Todo começo
é difícil, traumático. Imagine então
o que não sentiam o trio remanescente do Joy Division após
a morte de Ian Curtis. O sucesso que estava tão perto deu
adeus. Peter Hook, Steve Morris e Bernard Albrecht nem tiveram
tempo para digerir o acidente. Trataram de levantar a poeira,
fundaram o New Order e partiram para a tal turnê norte-americana
como um trio e com Steve Morris cantando. Na volta seria acrescida
a tecladista e guitarrista Gillian Gilbert. Dessa maneira, nascia
o New Order, que lançaria o primeiro disco ao final de
1981.
Não
havia tempo. Essa era a premissa básica do trio remanescente
do Joy Division.
Ficar curtindo a dor e
a raiva pela morte de Ian Curtis não ia resolver o impasse
criado com sua morte.
O Joy Division estava acabado,
isso era definitivo. Colocar outro cantor em seu lugar seria tolo.
Melhor enterrar o passado glorioso e recomeçar.
Por isso Bernard Albrecht
(ou Bernard Sumner ou Barney Sumner), Steve Morris (ou Steven
Morris ou ainda Stephen Morris) e Peter Hook resolveram continuar
a carreira como uma banda.
Bernard relatou bem o que
significou a perda de Ian: "eu jamais consegui assimilar
o ocorrido. Como amigo, significa demais para mim. A amizade sempre
foi o mais importante para nós, era o que produzia nossa
música. E Ian era um bom amigo."
Ainda
assim, o grupo continuou a vida e em julho entrou em um estúdio
de Sheffield e produziram quatro músicas: "Dreams
Never End", "Homage", Ceremony" e "Truth".
Na verdade, "Ceremony", fazia parte do repertório
do Joy e havia sido apresentada pela banda no último show
do grupo, na Universidade de Birmigham.
Ela e "In A Lonely
Place (Little Boy)", jamais gravada com a voz de Ian, foram
as únicas duas conservadas pelos demais integrantes. As
sessões foram comandadas por Chris Watson do Cabaret Voltaire.
Vale ressaltar que no mesmo
mês era lançado Closer, segundo
LP do Joy Division.
E foi com imensa surpresa
que o empresário Rob Gretton anunciou que o trio restante
iria abrir o show do A Certain Ratio, já que a banda Names,
da Bélgica, não podia comparecer ao evento. O palco
do The Beach ficou pequeno demais para o imenso P.A de 2000 watts
que a banda levou, em uma casa que comportava apenas 100 pessoas.
A banda se apresentou como
"the no-names" e consta que fizeram uma apresentação
bastante satisfatória. Após
o show, resolveram que era hora de dar um novo nome ao trio restante.
Quando Rob Gretton trouxe
um jornal com o título "The people's New Order of
Kampuchea", todos acharam interessante "New Order".
Mas já havia existido uma banda anterior com esse nome,
formada pelo ex-guitarrista dos Stooges, Ron Asheton, em 1975
e que lançou um disco em 1977 de forte inspiração
nazista. E poderia outra vez recair o fantasma do nazismo sobre
os integrantes, coisa que já havia ocorrido nos tempos
de Joy Division. Temiam que outros pudessem se lembrar dos planos
de Adolf Hitler de conquistar a Europa, criando uma "nova
ordem" no continente. Mas o nome já estava escohido.
Vale salientar que haviam
outros escolhidos: Stevie and the JDs - já que o bateria
Steve Morris havia sido o vocalista da demo; Sunshine Valley Dance
Band e The Eternal.
O
trio resolveu que iria começar por onde o Joy tinha parado,
a excursão americana.
Dessa forma, marcou alguns
shows primeiro na Inglaterra, um em Liverpool, no dia 4 de setembro
(no Brady's) e outro, no dia 5, em Blackpool (no Scamp's).
No dia 20 de setembro,
o grupo fazia o primeiro show na América, tocando no Maxwell's
Hoboken, em New Jersey. A estadia na cidade acabou sendo histórica
por alguns motivos: Martin Hannett achou um pequeno estúdio
que cobrava US$ 55 doláres a hora chamado Eastern Artists
Recording Studios onde passaram 12 horas no dia 22 e 11 horas
no dia 23 gravando "Ceremony" e "In A Lonely Place",
que seria o primeiro compacto do grupo.
Mas a sorte foi madrasta
com eles, quando tiveram a perua com quase US$ 40 mil dólares
em equipamento roubada na porta do hotel em que estavam hospedados,
em Manhattan.
Por causa desse contratempo,
tiveram que alugar não apenas outra perua, mas como novos
equipamentos e mudar as datas do show de Boston.
O
próximo concerto aconteceu no Hurra's, em Nova York, onde
o Joy Division faria sua primeira apresentação na
América. Nesse dia, o New Order abriu para o A Certain
Ratio e os shows receberam críticas moderadas.
