237 - PiL - This Is What You Want... This Is What You Get

Sem grana, sem banda. Era esse a vida de John Lydon em 1984. O PiL estava arruinado financeiramente, com brigas internas e pouca motivação. Boas idéias e outras nem tanto mostravam que John Lydon não era tão democrático como se fazia pensar. E o PiL atravessava seu período mais crítico e com péssimas vendagens. A saga, depois de anos, continua aqui...


Boa vida custa grana, coisa que o PiL não tinha mais após gastar tudo o que havia recebido com Metal Box ou Flowers of Romance. E o problema é que a banda estava morta: Lydon ficava o dia inteiro bebendo cerveja, Levene indo em festas e se chapando e Jeanette fazendo contatos sabe-se lá com quem ou como. Todos os projetos do grupo estavam apenas na teoria.

Para piorar, uma matéria da revista inglesa Sounds dava conta que Lydon nada fazia de sua vida na América, a não ser se chapar de cerveja vendo televisão e que havia engordando bastante. "Confesso, sou um viciado em televisão. Aqui tenho tudo o que preciso: 50 canais de tv!"

Enquanto Lydon nada fazia, Levene conheceu Martin Atkins, baterista do Brian Brain e o convidou para entrar no grupo. E Levene tentava fazer algo e conseguiu que dois amigos seus, advogados, arranjasse um estúdio para que pudessem gravar o que quisessem pagando uma tava mínima. E dinheiro para a tal taxa?

Isso foi resolvido com o cachê que John recebeu para aparecer no filme Pshycho Jogger, interpretando a si mesmo, pela bagatela de US$ 10 mil, apenas. Lydon tentou ganhar mais algum sugerindo que o PiL cuidasse da trilha-sonora, o que não foi o caso.

Com o dinheiro, Levene e Atkins se trancaram no estúdio o dia todo, enquanto Lydon viajava pela Europa, dando entrevistas e promovendo o grupo. O cantor confessou que há dois meses e meio não via os outros, mas que eles estavam trabalhando feito maníacos em cima das letras que havia enviado.

Lydon tentava montar um selo próprio que seria batizado como P.E.P. (Public Entertainment Productions) e também uma organização chamada M.I.C. (Multi Image Corporations), para desenvolver idéias do grupo. Keith também havia recrutado Pete Jones, baixista do Brian Brain.

capa do disco Commercial ZoneEm Novembro de 1982 o grupo anunciou que tinha um novo trabalho, um mini-álbum de seis músicas, Commercial Zone. Na verdade, o disco teria nove canções e só seria lançado um ano depois, por problemas legais e que culminaram com a saída de Levene.

Ainda assim, para comemorar o fato, foi realizada uma imensa coletiva em um restaurante caro de Hollywood para anunciar uma nova turnê.

A coletiva ficou marcada por um acesso de raiva do cantor: "fico muito irritado quando falam mais do PiL como um fenômeno sociológico do que nossa música. Nós somos uma banda que faz música acessível."

Nesse mesmo período, Jeanette Lee deixou o grupo, por motivos jamais explicados. "John nunca me disse que o se passou entre os dois quando estiveram em Roma", disse Levene.

O futuro disco continha as seguintes faixas:

Lado 1: "Love Song" / "Mad Max (Bad Life)" / "Bad Night" / "Solitaire".
Lado 2: "The Slab (The Order Of Death)" / "Lou Reed Pt 1" / "Lou Reed Pt 2 (Where Are You)" / "Blue Water" / "Miller Hi-Life".

Lou Bernardi, John Lydon, Keith Levene e  Martin AtkinsO disco teria uma recepção discreta e um dos motivos foi por ter saído por um selo próprio, PIL Records Inc. "Eu fiz um acordo e algumas pessoas imprimiram 30 mil cópias do disco, mas Richard Branson - nosso empresário - enviou a eles uma intimação, suspendendo a prensagem. Eu fui até ele e pedi para que conseguisse mais dinheiro com a rescisão do PiL com a Virgin. Eu pensei que tinha conseguido, quando ele me disse: 'olha, não-oficialmente você tem os direitos sobre esse disco na América, mas eu vou dizer a todo mundo que é mentira e você terá que me levar ao tribunal."

Martin Atkins discorda dessa versão: "Keith não tinha licença nenhuma, ele roubou as fitas! Isso não deveria ter sido vendido para ninguém! Essas gravações pertenciam a nós! Na verdade, Keith não sabia nada sobre metade dessas canções, até roubá-las. Canções como ‘Miller Hi-Life’ foram feitas por mim, Pete Jones e Bob Miller, nosso engenheiro de som. Eram experimentações nossas."

O grupo começou uma pequena série de shows em Nova York, no dia 28 de setembro, no Roseland Ballroom e a excursão propriamente dita começa em janeiro e vai até janeiro de 1983, com poucos shows, no entanto.

Lydon, Keith e Mick Jones nos bastidores de um show do Clash, em 82Em 21 de novembro de 1982, Keith Levene casa oficialmente com a antiga namorada, Lori e 1983 começa quente para o grupo: em 14 de maio, Pete Jones deixa o grupo; no dia 4 de junho é a vez de Keith, matando a formação original do PiL.

Keith confessa que sua esposa teve grande participação na decisão, já que o ajudou a enfrentar seus problemas químicos e queria deixá-lo longe dos demais, que tanto odiava.

Levene já tivera enormes atritos com Lydon durante a excursão e que foram aumentados com o fracasso de Commercial Zone e na confecção do novo single, This Is Not a Love Song. Commercial Zone só seria lançado e de maneira, limitada, em Novembro de 1983.

