Provavelmente você nunca ouviu
falar dos Pastels, o que não chega a ser algo grave. Afinal,
quem já ouviu os Pastels em território brasileiro?
Quantos discos deles saíram por aqui? Pois é, assim
fica complicado conhecer mais uma banda dos anos 80, não
é mesmo? Liderados por Stephen Pastel, um ícone
da cena independente inglesa e que também chegou a lançar
trabalhos pela Creation, os Pastels foram colocados em uma categoria
com diversos nomes (C86, "shambling," "anorak pop,"
"twee pop"), mas com pouca diferença do som feito
por Jesus and Mary Chain: melodias doces, um barulhinho, vocais
desafinados, lassidão e alguma ingenuidade.
Os
Pastels começaram na mesma Escócia dos irmãos
Reid, do Primal Scream e de tanta gente boa e mais ou menos na
mesma época: 1982.
Tudo começou quando
Stephen Pastel resolveu começar uma carreira musical, tentando
fugir da vida modorrenta de Glasgow. Nas décadas seguintes,
ele seria um enorme divulgador das bandas de seu país,
ajudando não apenas o Jesus and Mary Chain a dar os seus
primeiros passos, assim como o Teenage Fanclub e até o
Belle & Sebastian.
Inspirado na música
feita no final dos anos 70 e começo dos anos 80, Stephen
queria recuperar a ingenuidade e simplicidade dos anos 60, adaptados
à uma nova realidade.
Stephen
convidou inicialmente o guitarrista Brian Superstar e o baterista
Chris Gordon e em 1982 debutaram com compacto Songs for
Children.
Logo após o lançamento,
Gordon deixa a banda começando um interminável rodízio
de músicos. Após mais um compacto naquele ano -
Heavens Above - se mudaram para a Rough Trade,
em 1983 e lançaram o compacto I Wonder Why,
no formato de flexidisc.
O
flexidisc é praticamente algo inédito em terras
brasileiras. Que eu me lembre, só a revista BIZZ usou o
formato em duas ou três edições iniciais -
a do número 6, com os Smiths tocando "Still Ill"
é uma delas - e o Violeta de Outono - quando lançou
o cassete Early Years, juntos com um libreto
que continha fotos, história e um single, no formato, de
Fabio Golfetti, Numa Pessoa Só, sob o
nome de Opera Invisivel, um projeto que Fabio abraçou paralelamente
ao longo dos anos, e que lançou por selo próprio,
batizado também de Invisivel.
Mas,
deixemos a digressão de lado e voltemos aos Pastels...
Após o lançamento, o grupo experimentou outra gravadora,
a então novata Creation (sim, você leu bastante sobre
ela nas últimas colunas....), onde gravaram dois belos
compactos, Something's Going On e A Million
Tears.
No ano seguinte, novo selo
e novo compacto: saem da Creation, entrando na minúscula
Glass e gravam I'm Alright With You.
No ano seguinte, participam
da já mítica fita cassete C-86 da revista New
Musical Express, com a canção "Breaking
Lines" e são considerados os maiores expoentes do
movimento "anorak" e conseguem alguma projeção
na Europa.
Os
Pastels ainda não tinham explodido, mas Stephen, ao lado
de David Keegan fundaria o primeiro de seus selos próprios,
o 53rd & 3rd, nome de uma antiga canção dos
Ramones e que seria lar de várias bandas como The Vaselines,
Shop Assistants e Soup Dragons.
Ainda em 1986, Stephen
recruta Aggi Wright, que havia tocado com os Shop Assistants e
lançam vários singles: Truck Train Tractor,
Crawl Babies e Coming Through.
Porém, já
era mais do que hora de terem um LP editado e isso acontece em
1987, com Up For A Bit With The Pastels. Em 1988,
a Creation lança uma coletânea dos compactos da banda
em LP, com o nome de Suck On The Pastels.
No
ano seguinte, lançam o segundo LP, o clássico Sittin'
Pretty, com a adição de Eugene Kelly (ex-Vaselines)
e David Keegan, em algumas faixas.
No ano seguinte, Aggi e
Stephen resolvem continuar os Pastels sozinho e convidam Katrina
Mitchell, baterista do Melody Dog e grande fã do grupo,
para integrar a formação mais estável desde
então. Será como um trio, que os Pastels ficarão
mais conhecidos.