O grupo realizou mais duas
apresentações, tendo Steve como cantor - Tier 3,
no dia 27 de setembro, em Nova York e no Underground Boston, no
dia 30 - e quando voltaram para a Inglaterra, no dia 02 de outubro,
fizeram uma reunião para resolver quem faria o que na nova
banda. Com Steve nos vocais, precisariam usar uma bateria eletrônica.
E não era uma boa idéia ter um vocalista/baterista
que ficasse longe da platéia.
Pensaram também
em trazer um cantor chamado Alan Hempsall do Crispy Ambulance,
idéia rapidamente abortada. Como Peter não queria
cantar, acabou sobrando para Bernard, que tinha uma boa voz.
Porém, Steve ainda
queria mais um integrante para o grupo e logo sugeriu uma amiga
sua de Macclesfield, que poderia tocar guitarra e sintetizador:
Gillian Gilbert. Ela era uma velha conhecida dos rapazes desde
os tempos de Warsaw, primeiro nome do Joy Division.
Gillian conta que ficou
muito feliz, pois já era fã de longa data do Joy
Division. Assim, como um quarteto, fizeram o primeiro show em
Manchester, no The Squat, no dia 25 de outubro de 1980.
Passada a estréia
em casa, o grupo passou cinco dias no Cargo Studios para ensinar
Gillian a trabalhar em uma gravação. Após
isso iriam para o estúdio Strawberry regravar "Ceremony".
Com Gillian mais integrada,
fizeram a primeira excursão pela Europa, começando
na Holanda, onde o Joy Division possuía uma imensa legião
de fãs.
O show aconteceu em 13
de dezembro, em Roterdã. Bernard anunciava, sem graça,
às platéias, que não iriam tocar música
algum do Joy, antes de se desculpar.
E
o culto ao ex-grupo crescia de maneira assustadora.
John Peel, o lendário
radialista da BBC, fez uma lista com as 50 músicas mais
pedidas de seus ouvintes - "The Festive Fifty" - e o
grupo entrou com sete canções: "Atmosphere"
(2º lugar); "Love Will Tear Us Apart" (3º);
"Transmission" (10º); "Decades" (14º);
"New Dawn Fades" (20º); "She's Lost Control"
(22º) e "24 Hours" (41º). Era realmente muita
pressão.
Ainda antes, em setembro
a Factory lança um single póstumo do Joy Division
contendo as canções "Atmosphere" e "She's
Lost Control". Uma nova turnê
pela Inglaterra começou e também os problemas.
O que eles mais temiam
acabou virando realidade: alguns jornalistas impiedosamente atacaram
o quarteto por causa do nome escolhido "New Order".
Enquanto alguns elogiavam
a escolha, outros os chamavam de irresponsáveis e perguntavam
se com o tempo eles não veriam a má escolha e arranjariam
um mais apropriado.
Alheio à polêmica,
o grupo finalmente lançou o primeiro compacto, contendo
as canções "Ceremony" e "In A Lonely
Place".
A
capa mais uma vez estava a cargo de Peter Saville que usou uma
tipografia eclesiástica chamada "Albertus" e
o single vendeu mais de 100 mil cópias em duas semanas.
Infelizmente, por problemas
de distribuição entre os independentes, alcançou
apenas a 39ª posição na parada. Ainda assim,
um belo começo. O lançamento do compacto em sete
polegadas aconteceu no dia 22 de janeiro de 1981; o de 12 polegadas,
em 18 de março.
No dia 26 de janeiro, o
grupo gravou outro programa com John Peel que foi ao ar no dia
16 de fevereiro, com quatro músicas: "Dreams Never
End"; "Truth"; "Senses" e "I.C.B.",
abreviação de "Ian Curtis Burried".
Durante o segundo semestre
do ano, surgiram boatos de que a banda iria se separar, particularmente
por causa de algumas declarações de Peter Hook.
O baixista revelou que
chegou a deixar o grupo por dois dias e Bernard confirmou que
"certo integrante" o estava boicotando por causa de
sua presença no palco.
Hook
sempre foi a personalidade mais difícil, tanto que chegou
a afirmar que não sentiu muito a morte de Ian Curtis, pessoalmente,
mas sim profissionalmente. Disse
até que o via apenas como o cara que escrevia e cantava,
somente.
Vale lembrar que ele foi
o primeiro a receber a notícia do suicídio de Ian,
na hora do jantar. Peter disse que durante uma hora não
teve reação alguma, ficando apenas em um estado
de choque e procurando entender o que havia se passado.
Sobre
o New Order, Hook dizia que a banda iria se dissolver no Natal
daquele ano.
E, de fato, naquele período
esteve envolvido nas mixagens da demo dos grupo The Stockholm
Monsters, grupo no qual exerceria a função de empresário.
A separação
não ocorreu, tanto que aconteceram mais dois lançamentos:
um segundo single, Procession, e o primeiro LP
do New Order, Movement.
Isso sem falar em um novo
disco póstumo do Joy, o duplo Still, que
trazia faixas inéditas e o último show do grupo
ao vivo, em Birmigham.
