07 - Orchid Highway - entrevista

Não é só Guilherme Isnard que responde mais do que a pergunta sugere. O diabo é que as de Rory foram mandadas em inglês e aí... vou ao dicionário e fiquei horas editando. Mas valeu a pena, igualmente...

Rory MacDonald é baixista de uma banda canadense chamada Orchid Highway, uma dessas minhas "descobertas" recentes. Um som que remete aos anos 60. Eles já estão na estrada há 10 anos e vale a pena ler a entrevista e caçar as músicas do grupo. Para quem não sabe eu resenhei uma canção deles, na coletânea Driving in the Rain 3 AM. Songs to get lost with. Entre outras coisas, Rory confessou que ama o futebol brasileiro... e o argentino... Vamos ao papo cheio de bom humor…


Pergunta: - Você poderia fazer um resumo sobre a banda?
Rory McDonald: - Não e por dois motivos: primeiro, porque você jamais terá respostas curtas vinda de mim. A outra razão é porque o grupo já tem 10 anos. Mas deixe eu contar algo sobre nós: O grupo foi formado em Winnipeg, no Canadá, uma cidade de extremos. O inverno é incrivelmente longo e pode atingir temperatura de até 40 graus celsius negativos. E o verão extremamente curto, mas pode, igualmente, alcançar os 40 graus, positivos. E é no verão quando nós, canadenses, podemos fazer algo legal, já que deixamos o inverno para jogarmos hóquei, namorar e até formar uma banda, já que é uma boa maneira de nos aquecermos. O grupo nasceu quando meu irmão mais velho (Jamie) e eu começamos a tocar em um grupo. Um dia apareceu John Woods, de uma banda rival e que igualmente amava as bandas clássicas de rock e ele ficou surpreso por achar pessoas que ainda gostavam desse gênero. Winnipeg é uma cidade em que os jovens ouviam hard rock e o grunge e nós queríamos fazer algo mais melódico, orquestral, com instrumentos exóticos, como bandolins, guitarra de 12 cordas, o que era um contraste total. Acabamos chamando nosso irmão caçula, Derek, para tocar teclados e completar a formação. E não posso me esquecer de Jon Irwin, um velho amigo nosso que era nosso baterista. Nós éramos taxados de fazer um som “europeu” o que prova como as pessoas não tinham idéia do que fazíamos. Nós sequer líamos as revistas inglesas nessa época e nem nos importávamos com o que rolava por lá. Nós amávamos sim o rock inglês, mas o rock feito por Led Zeppelin, Clash, Beatles, The Who, Kinks. Como nada mudava e éramos chamados de grupo europeu, resolvemos radicalizar e fomos morar em Londres. Demos sorte de chegarmos em uma época que o pop renascia com força, liderados pelo Oasis, Supergrass e Kula Shaker, o que me surpreendeu e ficamos tocando na cidade por dois anos. Quando retornamos para o Canadá, com nosso visto vencido e um EP gravado percebemos que as rádios tocavam ainda as mesmas músicas de antes. Nada havia mudado. Na verdade, cruzar o Atlântico foi dramático, pois nosso EP era um disco a mais, e de repente viramos uma banda que tocava músicas iguais à do filme Austin Powers, o que achamos uma merda, como comparação. Mas ao menos nos deu oportunidades para tocarmos pelo país cinco vezes e mostrarmos nossas canções para algumas pessoas. Mas o Canadá é um país muito difícil para uma banda nova porque os custos de viagem e promoção são imensos. Essa é uma das razões pelo porque bandas daqui são pré-fabricadas. Não há muitos grupos como o nosso, interessado em gravar suas próprias canções, em aprender a tocar e tocar pelo país. Isso requer tempo, paciência e uma quantidade absurda de dinheiro. Por isso, após nossas cinco viagens pelo país estávamos falidos. Para piorar, todas as pessoas que nos tinham ouvido já haviam comprado nosso cd por isso não tínhamos mais condições de bancar um novo e sequer continuar viajando. Nós percebemos que nossa única chance era construirmos um estúdio nosso, pois seria nossa única chance de continuarmos. Começamos a levantar fundos para montar o “Orchid Studios”, até que Steven Drake, nos telefonou. Ele havia ficado fascinado com nossas músicas e disse que não conseguia tirar aquelas melodias da cabeça e queria ser nosso produtor. Ele é um gênio, um homem com um ouvido muito apurado para as melodias e passamos anos compondo e gravando nosso primeiro disco, que capturou toda a essência de nosso som. E estamos muito ansiosos com nossas novas composições

