Paulo Barnabé,
o Patife Band do rock brasileiro é um sujeito inteligente,
muito acima do normal e que gosta de falar muito sobre suas idéias,
o grupo e do que pensa. Ao pedir uma entrevista a ele, não
pensei que responderia tão rapidamente, ainda mais dando
respostas longas e esclarecedoras. Uma urgência perceptível
nas músicas do Patife e no rápido contato com ele,
via e-mail. Assim sendo, só me restou editar essa entrevista
igualmente de maneira rápida.
Pergunta:
- Gostaria que falasse um pouco de seu background, já que
é irmão de Arrigo. Vocês tiveram uma formação
cultural em casa? Como se iniciou o interesse pela música?
Paulo Barnabé: - A formação
que tivemos foi igual a de muitas outras familias de classe média
da época (década de 60), que era colocarem seus
filhos em conservatórios musicais da cidade. Então,
estudei piano e teoria músical no Conservatório
Municipal de Londrina, mas por pouco tempo, uns três anos
e parei. Aí fui estudar violão com professor particular,
etc. Depois me interessei por percussão e misturei tudo
com o tempo. Quando vim pra São Paulo ainda não
tinha um processo de composição e me dedicava mais
aos instrumentos, mas nunca fui um bom instrumentista. Eu já
fuçava muito a parte em que toca a criação:
músical, roteiros de cinema, poesia, contos etc.
Só mais tarde - meados da década de 80 - após
ter participado do primeiro disco do Arrigo é que começei
a me preparar pra um trabalho própio.
Pergunta: -
O Patife Band foi um dos mais interessantes grupos dos
anos 80. Como você começou a banda?
Paulo Barnabé: - Eu tinha algumas músicas
e frases músicais ou partes de outras músicas minhas e
com parceria com o Arrigo. Comecei a trabalhar essas partes e
desenvolver as letras. Eu já havia participado como letrista
e compositor em 2 músicas do trabalho do Arrigo, "Acapulco
Drive'In" e "Neide Manicure" e gostava muito de
escrever letras. A primeira que saiu foi "Tô Tenso",
que é meio história em quadrinhos; depois veio "Pesadelo",
que era um texto que fazia parte de uma ópera que íamos
montar no começo da década de 80 e se chamava João
Bobo e as Bonecas Infláveis.
A próxima foi "Pregador
Maldito", que também fazia parte dessa ópera
tanto que o nome é de um personagem da ópera e não
tem muito sentido se você for pensar esse nome só
dentro do contexto da letra (ou até pode ter, depende da
interpretação).
Tive uma idéia na época, através de minhas
andanças com os punks de periferia (nada a ver com a música
do Gilberto Gil, he he), de musicar o "Noite Feliz"
colocando dentro desse contexto e fui montando o repertório
do primeiro EP, intitulado Patife Band.
Já com tudo na mão, comecei a trabalhar os temas
com os músicos e gravamos em 85. Esse foi o primeiro registro
de meu trabalho.
Pergunta: - Vocês
conseguiram fazer uma mistura de música dodecafônica
com punk, pós-punk, além de outros ritmos. A música
de vocês é nervosa, seus vocais eram quase espasmódicos.
Um dos nomes que me vem a mente em alguns elementos é o
grupo norte-americano Pere Ubu. Como você definiria a Patife?
Paulo Barnabé: - Patife é meu alter-ego,
é a minha visão músical, minhas frustrações
físicas emocionais e também a do próximo,
do outrém, daqueles que perambulam, tropeçam, se
enganam caem no ridículo pisam na merda...
é uma maneira de fazer som muito particular. Eu
não conheço especificamente nomes de grupos da época;
o que eu fiz foi me inspirar também entre as outras sonoridades
que fui infuenciado com o que estava rolando de mais radical que
era o punk. A minha música já era agressiva e percussiva
e o contato com o punk ajudou um pouco a definir tudo o que rolava
na minha cabeça.
Pergunta: - Várias
bandas contemporâneas foram influenciadas por vocês.
Penso que os Titãs copiaram muito o estilo de vocês,
concorda com isso?
Paulo Barnabé: - Sim, acho que uma parte
teve a ver. Pode ser, eu já havia gravado o primeiro EP
e havia participado da trilha sonora do filme Cidade Oculta
com o "Poema em Linha Reta" e novamente o "Pregador
Maldito".
Pergunta:
- Gosto muito do EP de vocês. Uma música particularmente
interessante é Peiote e gosto muito da versão de
"Noite Feliz". Foi um disco muito bem produzido sendo
um lançamento independente. Fale um pouco das gravações.
Paulo Barnabé: - "Peiote" é
um música composta em meados de 70, eu era bem novo e a
música saiu quase inteira, de uma vez, não tive
que trabalhar muito como sempre faço. Eu queria ter um
espaço pra improvisação vocal lisérgica.
Na época, era bem mais experimental que a gravação
no disco, mas valeu. O disco foi gravado no estúdio que
era do Rogério Duprat, muito bom, e os músicos também
eram muito bons: André Fonseca na guitarra, James Müller
bateria, Sidney Giovenazzi, que nesse participou de uma faixa
("Pregador Maldito") e convidados. Ainda não
era uma banda fixa.
