Elas foram uma das melhores bandas
de garagem dos anos 80. E tinham dois atrativos: eram mulheres
(o que visualmente já melhora e muito) e produziam boas
músicas. Lideradas por Paula Pierce, alternaram várias
formações e estilos. Depois do segundo disco e sem
muito sucesso comercial, viraram até uma banda de heavy
metal. Paula, aliás, é uma das figuras mais cultuadas
do underground norte-americano e sua morte misteriosa em 1991
(oficialmente por aneurisma cerebral, mas especula-se que foi
por abuso de drogas pesadas), apenas fez aumentar a lenda sobre
um dos grupos femininos mais interessantes da época (a
outra grande banda contemporânea delas e que começou
no mesmo caminho foram as Bangles, que depois viraram um enorme
sucesso e que prometo contar a história) e, de quebra,
um dos disquinhos mais bacanas de puro rock and roll. It's About
Time, primeiro LP das Pandoras é um clássico. Mais
uma daquelas bandinhas que merecem ser conferidas, caso você
pense que rock em estado bruto é apenas da alçada
de marmanjos barbados.
É
o tipo de seqüência que enlouquecem meus seis leitores
cativos. Falo de uma banda grande até dizer chega (Simple
Minds) e caio em uma obscura. Todo esse nariz de cera (termo feio
pacas, mas é a gíria) é para tentar preencher
um pouco de espaço, porque o material sobre as Pandoras
é parco e muito confuso. Em compensação será
a coluna com mais fotos. Enfim, vou tentar tirar alguns coelhos
da cartola para falar da primeira banda totalmente composta por
garotas que abordo de uma maneira decente.
Paula
sempre foi uma dessas garotas em que sonhou ter uma banda de rock.
Não apenas ser uma vocalista bonitinha, nada disso. Ela
queria ter uma banda, tocar sua guitarra e trabalhar com mais
garotas.
Montar uma banda de rock
formada só por representantes do chamado “sexo frágil”.
Aos 21 anos já era uma veterana de shows de grupos punks,
de rockabilly e congêneres que tocassem na em Los Angeles
ou arredores.
A garota que detestava
a escola, namoradeira e que sonhava em ser estrela, começou
a realizar seu sonho ao conhecer Gwynne Kahn. Motivadas, montaram
seus primeiros grupinhos, até resolverem adotar o nome
The Pandoras: segundo a mitologia grega, Pandora foi a primeira
mulher criada. Ela foi feita por Hefaísto, irmão
de Zeus, e adquiriu vida. Pandora foi entregue ao primeiro homem
pelo Deus Hermes. Como era uma dádiva, veio com uma missão:
cuidar de uma caixa que não deveria ser aberta em hipótese
nenhuma. Pandora acabou abrindo-a por curiosidade e dela saíram
todos os males do mundo (morte, a noite, que na mitologia grega
também é uma Deusa e seus filhos são o medo
e o sono).
Os
mais apressadinhos dirão: “tá vendo como são
as mulheres culpadas de tudo neste mundo?” Eu aconselho
não pronunciar essa lapidar conclusão perto de sua
namorada, irmã, mãe ou esposa, sob o risco de levar
um rolo de macarrão ou uma frigideira na cabeça
(que são os utensílios que melhor utilizam...) Chega
de besteira!!! Voltemos ao rock, antes que eu apanhe também.
Com o nome já muito
bem escolhido, Paula e Gwynne saíram atrás de colaboradoras.
Em 1983, assinaram com a Moxie e lançaram o EP The
Pandoras.
No ano seguinte, foram
para a Voxx, um selo um pouquinho maior e lançaram o disco
em questão: It's About Time.
Na capa, quatro garotas
com olhar angelical e roupas coloridas poderiam ser consideradas
com mais uma bandinha new wave. Mas a dúvida era desfeita
assim que a agulha começasse a rolar pelos sulcos do vinil.
Nas 12 canções do LP (contra 21 do CD), está
uma aula de rock puro e simples.
Apesar
de sempre virem com músicas extras, alguns CDs cometem
alguns crimes (e este é um dos casos): mudar a ordem original
das canções.
Ninguém até
hoje me explicou porque não colocam as canções
extras no final, respeitando a ordem do LP original.
E o mais bizarro: a música
que abre o CD (dificilmente você achará a bolacha)
é ironicamente o último single das meninas pelo
selo Voxx, antes de assinarem com a Rhino e que seria o maior
sucesso da banda: “Hot Generation”.
No disco, a ordem das canções
é a seguinte:
Lado 1
it's about time
I want him
james
he's not far
haunted beach party
the hump
Lado 2
I live my life
Want need love
It just ain't true
High on a cloud
Cry on my own
Going his way
No CD, essa são
as músicas...
hot generation
you don’t satisfy
it's about time
I want him
james
he's not far
haunted beach party
the hump
I live my life
want need love
it just ain't true
high on a cloud
cry on my own
going his way
I’m here I’m gone
That’s your way out
Why
You Lie
You ain’t no friend of mine
I want my caveman
KALX interview with Barry St. Vitus
O
alto astral é a marca do disco. Ou como disse o DJ Cousin
Dickie da KVOX Radio no texto do encarte: “Comece olhando
a capa. Quando foi a última vez que você viu tão
bonita, ainda que sob luz escura? Olhe fixamente para o visual.
Elas são tão brilhantes, tão vivas, que você
pensará que deve urgentemente colocar um óculos
escuro. E o disco? É com certeza a segunda coisa mais excitante
que fará ao colocar no seu aparelho. Apenas ouça
as vozes. E os arranjos? Você que saber das canções?
