54 - Orange Juice - Rip It Up


Essa foi uma das bandas pop mais simpáticas no final da década de 70 e começo dos 80. Formada em Glasgow em 1976, pelo guitarrista e vocalista Edwyn Collins (que depois seguiria uma boa carreira solo), além de James Kirk (guitarra), David McClymont e o baterista Steven Daly, com o nome de Nu-Sonics, mudaram para Orange Juice em 1979, por acharem que daria uma aura mais inocente e ao mesmo tempo protestando contra o machismo dos punks existentes. Rip It Up é o segundo disco e o clássico definitivo. Um trabalho com canções de apelo irresistível, puxada pela genial "Flesh of My Flesh". O grupo durou apenas até 1984, produzindo apenas mais dois discos: o EP Texas Fever e The Orange Juice. Uma carreira curta, porém brilhante.



Você já ouviu essa banda. Pode nem se lembrar deles ou do nome da canção, mas quem viveu neste mundo na década de 80, com certeza foi pego dançando ou curtindo “I Can’t Help Myself” ou “Flesh of My Flesh”. Após o primeiro disco You Can’t Hide Your Love Forever em 1982, o grupo produziu, no mesmo ano, Rip It Up.

Nessa época a formação original já era passado. Malcolm Ross assumiria a guitarra no lugar de Kirk e Daly dera lugar a Zeke Manyika, um baterista nascido no Zimbábue. Além da mudança de integrantes, Edwyn queria ousar: “Eu queria um som completamente diferente do primeiro álbum. A minha intenção era uma sonoridade mais dançável, pop, alegre. E Zeke caiu como uma luva nesse contexto.”

Não foi só Zeke que deu nova sonoridade. McClymont e Malcolm, junto com Zeke, introduziam o sintetizador nas novas composições. Mel Gaynor (que depois seria baterista do Simple Minds) e Danny Cummings cuidavam da percussão, Dick Morrissey do sax e Paul Quinn, velho camarada dos primórdios da banda em Glasgow, nos backing vocals. Adam Kidrom, produtor do primeiro disco, estava descartado.

“Adam era um bom produtor, mas eu queria avançar, experimentar. Conhecemos Martin Hayles e ele disse admirar nosso som e o convidamos para fazer algumas gravações. Nessa época, a banda era guiada pelo som da bateria de Zeke, pela sua batida sincopada e mais soul. A idéia original era ter Allen Toussaint produzindo o disco, mas não sabíamos como chegar até ele. Além disso, víamos o Martin como a nova grande sensação, já que conhecia todas aquelas bandas inglesas viciadas em funk, especialmente o Central Line, o Lynx e o Incognito. Com a cena indie estava fraca, o grupo apostou que essa nova sonoridade poderia ser o som do futuro.”, lembra Collins.

O primeiro single extraído foi “I Can’t Help Myself”, que chegou até a 42º lugar nas paradas, a melhor da banda até então. Outra mudança foi a entrada de Ian Cranna (ex-editor da revista Smash Hits) como empresário e fez o grupo morar no Hotel Columbia. “Ian achou que seria uma boa idéia já que os grandes grupos ingleses pop moravam lá - Soft Cell, ABC, Teardrop Explodes. Acabamos ficando amigos de todos eles e o Julian Cope (líder do Explodes) comenta esse episódio em seu livro Head On. Era muito divertido. Ficávamos horas e horas conversando no bar e tocando os mixes de cada um.”

As metamorfoses não paravam de ocorrer. A próxima era o visual dos integrantes. “Quando se é jovem, uma das maneiras de expressar suas mudanças e atitudes é através da moda. Resolvemos que sairíamos na capa do disco e para isso era necessário caprichar na imagem. Eu lia muito livros sobre “Pop Art”, especialmente sobre a vida de Andy Warhol. Esse foi o motivo de estar com duas camisas na capa do disco”. As fotografias ficaram por conta de Eric Watson, colaborador da Smash Hits. Orange Juice sonhava em ser uma banda de grande sucesso e tinham dado um passo decisivo ao estrelato.

Rip It Up foi o segundo single lançado, e era uma mistura de pós-punk com a cena indie local e que logo seria batizada como new pop. Era um mix das letras do Buzzcocks com a batida e o ritmo do Chic. Foi a primeira canção nas paradas a utilizar a bateria eletrônica 303 da Roland e uma linha de baixo que virou marca nos anos 90, das bandas de acid house. Aliás, o som do baixo surgiu por acaso: “nós adorávamos o som de uma banda chamada Imagination e queríamos fazer igual. Não foi por acaso que Mel Gaynor, que era baterista deles tocou conosco.”

