O mundo musical
é cheio de reciclagens, releituras e vários "res"
que nada mais significam que artistas se inspirando em outros,
ou em determinados gêneros, de tempos passados, para alavancar
a sua carreira e, a partir desta consolidada, fazer um som realmente
próprio. Se mais de um grupo faz esta releitura, sempre
aparece um jornalista espertinho de plantão para criar
um "movimento". Já vimos e vemos vários
casos: Nu-Metal, Neo Folk, New Wave of the New Wave, Romo (uma
atualização dos New Romantics, na metade dos anos
90) e outros. O mais efêmero desses hypes, com certeza,
foi o New Glam, criado com o aparecimento de duas bandas fortemente
inspiradas no glam dos anos 70 (leia-se David Bowie e T. Rex),
que foram o Suede e o The Auteurs. Porém, como nenhuma
outra se arriscou a ir por esse caminho à época
(primeira metade dos anos 90), a classificação desapareceu
tão rapidamente quanto foi criada.
Nesta coluna, faço uma rápida descrição
dos "pilares" deste movimento. Uma estourou e virou
mito, o Suede. Outra despertou muito interesse no primeiro trabalho
e depois foi desprezada pela mídia, o The Auteurs.
Suede,
o mito
Surgido
em 1992, no meio dos furacões shoegazer (com Ride
e My Bloody Valentine no auge da forma) e Indie Dance (bandas
de Madchester à frente - Stone Roses, Happy Mondays e Inspiral
Carpets), o Suede chamou a atenção de todos por
fazer um som que destoava do que era hype à época.
Fortemente influenciado
por David Bowie e Marc Bolan, do T. Rex, o vocalista e líder
Brett Anderson hipnotizava platéias com suas performances
teatralizadas, o que levou também a ser comparado com Morrissey.
Contando com o magnífico
guitarrista Bernard Butler (somente no primeiro álbum,
Suede, já que Brett e Butler brigaram
antes de sair o segundo, Dog Man Star), autor
de memoráveis riffs, como em Metal Mickey, o Suede foi
capaz de entusiasmar tanto os entorpecidos do Indie Dance
como as "viúvas" dos Smiths, e alcançou
com isso o estrelato pop.
O primeiro disco, com o mesmo nome da banda, realmente trazia
novos ares para o rock britânico, e era glam até
a medula. Dog Man Star, o sucessor, é
considerado o melhor da discografia por muitos fãs, entretanto,
as várias baladas em piano traziam um clima mais "down".
Talvez fossem resultado do ambiente ruim que se criou na banda
com a ruptura entre Brett e Butler.
Com a chegada de dois novos integrantes à banda, especialmente
o talentoso guitarrista Richard Oakes, as coisas mudaram totalmente.
Coming Up mostra um Suede alegre e expansivo
- prova disso são várias canções "pra
cima", como "Lazy" e "Filmstar".
A
mesma linha é seguida em Head Music, enquanto
que o último álbum, A New Morning,
revela um Suede mais pretensioso, com arranjos de guitarra mais
elaborados e o vocal cada vez menos afetado de Brett Anderson.
A banda acabou em 2004
e, ironicamente, Brett Anderson, depois disso, reuniu-se com o
ex-desafeto Bernard Butler para montar o The Tears, que soa igualzinho
ao Suede do primeiro disco.
