Afinal, qual
o estilo do Motörhead? punk, heavy metal, thrash, hardcore,
speed metal, rock and roll? Bem, todos esses e outros mais. Na
verdade, o grupo liderado pelo impagável Lemmy Kilmister
já andou por todos os estilos dentro do rock em mais de
30 anos de carreira. Mas, sem dúvida alguma, o ponto alto
foi Ace of Spades, disco de 1980, que alargou ainda mais as fronteiras
da banda e fez dela a grande inspiração para futuras
gerações, Metallica incluindo. Sendo assim, conheça
um pouco mais da carreira do Motörhead.
Sim,
você sabe quem é o Motörhead ou pelo menos conhece
o líder, Lemmy Kilmister.
Afinal, quem canta com
a cabeça para cima, com o microfone colocado acima de sua
cabeça? Porém, Lemmy é muito mais do que
o líder do Motörhead; é quase uma verdadeira
instituição do rock britânico.
Ian Fraiser Kilmister (nome
real da fera) nasceu no dia 24 de dezembro de 1945, em Burslem,
Stoke-on-Trent, Staffordshire, na Inglaterra. Era filho de um
vigário, que saiu de casa quando o pequeno Ian tinha apenas
três meses. Esse trauma parece acompanhá-lo até
hoje, tamanha a raiva que possui da igreja, registrada em dezenas
de canções do Motörhead.
Desde cedo, mostrou vontade
de ser músico, passando por bandas como Opal Butterfly,
Sam Gopal, The Rockin' Vickers e trabalhando como roadie
para Jimi Hendrix e The Nice. Alguns garantem que foi nesse período
que recebeu o apelido de Lemmy, de gozação: de tanto
pedir grana emprestado - "would you lend me?..."
- virou Lemmy.
Em 1972, Lemmy entrou para
o grupo Hawkind, que fez algum sucesso com a canção
"Silver Machine", terceiro lugar na parada britânica
daquele ano. Ele também começava a marcar seu estilo,
usando o baixo de maneira agressiva, valorizando muitos os acordes
de seus eternos Rickenbackers 4001 e 4003.
Lemmy gravou quatro discos
com a banda, mas acabou saindo em 1975, após ser detido
pela polícia na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá,
portando anfetaminas. A polícia achava que ele levava substâncias
mais pesadas e com isso, acabou preso por cinco dias no lado canadense
até que se apurasse a verdade. O resultado disso foi sua
demissão e a entrada de Paul Rudolph, ex-guitarrista dos
Deviants e dos Pink Fairies.
Sem emprego, Lemmy resolveu
montar uma nova banda com o guitarrista Larry Wallis e o baterista
Lucas Fox. O primeiro nome escolhido foi Bastard, mas após
ser criticado pelo empresário, dizendo que jamais seria
aceito pela parada com esse nome, mudou para Motörhead, nome
de uma antiga canção do Hawkind. Lemmy queria formar
a "banda de rock mais suja do planeta" e gostava de
dizer que "se formos seus vizinhos, sua grama irá
morrer". Motörhead era também uma gíria
para designar viciados em anfetaminas.
Em
1976, o grupo entrou em um pequeno estúdio de Rockfield,
de propriedade de Dave Edmunds, para gravar o primeiro disco.
O disco já trazia
toda a essência do som do Motörhead: muito peso, letras
inspiradíssimas e ácidas de Lemmy. Porém,
nessas gravações Lucas Fox deixa o grupo e aparece
um novo baterista, amigo de Lemmy (e segundos alguns, seu traficante),
Phil "Philty Animal" Taylor. Taylor regrava todas as
baterias do disco, mas o contrato com a Liberty Records é
rescindido e o disco, engavetado. Ele só sairia em 1979,
com o nome de On Parole.
Phil conta que não
ficou muito animado para entrar na banda, já que tocava
de forma amadora e apenas reggae, soul e que conhecia Lemmy apenas
de alguns porres juntos. O encontro se deu quando leu um pequeno
bilhete afixado na porta de sua casa dizendo para que fosse encontrar
Lemmy nos estúdios. Phil foi, ainda que relutante, pois
não era fã do Hawkind. O resto é história...
Lemmy,
no entanto, queria mais um guitarrista para o grupo e convidou
Eddie "Fast" Clarke. O quarteto, no entanto, nem decolou,
já que Lucas pulou fora durante os primeiros ensaios. Nascia
então a clássica formação do Motörhead,
com Lemmy (letras, baixo e vocais); Eddie (guitarra) e Animal
(bateria).
Em
1977, ano da explosão punk, o grupo lança o primeiro
disco, apenas com o nome do grupo. Motörhead
foi lançado pela pequena Chiswick e mostrava um grupo muito
mais coeso, cheio de raiva e energia e que satisfazia tanto os
punks como os headbangers.
O disco foi gravado em
incríveis dois dias, no mês de junho, durante a primeira
turnê britânica. A idéia era gravar uma canção
por dia, mas acabaram produzindo treze!
Após vários
problemas - Phil quebrou o punho em uma briga - e o cancelamento
de algumas turnês, o Motörhead conseguiu um novo contrato
com outra gravadora, a Bronze Records e ainda em 1978, gravaram
uma cover de Louie Louie.
O
disco rendeu algum sucesso e em 1979 lançam o segundo disco,
Overkill.
