em estúdio entre julho e agosto. Em outubro é lançado o novo disco do trio, Bomber, ainda mais inspirado, como clássico com "Stone Dead Forever" e "Dead Man Tell No Tales", além da faixa-título. O trabalho chegou à 12ª posição das paradas, consolidando o grupo.

Os shows promocionais foram espetaculares, tendo o Saxon ao lado, e um palco inspirado no bombardeiro Heinkel III. Lemmy começava a ganhar fama como neo-nazista, por sua paixão por fatos referentes à Segunda Guerra Mundial. O cantor se defendia que todo aspecto relativo ao tema o interessava e revelou porque tamanho fascínio por Hitler: "o que mais me impressionou nele é seu poder de oratória. Ele é o maior orador deste século e, talvez, de toda a humanidade. Era impressionante como ele falava a mesma merda ano após ano e todos acreditavam nele. Na verdade, as pessoas queriam acreditar no que ele dizia. E não existe mais nenhum traço da Europa pré-Segunda Guerra."

O grupo entrou em 1980 fazendo shows por todo continente e no mês de abril lançam um EP de quatro músicas, Golden Years, oitavo lugar no Reino Unido. O estilo selvagem e cheio de garra no palco e a vida selvagem na estrada - bebedeiras, drogas, mulheres - encontrava grande recepção por parte dos fãs.

Vivendo o auge, a banda recusou convites para tocar nos festivais de Reading e no Castle Donnington para tocarem no Over The Top Heavy Metal Brain Damage Party, em Stafford's Bingley Hall e patrocinados pelo próprio grupo. Fãs de todas as partes da Europa se esbaldaram com White Spirit, Vardis, Mythra, Angel Witch, Girlschool e Saxon, além do Motörhead, claro.

capa do disco Ace of SpadesO grupo acabou voltando para o estúdios entre 4 de agosto e 15 de setembro e saíram de lá com o maior clássico de sua carreira e um dos discos mais importantes do estilo: Ace of Spades.

As gravações foram interrompidas no dia 20 de agosto para gravarem um show em Nottingham. O grupo ainda tinha um show conjunto com o Hawkind, no dia 31, que foi cancelado.

No dia 13 de outubro é lançado o disco, que chegou ao 4º posto da parada britânica. Ace of Spades é um clássico não apenas do heavy metal. Inspiradíssimo, Lemmy escrevia letras perfeitas e o grupo mostrava estar no auge da forma, especialmente os riffs poderosos de Eddie e a bateria de Animal, o melhor do estilo. A faixa-título é a mais famosa canção do trio e que encerra os shows do grupo até os dias atuais. Foi Ace of Spades que marcou toda uma nova geração de fãs, que criariam o estilo thrash metal, tendo como grandes nomes o Metallica e o brasileiro Sepultura.

O grupo chegaria ao pico com o álbum ao vivo, No Sleep 'til Hammersmith, primeiro lugar no Reino Unido. E depois disso, o Motörhead começaria a enfrentar os tradicionais problemas que acabariam fazendo a carreira do trio perder fama, mas nunca a intensidade.

Deixo vocês com a discografia da banda. Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Motörhead (1977)
Overkill (1979)
Bomber (1979)
On Parole (1979)
Ace of Spades (1980)
No Sleep 'til Hammersmith (1981)
Iron Fist (1982)
Another Perfect Day (1983)
No Remorse (1984)
Orgasmatron (1986)
Rock 'n' Roll (1987)
No Sleep at All (1988)
1916 (1991)
March ör Die (1992)
Bastards (1993)
Sacrifice (1995)
Overnight Sensation (1996)
Snake Bite Love (1998)
Everything Louder Than Everyone Else (1999)
We Are Motörhead (2000)
The Best Of (2000)
Hammered (2002)
Live at Brixton Academy (2003)
Inferno (2004)
BBC Live & In-Session (2005)
Kiss of Death (2006)

Singles

Leaving Here (1977)
Motörhead (1977)
Louie Louie (1978)
Overkill (1979)
No Class (1979)
Bomber (1979)
Ace of Spades (1980)
Motörhead (live) (1981)
Iron Fist (1982)
I Got Mine (1983)
Shine (1983)
Killed By Death (1984)
Deaf Forever (1986)
Eat The Rich (1987)
Ace of Spades (live) (1988)
The One To Sing The Blues (1991)
Hellraiser (1992)
Don't Let Daddy Kiss Me (1993)
Born To Raise Hell (1994)
God Save The Queen (2000)
Whorehouse Blues (2004)

EPs

The Golden Years (1980)
Beer Drinkers and Hell Raisers (1980)
St. Valentine's Day Massacre EP (1981)
Stand by Your Man (1982)
'92 Tour EP (1992)


 

 

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