229 - New Order - Power, Corruption & Lies

Os anos de 1982 e 1983 serviram para o New Order moldar toda sua personalidade. Abandonando por completo o fantasma do Joy Division que os rondava, o grupo começou a partir para um som mais eletrônico e dançante. É o período também de dois dos maiores hits radiofônicos do grupo - "Temptation" e a mais do que clássica "Blue Monday". Além disso, o New Order lança aquele que pode ser considerado o seu melhor LP até hoje, o simplesmente belo e gélido Power, Corruption & Lies, estabelecendo-se com um dos mais importantes grupos independentes do planeta.


capa do compacto de 12 polegadas de Temptationcapa do compacto de 7 polegadas de Temptation

A nova faceta do New Order finalmente apareceu quando o novo compacto, Tempation, saiu, em abril de 1982. Foi a primeira vez em que o grupo usou uma gravação totalmente digital e para isso convidou Peter Wolliscroft para ajudá-los.

As capas ficaram novamente a cargo de Peter Saville, que se inspirou no futurismo italiano e os dois lançamentos traziam as mesmas canções: "Temptation" e "Hurt". A canção foi um tremendo sucesso nas paradas independentes e mostra o grupo mais eletrônico, bem dançante e mais solto. O fantasma do Joy Division começava a ser deixado para trás definitivamente.

A banda continou sua rotina de shows e no mesmo mês realizou shows tumultuadíssimos na Holanda - onde Peter Hook foi agredido com um soco por fãs -, Bélgica e França.

Voltaram para a Inglaterra, onde tocaram para um National Ballroom, em Kilburn, totalmente lotado com mais de duas mil pessoas.

Em junho, o grupo participa de novo programa de John Peel na BBC, e tocam quatro novas canções: "Turn the Heather On", "5.8.6", Too Late" e "We All Stand". "Turn the Heather" era uma das canções favoritas de Ian Curtis, de autoria de Keith Hudson que a lançou no disco Torch of Freedom.

O grupo seguiu em frente, dando shows lotados na Finlândia, Itália e, novamente, Inglaterra.

capa do EP 1981-1982Em novembro de 1982, a banda lança um EP chamado 1981-1982, que era uma coletânea, contendo cinco músicas: "Temptation", "Hurt", "Everything's Gone Green", "Procession" e "Mesh".

Originalmente lançado apenas no mercado norte-americano, o EP acabou sendo editado no Reino Unido depois de ser fartamente importado pelos fãs. Apesar de não apresentar canção nova, "Procession" possuía uma qualidade sonora superior ao compacto original.

O lançamento aconteceu às vésperas da primeira turnê à Oceania. O New Order realizou 10 shows na Austrália e na Nova Zelândia, e retornaram no dia 16 de dezembro para passar o Natal em casa.

E a Factory aproveitou da data natalina para lançar um novo single, desta vez no formato flexi-disc, em edição limitadíssima, contendo apenas duas canções: "Rocking Carol" e "Ode to Joy (Freude schoener Gotterfunken)."

As duas canções acabaram sendo gravadas por Tony Wilson, usando pedaços de canções utilizadas no Granada Report, programa televisivo. Apenas 4400 cópias foram feitas.

O grupo foi muitíssimo bem votado nas eleições de final de ano e John Peel considerou "Temptation" a canção do ano. No semanário New Musical Express ela ficou na 18ª posição.

O grupo não parava e tinha uma viagem planejada até New York onde iriam trabalhar com o produtor Arthur Baker, mas o atraso nas gravações do novo LP adiaram por um tempo.

Enquanto trabalhavam no novo disco, lançaram mais um compacto. Não era, porém, um compacto qualquer: Blue Monday.

Blue Monday é uma virada não apenas na carreira do New Order, mas de toda a música. A canção abre com um bumbo e se tornou um clássico de todos os tempos.

Inicialmente, ela teve uma boa acolhida na parada, alcançando a 12ª posição, mas rapidamente despencou.

Porém, ela foi ressucitada aos poucos, tornando-se a "canção do verão" de 1983 e, em menos de seis meses, tinha chegado ao nono posto da parada e vendido mais de 600 mil cópias.

