Ele
estava no auge de sua carreira quando veio para o Brasil para
uma série de shows. O cantor que sempre confessou gostar
da cultura brasileira e, em especial do filme Pixote, não
entendia, ao desembarcar em São Paulo, como uma cidade
tão feia e um país tão pobre, pudesse ter
um povo tão alegre e receptivo. Nick Cave gostou tanto
que acabou vivendo por uns anos na capital paulista e se casou
com Viviane Carneiro, com quem teve um filho, Luke. Sentiu-se
tão bem por aqui, que acabou compondo The Good Son, um
disco mais leve e que usou várias vezes a palavra "saudade"
em algumas canções, que não tem tradução
para o inglês. Este australiano e que completará
no próximo dia 22 de setembro, 45 anos, já fez de
tudo um pouco: além de cantor e letrista, foi ator, escreveu
roteiro para o cinema, lançou vários livros e continua
em alta, sendo que sua atual turnê prossegue pelo mundo
de forma vitoriosa e com lotação esgotada em quase
todos os lugares por onde passa. Conheça um pouco mais
desse estranho personagem, que apesar da prolífica produção,
gosta mesmo é de ficar em casa pensando e diz amar Deus.
Nick
Cave pode ser descrito como o mais fiel discípulo de Lou
Reed. Não só pela proximidade das letras, mas por
sua postura selvagem no início da carreira. Este australiano
batizado como Nicholas Edward Cave, nasceu na pequena cidade Warracknabeal,
na Austrália, no dia 22 de setembro de 1957. Caçula
de uma família de quatro filhos, teve formação
anglicana e que explica em parte o seu fascínio pela Bíblia
em várias de suas canções. Durante dois anos
estudou arte na Caufield Grammar School, Melborune and Art School.
Um dos seus primeiros desenhos está registrado no primeiro
disco de sua banda pré-Bad Seeds, Birthday Party, chamada
Prayers on Fire, quando assinou como Nicholas Cave.
Foi na escola que conheceu
Mick Harvey com quem montou uma das primeiras bandas punks da
Austrália, The Boys Next Door. Além de Nick e Mick,
o grupo tinha Tracy Pew, Phillip Calvert e Rowland S. Howard.
Debutaram em 1978, com o single “These Boots Are Made for
Walking”, seguindo pelo LP Door, Door. Aos poucos,
a banda mudou de nome para The Birthday Party e deixaram a terra
dos cangurus para tentar a sorte em Londres. Em pouco tempo virou
uma das sensações da nova cena inglesa, pelo seu
som cru, violento, alto, e lançaram dois disco fundamentais:
Prayers on Fire (1981) e Junkyard (1982).
Depois
dos dois discos, resolveram mudar para Berlim Oriental, em 1983.
Lançaram ainda mais um LP e um EP (Mutiny) e se
dissolveram. Mesmo com a final da banda, Nick continuou e no ano
seguinte estava em Los Angeles escrevendo o roteiro do filme Ghosts
... Of The Civil Dead, dirigido por John Hillcoat e Evan English.
Nessa mesma época começa a montar o Bad Seeds. Mantendo
Mick Harvey ao seu lado e convocando o guitarrista Blixa Bargeld,
da ensurdecedora banda alemã Einsturzende Neubauten, que
havia participado do EP Mutiny. Junto com Blixa, vieram
Barry Adamson, Anita Lee (que substituiu Tracy Pew, que havia
participado apenas da excursão da Austrália), Edward
Clayton Jones e Hugo Race. Lançaram no mesmo ano From
Her To Eternity. O nome foi tirado do filme Bad Seed
de Mervin Le Roy, de 1956, baseado na peça de Maxwell Anderson
e no romance de William March.
De volta a Berlim, Nick começou
a trabalhar em seu primeiro livro And The Ass Saw The Angel.
No disco seguinte, The First Born is Dead, o grupo começou
a explorar o blues americano, marcando época com a canção
“Tupelo”, inspirado na canção de John
Lee Hooker, que levava o mesmo nome. Cave começava a mostrar
seu forte lado religioso na letra, buscando inspiração
no Velho Testamento da Bílbia. Nesta época entra
Thomas Wydler na bateria (ex-Die Haut) e o grupo lança
em 1986, o disco Kicking Against The Pricks, somente de
covers, entre elas “All Tomorrow’s Parties”,
do Velvet. Este disco foi o primeiro lançamento do grupo
no Brasil, na mesma época. Barry Adamson deixa a banda
e Kid Congo Powers (ex-Gun Club e Cramps), que ganha mais um membro:
Roland Wolf, nos teclados.
Em 1988 é a vez de
Tender Prey ser lançado, e a canção
“The Mercy Seat” é o grande sucesso. Paralelamente,
o cantor lança o livro King Ink, uma coletânea
de letras e poesias. O grupo é convidado para participar
do filme Asas do Desejo, do diretor alemão Win Wenders.
Em meio a tanto trabalho, o grupo continua sua turnê mundial,
quando desembarca em São Paulo. Acaba conhecendo e se casando
com Viviane Carneiro, com quem ficou até 1996, quando começou
um romance com a cantora PJ Harvey.
Em
1992, lança o disco Henry's Dream, seguida de uma
turnê mundial. No ano seguinte é a vez do disco Live
Seeds, comemorando 10 anos da banda. Juntamente com o CD é
vendido um livro de fotos da turnê, tiradas por Peter Milne.
