Sem grana, sem
banda. Era esse a vida de John Lydon em 1984. O PiL estava arruinado
financeiramente, com brigas internas e pouca motivação.
Boas idéias e outras nem tanto mostravam que John Lydon
não era tão democrático como se fazia pensar.
E o PiL atravessava seu período mais crítico e com
péssimas vendagens. A saga, depois de anos, continua aqui...
Boa
vida custa grana, coisa que o PiL não tinha mais após
gastar tudo o que havia recebido com Metal Box
ou Flowers of Romance. E o problema é
que a banda estava morta: Lydon ficava o dia inteiro bebendo cerveja,
Levene indo em festas e se chapando e Jeanette fazendo contatos
sabe-se lá com quem ou como. Todos os projetos do grupo
estavam apenas na teoria.
Para piorar, uma matéria
da revista inglesa Sounds dava conta que Lydon nada fazia
de sua vida na América, a não ser se chapar de cerveja
vendo televisão e que havia engordando bastante. "Confesso,
sou um viciado em televisão. Aqui tenho tudo o que preciso:
50 canais de tv!"
Enquanto
Lydon nada fazia, Levene conheceu Martin Atkins, baterista do
Brian Brain e o convidou para entrar no grupo. E Levene tentava
fazer algo e conseguiu que dois amigos seus, advogados, arranjasse
um estúdio para que pudessem gravar o que quisessem pagando
uma tava mínima. E dinheiro para a tal taxa?
Isso foi resolvido com
o cachê que John recebeu para aparecer no filme Pshycho
Jogger, interpretando a si mesmo, pela bagatela de US$
10 mil, apenas. Lydon tentou ganhar mais algum sugerindo que o
PiL cuidasse da trilha-sonora, o que não foi o caso.
Com o dinheiro, Levene
e Atkins se trancaram no estúdio o dia todo, enquanto Lydon
viajava pela Europa, dando entrevistas e promovendo o grupo. O
cantor confessou que há dois meses e meio não via
os outros, mas que eles estavam trabalhando feito maníacos
em cima das letras que havia enviado.
Lydon tentava montar um
selo próprio que seria batizado como P.E.P. (Public Entertainment
Productions) e também uma organização chamada
M.I.C. (Multi Image Corporations), para desenvolver idéias
do grupo. Keith também havia recrutado Pete Jones, baixista
do Brian Brain.
Em
Novembro de 1982 o grupo anunciou que tinha um novo trabalho,
um mini-álbum de seis músicas, Commercial
Zone. Na verdade, o disco teria nove canções
e só seria lançado um ano depois, por problemas
legais e que culminaram com a saída de Levene.
Ainda assim, para comemorar
o fato, foi realizada uma imensa coletiva em um restaurante caro
de Hollywood para anunciar uma nova turnê.
A coletiva ficou marcada
por um acesso de raiva do cantor: "fico muito irritado quando
falam mais do PiL como um fenômeno sociológico do
que nossa música. Nós somos uma banda que faz música
acessível."
Nesse mesmo período,
Jeanette Lee deixou o grupo, por motivos jamais explicados. "John
nunca me disse que o se passou entre os dois quando estiveram
em Roma", disse Levene.
O futuro disco continha
as seguintes faixas:
Lado 1: "Love Song"
/ "Mad Max (Bad Life)" / "Bad Night" / "Solitaire".
Lado 2: "The Slab (The Order Of Death)" / "Lou
Reed Pt 1" / "Lou Reed Pt 2 (Where Are You)" /
"Blue Water" / "Miller Hi-Life".
O
disco teria uma recepção discreta e um dos motivos
foi por ter saído por um selo próprio, PIL Records
Inc. "Eu fiz um acordo e algumas pessoas imprimiram 30 mil
cópias do disco, mas Richard Branson - nosso empresário
- enviou a eles uma intimação, suspendendo a prensagem.
Eu fui até ele e pedi para que conseguisse mais dinheiro
com a rescisão do PiL com a Virgin. Eu pensei que tinha
conseguido, quando ele me disse: 'olha, não-oficialmente
você tem os direitos sobre esse disco na América,
mas eu vou dizer a todo mundo que é mentira e você
terá que me levar ao tribunal."
Martin
Atkins discorda dessa versão: "Keith não tinha
licença nenhuma, ele roubou as fitas! Isso não deveria
ter sido vendido para ninguém! Essas gravações
pertenciam a nós! Na verdade, Keith não sabia nada
sobre metade dessas canções, até roubá-las.
Canções como ‘Miller Hi-Life’ foram
feitas por mim, Pete Jones e Bob Miller, nosso engenheiro de som.
Eram experimentações nossas."
O grupo começou
uma pequena série de shows em Nova York, no dia 28 de setembro,
no Roseland Ballroom e a excursão propriamente dita começa
em janeiro e vai até janeiro de 1983, com poucos shows,
no entanto.
Em
21 de novembro de 1982, Keith Levene casa oficialmente com a antiga
namorada, Lori e 1983 começa quente para o grupo: em 14
de maio, Pete Jones deixa o grupo; no dia 4 de junho é
a vez de Keith, matando a formação original do PiL.
Keith confessa que sua
esposa teve grande participação na decisão,
já que o ajudou a enfrentar seus problemas químicos
e queria deixá-lo longe dos demais, que tanto odiava.
Levene já tivera
enormes atritos com Lydon durante a excursão e que foram
aumentados com o fracasso de Commercial Zone
e na confecção do novo single, This Is Not
a Love Song. Commercial Zone só
seria lançado e de maneira, limitada, em Novembro de 1983.
A mixagem final do novo
single foi a gota d'água no relacionamento entre Lydon
e Levene.
