No final dos anos 60, na cidade
de Birmigham, surgiu uma das melhores bandas da psicodelia inglesa,
o Move. Liderados pelo excêntrico e genial Roy Wood, lançou
alguns discos excepcionais, ótimos compactos - o mais famoso
é "I Can Hear the Grass Grow", antes de se dissolverem
e Roy começar uma errática carreira-solo. Um tesouro
pouco lembrado nos dias de hoje.
O
Move nasceu na cidade de Birmigham, em 1966.
Os integrantes do grupo
frequentavam as bandas locais, especializadas em tocar canções
famosas e, segundo a lenda, o Move nasceu após Chris "Ace"
Kefford e Trevor Burton encontrarem um jovem de nome Davy Jones,
que liderava o Davy Jones & The Lower Third, no clube Cedar.
Davy aconselhava os dois
a montar um grupo com composições próprias
para obterem sucesso. No futuro Davy Jones ficaria famoso com
outro nome: David Bowie.
Assim, os dois começam
a montar um grupo e convidam Roy Wood, que tocava com Mike Sheridan
and The Nightriders; o cantor Carl Wayne e o baterista Bev Bevan,
que era integrante do Denny Laine and the Diplomats, antes de
Laine sair pra ingressar no Moody Blues. Ace ficaria com o baixo
e Trevor com a segunda guitarra.
Foi
em uma reunião no Cedar Club, em 1966, que a banda começou
a nascer. Bevan dizia que a banda devia buscar o sucesso antes
de ficarem velhos demais.
O grupo começou
a ensaiar e logo viram que eles tinha futuro.
A estréia acontece
em fevereiro de 1966, no hotel Bellfry, em Birmigham.
A idéia do nome
The Move nunca ficou bem claro, embora existam algumas lendas.
O importante é The Move era atraente e simples como The
Who.
Como toda banda inglesa
dos anos 60, o Move começou se apropriando dos artistas
da Motown em seus shows, coisa que o Who fez muito, por exemplo.
O Move se destacava com
belos arranjos vocais. Wayne quase sempre ficava como vocalista
principal, mas todos tinham boas vozes, incluindo Roy e Ace. A
banda caminhava sem muita direção, quando tiveram
a sorte de conhecer Tony Secunda, um empresário de grande
inteligência e bem relacionado, que assinou com a banda
e arranjou um contrato de uma semana no Marquee.
Enquanto o público
crescia sem parar e os shows ficavam mais selvagens, Secunda queria
criar uma imagem forte para o grupo e propôs que todos deveriam
usar ternos e serem fotografados com metralhadoras e carrões,
ao melhor estilo anos 30.
Propôs algumas novidades
cênicas em palco, como destruir uma televisão no
palco. Tudo em nome da arte.
Secunda
queria que a banda começasse a escrever suas próprias
canções e ficou excitado quando descobriu que Roy
Wood tinha algumas composições engavetadas.
A primeira delas a ser
gravada foi Night of Fear, que virou um sucesso
impressionante, chegando ao segundo lugar na parada de compactos,
em janeiro de 1967. O lado B trazia "Disturbance".
O sucesso do compacto colocou
o Move entre os destaques dos novos grupos, e Roy Wood mostrava-se
inspirado. Em abril é a vez de outro compacto de enorme
repercussão, a psicodélica I Can Hear the
Grass Grow (Eu posso ouvir a grama crescer).
Em agosto é a vez
de outro compacto que ficou, também em segundo lugar, Flowers
in the Rain. Mas o Move sabia ousar nos arranjos, adicionando
belos toques psicodélicos e mostrando uma complexidade
sonora impressionante.
O curioso é que
o último compacto quase não conheceu a luz do dia,
já que o grupo não estava satisfeito com ela e ia
descartá-la quando o então arranjador e ainda desconhecido
Tony Visconti pediu para que o deixassem trabalhar na harmonia.
Deu no que deu.
Secunda
procurava de todas as maneiras promover o grupo, embora passasse
dos limites.
O primeiro grande pepino
aconteceu quando ele resolveu promover o compacto Flowers
in the Rain com um cartão postal onde aparecia
o primeiro-ministro inglês Harold Wilson com uma mulher
em uma cama, que era, por acaso, sua amante.