Still trazia as seguintes
faixas:
Lado 1
1. "Exercise One"
– 3:06
2. "Ice Age" – 2:24
3. "The Sound of Music" – 3:55
4. "Glass" – 3:56
5. "The Only Mistake" – 4:17
Lado 2
1. "Walked in Line" – 2:47
2. "The Kill" – 2:15
3. "Something Must Break" – 2:48
4. "Dead Souls" – 4:53
5. "Sister Ray" (live) (John Cale, Sterling Morrison,
Lou Reed, Maureen Tucker) – 7:36
Lado 3
1. "Ceremony" (live) –
3:50
2. "Shadowplay" (live) – 3:57
3. "Means to an End" (live) – 4:01
4. "Passover" (live) – 5:10
5. "New Dawn Fades" (live) – 4:01
6. "Twenty Four Hours" (live) - 4:26 (bonus track on
some pressings)
Lado 4
1. "Transmission" (live) –
3:40
2. "Disorder" (live) – 3:24
3. "Isolation" (live) – 3:05
4. "Decades" (live) – 5:47
5. "Digital" (live) – 3:52
Procession
foi vítima de outro ataque mal-humorado dos detratores,
que viram no duplo "S" que aparece na capa uma citação
à SS Nazista.
Na verdade, Peter tentou
executar um grande "B", usando a tipografia Chancery
Itálica.
A capa saiu em vários
tons - amarelo, verde, marrom, azul, roxo, laranja, preto, nove
no total - e tendo "Everything's Gone Green" no lado
B.
E, no dia 14 de novembro,
sai o aguardado disco de estréia do grupo, Movement.
O álbum trazia oito
faixas, quatro de cada lado:
Lado A
01. "Dreams Never
End"
02."Truth"
03."Senses"
04."Chosen Time"
Lado B
01."I.C.B."
02."The Him"
03."Doubts Even Here"
04."Denial"
O
LP mostrava uma banda claramente tentando fugir da sombra do Joy
e com Bernard às vezes imitando Ian Curtis.
Desde que a antiga banda
acabara, os três integrantes originais não tiveram
tempo para um descanso e a indecisão do que fariam estava
clara nesse disco, mais uma vez produzido por Martin Hannett.
O New Order ainda não
tinha conseguido encontrar sua identidade e os vocais ficavam
quase inaudíveis, como se Bernard tivesse medo de cantar
ou ser comparado a Ian.
Não podemos nos
esquecer que havia se passado menos de 18 meses da morte de Ian
Curtis e o New Order tentava mudar de direção e
convencer novos fãs que não eram apenas uma pálida
continuação de um nome consagrado.
Antes do final do ano,
o grupo lança um novo compacto, com as canções
"Everything's Gone Green" (que havia sido lado B de
"Procession"), "Cries & Whispers" e "Mesh".
O desenho da capa foi feito
por Gillian e o da contra-capa por Bernard. "Everything's
Gone Green" começava a apontar um outro caminho para
o grupo, mais eletrônico.
Essa
vertente começaria a ser mais explorada no início
de 1982, quando ficaram de 5 a 9 de janeiro em Londres gravando
"Temptation" e "Hurt", uma nova e definitiva
virada na carreira do quarteto.
Para essas sessões
usaram o engenheiro Peter Wolliscroft, que entendia bastante de
equipamentos digitais.
O grupo passaria boa parte
de 1982 gravando e tocando ao vivo e mudando radicalmente sua
música. Mas isso é papo para outra coluna.
Discografia
Discos
Movement (1981)
1981-1982 (EP, 1982)
Power, Corruption & Lies (1983)
Low-life (1985)
Brotherhood (1986)
Substance 1987 (1987)
Technique (1989)
Peel Sessions (1990)
BBC Radio 1 Live In Concert (1992)
Republic (1993)
(the best Of) New Order (1994)
(the rest of) New Order (1995)
Get Ready (2001)
Before & After - The BBC Sessions - New Order & Joy Division
(2002)
International (2002)
Retro (caixa, 2004)
In Session (2004)
Waiting for Siren's Call (2005)
Singles (2005)
Singles
Ceremony (1981)
Procession (1981)
Everything's Gone Green (1981)
Temptation (1982)
Blue Monday (1983)
Thieves Like Us (1984)
Murder (1984)
The Perfect Kiss (1985)
Sub-culture (1985)
Shellshock (1986)
Shame/State (1986)
Bizarre Love Triangle (1986)
True Faith/1963 (1987)
Touched By The Hand Of God (1987)
Blue Monday 1988 (1988)
Fine Time (1988)
Round & Round (1989)
Run2 (1989)
World In Motion... (1990)
Regret (1993)
Ruined in a Day (1993)
World (The Price Of Love) (1993)
Spooky (1993)
True Faith-94 (1994)
1963 (1994)
Blue Monday-95 (1995)
Video 586 (1997)
Crystal (2001)
60 Miles An Hour (2001)
Someone Like You (2001)
Here to Stay (2002)
Confusion remixes '02 - Arthur Baker vs New Order (2002)
Soundtrack (2003)
Krafty (2005)
Jetstream (2005)
Waiting For The Sirens' Call (2005)
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