Não é
só Guilherme Isnard que responde mais do que a pergunta
sugere. O diabo é que as de Rory foram mandadas em inglês
e aí... vou ao dicionário e fiquei horas editando.
Mas valeu a pena, igualmente...
Rory MacDonald
é baixista de uma banda canadense chamada Orchid Highway,
uma dessas minhas "descobertas" recentes. Um som que
remete aos anos 60. Eles já estão na estrada há
10 anos e vale a pena ler a entrevista e caçar as músicas
do grupo. Para quem não sabe eu resenhei uma canção
deles, na coletânea Driving in the Rain 3 AM. Songs to get
lost with. Entre outras coisas, Rory confessou que ama o futebol
brasileiro... e o argentino... Vamos ao papo cheio de bom humor…
Pergunta:
- Você poderia fazer um resumo sobre a banda?
Rory McDonald: - Não e por dois
motivos: primeiro, porque você jamais terá respostas
curtas vinda de mim. A outra razão é porque o grupo
já tem 10 anos. Mas deixe eu contar algo sobre nós:
O grupo foi formado em Winnipeg, no Canadá, uma cidade
de extremos. O inverno é incrivelmente longo e pode atingir
temperatura de até 40 graus celsius negativos. E o verão
extremamente curto, mas pode, igualmente, alcançar os 40
graus, positivos. E é no verão quando nós,
canadenses, podemos fazer algo legal, já que deixamos o
inverno para jogarmos hóquei, namorar e até formar
uma banda, já que é uma boa maneira de nos aquecermos.
O grupo nasceu quando meu irmão mais velho (Jamie) e eu
começamos a tocar em um grupo. Um dia apareceu John Woods,
de uma banda rival e que igualmente amava as bandas clássicas
de rock e ele ficou surpreso por achar pessoas que ainda gostavam
desse gênero. Winnipeg é uma cidade em que os jovens
ouviam hard rock e o grunge e nós queríamos fazer
algo mais melódico, orquestral, com instrumentos exóticos,
como bandolins, guitarra de 12 cordas, o que era um contraste
total. Acabamos chamando nosso irmão caçula, Derek,
para tocar teclados e completar a formação. E não
posso me esquecer de Jon Irwin, um velho amigo nosso que era nosso
baterista. Nós éramos taxados de fazer um som “europeu”
o que prova como as pessoas não tinham idéia do
que fazíamos. Nós sequer líamos as revistas
inglesas nessa época e nem nos importávamos com
o que rolava por lá. Nós amávamos sim o rock
inglês, mas o rock feito por Led Zeppelin, Clash, Beatles,
The Who, Kinks. Como nada mudava e éramos chamados de grupo
europeu, resolvemos radicalizar e fomos morar em Londres. Demos
sorte de chegarmos em uma época que o pop renascia com
força, liderados pelo Oasis, Supergrass e Kula Shaker,
o que me surpreendeu e ficamos tocando na cidade por dois anos.
Quando retornamos para o Canadá, com nosso visto vencido
e um EP gravado percebemos que as rádios tocavam ainda
as mesmas músicas de antes. Nada havia mudado. Na verdade,
cruzar o Atlântico foi dramático, pois nosso EP era
um disco a mais, e de repente viramos uma banda que tocava músicas
iguais à do filme Austin Powers, o que
achamos uma merda, como comparação. Mas ao menos
nos deu oportunidades para tocarmos pelo país cinco vezes
e mostrarmos nossas canções para algumas pessoas.
Mas o Canadá é um país muito difícil
para uma banda nova porque os custos de viagem e promoção
são imensos. Essa é uma das razões pelo porque
bandas daqui são pré-fabricadas. Não há
muitos grupos como o nosso, interessado em gravar suas próprias
canções, em aprender a tocar e tocar pelo país.
Isso requer tempo, paciência e uma quantidade absurda de
dinheiro. Por isso, após nossas cinco viagens pelo país
estávamos falidos. Para piorar, todas as pessoas que nos
tinham ouvido já haviam comprado nosso cd por isso não
tínhamos mais condições de bancar um novo
e sequer continuar viajando. Nós percebemos que nossa única
chance era construirmos um estúdio nosso, pois seria nossa
única chance de continuarmos. Começamos a levantar
fundos para montar o “Orchid Studios”, até
que Steven Drake, nos telefonou. Ele havia ficado fascinado com
nossas músicas e disse que não conseguia tirar aquelas
melodias da cabeça e queria ser nosso produtor. Ele é
um gênio, um homem com um ouvido muito apurado para as melodias
e passamos anos compondo e gravando nosso primeiro disco, que
capturou toda a essência de nosso som. E estamos muito ansiosos
com nossas novas composições
Pergunta: - "Opiate"
tem muito dos anos 60 – cheio de lindas harmonias com guitarras,
teclados e referências às drogas. É certo
dizer que as bandas californianas dos anos 60 (Grateful Dead,
Jefferson Airplane, Love, Byrds, etc…) influenciam o grupo?