Wilson ficou furioso e
colocou o serviço secreto na cola do grupo, para a alegria
de Secunda - uma espécie de pré-Malcolm McLaren
- e horror da banda. Eles acabaram processados, mas um acordo
judicial foi feito, com Wood sendo obrigado a dar todos os
royalties da canção para instituições
de caridade.
O processo o fim da relação
de Secunda com a banda, que passou a ser empresariada por Don
Arden, que tinha fama de ser durão e até despótico
com seus contratados.
Roy Wood começava
a ganhar fama como um compositor talentoso, mas com idéias,
no mínimo, estranhas, quando não bizarras e de gosto
duvidoso. Ao sugerir que a canção "Cherry Blossom
Clinic" - que falava dos tratamentos psiquiátricos
em manicômios - fosse o novo compacto, a gravadora recusou.
Ela acabaria, porém, entrando no primeiro LP do grupo.
Arden os colocou em uma
excursão, em novembro de 1967, com o The Jimi Hendrix Experience,
Pink Floyd e o Amen Corner. A excursão se tornou problemática,
já que Ace começou a mostrar fortes sinais de depressão
e tinha ataques de pânico, causado pelo maciço uso
de LSD, que resultaria em sua saída, em 1968.
A amizade com Hendrix faria
que participassem do segundo disco dele, Axis Bold As
Love fazendo backing vocals em "You Got Me Floatin".
Mas
antes da saída de Ace, é lançado o primeiro
LP, The Move, um dos melhores discos psicodélicos
de todos os tempos.
Seria o único registro
de estúdio com a formação clássica
e um dos mais belos álbuns de estréia de uma banda.
O disco acabaria tendo inúmeras edições ao
longo dos anos e ficaria na 15ª posição no
Reino Unido.
Nele, Roy Wood tomaria
de vez a frente do grupo assinando 10 das 13 composições.
Tendo o pianista Nicky
Hopkins como convidado, além do arranjador Tony Visconti
e com produção de Denny Cordell, o LP mostrava um
grupo exuberante, extremamente coeso e com as peculiares letras
de Wood.
O álbum original
tinha as seguintes músicas:
Lado A
1. "Yellow Rainbow"
(Wood) – 2:35+
2. "Kilroy Was Here" (Wood) – 2:43+
3. "(Here We Go Round) The Lemon Tree" (Wood) –
2:59
4. "Weekend" (Post) – 1:46
5. "Walk Upon The Water" (Wood) – 3:22
6. "Flowers in the Rain" (Wood) – 2:29
7. "Hey Grandma" (Miller/Stevenson) – 3:11
Lado B
1. "Useless Information"
(Wood) – 2:56
2 . "Zing Went The Strings Of My Heart" (Hanley) –
2:49
3 . "The Girl Outside" (Wood) – 2:53 (stereo version
features a different vocal)
4 . "Fire Brigade" (Wood) 2.22+
5 . "Mist On a Monday Morning" (Wood) – 2:30
6 . "Cherry Blossom Clinic" (Wood) – 2:30
Em 1998 foi lançado
uma edição dupla, em CD, e o segundo disco trazia
as seguintes faixas:
14. "Night of Fear"
(Wood)
15. "Disturbance" (Wood)
16. "I Can Hear the Grass Grow" (Wood)
17. "Wave Your Flag and Stop the Train" (Wood)
18. "Vote for Me" (Wood)
19. "Disturbance [Alternate Version][Alternate Take]"
(Wood)
20. "Fire Brigade [Alternate Version][Alternate Take]"
(Wood)
21. "Second Class (She's Too Good for You) [Roy Wood Solo
Track]" (Wood)
22. "Cherry Blossom Clinic" (Wood)
23. "(Here We Go Round) The Lemon Tree [Stereo Version]"
(Wood)
24. "Weekend [Stereo Version]" (Wood)
25. "Flowers in the Rain [Stereo Version]" (Wood)
26. "Useless Information [Stereo Version]" (Wood)
27. "Zing! Went the Strings of My Heart [Stereo Version]"
(Hanley)
28. "Girl Outside [Stereo Version]" (Wood)
29. "Walk Upon the Water [Stereo Version]" (Wood)
Em
junho do mesmo ano, é editado um EP gravado ao vivo dia
27 de fevereiro de 1968, no Marquee, em Londres, Something
Else from The Move, que trazia cinco músicas,
todas covers:
O EP abria com um clássico
dos Byrds do disco Younger than Yesterday e continuava
com uma canção do grupo californiano Love, do disco
Da Capo.