Produzido pelo experiente
Jimmy Miller (produtor dos Rolling Stones), entre dezembro de
1978 e janeiro de 1979, Overkill é a primeira
mostra do som definitivo do trio, com muita coesão, força
e violência.
Das 10 faixas, apenas "Tear
Ya Down", foi produzida por Neil Richmond e o disco alcançou
a 24ª posição nas paradas britânicas.
Canções, como a faixa-título, "No Class",
"Stay Clean" e outras fizeram dele um clássico.
Como curiosidade, vale ouvir Lemmy fazendo um solo de guitarra
na segunda parte de "Limb from Limb".
O
grupo saiu novamente para vários shows pela Europa e se
trancou novamente em estúdio entre julho e agosto. Em outubro
é lançado o novo disco do trio, Bomber,
ainda mais inspirado, como clássico com "Stone Dead
Forever" e "Dead Man Tell No Tales", além
da faixa-título. O trabalho chegou à 12ª posição
das paradas, consolidando o grupo.
Os shows promocionais foram
espetaculares, tendo o Saxon ao lado, e um palco inspirado no
bombardeiro Heinkel III. Lemmy começava a ganhar fama como
neo-nazista, por sua paixão por fatos referentes à
Segunda Guerra Mundial. O cantor se defendia que todo aspecto
relativo ao tema o interessava e revelou porque tamanho fascínio
por Hitler: "o que mais me impressionou nele é seu
poder de oratória. Ele é o maior orador deste século
e, talvez, de toda a humanidade. Era impressionante como ele falava
a mesma merda ano após ano e todos acreditavam nele. Na
verdade, as pessoas queriam acreditar no que ele dizia. E não
existe mais nenhum traço da Europa pré-Segunda Guerra."
O
grupo entrou em 1980 fazendo shows por todo continente e no mês
de abril lançam um EP de quatro músicas, Golden
Years, oitavo lugar no Reino Unido. O estilo selvagem
e cheio de garra no palco e a vida selvagem na estrada - bebedeiras,
drogas, mulheres - encontrava grande recepção por
parte dos fãs.
Vivendo o auge, a banda
recusou convites para tocar nos festivais de Reading e no Castle
Donnington para tocarem no Over The Top Heavy Metal Brain Damage
Party, em Stafford's Bingley Hall e patrocinados pelo próprio
grupo. Fãs de todas as partes da Europa se esbaldaram com
White Spirit, Vardis, Mythra, Angel Witch, Girlschool e Saxon,
além do Motörhead, claro.
O
grupo acabou voltando para o estúdios entre 4 de agosto
e 15 de setembro e saíram de lá com o maior clássico
de sua carreira e um dos discos mais importantes do estilo: Ace
of Spades.
As gravações
foram interrompidas no dia 20 de agosto para gravarem um show
em Nottingham. O grupo ainda tinha um show conjunto com o Hawkind,
no dia 31, que foi cancelado.
No dia 13 de outubro é
lançado o disco, que chegou ao 4º posto da parada
britânica. Ace of Spades é um clássico
não apenas do heavy metal. Inspiradíssimo, Lemmy
escrevia letras perfeitas e o grupo mostrava estar no auge da
forma, especialmente os riffs poderosos de Eddie e a
bateria de Animal, o melhor do estilo. A faixa-título é
a mais famosa canção do trio e que encerra os shows
do grupo até os dias atuais. Foi Ace of Spades
que marcou toda uma nova geração de fãs,
que criariam o estilo thrash metal, tendo como grandes
nomes o Metallica e o brasileiro Sepultura.
O grupo chegaria ao pico
com o álbum ao vivo, No Sleep 'til Hammersmith,
primeiro lugar no Reino Unido. E depois disso, o Motörhead
começaria a enfrentar os tradicionais problemas que acabariam
fazendo a carreira do trio perder fama, mas nunca a intensidade.
Deixo vocês com a
discografia da banda. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Motörhead (1977)
Overkill (1979)
Bomber (1979)
On Parole (1979)
Ace of Spades (1980)
No Sleep 'til Hammersmith (1981)
Iron Fist (1982)
Another Perfect Day (1983)
No Remorse (1984)
Orgasmatron (1986)
Rock 'n' Roll (1987)
No Sleep at All (1988)
1916 (1991)
March ör Die (1992)
Bastards (1993)
Sacrifice (1995)
Overnight Sensation (1996)
Snake Bite Love (1998)
Everything Louder Than Everyone Else (1999)
We Are Motörhead (2000)
The Best Of (2000)
Hammered (2002)
Live at Brixton Academy (2003)
Inferno (2004)
BBC Live & In-Session (2005)
Kiss of Death (2006)
Singles
Leaving Here (1977)
Motörhead (1977)
Louie Louie (1978)
Overkill (1979)
No Class (1979)
Bomber (1979)
Ace of Spades (1980)
Motörhead (live) (1981)
Iron Fist (1982)
I Got Mine (1983)
Shine (1983)
Killed By Death (1984)
Deaf Forever (1986)
Eat The Rich (1987)
Ace of Spades (live) (1988)
The One To Sing The Blues (1991)
Hellraiser (1992)
Don't Let Daddy Kiss Me (1993)
Born To Raise Hell (1994)
God Save The Queen (2000)
Whorehouse Blues (2004)
EPs
The Golden Years (1980)
Beer Drinkers and Hell Raisers (1980)
St. Valentine's Day Massacre EP (1981)
Stand by Your Man (1982)
'92 Tour EP (1992)
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