Discografia
Discos
1993 Suede (Nude/Columbia)
1994 Dog Man Star (Nude/Columbia)
1997 Coming Up (Nude/Columbia)
1999 Head Music (Nude/Columbia)
2002 A New Morning (Columbia)
EPs e Singles
1992 The Drowners [Single]
Nude
1992 Metal Mickey [Single] Nude
1993 Animal Nitrate [Single] Nude
1993 So Young [Single] Nude
1994 Stay Together Nude/Columbia
1994 We Are the Pigs [Single] Nude
1994 The Wild Ones #2 [Single] Nude
1994 Wild Ones #1 [Single] Nude
1995 New Generation #1 [Single] Nude
1995 New Generation #2 [Single] Nude
1996 Trash #1 [Single] Nude
1996 Trash #2 [Single] Nude
1996 Beautiful Ones #1 [Single] Nude
1996 Stay Together #2 [Single] Nude
1997 Saturday Night #1 [Single] Nude
1997 Saturday Night #2 [Single] Nude
1997 Lazy #1 [Single] Nude
1997 Lazy #2 [Single] Nude
1997 Film Star #1 [Single] Nude
1997 Film Star #2 [Single] Nude
1999 Electricity #1 [Single] Nude
1999 Electricity #2 [Single] Nude
1999 Everything Will Flow #2 [Single] Nude
1999 Everything Will Flow [#1] Columbia/Nude
2000 She's in Fashion [#1] Nude
2000 She's in Fashion [#2] Nude
2002 Positivity Sony International
2003 Obsessions [UK CD#1] Sony International
2003 Obsessions [UK CD#2] Sony International
2003 Positivity [Germany CD #1] Sony International
2003 Instant Sunshine EP Epic
2003 Positivity [Germany CD #2] Sony International
2003 Attitude, Pt. 1 Sony International
2003 Attitude, Pt. 2 Sony International
The
Auteurs, os injustiçados
Quando
a crítica musical britânica criou o rótulo
New Glam, apenas duas bandas naquele momento se encaixavam na
denominação: Suede e The Auteurs. E mesmo assim
com várias ressalvas, já que a sonoridade de ambas
não era calcada somente em grandes nomes do glam rock como
David Bowie e T. Rex.
O The Auteurs é
o alter-ego do magnífico compositor Luke Haines, um dos
melhores de sua geração, um poeta capaz de tratar
com lirismo temas triviais como estacionar um carro no centro
da cidade, o enterro de um vizinho e coisas assim... O som é
grandioso, com belos e longos solos de guitarra que se encaixavam
com perfeição ao melancólico vocal de Haines,
por vezes sussurrado. Arranjos de cordas também ajudavam
a criar um clima bucólico e romântico em várias
canções.
New
Wave, sem nenhum ponto fraco, é o primeiro dos
Auteurs e um dos 5 melhores do pop britânico nos anos 90.
É daqueles discos que não se dá para indicar
uma ou outra música. Tem que se ouvir por inteiro.
O segundo disco, Now
I'm a Cowboy, segura a onda de suceder uma obra-prima,
sendo praticamente uma continuação de New
Wave, com outras temáticas. Esse disco foi o primeiro
a sair por uma major e, embora com alta qualidade musical, não
obteve sucesso comercial (como é comum ocorrer no Reino
Unido, os jornalistas musicais elevam uma banda no primeiro disco
para destruí-la no segundo, e foi isso o que aconteceu
com os Auteurs).
O resultado foi a saída
de Luke Haines & Cia da Virgin e a volta à Hut. No
terceiro trabalho, After Murder Park, Haines
aparece mais amargo e menos melódico, apelando para guitarras
agressivas ao invés de arranjos elaborados. O último
álbum lançado pelos Auteurs foi How I Learned
to Love the Bootboys, insignificante
perto dos dois primeiros, e que sinalizava para o final da banda.
A
partir daí, Luke Haines partiu para novas direções.
Montou o Black Box Recorder que, se não foi tão
elogiado quanto o Auteurs do disco New Wave,
tampouco foi desprezado pela crítica como nos 3 trabalhos
seguintes. Com vocal feminino, destoou bastante dos trabalhos
de Haines - já que o próprio é do tipo faz
tudo (compõe, toca e escreve).
Nos últimos anos,
Haines tem se dedicado a projetos-solo, pouco inspirados. Parece
que ele guardou toda sua inspiração para produzir
Das Kapital, em 2003, uma compilação de clássicos
dos Auteurs com arranjos orquestrais. Magnífico!
Talvez por dificuldades
financeiras ou mesmo por excesso de pretensão, Luke Haines
lançou em 2005 uma caixa de 3 CDs com todas as músicas
de Das Kapital, mais todos os b-sides e canções
ao vivo dos Auteurs. Um item para colecionador nenhum botar defeito!
Discografia
1993 New Wave (Hut/Caroline)
1994 Now I'm a Cowboy (Virgin)
1996 After Murder Park (Hut)
1999 How I Learned to Love the Bootboys (Hut)
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