218 - Plebe Rude - entrevista com Philippe Seabra

"A Plebe tá de volta!"... Os gritos dos fãs agora irão ecoar mais fortes, porque a volta é definitiva, boys and girls! E essa entrevista já está sendo esperada desde fevereiro deste ano (hoje é dia 16 de setembro!), desde que Philippe me mandou um email dizendo que tinha achado uma matéria minha sobre eles e queria publicar no novo site do grupo (que está para entrar no ar em breve...).

Foi a deixa para pedir uma entrevista, que ele topou, mas pediu para esperar o disco novo, que sairia "no máximo em março ou abril"... Sei... Fui confiar num punk, deu nisso, sete meses (quase uma gravidez)...

Mas, bendito seja, Philippe cumpriu a promessa e trocamos dezenas de emails desde então e ele falou de muitas coisas bacanas: a saída de Jander, Renato Russo, Capital, Aborto Elétrico, Gang of Four e essa besta perigosa chamada futuro. Eu sei que o site tem uma sessão de entrevistas, mas tantas já viraram colunas e por que não mais uma? Sendo assim, a volta da melhor mão direita (músicalmente ou não) do rock brasileiro, Mr. Seabra e seus Plebeus... "A Plebe tá de volta!!!!!"


Clemente, André X e Philippe ao vivoATENÇÃO!!!! CORTESIA DE PHILIPPE, EXCLUSIVO, EM PRIMEIRA MÃO!!!: http://www.youtube.com/watch?v=h3ku-pzLGR0

Pergunta: - Philippe, fale um pouco sobre a volta da Plebe Rude e do disco novo. Como surgiu a idéia e o que vocês estavam fazendo após o final da turnê do disco ao vivo?
Philippe Seabra: -
Desde a volta "temporária" da Plebe em 1999, circularam boatos que a Plebe voltou para ficar.

Mas, nunca declaramos isso, muito pelo contrário. Eu estava morando fora do Brasil e o André estava em Brasília. Depois da excursão do disco ao vivo Enquanto a Trégua Não Vem, cada um foi para seu lado, mas eu resolvi voltar ao Brasil e investir no meu estúdio e na carreira solo.

A Plebe fazia shows esporádicos, mas sem a real perspectiva de voltar, apesar de toda a pressão em volta. E mais, o Jander não estava muito afim. Em 2002 tentamos gravar algumas músicas inéditas, que eventualmente poderiam virar um disco novo da Plebe, mas faltando 8 horas para o inicio da gravação, no meu estúdio, o baterista aprontou mais uma, das inúmeras "aprontadas", forçando eu e o André a puxarmos a tomada. Incrível, faltando 8 horas… mas foi até bom, porque com o clima entre os membros originais, não poderia sair coisa boa. As coisas acontecem por um motivo…

Pergunta: - Como foi a entrada do Clemente?
Philippe Seabra: -
Em 2004, fui convidado pelo Mingau (Ultraje) para participar de um tributo ao The Clash em São Paulo, junto com Nasi e Redson, do Cólera. Foi ótimo ter visto Clemente de novo. Afinal, foi ele quem buscou a gente na rodoviária no primeiro show da Plebe em São Paulo, em 1983, pois trabalhava no Napalm, lendária casa punk que estava fechando.

Olhei para o lado na hora do show e pensei, como o Clemente é fantástico no palco, sem mencionar um ótimo guitarrista. Voltei a Brasília e mencionei ao André. Como tinha surgido um convite para fazer um show no recém re-inaugurado Circo Voador no Rio, porque não tentar como Clemente, só para ver o que rolava…

Mesmo com duas semanas de antecedência apenas, ele topou, mas a logística impossibilitaria ensaios. Mandei as cifras e os Cds para ele, e no dia, passamos o som no palco do Circo, num breve ensaio. O resto é história. Nos primeiros acordes do show, não sabíamos exatamente o que esperar, mas ele tomou o palco com uma garra e vimos ali que poderíamos continuar com a banda.

a nova formação: Txotxa, Philippe, Clemente e André X (agachado)Pergunta: - Se a geografia não estiver me traindo, você vive no Rio de Janeiro e o Clemente, em São Paulo (ao menos ele era meu vizinho quando morei no Bexiga). Vocês moram hoje todos na mesma cidade? Se não, como fazem para ensaiar, e escrever?
Philippe Seabra: - Eu, o André e o Txotxa (baterista) estamos em Brasília. O escritório da Plebe fica no Rio, e o Clemente fica em São Paulo. Em Brasília, nós três ensaiamos regularmente (mas nem precisa tanto, pois modéstia a parte, somos muito precisos ao vivo… já está no sangue, sabe?) enquanto que o Clemente ensaia sozinho ouvindo os CDs.