A mixagem final do novo single foi a gota d'água no relacionamento entre Lydon e Levene.

Na verdade, a saída ocorreu por causa de Martin Atkins. Cada vez mais amigo de John, foi o baterista quem ligou para o vocalista quando Levene chegou ao estúdio para ouvir as mixagens da nova canção. John ligou imediatamente para lá e me mandou cair fora.

capa da edição de Keith Levenecapa da edição alemã

Em agosto de 1984, contrariando a todos, Keith Levene lançaria Commercial Zone - Limited Edition. Segundo ele, trabalhou duro no projeto enquanto os demais nada fizeram. "Eu terminei o disco. Sei que foi contra o desejo do PiL, mas ninguém estava fazendo nada contra isso, na época. Não diria que os vocais de John estão bons, mas fiz meu melhor e no final, ficou bem razoável."

O disco é até hoje motivo de disputa judicial entre Lydon e Atkins contra Levene e por isso jamais foi considerado um lançamento oficial. E John realmente odeia seus vocais nessas canções.

Levene conta que estava muito decepcionado com o que tinha ouvido sobre seu velho amigo, em Lons Angeles. Perdido, Lydon não tinha mais uma banda e ficava tocando com qualquer fã que sabia o repertório do Sex Pistols. Esse era o funcionamento do cantor, que ia perdendo, aos poucos, seu antigos companheiros.

O single foi lançado no dia 5 de setembro e alcançou boas vendagens, atingindo o quinto posto, a melhor posição da história do grupo. A versão de 12 polegadas trazia quatro canções, sendo a última "Public Image": "This is Not a Love Song" / "Blue Water" / "This is Not a Love Song (Remix)" / "Public Image".

capa do disco Live InTokyoEnquanto o disco novo de estúdio não ficava pronto, o grupo resolveu lançar um LP ao vivo, Live In Tokyo.

O projeto nasceu da maneira mais inusitada possível: o grupo recebeu um convite para fazer oito shows naquele país por um módico cachê de US$ 9 mil mais despesas pagas. No entanto, Lydon estava falido e aceitou correndo. Sem banda, saiu correndo com Atkins para montar um grupo. Chamaram o baixista Louie Bernardi, o guitarrista Joe Guda e o tecladista Tom Zvoncheck.

Os shows transcorreram bem e o grupo recebeu um convite ainda mais interessante: por que não gravarem um disco ao vivo utilizando uma mesa digital de 32 canais Mitsubishi X-800 PCM tão sofisticada que só existem mais duas dessas no mundo? A banda, claro, nem pensou duas vezes. Dessa maneira, resolveram gravar as apresentações do dia 1º e 2 de julho, que também seria lançado em vídeo.

Apesar de bem gravado, o disco (duplo) soa frouxo. Primeiro, porque os músicos não eram grande coisa. Segundo, porque todo aquele caos ordenado por Levene e Wobble já não existia e a banda soava como um grupo convencional, longe dos experimentalismos.

Ainda assim, o disco foi celebrado pela Virgin, que o colocou no mercado no dia 26 de setembro de 1983. Afinal, ha 29 meses não se tinha um novo álbum da banda. O álbum teve vendagens modestas e alcançou apenas o 28º lugar no Reino Unido.

O vocalista dava sinais de que estava perdido e decepcionou muitos fãs ao se apresentar no programa televisivo The Tube tocando o clássico dos Pistols, "Anarchy In The UK" junto com "Flowers of Romance" e "This Is Not A Love Song'", no dia 28 de outubro. Lydon, que havia jurado jamais olhar para trás e usar canções de sua ex-banda, mostrava que estava traindo a si e aos outros, mais uma vez.

No dia 3 de novembro, o vocalista participa do lançamento do filme Order of Death. Ele contribuiu com a faixa-título, feita ainda com Keith Levene. Segundo John, ele gravou os vocais por um telefone, já que ele estava na Europa e o guitarrista, na América.

A banda era outra preocupação. Lydon não gostava dos novos músicos que o acompanhavam e resolveu regravar "This Is Not A Love Song" e em 9 de maio de 1984 lançam um novo compacto, com as canções Bad Life e Question Mark. Um imenso fracasso, ficando apenas na posição 71 das paradas de compacto.

capa do disco This is What You Want...This is What You GetFinalmente, em julho do mesmo ano, o PiL lança finalmente o novo disco de estúdio, This is What You Want...This is What You Get.

O disco se mostrou um grande fracasso comercial, ficando apenas na 56ª posição na parada britânica. Contando apenas com John e Martin Atkins como músicos fixos, foram chamados para Colin Woore (guitarra); Louie Bernardi (guitarra); Gary Barnackle (metais) e Richard Cottle (teclados) para completarem as músicas.

Muito diferente dos álbuns anteriores, esse parecia apenas uma tentativa de conseguir chegar às paradas comerciais, longe dos experimentalismos que o PiL sempre fazia. Também não ajudou muito a nova versão de This Is Not A Love Song. E para aumentar a tensão, uma nova turnê, e tocando canções dos Sex Pistols!

Lydon estaria longe de terminar seu calvário, mas isso é papo para outro dia. Um abraço e até a próxima coluna!

Discografia

Public Image Limited/First Issue (1978)
Metal Box (1979)
Second Edition (1980)
Paris Au Printemps (1980)
Flowers of Romance (1981)
Live in Tokyo (1983)
Commercial Zone (1984)
This is What You Want...This is What You Get (1984)
Album (1986) (no formato CD o disco chama-se “CD”)
Happy? (1987)
9 (1989)
Greatest Hits... So Far (1990)
That What Is Not (1992)
Plastic Box (1999)


 

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