Bruce Springsteen é um
dos maiores ícones do rock norte-americano. Apelidado de
"The Boss" pelos fãs que o veneram berrando "Brruucceee!"
nos shows, Springsteen é um grande contador de histórias,
seguindo uma linhagem que começou com Woody Guthrie, Pete
Seeger, Bob Dylan, entre outros. Com uma sensível e apurada
visão da sua América querida, Bruce tornou-se um
dos mais importantes e afamados músicos de todos os tempos
e um dos maiores performers que o rock já conheceu.
Bom, há anos
eu ensaio uma bio completa sobre Bruce e tinha planos para começar
nesse ano. Mas tenho escrito tão pouco, se comparado a
2008, que vou primeiro falar de um disco que gosto muito e feito
de material e por isso optei, primeiro, em falar desse disco lançado
em 1982, inteiramente acústico e sem a presença
dos fiéis escudeiros da E-Street Band.
Nebraska
traz a marca da ousadia,
algo que só os grandes artistas têm peito de fazer.
Afinal, durante 10 anos Bruce foi um dos maiores nomes do rock
ianque, desde o estouro com Born to Run, em 1975,
quando muitos o catalogaram como o novo Bob Dylan, para horror
de ambos.
Com uma vida onde o palco
é sua casa - e Bruce valoriza cada dólar dos fãs,
tocando por mais de duas horas e sempre no limite - vivia um momento
de extremo prestígio após o aclamadíssimo
disco duplo The River.
Bruce sempre teve um ritmo
irregular em termos de lançamento, não se obrigando
a lançar um disco a cada ano. Seus sumiços são
entendidos pelos fãs e seus álbuns são comprados
avidamente sempre que aparece um novo, mesmo hoje, quase 40 anos
após seu disco de estréia.
Essa independência
de não lançar disco atrás de disco, fez dele
um artista que entra em estúdio só quando realmente
tem algo a dizer.
E Bruce resolveu fazer
o inesperado: após cinco álbuns elétricos,
dispensou a E-Street Band e começou a gravar sozinho algumas
canções. Sua idéia era gravar apenas umas
bases em sua casa em um gravador de quatro canais, com instrumentos
acústicos.
Porém, ao contrário
dos álbuns anteriores, as novas composições
mostravam um homem desiludido com a América, uma nação
que simplesmente não entrega a "terra prometida"
aos norte-americanos, que vêem seus sonhos devastados.
Springsteen
sempre gostou do tema, tocado em alguns dos seus grandes clássicos,
como "The River".
A curiosidade é
que agora Bruce não dá trégua ao ouvinte,
abordando temas pesados e densos para o consumidor médio.
Enquanto as canções
eram escritas, Bruce percebeu que elas não deveriam ter
uma banda "suavizando" as letras.
Seu desejo era gravar,
ele mesmo, todos os instrumentos, utilizando apenas elementos
acústicos. Lembre-se que estávamos em 1982, quase
10 anos antes da moda "unplugged" e que era extremamente
fora do padrão um grande rock star se despir dessa
forma.
Quando soube do projeto,
a Columbia Records foi chocada: um de seus maiores astros iria
abandonar o grupo e tocar folk music, ainda por cima, gravada
de maneira crua, com Bruce cantando baixo, de maneira apressada
e muitas vezes engolindo as palavras? E as letras? Apenas más
notícias, nenhum hit em potencial, como vender aquilo?
As 10 canções
foram gravadas em único dia em sua casa, em New Jersey,
no dia 3 de janeiro de 1982.
O disco abre com uma das
histórias mais macabras já escritas, por ele, a
faixa-título, onde conta a real história do serial
killer Charles Starkweather, de 19 anos, condenado à
morte, levado ao corredor da morte.
Ao
longo do disco, Bruce mostra um lado soturno, amargo dos Estados
Unidos. Bruce tem algumas simbologias interessantes, como carros
e estradas e isso se mostra em faixas como "State Trooper"
- relato de um patrulheiro honesto que persegue, na estrada, o
irmão que matou uma pessoa e o deixa escapar de maneira
proposital, não cumprindo seu dever.
Nebraska é um disco
denso, intimista demais e que demorou oito meses para ser lançado.
Vendo que seu astro não cederia às pressões,
a Columbia exigiu que ao menos o álbum tivesse uma qualidade
sonora melhor.
Ao ser editado, Nebraska
trazia as seguintes faixas:
Lado A
1. "Nebraska"
– 4:32
2. "Atlantic City" – 4:00
3. "Mansion on the Hill" – 4:08
4. "Johnny 99" – 3:44
5. "Highway Patrolman" – 5:40
6. "State Trooper" – 3:17
Lado B
01. "Used Cars"
– 3:11
02. "Open All Night" – 2:58
03 . "My Father's House" – 5:07
04. "Reason to Believe" – 4:11
Todos
os temores da Columbia mostraram-se exagerados: o disco recebeu
elogios rasgados dos jornalistas, chegou ao terceiro posto nas
paradas e teve o single Atlantic City, no top
10. O prestígio de "The Boss" mostrava-se intacto.
Após o lançamento,
a estrada era o caminho natural e Bruce ficou quase dois anos
com shows (como esse, ao lado de Jackson Browne), enquanto
gestava a segunda grande virada em sua carreira: Born in the U.S.A.
Mas isso é papo
para outra coluna, que espero não demora muito.
Um abraço e até
mais.
Discografia
Greetings from Asbury Park,
N.J. (1973)
The Wild, the Innocent & the E Street Shuffle (1973)
Born to Run (1975)
Darkness on the Edge of Town (1978)
The River (1980)
Nebraska (1982)
Born in the U.S.A. (1984)
Bruce Springsteen & the E Street Band Live/1975-85 (1986)
Tunnel of Love (1987)
Human Touch (1992)
Lucky Town (1992)
In Concert/MTV Plugged (1993)
The Ghost of Tom Joad (1995)
Greatest Hits (1995)
Tracks (1998)
18 Tracks (1999)
Live in New York City (2001)
The Rising (2002)
The Essential Bruce Springsteen (2003)
Devils & Dust (2005)
We Shall Overcome: The Seeger Sessions (2006)
Hammersmith Odeon London '75 (2006)
Magic (2007)
Live in Dublin (2007)
Working on a Dream (2009)
Greatest Hits (2009)
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