Pergunta: - "Opiate" tem muito dos anos 60 – cheio de lindas harmonias com guitarras, teclados e referências às drogas. É certo dizer que as bandas californianas dos anos 60 (Grateful Dead, Jefferson Airplane, Love, Byrds, etc…) influenciam o grupo?
Rory McDonald: - Na verdade, acho que John tinha mais as bandas inglesas e mente quando a escreveu. Eu particularmente gosto de Byrds, um dos que mais usavam com maestria a guitarra de 12 cordas, e algo de Doors, por isso há alguma conexão, sim. Já o Grateful Dead sempre achei uma banda mais de improviso ao vivo do que um grupo de estúdio.

Pergunta: - No site de vocês há uma referência à "beleza do neo-psicodelismo". Vocês se acham um grupo dos anos 60 em pleno Século XXI?
Rory McDonald: -
Alguns jornalistas já nos disseram isso e até nos compararam aos Zombies, o que me deixo muito orgulhoso. Parece que as pessoas precisam sempre evocar antigos nomes ou referências de outros discos para encaixar algo novo. Não somo um grupo que fica cultuando e querendo viver no passado. Temos grande paixão e admiração por todos esses artistas, mas nosso disco soa moderno. Eu não faço música para pessoas da década de 60, embora fique feliz quando algum deles nos elogia. Mas não cultuo a nostalgia.

Pergunta: - Que tipo de instrumentos vocês usaram?
Rory McDonald: - Vários tipos de guitarra, acha que 27, no total. Derek usou um teclado Philips Philicorda, de 1968. Ele deve ter mais teclados Philips, do que a fábrica em seu museu, na Holanda. James usou uma Gibson Les Paul Goldtop e John uma Yamanha de 12 cordas, também fabricada em 1968. Adrian (nosso atual baterista) usou um kit de bateria Ludwig antigo e usei um baixo Fender Jazz Bass de 1962 e um Coronado II de 1967, ligado a um original Ampeg B-15.

Pergunta: - Como vocês trabalham em estúdio? Como dividem as tarefas?
Rory McDonald: - Eu faço o café, quase sempre. John algumas vezes faz café. Fora nossa preocupação com o café, não temos uma fórmula. E na ausência de total sucesso comercial, não temos uma fórmula. Somos três compositores – eu, Jamie e John. Quando entramos para gravar mostramos as canções que escrevemos para Steven. Temos mais de 70 canções inéditas. E deixamos que ele escolha as melhores, já que confiamos demais em sua opinião. Separamos as dez músicas escolhidas e trabalhos. Simples assim.

Pergunta: - Você conhece algo de música brasileira?
Rory McDonald: - Admito que quase nada. Um pouco de bossa-nova, mas sei que a música de vocês é fantasticamente bem feita.

Pergunta: - Você confessou que ama futebol que não é o esporte favorito dos canadenses. Isso é curioso...
Rory McDonald: - Eu jogava quando era menino e ainda jogo após assitir após os jogos de Copas. Geralmente torço para o Brasil... e para a Argentina, confesso. Espero que não fique ofendido, pois sei da rivalidade entre vocês! Mas, atualmente, o futebol é o esporte mais popular aqui, o que surpreende porque somos conhecidos pelos times de hóquei no gelo e hoje muitos garotos de 12 e 13 anos jogam futebo, embora não tenhamos uma liga organizada e nem sei como eles disputam campeonatos. Mas podem ficar sossegados que nossa seleção nacional sequer poderá ameaçar um dia o Brasil ou a Argentina.

Pergunta: - Fale sobre o novo cd de vocês. Já tem título, será lançado por quem pela Bongo Beat?
Rory McDonald: - Ele está terminado e é maravilhoso. Fará você pular de alegria (então mande logo Rory, pô!)

Pergunta: - Poderia me dizer cinco grandes influências suas, de bandas e discos?
Rory McDonald: - Duran Duran, Paul Butterfield Blues Bans, The Church, Midnight Oil e Jellyfish. Meus cinco discos seriam Highway 61 Revisited (Bob Dylan), Revolver (Beatles), Green (R.E.M.), Heyday (The Church) e Earth & Sun & Moon (Midnight Oil).

Pergunta: - Deixem uma mensagem para os fãs brasileiros...
Rory McDonald: - Nós temos fãs aí? Fantástico. Podemos descer até aí e morarmos com você? O frio é uma porcaria nesse país!