Apenas digo uma coisa: acorde no meio da noite e ponha bem alto,
até seus vizinhos darem murros na parede e seus pais berrarem
com você. O que mais ainda quer?”
Além do último
trabalho pela Voxx, também foi o final da colaboração
entre Paula e Gwynne.
A primeira formação
era composta por Paula, Gwynne, Debbi (ou Bambi Conaway) e Casey,
que resultaram no EP e em várias demos produzidas por Bill
Inglot e Chris Asfhord.
Quando assinaram com a
Voxx, os produtores escolhidos foram Gary Stern e Greg Shaw. A
fórmula era a mais simples: casar o rock de garagem com
o som mais suave de Byrds ou Standells (bandas dos anos 60). Os
vocais ásperos, o teclado de fundo de garagem, a guitarra
rítmica podem ser considerados como as grandes virtudes
das Pandoras.
Tudo
bem simples, divertido, com letras divertidas, descompromissadas,
enfim, a fórmula que fez do rock o maior fenômeno
cultural do século passado. Para divulgar “Hot Generation”
deram um show em Nova York ao lado de outra grande banda de garagem
americana chamada Fuzztones.
O próximo passo
foi o lançamento de Stop Pretending, já
pela Rhino, outro belo exemplo do talento das meninas.
O LP trazia as seguintes
faixas:
Lado A
01. In and Out of My Life
(In a Day)
02. I Didn't Cry
03. Anyone But You
04. You're All Talk
05. That's Your Way Out
06. You Don't Satisfy
Lado B
01. Let's Do Right
02. I'm Your Girl
03. The Way It's Gonna Be
04. Stop Pretending
05. Ain't Got No Soul
06. It Felt Alright
Ao ser editado em CD, trazia
algumas faixas extras; inclusive que coincidem com algumas do
lançamento de It's About Time:
01. In and Out of My Life
(In a Day)
02. I Didn't Cry
03. Anyone But You
04. You're All Talk
05. That's Your Way Out
06. You Don't Satisfy
07. Let's Do Right
08. I'm Your Girl
09. The Way It's Gonna Be
10. Stop Pretending
11. Ain't Got No Soul
12. It Felt Alright
13. The Hump
14. I Want My Caveman
15. You Burn Me Up and Down (Demo)
16. Bad Seed (Demo)
17. She's Ugly (Demo)
18. Live Them, Leave Them (Demo)
19. Something I Can't Have (Demo)
20. You Don't Know (Demo)
21. Never Get Enough (Demo)
22. In and Out of My Life (In a Day) (Demo)
Apesar
de elogios rasgados, as Pandoras continuavam desconhecidas. Paula
mudava a formação sem parar até conseguirem
um contrato com um grande selo: a Elektra. Além da casa
nova, mudança de estilos. Cansada de ser obscura, Paula
faz a banda soar como um grupo de heavy metal.
Após dois anos de
trabalho infrutífero em estúdio, acabaram sendo
demitidas, mas o material acabou virando um disputado disco pirata,
e lançado em 1988 pela Restless como EP, chamado Rock
Hard.
Porém, desagradou
os fãs originais e não fez a banda ganhar um novo
séquito. Mesmo assim, Paula continuou e acabou lançando
o último disco com o nome Pandoras, Live Nymphomania,
gravado durante uma apresentação em Dallas, no ano
seguinte.
No
dia 10 de agosto de 1991, enquanto praticava halterofilismo, Paula
passou mal e desmaiou. Acabou morrendo.
A causa oficial foi um
aneurisma, mas muitos duvidam do laudo médico. Alguns juram
que após tantas frustrações e abuso contínuo
de drogas, Paula sofreu um ataque cardíaco enquanto fazia
exercícios embaixo de um forte sol.
Amigos ligados à
cantora, repudiam a última versão. Susan Hyatt,
que tocou na banda com Paula, diz que calúnia maior não
há.
“Eu era guitarrista
do Pandoras quando assinamos com a Elektra. Eu fiquei pouco tempo
depois que o disco (Rock Hard) foi feito. Eu
saí porque Paula estava levando a banda para um estilo
meio Poison e eu não tinha interesse nesse tipo de som.
Mas falar que ela morreu por causa de drogas é um absurdo!
Eu nunca a vi usando nada. É tão ridículo
e ingênuo dizer isso, é apenas um clichê. Paula
era totalmente obcecada pelo seu corpo, adorava se exercitar.
Eu sei disso, porque foi uma de minhas melhores amigas. Ela morreu
de aneurisma cerebral como foi constatado. Fiquei arrasada com
a notícia. Sua última gravação foi
no meu gravador de 16 canais. Ela estava usando o vestido amarelo
que dei e ela adorava. Até hoje tenho saudades dela.”
Mesmo
sendo expulsa da banda, Gwynne usou o nome Pandoras ainda com
Paula viva o que causou algumas confusões, já que
em alguns shows quando Pandoras era contratada, quem aparecia
era Gwynne e não Paula, que era a líder natural
do grupo, líder e compositora.
Se você quiser ouvir
o som das meninas, saiba It's About Time e Stop
Pretending estão em catálogo, assim como
Rock Hard e Live Nymphomania,
sendo que esses dois estão colocados numa edição
2 em 1. Deixo vocês com a discografia da banda.
Um abraço!
Discografia
EP The Pandoras (1984)
It’s About Time (1984)
Stop Prentending (1986)
EP Rock Hard (1988)
Live Nymphomania (1989)
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