Rory McDonald: - Na verdade, acho que John tinha
mais as bandas inglesas e mente quando a escreveu. Eu particularmente
gosto de Byrds, um dos que mais usavam com maestria a guitarra
de 12 cordas, e algo de Doors, por isso há alguma conexão,
sim. Já o Grateful Dead sempre achei uma banda mais de
improviso ao vivo do que um grupo de estúdio.
Pergunta: - No
site de vocês há uma referência à "beleza
do neo-psicodelismo". Vocês se acham um grupo dos anos
60 em pleno Século XXI?
Rory McDonald: - Alguns jornalistas já nos disseram
isso e até nos compararam aos Zombies, o que me deixo muito
orgulhoso. Parece que as pessoas precisam sempre evocar antigos
nomes ou referências de outros discos para encaixar algo
novo. Não somo um grupo que fica cultuando e querendo viver
no passado. Temos grande paixão e admiração
por todos esses artistas, mas nosso disco soa moderno. Eu não
faço música para pessoas da década de 60,
embora fique feliz quando algum deles nos elogia. Mas não
cultuo a nostalgia.
Pergunta:
- Que tipo de instrumentos vocês usaram?
Rory McDonald: - Vários tipos de guitarra,
acha que 27, no total. Derek usou um teclado Philips Philicorda,
de 1968. Ele deve ter mais teclados Philips, do que a fábrica
em seu museu, na Holanda. James usou uma Gibson Les Paul Goldtop
e John uma Yamanha de 12 cordas, também fabricada em 1968.
Adrian (nosso atual baterista) usou um kit de bateria Ludwig antigo
e usei um baixo Fender Jazz Bass de 1962 e um Coronado II de 1967,
ligado a um original Ampeg B-15.
Pergunta: - Como
vocês trabalham em estúdio? Como dividem as tarefas?
Rory McDonald: - Eu faço o café,
quase sempre. John algumas vezes faz café. Fora nossa preocupação
com o café, não temos uma fórmula. E na ausência
de total sucesso comercial, não temos uma fórmula.
Somos três compositores – eu, Jamie e John. Quando
entramos para gravar mostramos as canções que escrevemos
para Steven. Temos mais de 70 canções inéditas.
E deixamos que ele escolha as melhores, já que confiamos
demais em sua opinião. Separamos as dez músicas
escolhidas e trabalhos. Simples assim.
Pergunta: - Você
conhece algo de música brasileira?
Rory McDonald: - Admito que quase nada. Um pouco
de bossa-nova, mas sei que a música de vocês é
fantasticamente bem feita.
Pergunta: - Você
confessou que ama futebol que não é o esporte favorito
dos canadenses. Isso é curioso...
Rory McDonald: - Eu jogava quando era menino
e ainda jogo após assitir após os jogos de Copas.
Geralmente torço para o Brasil... e para a Argentina, confesso.
Espero que não fique ofendido, pois sei da rivalidade entre
vocês! Mas, atualmente, o futebol é o esporte mais
popular aqui, o que surpreende porque somos conhecidos pelos times
de hóquei no gelo e hoje muitos garotos de 12 e 13 anos
jogam futebo, embora não tenhamos uma liga organizada e
nem sei como eles disputam campeonatos. Mas podem ficar sossegados
que nossa seleção nacional sequer poderá
ameaçar um dia o Brasil ou a Argentina.
Pergunta: - Fale
sobre o novo cd de vocês. Já tem título, será
lançado por quem pela Bongo Beat?
Rory McDonald: - Ele está terminado e
é maravilhoso. Fará você pular de alegria
(então mande logo Rory, pô!)
Pergunta: - Poderia
me dizer cinco grandes influências suas, de bandas e discos?
Rory McDonald: - Duran Duran, Paul Butterfield
Blues Bans, The Church, Midnight Oil e Jellyfish. Meus cinco discos
seriam Highway 61 Revisited (Bob Dylan), Revolver
(Beatles), Green (R.E.M.), Heyday
(The Church) e Earth & Sun & Moon (Midnight
Oil).
Pergunta: - Deixem
uma mensagem para os fãs brasileiros...
Rory McDonald: - Nós temos fãs
aí? Fantástico. Podemos descer até aí
e morarmos com você? O frio é uma porcaria nesse
país!
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