A terceira era um clássico
de Eddie Cochran. O lado B trazia uma música de Jerry Lee
Lewis e outra do Spooky Tooth.
Assim, o EP tinha as seguintes
músicas:
Lado A
1. "So You Want to
Be a Rock 'n' Roll Star"
2. "Stephanie Knows Who"
3. "Something Else"
Lado B
1.
"It'll Be Me"
2 . "Sunshine Help Me"
Sem
Ace, que no futuro montaria as bandas The Ace Kefford Stand e
Brum Beat Ace Kefford, Trevor Burton assume o baixo e o Move vira
um quarteto.
Em fevereiro é editado
um novo compacto, Fire Brigade, terceiro lugar
na parada e, para muitos, a melhor composição já
feita pela banda.
Em julho é a vez
de outro compacto, Wild Tiger Woman, que naufraga
na parada, sendo o primeiro fracasso da banda.
Em compensação,
Blackberry Way torna-se primeiro lugar na Inglaterra,
em dezembro de 1968.
A banda sofreria nova baixa
em fevereiro de 1969, com a saíde de Burton, após
uma discussão com Bevan, no palco durante uma apresentação,
na Suécia.
O Move
estava às vésperas da primeira turnê norte-americana,
mas Burton estava cheio de tocar canções que considerava
pop demais e do domínio esmagador de Roy Wood. Ele acabaria
sendo substituído por Rick Price e é essa formação
que lança novo single, Curly (12º lugar na parada)
e prepara um novo LP.
A
excursão pelos Estados Unidos foi outro ponto baixo na
carreira, com shows quase vazios, pouca execução
nas rádios e poucas vendagens, depois de meses de adiamento
devido a saída de Burton.
Na volta, novos problemas.
O Move tinha um novo empresário, Peter Walsh, que tinha
comprado o contrato que o grupo tinha com Arden. E Walsh achou
boa idéia colocar a banda no circuito de cabarés,
para alegria do cantor Carl Wayne e desespero de Wood.
Além disso, Wayne
começava a causar várias brigas sobre quem deveria
ser a principal voz do Move.
Em fevereiro de 1970 é
lançado outro LP primoroso, Shazam. Muito
mais cru, pesado, tentando recriar em estúdio o clima dos
shows, o LP conta apenas com seis canções. Seria
o último LP com Wayne.
O lado A trazia três
composições originais de Roy e o lado B três
covers:
Lado A
1. "Hello Susie"
(Wood) – 4:55
2. "Beautiful Daughter" (Wood) – 2:36
3. "Cherry Blossom Clinic Revisited" (Wood) –
7:40
Lado B
4. "Fields Of People"
(Day/Pierson) – 10:09 (originally by Ars Nova)
5. "Don't Make My Baby Blue" (Mann/Weil) – 6:18
(originally by The Shadows)
6. "The Last Thing on My Mind" (Paxton) – 7:35
(originally by Tom Paxton and, more famously, Porter Wagoner &
Dolly Parton)
Irritado com os problemas,
Roy Wood tomou a banda sob suas rédeas e fez o Move voltar
a trabalhar com Don Arden e convidou Jeff Lynne, do grupo The
Idle Race, para entrar no lugar de Carl Wayne.
Aos
poucos, Wood e Lynne começariam a montar uma nova concepção
musical, e criariam o Electric Light Orchestra.
Com novo compacto, Brontosaurus,
sétimo lugar na parada, Roy Wood decide ousar e aparece
na televisão com roupas espalhafatosas e maquiagem, alguns
anos antes do surgimento do glam-rock.
Em dezembro de 1970, o
Move lança um novo LP, Looking On, o disco
mais eclético do grupo e é o primeiro trabalho com
Jeff Lynne. Os dois eram bancados por Arden para começarem
um novo grupo, mas enquanto desenvolviam o projeto, precisavam
lançar e promover o Move.
Assim, o Move só
existia por pressões de contrato, enquanto Wood sonhava
com a idéia de continuar onde os Beatles haviam parado
em "I Am the Walrus".
O disco trazia as seguintes
faixas:
Lado A
1. "Looking On"
(Wood) – 7:48
2. "Turkish Tram Conductor Blues" (Bevan) – 4:38
3. "What?" (Lynne) – 6:42
4. "When Alice Comes Back to the Farm" (Wood) –
3:40
Lado B
1.