Com
Katrina, Aggi e Stephen entrarão em uma fase mais prolífica,
porém pouco comentada. Em 1994, quando lança o duplo
Truckload of Trouble, Stephen comenta o legado
de sua banda: "muitos acham que somos um grupo extremamente
obscuro, mas Truckload of Trouble já vendeu
mais de 10 mil cópias pelo mundo. Para mim, uma banda obscura
é aquela que tem um perfil bem tímido, que você
só conhece quando elas dão algunas cassetes para
seus amigos. Podemos não ser tão famosos quanto
os grupos da moda, mas se alguém minimamente interessado
em música contemporânea, for procurar alguns bons
discos, com certeza encontrará alguns dos nossos."
O
disco marca uma nova mudança de selo, já que o 53rd
& 3rd havia se extinguido anos atrás. "Para ser
honesto, eu nunca gostei desse papel de empresário e o
fracasso do 53rd & 3rd deve-se, em parte, ao meu fracasso
nessa parte. Eu sempre me senti um tanto marginal em relação
a isso. Eu montei vários selos com a idéia inicial
de ajudar meus amigos a lançarem seus discos. Alguns selos
tiveram uma experiência mais positiva, mas basicamente sempre
foi uma saída que encontrei para ajudar outros músicos."
Em
1995, o grupo lança outro bom disco, Mobile Safari,
que consolida ainda mais a marca do grupo. Além disso,
a banda começa ter suas músicas remixadas por outros
artistas, casos de My Bloody Valentine, Stereolab, The Third Eye
Foundation, Cornelius, entre outros.
*No mesmo ano surge o álbum
“Illumination” (lançado pela hoje famosa Domino),
que segue uma linha mais introspectiva. No ano seguinte surge
“Illuminati”, que é nada mais que o álbum
anterior remixado por outros artistas (Jim O'Rourke, Mouse on
Mars, Stereolab etc).*
"Trabalhar em discos
de outros artistas é um grande privilégio e uma
grande responsabilidade, pois você irá mexer em algo
que já é quase perfeito. Eu fico impressionado como
as pessoas perdem tempo inventando mentiras sobre os artistas.
Veja o nosso caso. Muitos afirmam que não nos damos bem
com o Teenage Fanclub. Eles são nossos amigos e já
nos emprestaram equipamentos e pessoal para nossos shows. Existe
uma lenda que as bandas escocesas se odeiam, mas isso é
uma tremenda bobagem."
Embora
estejam há algum tempo sem lançar um disco - o último
foi The Last Great Wilderness, de 2003,
pelo mais recente selo de Stephen, Geographic,
o grupo não se separou oficialmente.
Na verdade, a banda segue fazendo seu trabalho e hoje
os Pastels gozam de um grande respeito no meio musical e a prova
disso é que Nirvana e Sonic Youth os consideram uma grande
influência. Antes de me despedir, uma nota: o parágrafo
que abre e encerra com um asterico (*) é de autoria de
Gilberto Custódio, do zine Esquizofrenia. Obrigado, Gilberto!
Deixo vocês com a
longa discografia do grupo. Um abraço e até a próxima
coluna.
Discografia
Songs for Children (compacto,
1982)
Heavens Above (compacto) (1982)
I Wonder Why (flexi-disc) (1983)
Something Going On (compacto) (1984)
A Million Tears (compacto) (1984)
I'm Alright With You (compacto) (1985)
Heavens Above / I Wonder Why (compacto) (1985)
Truck Train Tractor (compacto) (1986)
Crawl Babies (compacto) (1987)
Up For A Bit With The Pastels (1987)
Comin'through (compacto) (1987)
Truck Train Tractor / Crawl Babies (compacto) (1987)
Suck On The Pastels(1988)
Baby You're Just You (compacto) (1989)
Sittin' Pretty (1989)
Up For A Bit With The Pastels (1990)
Jad Fair And The Pastels - This Could Be The Night (compacto)
(1991)
Songs For Children (compacto) (1991)
Speeding Motorcycle (compacto) (1991)
Thru' Your Heart (compacto) (1991)
Jad Fair And The Pastels - No. 2 (compacto (1992)
Thank You For Being You (compacto) (1993)
Truckload of Trouble - (1994)
Olympic World of Pastelism Domino (compacto) (1994)
Yoga (compacto) (1994)
Mobile Safari (1995)
Unfair Kind of Fame (1997)
The Hits Hurt (compacto) (1997)
Illumination (1997)
One Wild Moment (1998)
Illuminati (1998)
The Last Great Wilderness (2003)
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