Espetacularmente bem produzida, ela fez do New Order uma febre mundial. O grupo acabou a apresentando no programa televisivo Top of the Pops e chocou ao misturar a batida disco odiada pelos indies com vocais melancólicos e uma letra depressiva.

capa do disco Power, Corruption & LiesO New Order era agora um verdadeiro sucesso e a banda independente mais famosa e rentável do planeta.

O sucesso só poderia resultar em shows, mais shows, pela Inglaterra, Escócia, e o mais espetacular lançamento da banda: o disco Power, Corruption & Lies.

O grupo tinha trabalhado com o provisório título de "How Does It Feel", a primeira frase de "Blue Monday", mas desistiu após o grupo punk Crass lançar o single How Does It Feel (To Be Mother of 1000 Dead), um protesto contra a Guerra das Malvinas e endereçado a ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher.

Power, Corruption & Lies possui uma das capas mais antológicas já feitas, o famoso vaso de flores, desenhado novamente, por Peter Saville, e uma coleção memoráveis de canções.

O New Order encontra definitivamente sua cara e músicas como "Your Silent Face" (que tinha o título original de "KW-1", "Krafwerk 1") e mostra o grupo perfeitamente adaptado às novas tecnologias digitais.

As oito canções eram divididas em dois blocos de quatro: ""Age of Consent"; "We All Stand"; "The Village" e "5.8.6" no lado A; "Your Silent Face"; "Ultraviolence", "Ecstasy" e "Leave Me Alone" no lado B.

Quando saiu em CD, ele ficou com 10 músicas, pois incluíram "Blue Monday" e a música que era lado B do compacto, "The Beach".

capa do vídeo Taras ShevchenkoCom seu instrumental absolutamente gélido e triste, o disco estabeleceu o grupo no cenário tecno e new wave. Bernard mostrava-se bem mais confortável no papel de vocalista e frontman sem sentir ameaçado pela eterna sombra de Ian Curtis.

O grupo fecharia o ano ainda com outro lançamento, o compacto Confusion, produzido por Arthur Baker e que chegou ao 12º posto no Reino Unido, além um vídeo chamado Taras Shevchenko, filmado em Nova York.

Seria o fim perfeito para um ano mágico. O New Order mais do que nunca andava por suas próprias pernas e o futuro mostrava-se ainda mais brilhante.

Um abraço e até a próxima coluna.

Discografia

Discos

Movement (1981)
1981-1982 (EP, 1982)
Power, Corruption & Lies (1983)
Low-life (1985)
Brotherhood (1986)
Substance 1987 (1987)
Technique (1989)
Peel Sessions (1990)
BBC Radio 1 Live In Concert (1992)
Republic (1993)
(the best Of) New Order (1994)
(the rest of) New Order (1995)
Get Ready (2001)
Before & After - The BBC Sessions - New Order & Joy Division (2002)
International (2002)
Retro (caixa, 2004)
In Session (2004)
Waiting for Siren's Call (2005)
Singles (2005)

Singles

Ceremony (1981)
Procession (1981)
Everything's Gone Green (1981)
Temptation (1982)
Blue Monday (1983)
Thieves Like Us (1984)
Murder (1984)
The Perfect Kiss (1985)
Sub-culture (1985)
Shellshock (1986)
Shame/State (1986)
Bizarre Love Triangle (1986)
True Faith/1963 (1987)
Touched By The Hand Of God (1987)
Blue Monday 1988 (1988)
Fine Time (1988)
Round & Round (1989)
Run2 (1989)
World In Motion... (1990)
Regret (1993)
Ruined in a Day (1993)
World (The Price Of Love) (1993)
Spooky (1993)
True Faith-94 (1994)
1963 (1994)
Blue Monday-95 (1995)
Video 586 (1997)
Crystal (2001)
60 Miles An Hour (2001)
Someone Like You (2001)
Here to Stay (2002)
Confusion remixes '02 - Arthur Baker vs New Order (2002)
Soundtrack (2003)
Krafty (2005)
Jetstream (2005)
Waiting For The Sirens' Call (2005)


 

Colunas