A vida dos Mutantes mudou muito
em 1969. Perseguidos pelo regime militar, Caetano e Gil voaram
até Londres. O trio, embora com o baterista Dinho Leme,
começa a planejar vôos mais altos e lançam
o segundo disco, de nome apenas Mutantes. Uma evolução
clara em relação ao disco de estréia e a
certeza de que a banda tinha muito ainda a mostrar.
O
ano de 1969 foi marcado pelas mudanças à vista.
Após participarem
dos novos trabalhos de Gil e Caetano, os dois foram exilados e
os Mutantes eram um dos poucos integrantes dos tropicalistas.
Os Mutantes foram convidados
para participarem do MIDEM (Mostra Internacional do Disco e Edições
Musicais, em Paris, e se apresentariam com Gilberto Gil. Mas como
o músico baiano acabara preso pelo regime militar, a banda
acabou se apresentando sozinha.
Na
bagagem, um quarto integrante, o baterista Dinho Leme, que ainda
não era músico fixo e ex-integrante do grupo de
Ronnie Von.
O grupo aproveitou a estadia
para conhecer os modernos estúdios na capital francesa
e até participaram de um programa de televisão.
O grupo foi homenageado na França, onde eram chamados de:
"Les Mutants du Brésil: nouvelle tendences, nouvelles
idées, nouvelle vie (Os Mutantes do Brasil: novas
tendências, novas idéias, nova vida).
Poucos dias após
a volta do grupo da viagem, é editado o segundo LP,
Mutantes.
A essa altura, os Mutantes
já eram o mais importante e famoso grupo de rock do Brasil.
Mais maduros e com experiência, o disco é superior
ao disco de estréia.
O grupo conseguiu chocar
o público, ao mostrar Rita Lee em um vestido de noiva,
e grávida. A foto da contra-capa era igualmente audaciosa,
para época, pois os integrantes apareciam de ET e Rita
mostrava seis dedos.
O LP trazia as seguintes
músicas:
Lado 1
1. Dom Quixote (Arnaldo Batista / Rita
Lee)
2. Não Vá Se Perder Por Aí (Raphael Vilardi
/ Roberto Loyola)
3. Dia 36 (Johnny Dandurand / Mutantes)
4. Dois mil e um (Rita Lee / Tom Zé)
5. Algo Mais (Mutantes)
6. Fuga N° II dos Mutantes (Mutantes)
Lado 2
1. Banho de Lua (Tintarella di Luna) (B.
de Fillipi / F. Migliacci / versão: Fred Jorge)
2. Rita Lee (Mutantes)
3. Mágica (Mutantes)
4. Qualquer Bobagem (Tom Zé / Mutantes)
5. Caminhante Noturno (Arnaldo Baptista / Rita Lee)
"Dom
Quixote" já havia sido defendida no IV Festival da
Música Popular Brasileira, da Televisão Record.
O grupo teve o apoio da
banda Anteontem 56 e meio, embrião do Joelho de Porco.
A música trazia uma variedade de colagens, mostrando a
criatividade do grupo.
A segunda música
é uma das mais bem humoradas clássicas do grupo,
com a inesquecível frase "cuidado meu amigo, não
vá se estrepar, não queira dar o passo mais largo
que as pernas podem dar."
2001
trazia uma sensacional parceria de Rita e Tom Zé, que dividiam
os vocais cantando como se fosse uma dupla caipira. Há
momentos líricos, delicados como Fuga
N° II dos Mutantes.
O disco trazia uma cover
para "Banho de Lua", imortalizada na voz de Celly Campelo.
E Rita Lee ganhou uma homenagem do companheiro Arnaldo, na deliciosa
"Rita Lee": "Rita Lee foi passear / Rita Lee vai
encontrar o amor..."
O disco encerrava um período
turbulento para o grupo. Os Mutantes começaram a ser freqüentadores
assíduos de festivais. Em julho de 1968 participariam do
Festival Nacional de MPB, da TV Excelsior, com "Mágica",
além de cantarem a rara "Glória Ao Rei dos
Confins do Além", no mesmo festival.
O grupo acompanhou Caetano
Veloso na polêmica "É proibido proibir",
no 3º Festival Internacional da Canção, da
Rede Globo. A banda acabou sendo vítima de vários
compositores, que pediam a expulsão do grupo, por terem
uma canção própria no mesmo festival, "Caminhante
Noturno".
E,
no meio de tanta polêmica, uma estrela começava a
aparecer mais: Rita Lee. A linda jovem virou ícone dos
jovens e começou a chamar a atenção da Phillips,
que queria lançá-la em carreira-solo e forçava
até a saída dos Mutantes.
O grupo participara do
filme As Amorosas, tocando "Misteriosas
Rosas Brancas" e "O Tigre", e a cantora ganhou
muito mais destaque do Arnaldo e Sérgio.
Mas Rita ainda era um mutante
e o grupo olhava ansioso para o futuro e novos projetos.
Mas isso é papo
para outro dia. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Compactos
Suicida/Apocalipse (1966)
É Proibido Proibir/Ambiente de Festival (com Caetano Veloso)
(1968)
A Minha Menina/Adeus Maria Fulô (1968)
Dois Mil e Um/Dom Quixote (1969)
Ando Meio Desligado/Não Vá Se Perder Por Aí
(1969)
Top Top/It's Very Nice Pra Xuxu (1971)
Mande Um Abraço Pra Velha (1972)
EPs
A Voz do Morto/Baby/Marcianita/Saudosismo
(com Caetano Veloso) (1968)
Fuga nº II/Adeus, Maria Fulô/Dois Mil e Um/Bat Macumba
(1969)
Hey Boy/Desculpe Babe/Ando Meio Desligado/Preciso Urgentemente
Encontrar Um Amigo (1970)
Cavaleiros Negros/Tudo Bem/Balada do Amigo (1976)
Discos e CDs
Os Mutantes (1968)
Mutantes (1969)
A Divina Comédia ou Ando Meio Desligado (1970)
Jardim Elétrico (1971)
Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets (1972)
Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974)
Mutantes Ao Vivo (1976)
Algo Mais (1986)
O A e o Z (1992)
Personalidade: Mutantes (1994)
Millenium: Os Mutantes (1999)
Everything is Possible: The Best of Os Mutantes (1999)
Tecnicolor (2000)
A arte de Os Mutantes (2006)
Mutantes Ao Vivo - Barbican Theatre, Londres 2006 (2006)
De Volta Ao Planeta Dos Mutantes (2006)
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