Pergunta:
- Vocês trabalharam também no filme
Cidade Oculta estrelado por seu irmão e Carla Carmuratti.
Você tem alguma trilha-sonora que te marcou muito? Gosta
de cinema?
Paulo Barnabé: - Como disse acima, há
duas músicas na trilha, o "Pregador" e a novíssima
- na época - "Poema em Linha Reta" feito em parceria
com o Arrigo e arranjada por mim. Gosto de Nino Rota e outros
que agora não me lembro, mas há alguns americanos
mais na linha comercial como o que fez Guerra nas Estrela,
Indiana Jones etc...
Pergunta: - Corredor Polonês é um belíssimo
disco e bem avançado para a época. Como foi a repercussão
dele? Por que o grupo não seguiu em frente?
Paulo Barnabé: - A repercussão
foi melhor que a venda. O fato de ser gravado por uma multinacional
impediu, creio eu, de se ter um tratamento mais específico
para cada artista, fica tudo em cima do mercado, de vendas, não
há direcionamento específicos, então ficamos
meio entrincheirados dentro desse esquema na gravadora. Mas houve
também um problema muito sério com um dos músicos
e tive que mexer na formação logo após o
lançamento no Rio de Janeiro, em 87, e continuamos até
início de 90. Aí parei, porque estava precisando
compôr novas músicas e também por não
estarmos fazendo muito shows e voltei com outra formação
em 2002, creio eu.
Pergunta: - Entre
ele e o CD ao vivo foram mais de 15 anos. O que você fez
nesse tempo?
Paulo Barnabé: - Fiquei um tempo (cinco
anos) fazendo curadoria de um projeto Rock Contemporâneo,
no Sesc Ipiranga, fiz alguns shows com meu irmão, participei
de duas óperas compostas por ele, fizemos turnês,
chegamos a ficar uma temporada em Buenos Aires e também
temporadas no Rio aqui em São Paulo e turnês pelo
interior de São Paulo. Fiz uma ou duas trilhas para longa-metragem
e sempre compondo e arranjando repertório para o próximo
trabalho.
Pergunta:
-Assisti um show de vocês na década de 80 e me lembro
que saí exausto só de ver você se mexer no
palco. Os shows continuam fortes ou o tempo diminuiu a intensidade?
Paulo Barnabé: - Ah!Ah!... Só vendo
agora... atualmente esou mais parado, tocando bateria e cantando,
mas o fato de ficar parado não quer dizer nada, porque
tocar bateria é muito exaustivo.
Pergunta: - Quais
são seus cinco discos favoritos e seus cinco artistas?
E o que você costuma ouvir atualmente?
Paulo Barnabé: - Estou ouvindo Gershiw,
Rhapsody in blue e Um Americano em Paris
e escuto a radio Cultura sempre que dá. Outro dia revi
um dos discos tardios que fizeram minha cabeça, Clube
da Esquina com todo esse pessoal de Minas Gerais e Milton
Nascimento. De rock não estou escutando nada, por enquanto,
estou bem desiludido desse gênero e acredito que o que faço
não é rock e, sim, uma obra autoral contemporânea.
Pergunta:
- Corredor Polonês foi
relançado em CD em 2002, mas hoje é uma raridade
de se achar. Há alguma chance de um novo relançamento
dele? E do primeiro EP?
Paulo Barnabé: - Estive um dia com o Charles
Gavin numa entrevista para o seu programa, no Canal Brasil, e
ele me disse que essa possibilidade era quase nula. Não
há interesse por enquanto, só se o meu próximo
trabalho tiver uma repercussão bem grande poderá
ser um motivo para um nova reedição.
Pergunta: -
Quais são seus planos futuros? Escreveu novas canções?
Há planos de um novo CD?
Paulo Barnabé: - Sim, tá tudo dito
aí em cima... quero gravar sem preocupações...
uma música por vez quando for dando e ir assim, até
completar as 11 músicas prontas pra esse novo álbum.
Acho que vai demorar um pouco, mas pretendo no meio do caminho
lançar um single antes de terminar o álbum
com uma ou duas músicas novas.
Pergunta: - O
que pensa do mp3 e a da internet?
Paulo Barnabé: - Prefiro os CDs e prefiro
mais os vinis, não domino bem internet, mas acho que é
o meio revolucionário de divulgação e de
escuta, consumo.
Pergunta: -
Você se sente antenado com a cena rock atual do
Brasil ou não? Sua afinidade é maior com os artistas
da sua geração ou se sente próximo aos mais
jovens?
Paulo Barnabé: - Nem com artistas de minha
geração eu era antenado. Como disse, em algum momento
tive contato com os punks: Inocentes, Ratos, Cólera, Olho
Seco, Excomungados etc, por um período e o que acontecia
no cenário na época eu não acompanhava, ou
se acompanhava, era através da mídia. Não
é uma atitude ególatra minha, é que realmente
não havia semelhanças ou afinidades, o meu som era
muito pessoal, não combinava com nada na época.
Os caras que se aproximaram de mim, ou que eu também me
aproximei, dentro do rock, foram os punks mais radicais.
Pergunta: - Deixe
uma mensagem aos fãs, por favor. Obrigado pela chance.
Paulo Barnabé: - Fãs? Por favor,
não virem fãs, virar fã é parasitar,
he!he!
Grande abraço a todos!!! |