04 - New Glam: Suede e The Auteurs

 

O mundo musical é cheio de reciclagens, releituras e vários "res" que nada mais significam que artistas se inspirando em outros, ou em determinados gêneros, de tempos passados, para alavancar a sua carreira e, a partir desta consolidada, fazer um som realmente próprio. Se mais de um grupo faz esta releitura, sempre aparece um jornalista espertinho de plantão para criar um "movimento". Já vimos e vemos vários casos: Nu-Metal, Neo Folk, New Wave of the New Wave, Romo (uma atualização dos New Romantics, na metade dos anos 90) e outros. O mais efêmero desses hypes, com certeza, foi o New Glam, criado com o aparecimento de duas bandas fortemente inspiradas no glam dos anos 70 (leia-se David Bowie e T. Rex), que foram o Suede e o The Auteurs. Porém, como nenhuma outra se arriscou a ir por esse caminho à época (primeira metade dos anos 90), a classificação desapareceu tão rapidamente quanto foi criada.
Nesta coluna, faço uma rápida descrição dos "pilares" deste movimento. Uma estourou e virou mito, o Suede. Outra despertou muito interesse no primeiro trabalho e depois foi desprezada pela mídia, o The Auteurs.


Suede, o mito

Surgido em 1992, no meio dos furacões shoegazer (com Ride e My Bloody Valentine no auge da forma) e Indie Dance (bandas de Madchester à frente - Stone Roses, Happy Mondays e Inspiral Carpets), o Suede chamou a atenção de todos por fazer um som que destoava do que era hype à época.

Fortemente influenciado por David Bowie e Marc Bolan, do T. Rex, o vocalista e líder Brett Anderson hipnotizava platéias com suas performances teatralizadas, o que levou também a ser comparado com Morrissey.

Contando com o magnífico guitarrista Bernard Butler (somente no primeiro álbum, Suede, já que Brett e Butler brigaram antes de sair o segundo, Dog Man Star), autor de memoráveis riffs, como em Metal Mickey, o Suede foi capaz de entusiasmar tanto os entorpecidos do Indie Dance como as "viúvas" dos Smiths, e alcançou com isso o estrelato pop.

capa do primeiro disco, Suede O primeiro disco, com o mesmo nome da banda, realmente trazia novos ares para o rock britânico, e era glam até a medula. Dog Man Star, o sucessor, é considerado o melhor da discografia por muitos fãs, entretanto, as várias baladas em piano traziam um clima mais "down". Talvez fossem resultado do ambiente ruim que se criou na banda com a ruptura entre Brett e Butler.


Com a chegada de dois novos integrantes à banda, especialmente o talentoso guitarrista Richard Oakes, as coisas mudaram totalmente. Coming Up mostra um Suede alegre e expansivo - prova disso são várias canções "pra cima", como "Lazy" e "Filmstar".

A mesma linha é seguida em Head Music, enquanto que o último álbum, A New Morning, revela um Suede mais pretensioso, com arranjos de guitarra mais elaborados e o vocal cada vez menos afetado de Brett Anderson.

A banda acabou em 2004 e, ironicamente, Brett Anderson, depois disso, reuniu-se com o ex-desafeto Bernard Butler para montar o The Tears, que soa igualzinho ao Suede do primeiro disco.

Discografia

Discos

1993 Suede (Nude/Columbia)
1994 Dog Man Star (Nude/Columbia)
1997 Coming Up (Nude/Columbia)
1999 Head Music (Nude/Columbia)
2002 A New Morning (Columbia)