Em 1994, sai Let Love In.
De volta a Londres em 1996,
lançam o sinistro Murder Ballads, disco em que o
cantor revela sua fixação pela violência.
O grande destaque acaba sendo a canção "Where
The Wild Roses Grow", que tem a participação
de Kylie Minogue nos vocais. Outro destaque é “Henry
Lee”, que canta ao lado de PJ Harvey, dando início
ao romance dos dois.
Mostrando sua inesgotável versatilidade, participa da compilação
Songs In The Key of X, trilha sonora do seriado Arquivo
X, com duas canções, “Red Right Hand”
e "Time Jesum transeuntem et non reverendum" (Dread
the passage of Jesus for he will not return) com o The Dirty Three.
Lança uma segunda coletânea de letras e ensaios,
intitulada King Ink II.
Em
março de 1997 é a vez de The Boatman's Call.
A banda muda radicalmente o estilo das canções que
havia sido iniciada no disco Murder Ballads. O disco quase
não tem guitarras, e o som é mais intimista, com
pianos, violinos, mostrando um lado religioso mais forte ainda.
A canção “Into My Arms”, que abre o
disco, fala que, apesar de não acreditar em um Deus, sabe
que Ele existe. O clima é todo lento, nebuloso, quase romântico,
mas não chegando a esse ponto, devido às letras.
É também uma
época em que o cantor começa a rever seus relacionamentos
do passado: “Para mim estava muito claro que ainda não
tinha escolhido a pessoa correta”. Sozinho em sua casa,
em Londres, começou uma profunda auto-análise, trocando
sua vida atribulada e movida por drogas por uma mais “sadia”.
Foi nesse contexto que surgiu
o título do disco: “o amor é um estado que
gostaria que existisse para sempre, mas eu sei o potencial da
dor. É como uma droga, que te tira de uma vida medíocre
e te coloca em um estado de inspiração e imaginação
nunca antes imaginado. A intenção das letras é
chegar até a verdade do que acontece nesses relacionamentos.”
Cave explica que teve muita
dificuldade para encontrar o tom certo de voz para as canções,
nos shows: “eram muito difíceis de cantar, pois foram
escritas durante um período em que tudo que era felicidade
e amor, de repente acabou. Estranhamente, elas foram gravadas
em uma certa ordem bem perto do que acontecia comigo. Houve muitos
momentos de dor durante as apresentações. São
sentimentos diferentes e me permitia que me perdesse nas músicas.
São essas coisas que considero amor. Você entra em
si mesmo e começa a refletir sobre sua vida mundana, onde
as coisas eram diferentes. Eu adorei isso.”
Foi também uma postura
radical da banda em suas apresentações, que neste
tempo era formada por Mick, Blixa, Thomas Widley, Conway Savage
e Martin P. Casey. “Foi muito importante para nós,
porque fizemos coisas totalmente diferentes do passado. Essas
canções nos exigiam muita concentração
e todos precisavam estar muito atentos para executá-las.
Eram musicalmente tão nuas de foco, que pareciam que poderiam
desmoronar.”
Para Cave, o trabalho de
escrever as canções foi tão intenso, que
ficou meses sem conseguir escrever uma linha sequer depois de
finalizado o disco: “Eu senti que tinha escrito sobre outras
duas coisas que sempre me interessavam: amor e Deus. Foi tão
forte, que acreditei que nunca mais poderia voltar a compor na
minha vida. Mas tudo isso era uma besteira, já que aos
poucos fui me soltando novamente e conseguindo voltar ao ritmo
de antes.”
Pela primeira vez, Nick assumia
sua postura sobre religião: “Sim, eu acredito em
Deus. Acho que sempre acreditei. Acho que tudo que falei veio
Dele. Minha parte como artista é expressar, seja nas letras,
pela minha voz, ou no piano. O resto é com Deus. Eu tenho
muito orgulho deste trabalho.”
Vale dizer ainda que o disco
foi produzido no lendário estúdio Abbey Road.
Fiquem com a letra de “Into
My Arms”. Um abraço!
Into My Arms
I don’t believe
in na interventionist God
But I know, darling, that you do
But I did I would kneel down and ask Him
Not to intervene when it came to you
Not to touch a hair on your head
To leave as you are
And if He felt He had to direct you
Then direct you into my arms
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms
And I don’t believe
in the existence of angels
but looking at you I wonder if that’s true
But If I did would summon them together
And ask them to watch over you
To each burn a candle for you
To make bright and clear your path
And to walk, like Christ, in grace and love
And guide you into my arms
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms
But I believe in Love
And I know that you do too
And I believe in some kind of path
That we can walk down, me and you
So keep your candles burning
And make her journey bright and pure
That she will keep returning
Always and evermore
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms, O Lord
Into my arms
Discografia
From Her to Eternity (1984)
The Firstborn Is Dead (1985)
Kicking Against the Pricks (1986)
Your Funeral...My Trial (1986)
Tender Prey (1988)
Ghosts...of the Civil Dead (1989)
The Good Son (1990)
Henry's Dream (1992)
Live Seeds (1993)
Let Love In (1994)
Murder Ballads (1996)
The Boatman's Call (1997)
The Best of Nick Cave & the Bad Seeds (1998)
No More Shall We Part (2001)
Nocturama (2003)
Abbatoir Blues / Lyre Of Orpheus (2004)
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