“Com o sucesso de “I Can’t Help Myself”, nosso público aumentou muito e finalmente a Polydor (gravadora) começou a querer investir na banda. Eles nos rotulavam de jazz punk, ou qualquer besteira do gênero. Foi Alan Sizer, que tinha acabado de assinar com o Level 42, que percebeu nosso potencial. Eles estavam mais preocupados em renovar contratos com o The Jam e Siouxsie and the Banshees e nos mandavam sair para as ruas, fazer shows e tentar vender algumas cópias. Nossa sorte só mudou porque o sobrinho de A J Morris (dono do selo) disse que nós tínhamos potencial para sermos maiores do que o ABC ou Haircut 100. Foi cômico”. Rapidamente um memorando interno correu a gravadora com os seguintes dizeres: “meu sobrinho disse que temos em nosso cast uma banda chamada Orange Juice e que possuem potencial para serem maiores do que o ABC e o Haircut 100. Favor explorarem o potencial deles o máximo. Atenciosamente, A J Morris.”
Edwyn até hoje ri ao lembrar do episódio: “foi bizarro termos tido chance graças ao sobrinho que era nosso fã, mas finalmente estávamos tendo ajuda da gravadora.”

“Rip It Up foi a primeira canção que gravamos um vídeo promocional. Era o nosso quarto compacto, mas pela primeira vez havia toda uma estratégia de marketing direcionada para a canção. A Polydor resolveu investir na divulgação e durante quatro semanas seguidas foi a prioridade número um deles. Finalmente nós tínhamos a grande chance para virarmos uma grande banda.”

O grupo fez dois programas “Top of the Pops” consecutivos. No primeiro, o empresário Ian Cranna acabou chorando no bar da emissora BBC por achar que a banda tinha se vendido muito barato. “Foi bizarro. Ele falava que não havia um pote de ouro no final do arco-íris. Eu não entendia o que ele queria dizer”, conta Edwyn. No segundo programa, eu já estava morando em Hackney Road, que era um lugar calmo. Os vizinho eram os Throbbing Gristle e Jim Thirlwell. Convidamos então Jim para fazer uma mímica na parte do saxofone. Só que era um programa ao vivo, em rede nacional e de repente aparecemos com um cara fazendo uma mímica no palco! David nem pensou e tocou exatamente como se estivesse no Foetus, por diversão. David também passou graxa de sapato e colocou em cima dos olhos, dando um ar de agressivo. Peter Powell, que apresentava o programa com John Peel, olhou para David e perguntou se aquilo era realmente graxa em cima dos olhos. David mandou-o para o inferno e continuou sua performance. Foi chocante.”

Os problemas internos começavam a aparecer, motivados pelo foco excessivo da mídia em cima de Collins.

“O clima entre nós ficou insuportável, havia disputa política pelo poder e todos queriam mais atenção da mídia. Após o incidente no programa, fomos banidos da BBC e David teve que escrever uma carta ao produtor do programa, Michael Hurll, pedindo desculpas. Mesmo assim, todo mundo me culpava pelo fiasco, já que a idéia de David aparecer conosco foi minha.”

O fracasso acabou com os sonhos do grupo. A Polydor nunca os perdoou pelo vexame em rede nacional. Ross e McClymont resolveram pular fora. O primeiro foi tocar no emergente Aztec Camera, de Roddy Frame. A banda ficou reduzida à dupla Edwyn e Zeke, que gravaram o EP Texas Fever, gravado pelo especialista em reggae Dennis Bovel. A banda ainda faria mais um disco, chamado simplesmente The Orange Juice, até se separarem.

“Nós nunca tivemos um outro sucesso. Flesh chegou a ser número 41 nas paradas. Ficou a sensação de que poderíamos ter ido mais longe. Infelizmente não conseguimos outra chance. Mas gosto de algumas músicas que não chegaram a ser sucesso. Breakfast Time, por exemplo, é uma música minha com um solo de guitarra no final influenciado por Michael Karoli, do Can, que conheci através do David. Mas acho que ajudamos a desenvolver o conceito de pop perfeito. Muitos jornalistas tratam isso hoje em dia como um fenômeno, e nós tivemos muita importância. E o melhor é que as pessoas têm uma idéia completamente diferentes dos jornalistas. E algumas gravadoras já estão começando a criar uma consciência sobre isso. Acho que esse é o maior legado do Orange Juice.”

Discografia


You Can’t Hide Your Love Forever (1982)
Rip It Up (1982)
Texas Fever (1984)
The Orange Juice (1984)

 




 

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