"Open Up Said The World At The Door" (Lynne) –
7:10
2 . "Brontosaurus" (Wood) – 4:25
3 . "Feel Too Good" (Wood) – 9:30
Ao ser relançado em CD, no ano de
1998, trouxe as seguintes faixas extras:
8. "Wild Tiger Woman" (Wood)
9. "Omnibus" (Wood)
10. "Blackberry Way" (Wood)
11. "Something" (Dave Morgan)
12. "Curly" (Wood)
13. "This Time Tomorrow" (Morgan)
14. "Lightning Never Strikes Twice" (Price/Tyler)
15. "Something (Italian)" (Morgan)
16. "Wild Tiger Woman Blues" (Wood)
17. "Curly Where's Your Girlie" (Wood)
Em
1971, o canto do cisne, o último disco: Message
from the Country, editado em outubro.
A banda era na verdade
apenas Roy, Jeff e Bev Bevan. Rick Price chegou a participar como
baixista em todas as faixas, mas suas participações
acabaram sendo apagadas e refeitas por Wood.
Roy e Jeff já tinham
começado a escrever material para o primeiro disco do Electric
Light Orchestra, que seria lançado em dezembro do mesmo
ano, ou seja, dois meses depois.
A dupla Wood-Lynne estava
a mil e a capa do disco era um desenho de Wood em cima de uma
idéia de Jeff.
O disco trazia as seguintes
faixas:
Lado A
1. "Message From The Country"
(Jeff Lynne) – 4:45
2. "Ella James" (Roy Wood) – 3:11
3. "No Time" (Lynne) – 3:38
4. "Don’t Mess Me Up" (Bev Bevan) – 3:07
5. "Until Your Mama’s Gone" (Wood) – 5:03
Lado B
1. "It
Wasn’t My Idea to Dance" (Wood) – 5:28
2 . "The Minister" (Lynne) – 4:27
3 . "Ben Crawley Steel Company" (Wood) – 3:02
4 . "The Words of Aaron" (Lynne) – 5:25
5 . "My Marge" (Lynne-Wood) – 1:59
Ao ser editado, em CD, no ano de 2005,
trazia as seguintes faixas extras:
11. "Tonight" (Wood) –
3:15
12. "Chinatown" (Wood) – 3:06
13. "Down on the Bay" (Lynne) – 4:14
14. "Do Ya" (Lynne) – 4:03
15. "California Man" (Wood) – 3:35
16. "Don't Mess Me Up" (Alternate session version) (Wood)
– 3:18
17. "The Words of Aaron" (Alternate session version)
(Lynne) – 6:03
18. "Do Ya" (Alternate session version) (Lynne) –
7:00 (includes "hidden track" of "My Marge"
(Alternate session version) (Lynne-Wood))
O
álbum marca o fim do Move e o nascimento da ELO, Electric
Light Orchestra.
Em 1999 foi editada uma
caixa de três CDs, contendo os quatro LPs da banda, compacto
e o EP Somenthing Else from the Move: Movements:
30th Anniversary Anthology, hoje fora de catálogo.
A melhor opção
em catálogo - além dos LPs remasterizados em CD,
é a caixa Anthology 1966-1972.
Deixo vocês com a
discografia da banda. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Compactos
"Night of Fear"
(1967)
"I Can Hear the Grass Grow" (1967)
"Flowers in the Rain" (1967)
"Fire Brigade" February (1968)
"Wild Tiger Woman" (1968)
"Blackberry Way" (1968)
"Curly" (1969)
"Brontosaurus" (1970)
"When Alice Comes Back to the Farm" (1970)
"Tonight" (1971)
"Chinatown" (1971)
"California Man" (1972)
"Do Ya" (1972)
Discos
The Move (1968)
Something Else from The Move (EP, 1968)
Shazam (1970)
Looking On (1970)
Message from the Country (1971)
Split Ends (1972)
The Best of the Move (1974)
Great Move!: The Best of the Move (1992)
The BBC Sessions (1995)
Movements: 30th Anniversary Anthology (1999)
Singles: A's and B's (1999)
Omnibus. The 60s Singles As and Bs (1999)
The Very Best of the Move (2000)
Anthology 1966-1972 (2008)
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