Todas
as pessoas tem direito a mudar sua opinião. E mudei a minha
sobre The Next Day, o primeiro álbum de
David Bowie, em 10 anos e que estava recluso desde que quase morreu
em cima de um palco, durante um show na Alemanha, em 2004, quando
precisou fazer operação para desobstruir uma das
artérias.
Desde então, o camaleão mais famoso do rock vivia
em completa reclusão, fazendo esporádicas aparições
e se mostrando mais gordo e com um ar abatido.
Sim, a idade chegou para ele como para todos nós. Mas,
exatamente no dia em que completou 66 anos, pegou de surpresa
o mundo ao anunciar um novo álbum, que já disparou
nas paradas do planeta.
Minha antipatia inicial começou ao colocarem um quadrado
branco com o título do disco (feita por Jonathan Barnbrook)
em cima de uma foto tão clássica (de Masayoshi
Sukita) como a de Heroes, segunda obra-prima
que ele mesmo lançou no ano de 1977.
Após tocá-lo duas ou três vezes imaginei
que era apenas um disco interessante, nada mais. Estava enganado.
Ao ouvi-lo com mais atenção, percebe-se que Bowie
ainda sabe produzir um grande disco. É irrelevante dizer
se é seu melhor disco do Século XXI, o melhor
em 20 anos ou qualquer "declaração definitiva"
das centenas resenhas que foram feitas.
Um grande disco é um grande disco e isso basta.
The Next Day foi concebido em segredo absoluto
e nenhum músico envolvido no processo tinha o direito
de revelar ou sequer comentar. E com uma "little help
with his friends" Bowie fez um forte candidato ao
disco do ano.
A produção foi dividida com outra figura, velho
conhecido dos fãs, Tony Visconti. Inteligente, David
Bowie se cercou dos músicos com quem tocou nos últimos
anos - os bateristas Zachary Alford e Sterling Campbell, a baixista
e vocalista Gail Ann Dorsey - e velhos conhecidos, como o guitarrista
Earl Slick e o baixista Tony Levin.
As primeiras gravações tinham Tony no baixo,
Sterling Campbell, David Bowie nos teclados e Gerry Leonard
na guitarra. Aos poucos, os demais músicos foram sendo
adicionados no processo, na parte final. As músicas foram
escritas ao longo desses 10 anos de ausência, sem pressa,
com Bowie trabalhando-as e entrando em estúdio para registrar
quando já tivesse um acabamento quase definitivo.
Os dois primeiros singles - "The Stars (Are Out Tonight)"
e "Where Are We Now?" - mostram que Bowie ainda sabe
escrever delicadas preciosidades pops como ninguém.
É surpreendente a vitalidade que sai das faixas, até
porque Bowie já anunciou que não pretende fazer
uma tour promocional, muito provavelmente por temer outro problema
em cima do palco, e que pode ser fatal, agora. Bowie está
vivo e fez um grande disco. É o que importa. Se vai subir
em um palco novamente ou lançar outro álbum no
futuro, é irrelevante. Aos 66 anos, não tem mais
nada a provar.
A tiragem inicial do disco inclui 17 canções,
sendo 3 delas bônus. A edição japonesa excede
ainda mais, com 18, incluindo "God Bless the Girl".
Um disco imperdível, para os velhos fãs, novos
ou mesmo quem não conhece o homem que caiu na Terra em
8 de janeiro de 1947, com um olho de vidro e teve mais vidas
do que qualquer ser humano pode sonhar ou desejar.
Faixas:
01. "The Next Day" 3:27
02. "Dirty Boys" 2:58
03. "The Stars (Are Out Tonight)" 3:56
04. "Love Is Lost" 3:57
05. "Where Are We Now?" 4:08
06. "Valentine's Day" 3:01
07. "If You Can See Me" 3:15
08. "I'd Rather Be High" 3:53
09. "Boss of Me" (Bowie, Gerry Leonard) 4:09
10. "Dancing Out in Space" 3:24
11. "How Does the Grass Grow?" (Bowie, Jerry Lordan)
4:33
12. "(You Will) Set the World on Fire" 3:30
13. "You Feel So Lonely You Could Die" 4:41
14. "Heat" 4:25
Faixas extras:
15. "So She" 2:31
16. "Plan" 2:02
17. "I'll Take You There" (Bowie, Leonard) 4:11