EPs e Singles

1992 The Drowners [Single] Nude
1992 Metal Mickey [Single] Nude
1993 Animal Nitrate [Single] Nude
1993 So Young [Single] Nude
1994 Stay Together Nude/Columbia
1994 We Are the Pigs [Single] Nude
1994 The Wild Ones #2 [Single] Nude
1994 Wild Ones #1 [Single] Nude
1995 New Generation #1 [Single] Nude
1995 New Generation #2 [Single] Nude
1996 Trash #1 [Single] Nude
1996 Trash #2 [Single] Nude
1996 Beautiful Ones #1 [Single] Nude
1996 Stay Together #2 [Single] Nude
1997 Saturday Night #1 [Single] Nude
1997 Saturday Night #2 [Single] Nude
1997 Lazy #1 [Single] Nude
1997 Lazy #2 [Single] Nude
1997 Film Star #1 [Single] Nude
1997 Film Star #2 [Single] Nude
1999 Electricity #1 [Single] Nude
1999 Electricity #2 [Single] Nude
1999 Everything Will Flow #2 [Single] Nude
1999 Everything Will Flow [#1] Columbia/Nude
2000 She's in Fashion [#1] Nude
2000 She's in Fashion [#2] Nude
2002 Positivity Sony International
2003 Obsessions [UK CD#1] Sony International
2003 Obsessions [UK CD#2] Sony International
2003 Positivity [Germany CD #1] Sony International
2003 Instant Sunshine EP Epic
2003 Positivity [Germany CD #2] Sony International
2003 Attitude, Pt. 1 Sony International
2003 Attitude, Pt. 2 Sony International


The Auteurs, os injustiçados

Luke HainesQuando a crítica musical britânica criou o rótulo New Glam, apenas duas bandas naquele momento se encaixavam na denominação: Suede e The Auteurs. E mesmo assim com várias ressalvas, já que a sonoridade de ambas não era calcada somente em grandes nomes do glam rock como David Bowie e T. Rex.

O The Auteurs é o alter-ego do magnífico compositor Luke Haines, um dos melhores de sua geração, um poeta capaz de tratar com lirismo temas triviais como estacionar um carro no centro da cidade, o enterro de um vizinho e coisas assim... O som é grandioso, com belos e longos solos de guitarra que se encaixavam com perfeição ao melancólico vocal de Haines, por vezes sussurrado. Arranjos de cordas também ajudavam a criar um clima bucólico e romântico em várias canções.

capa do disco New WaveNew Wave, sem nenhum ponto fraco, é o primeiro dos Auteurs e um dos 5 melhores do pop britânico nos anos 90. É daqueles discos que não se dá para indicar uma ou outra música. Tem que se ouvir por inteiro.

O segundo disco, Now I'm a Cowboy, segura a onda de suceder uma obra-prima, sendo praticamente uma continuação de New Wave, com outras temáticas. Esse disco foi o primeiro a sair por uma major e, embora com alta qualidade musical, não obteve sucesso comercial (como é comum ocorrer no Reino Unido, os jornalistas musicais elevam uma banda no primeiro disco para destruí-la no segundo, e foi isso o que aconteceu com os Auteurs).

O resultado foi a saída de Luke Haines & Cia da Virgin e a volta à Hut. No terceiro trabalho, After Murder Park, Haines aparece mais amargo e menos melódico, apelando para guitarras agressivas ao invés de arranjos elaborados. O último álbum lançado pelos Auteurs foi How I Learned to Love the Bootboys, insignificante perto dos dois primeiros, e que sinalizava para o final da banda.

Luke HainesA partir daí, Luke Haines partiu para novas direções. Montou o Black Box Recorder que, se não foi tão elogiado quanto o Auteurs do disco New Wave, tampouco foi desprezado pela crítica como nos 3 trabalhos seguintes. Com vocal feminino, destoou bastante dos trabalhos de Haines - já que o próprio é do tipo faz tudo (compõe, toca e escreve).

Nos últimos anos, Haines tem se dedicado a projetos-solo, pouco inspirados. Parece que ele guardou toda sua inspiração para produzir Das Kapital, em 2003, uma compilação de clássicos dos Auteurs com arranjos orquestrais. Magnífico!

Talvez por dificuldades financeiras ou mesmo por excesso de pretensão, Luke Haines lançou em 2005 uma caixa de 3 CDs com todas as músicas de Das Kapital, mais todos os b-sides e canções ao vivo dos Auteurs. Um item para colecionador nenhum botar defeito!

Discografia

1993 New Wave (Hut/Caroline)
1994 Now I'm a Cowboy (Virgin)
1996 After Murder Park (Hut)
1999 How I Learned to Love the Bootboys (Hut)