Nas passagens de som passamos algumas músicas, mais para tirar dúvidas. É claro que na véspera de shows mais importantes, voamos o Clemente para cá para trabalharmos. O estúdio Daybreak, que é meu estúdio particular, também tem estrutura de ensaio, que uso quando pré-produzo algum artista. Mas ensaio mesmo, só para a Plebe… Como estamos lançando disco novo, não estamos pensando em composição por hora, mas quando for a hora, voaremos o Clemente de volta e mãos à obra…

Pergunta: - A Plebe está levantando a bandeira do Vote em Branco. Não seria mais útil anular o voto, já que se uma eleição quase 90% dos votos anulados, seria necessário outra com candidatos diferentes? Os votos em branco não permitem isso... Ou seria apenas uma maneira de atualizar a clássica canção de vocês de mesmo nome e agora presente no novo disco?
Philippe Seabra: - Pois é, a música foi feita mais como chacota durante a ditadura em 1980!!! Isso antecede a Plebe. O André tocava isso com a sua primeira banda, Os Metralhaz. Tocamos "Voto em Branco" durante o comecinho da Plebe, entre 1981 e 1983, mas com o repertório que aumentava, com músicas mais sérias como "Censura" e "Minha Renda", ela ficou de lado. Em 1982, no primeiro show da Legião, a Plebe e a banda nova do Renato foram presas por causa dela… e ela voltou ao repertório 23 anos depois!! E mais pertinente do que nunca. Não é um endosso ao voto irresponsável, ela clama "use o poder do seu voto". É para cutucar mesmo, e tendo sido escrito durante o governo Figueiredo, o sarcasmo é mais evidente ainda.

Pergunta: - Voltando à política, como você se define?
Philippe Seabra: -
Bem, nos EUA (sou meio-americano) sou Democrata registrado. Aqui no Brasil, sou meio descrente, como a maioria da população. O PT foi uma grande decepção para todos, mas cá pra nós, nunca foi santo. Era só uma questão de tempo que o PT se corrompesse com o poder. Muito triste. É o jogo que está errado, as leis até existem, mais tem que ser cumpridas. A quantidade de políticos com o passado sujo ainda no poder é estonteante. Isso tem que mudar, e quando voce vê um Quércia, Barbalho e Collor perdendo eleições recentes, de repente, existe alguma esperança. Se aprende a votar exercendo o voto, e o brasileiro não teve tanta experiência assim. Espero que isso aos poucos vá mudando…

Pergunta: - Eu gostaria que você falasse um pouco da relevância da Plebe hoje em dia. O André X fez um post muito bom no blog dele (Cães velhos não mordem!, dia 14/02), falando sobre a relevância (ou não) de bandas como Stones e questionando se os grupos dos anos 80 ainda sabem ou têm algo a dizer aos jovens do novo século. Você acha que o discurso da Plebe (e não o som) ainda é relevante e está antenado com essa nova geração?
Philippe Seabra: -
A Plebe não faz mais músicas didáticas como "Proteção", mas a raiva e o inconformismo de antes continuam intactos. Isso que importa; ser fiel ao que você é. Crescendo em Brasília em plena ditadura, não podia ser de outra maneira. Os temas do disco novo, o "R" ao Contrário são mais sócio-políticos e, sim, temos MUITO a dizer ainda, especiamente se você prestar atenção na música "jovem" que está na rádio, temos o dever de dizer…

