61 - The Pandoras - It's About Time


Elas foram uma das melhores bandas de garagem dos anos 80. E tinham dois atrativos: eram mulheres (o que visualmente já melhora e muito) e produziam boas músicas. Lideradas por Paula Pierce, alternaram várias formações e estilos. Depois do segundo disco e sem muito sucesso comercial, viraram até uma banda de heavy metal. Paula, aliás, é uma das figuras mais cultuadas do underground norte-americano e sua morte misteriosa em 1991 (oficialmente por aneurisma cerebral, mas especula-se que foi por abuso de drogas pesadas), apenas fez aumentar a lenda sobre um dos grupos femininos mais interessantes da época (a outra grande banda contemporânea delas e que começou no mesmo caminho foram as Bangles, que depois viraram um enorme sucesso e que prometo contar a história) e, de quebra, um dos disquinhos mais bacanas de puro rock and roll. It's About Time, primeiro LP das Pandoras é um clássico. Mais uma daquelas bandinhas que merecem ser conferidas, caso você pense que rock em estado bruto é apenas da alçada de marmanjos barbados.


É o tipo de seqüência que enlouquecem meus seis leitores cativos. Falo de uma banda grande até dizer chega (Simple Minds) e caio em uma obscura. Todo esse nariz de cera (termo feio pacas, mas é a gíria) é para tentar preencher um pouco de espaço, porque o material sobre as Pandoras é parco e muito confuso. Em compensação será a coluna com mais fotos. Enfim, vou tentar tirar alguns coelhos da cartola para falar da primeira banda totalmente composta por garotas que abordo de uma maneira decente.

Uma das bandas de Paula e Gwynne pré-Pandoras Paula sempre foi uma dessas garotas em que sonhou ter uma banda de rock. Não apenas ser uma vocalista bonitinha, nada disso. Ela queria ter uma banda, tocar sua guitarra e trabalhar com mais garotas.

Montar uma banda de rock formada só por representantes do chamado “sexo frágil”. Aos 21 anos já era uma veterana de shows de grupos punks, de rockabilly e congêneres que tocassem na em Los Angeles ou arredores.

A garota que detestava a escola, namoradeira e que sonhava em ser estrela, começou a realizar seu sonho ao conhecer Gwynne Kahn. Motivadas, montaram seus primeiros grupinhos, até resolverem adotar o nome The Pandoras: segundo a mitologia grega, Pandora foi a primeira mulher criada. Ela foi feita por Hefaísto, irmão de Zeus, e adquiriu vida. Pandora foi entregue ao primeiro homem pelo Deus Hermes. Como era uma dádiva, veio com uma missão: cuidar de uma caixa que não deveria ser aberta em hipótese nenhuma. Pandora acabou abrindo-a por curiosidade e dela saíram todos os males do mundo (morte, a noite, que na mitologia grega também é uma Deusa e seus filhos são o medo e o sono).

capa do disco It's About TimeOs mais apressadinhos dirão: “tá vendo como são as mulheres culpadas de tudo neste mundo?” Eu aconselho não pronunciar essa lapidar conclusão perto de sua namorada, irmã, mãe ou esposa, sob o risco de levar um rolo de macarrão ou uma frigideira na cabeça (que são os utensílios que melhor utilizam...) Chega de besteira!!! Voltemos ao rock, antes que eu apanhe também.

Com o nome já muito bem escolhido, Paula e Gwynne saíram atrás de colaboradoras. Em 1983, assinaram com a Moxie e lançaram o EP The Pandoras.

No ano seguinte, foram para a Voxx, um selo um pouquinho maior e lançaram o disco em questão: It's About Time.

Na capa, quatro garotas com olhar angelical e roupas coloridas poderiam ser consideradas com mais uma bandinha new wave. Mas a dúvida era desfeita assim que a agulha começasse a rolar pelos sulcos do vinil. Nas 12 canções do LP (contra 21 do CD), está uma aula de rock puro e simples.


Primeira formação das PandorasApesar de sempre virem com músicas extras, alguns CDs cometem alguns crimes (e este é um dos casos): mudar a ordem original das canções.

Ninguém até hoje me explicou porque não colocam as canções extras no final, respeitando a ordem do LP original.

E o mais bizarro: a música que abre o CD (dificilmente você achará a bolacha) é ironicamente o último single das meninas pelo selo Voxx, antes de assinarem com a Rhino e que seria o maior sucesso da banda: “Hot Generation”.

No disco, a ordem das canções é a seguinte:

Lado 1

it's about time
I want him
james
he's not far
haunted beach party
the hump

Lado 2

I live my life
Want need love
It just ain't true
High on a cloud
Cry on my own
Going his way

No CD, essa são as músicas...

hot generation
you don’t satisfy
it's about time
I want him
james
he's not far
haunted beach party
the hump
I live my life
want need love
it just ain't true
high on a cloud
cry on my own
going his way
I’m here I’m gone
That’s your way out
Why
You Lie
You ain’t no friend of mine
I want my caveman
KALX interview with Barry St. Vitus

A formação que gravou o disco O alto astral é a marca do disco. Ou como disse o DJ Cousin Dickie da KVOX Radio no texto do encarte: “Comece olhando a capa. Quando foi a última vez que você viu tão bonita, ainda que sob luz escura? Olhe fixamente para o visual. Elas são tão brilhantes, tão vivas, que você pensará que deve urgentemente colocar um óculos escuro. E o disco? É com certeza a segunda coisa mais excitante que fará ao colocar no seu aparelho. Apenas ouça as vozes. E os arranjos? Você que saber das canções? Apenas digo uma coisa: acorde no meio da noite e ponha bem alto, até seus vizinhos darem murros na parede e seus pais berrarem com você. O que mais ainda quer?”