Na verdade, a saída
ocorreu por causa de Martin Atkins. Cada vez mais amigo de John,
foi o baterista quem ligou para o vocalista quando Levene chegou
ao estúdio para ouvir as mixagens da nova canção.
John ligou imediatamente para lá e me mandou cair fora.
Em agosto de 1984, contrariando
a todos, Keith Levene lançaria Commercial Zone
- Limited Edition. Segundo ele, trabalhou duro no projeto
enquanto os demais nada fizeram. "Eu terminei o disco. Sei
que foi contra o desejo do PiL, mas ninguém estava fazendo
nada contra isso, na época. Não diria que os vocais
de John estão bons, mas fiz meu melhor e no final, ficou
bem razoável."
O disco é até
hoje motivo de disputa judicial entre Lydon e Atkins contra Levene
e por isso jamais foi considerado um lançamento oficial.
E John realmente odeia seus vocais nessas canções.
Levene conta que estava
muito decepcionado com o que tinha ouvido sobre seu velho amigo,
em Lons Angeles. Perdido, Lydon não tinha mais uma banda
e ficava tocando com qualquer fã que sabia o repertório
do Sex Pistols. Esse era o funcionamento do cantor, que ia perdendo,
aos poucos, seu antigos companheiros.
O single foi lançado
no dia 5 de setembro e alcançou boas vendagens, atingindo
o quinto posto, a melhor posição da história
do grupo. A versão de 12 polegadas trazia quatro canções,
sendo a última "Public Image": "This is
Not a Love Song" / "Blue Water" / "This is
Not a Love Song (Remix)" / "Public Image".
Enquanto
o disco novo de estúdio não ficava pronto, o grupo
resolveu lançar um LP ao vivo, Live In Tokyo.
O projeto nasceu da maneira
mais inusitada possível: o grupo recebeu um convite para
fazer oito shows naquele país por um módico cachê
de US$ 9 mil mais despesas pagas. No entanto, Lydon estava falido
e aceitou correndo. Sem banda, saiu correndo com Atkins para montar
um grupo. Chamaram o baixista Louie Bernardi, o guitarrista Joe
Guda e o tecladista Tom Zvoncheck.
Os shows transcorreram
bem e o grupo recebeu um convite ainda mais interessante: por
que não gravarem um disco ao vivo utilizando uma mesa digital
de 32 canais Mitsubishi X-800 PCM tão sofisticada que só
existem mais duas dessas no mundo? A banda, claro, nem pensou
duas vezes. Dessa maneira, resolveram gravar as apresentações
do dia 1º e 2 de julho, que também seria lançado
em vídeo.
Apesar de bem gravado,
o disco (duplo) soa frouxo. Primeiro, porque os músicos
não eram grande coisa. Segundo, porque todo aquele caos
ordenado por Levene e Wobble já não existia e a
banda soava como um grupo convencional, longe dos experimentalismos.
Ainda assim, o disco foi
celebrado pela Virgin, que o colocou no mercado no dia 26 de setembro
de 1983. Afinal, ha 29 meses não se tinha um novo álbum
da banda. O álbum teve vendagens modestas e alcançou
apenas o 28º lugar no Reino Unido.
O
vocalista dava sinais de que estava perdido e decepcionou muitos
fãs ao se apresentar no programa televisivo The Tube
tocando o clássico dos Pistols, "Anarchy In The UK"
junto com "Flowers of Romance" e "This Is Not A
Love Song'", no dia 28 de outubro. Lydon, que havia jurado
jamais olhar para trás e usar canções de
sua ex-banda, mostrava que estava traindo a si e aos outros, mais
uma vez.
No dia 3 de novembro, o
vocalista participa do lançamento do filme Order
of Death. Ele contribuiu com a faixa-título, feita
ainda com Keith Levene. Segundo John, ele gravou os vocais por
um telefone, já que ele estava na Europa e o guitarrista,
na América.
A banda era outra preocupação.
Lydon não gostava dos novos músicos que o acompanhavam
e resolveu regravar "This Is Not A Love Song" e em 9
de maio de 1984 lançam um novo compacto, com as canções
Bad Life e Question Mark. Um
imenso fracasso, ficando apenas na posição 71 das
paradas de compacto.
Finalmente,
em julho do mesmo ano, o PiL lança finalmente o novo disco
de estúdio, This is What You Want...This is What
You Get.
O disco se mostrou um grande
fracasso comercial, ficando apenas na 56ª posição
na parada britânica. Contando apenas com John e Martin Atkins
como músicos fixos, foram chamados para Colin Woore (guitarra);
Louie Bernardi (guitarra); Gary Barnackle (metais) e Richard Cottle
(teclados) para completarem as músicas.
Muito diferente dos álbuns
anteriores, esse parecia apenas uma tentativa de conseguir chegar
às paradas comerciais, longe dos experimentalismos que
o PiL sempre fazia. Também não ajudou muito a nova
versão de This Is Not A Love Song. E para
aumentar a tensão, uma nova turnê, e tocando canções
dos Sex Pistols!
Lydon estaria longe de
terminar seu calvário, mas isso é papo para outro
dia. Um abraço e até a próxima coluna!
Discografia
Public Image Limited/First
Issue (1978)
Metal Box (1979)
Second Edition (1980)
Paris Au Printemps (1980)
Flowers of Romance (1981)
Live in Tokyo (1983)
Commercial Zone (1984)
This is What You Want...This is What You Get (1984)
Album (1986) (no formato CD o disco chama-se “CD”)
Happy? (1987)
9 (1989)
Greatest Hits... So Far (1990)
That What Is Not (1992)
Plastic Box (1999)
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