Além do último trabalho pela Voxx, também foi o final da colaboração entre Paula e Gwynne.

A primeira formação era composta por Paula, Gwynne, Debbi (ou Bambi Conaway) e Casey, que resultaram no EP e em várias demos produzidas por Bill Inglot e Chris Asfhord.

Quando assinaram com a Voxx, os produtores escolhidos foram Gary Stern e Greg Shaw. A fórmula era a mais simples: casar o rock de garagem com o som mais suave de Byrds ou Standells (bandas dos anos 60). Os vocais ásperos, o teclado de fundo de garagem, a guitarra rítmica podem ser considerados como as grandes virtudes das Pandoras.

capa do disco Stop PretendingTudo bem simples, divertido, com letras divertidas, descompromissadas, enfim, a fórmula que fez do rock o maior fenômeno cultural do século passado. Para divulgar “Hot Generation” deram um show em Nova York ao lado de outra grande banda de garagem americana chamada Fuzztones.

O próximo passo foi o lançamento de Stop Pretending, já pela Rhino, outro belo exemplo do talento das meninas.

O LP trazia as seguintes faixas:

Lado A

01. In and Out of My Life (In a Day)
02. I Didn't Cry
03. Anyone But You
04. You're All Talk
05. That's Your Way Out
06. You Don't Satisfy

Lado B

01. Let's Do Right
02. I'm Your Girl
03. The Way It's Gonna Be
04. Stop Pretending
05. Ain't Got No Soul
06. It Felt Alright

Ao ser editado em CD, trazia algumas faixas extras; inclusive que coincidem com algumas do lançamento de It's About Time:

01. In and Out of My Life (In a Day)
02. I Didn't Cry
03. Anyone But You
04. You're All Talk
05. That's Your Way Out
06. You Don't Satisfy
07. Let's Do Right
08. I'm Your Girl
09. The Way It's Gonna Be
10. Stop Pretending
11. Ain't Got No Soul
12. It Felt Alright
13. The Hump
14. I Want My Caveman
15. You Burn Me Up and Down (Demo)
16. Bad Seed (Demo)
17. She's Ugly (Demo)
18. Live Them, Leave Them (Demo)
19. Something I Can't Have (Demo)
20. You Don't Know (Demo)
21. Never Get Enough (Demo)
22. In and Out of My Life (In a Day) (Demo)

capa do EP Rock HardApesar de elogios rasgados, as Pandoras continuavam desconhecidas. Paula mudava a formação sem parar até conseguirem um contrato com um grande selo: a Elektra. Além da casa nova, mudança de estilos. Cansada de ser obscura, Paula faz a banda soar como um grupo de heavy metal.

Após dois anos de trabalho infrutífero em estúdio, acabaram sendo demitidas, mas o material acabou virando um disputado disco pirata, e lançado em 1988 pela Restless como EP, chamado Rock Hard.

Porém, desagradou os fãs originais e não fez a banda ganhar um novo séquito. Mesmo assim, Paula continuou e acabou lançando o último disco com o nome Pandoras, Live Nymphomania, gravado durante uma apresentação em Dallas, no ano seguinte.

Foto do encarte do CDNo dia 10 de agosto de 1991, enquanto praticava halterofilismo, Paula passou mal e desmaiou. Acabou morrendo.

A causa oficial foi um aneurisma, mas muitos duvidam do laudo médico. Alguns juram que após tantas frustrações e abuso contínuo de drogas, Paula sofreu um ataque cardíaco enquanto fazia exercícios embaixo de um forte sol.

Amigos ligados à cantora, repudiam a última versão. Susan Hyatt, que tocou na banda com Paula, diz que calúnia maior não há.

“Eu era guitarrista do Pandoras quando assinamos com a Elektra. Eu fiquei pouco tempo depois que o disco (Rock Hard) foi feito. Eu saí porque Paula estava levando a banda para um estilo meio Poison e eu não tinha interesse nesse tipo de som. Mas falar que ela morreu por causa de drogas é um absurdo! Eu nunca a vi usando nada. É tão ridículo e ingênuo dizer isso, é apenas um clichê. Paula era totalmente obcecada pelo seu corpo, adorava se exercitar. Eu sei disso, porque foi uma de minhas melhores amigas. Ela morreu de aneurisma cerebral como foi constatado. Fiquei arrasada com a notícia. Sua última gravação foi no meu gravador de 16 canais. Ela estava usando o vestido amarelo que dei e ela adorava. Até hoje tenho saudades dela.”

Foto de um show em Nova York, em 1985, utilizada na contra-capa do CD Mesmo sendo expulsa da banda, Gwynne usou o nome Pandoras ainda com Paula viva o que causou algumas confusões, já que em alguns shows quando Pandoras era contratada, quem aparecia era Gwynne e não Paula, que era a líder natural do grupo, líder e compositora.

Se você quiser ouvir o som das meninas, saiba It's About Time e Stop Pretending estão em catálogo, assim como Rock Hard e Live Nymphomania, sendo que esses dois estão colocados numa edição 2 em 1. Deixo vocês com a discografia da banda.

Um abraço!

Discografia

EP The Pandoras (1984)
It’s About Time (1984)
Stop Prentending (1986)
EP Rock Hard (1988)
Live Nymphomania (1989)

 

Colunas