Pergunta: - Falando em nova geração: essa meninada de hoje me parece muito mais alienada do que aquela que era muito criticada nos anos 80. Hoje os valores são completamente diferentes, deturpados e grande parte se deve à mídia eletrônica, que boicotou a boa música. Quando você conversa com as bandas da moda de hoje em dia, sente alguma afinidade ou você acha que eles apenas querem fazer barulho, ficar falando palavrão?
Philippe Seabra: - Quase todas as bandas, como você colocou, "da moda" com que já conversei são fãs da Plebe. Bem, tem algumas que não prestaram muita atenção nas letras (risos), mas mesmo assim ficamos lisonjeados em saber que fomos parte de suas influências. Mas, sim, sinto uma certa acomodação. A internet, ferramenta inimaginável na nossa época parece que, ao invés de inspirar as pessoas, acomoda pela facilidade e imediatismo. Tudo é tao fácil, por que vou me esforçar… É claro que isso é um tema mais complexo, mas não sinto aquela faísca nas bandas de hoje como sentia há vinte anos. Talvez pelo fato de não ter existido mercado, estrutura, perspectiva de viver de música. Na verdade, não existia nada, só uma urgência em querer fazer alguma coisa, uma inquietação de uma geração tentando se expressar. É claro que tem muita banda ligando o "foda-se" e mandando ver, e como produtor, fico feliz em ver isso. Mas tem muita gente que quer mesmo é tocar na radio, faz música pensando no cara da gravadora, etc… Mas o espaço está se diminuindo para esse tipo de som "palpável". Cada vez mais, as pessoas são forçadas a encontrar o seu som, fazer algo único e legal, e através do selo do qual sou sócio, Senhor F estimulamos isso. Boa música sempre foi boicotada pela mídia e hoje não é diferente… O público brasileiro não é burro, é mal informado para caramba, mas burro não é…

capa do disco ao vivo Enquanto A Trégua Não VemPergunta: - Praticamente todas as grandes bandas da sua geração se "reabilitaram" com um acústico MTV. Você se imagina nesse formato? Já foram convidados?
Philippe Seabra: - Não fomos convidados e se fôssemos, teríamos que pensar a respeito. Mas de qualquer jeito, violão é meu melhor instrumento. Pensando bem, creio que os únicos da minha geração que ainda não a fizeram somos nós… (risos) O problema não é o formato acústico, mas o que você faz com ele…

Pergunta: - Fale um pouco das gravações do disco ao vivo. Como ele se processou? Qual foi a recepção que teve?
Philippe Seabra: -
O preparo desse disco foi muito tenso, durante três semanas. Imagine juntar uma banda que já saiu no tapa (com o baterista) depois de 10 anos na formação original para gravar um disco… não gosto nem de lembrar… Mas a recepção foi incrível. Dê uma olhada no acervo da Plebe no nosso site no ano de 1999 e 2000. Respeito não tem preço e fico feliz que a Plebe ainda cause boa impressão. Afinal, reputação é tudo, ainda mais com uma banda como a Plebe, que tenta ser coerente em tudo que faz, mesmo que isso a prejudique… Sou meio idealista sim, mesmo soando ingênuo…

Pergunta: - Fale um pouco de como está o Herbert após o acidente. Você ainda se falam? Pensaram em convidá-lo para produzir o disco novo?
Philippe Seabra: - Alguns anos depois do acidente passamos a nos ver com mais freqüência nos bastidores de shows, especialmente de festivais onde ambas as bandas estivessem. Ele fala comigo com muito carinho e até me deu uma guitarra Gibson de presente, recentemente. Ele vai participar do lançamento do disco novo no Rio (junto com o D2, Plebeu de carteirinha) como convidado mais que especial. O rock brasileiro deve muito ao Herbert, e eu devo minha carreira tambem. É um exemplo de perseverança a ser seguido. Sempre que vejo aquele comercial na TV com ele "sou brasileiro e não desito nunca", fico emocionado…

Pergunta: - Uma pergunta bem antiga e talvez chata: fale um pouco das idas e vindas de Jander, particularmente na saída no início da década de 90 e depois do disco ao vivo?
Philippe Seabra: - Pelo visto, o Jander estava num processo de perda de interesse pelo rock, já desde o Plebe III e respeitamos isso, mas tínhamos que continuar o nosso caminho. Infelizmente, músicalmente, nós dois nunca nos demos muito bem, mas apesar do som confuso das guitarras no palco, rolava uma sintonia em shows que não sei de onde vinha.

O show sempre foi forte. Depois da "volta temporária" ele continuava não muito afim, e quando falou definitivamente que estava fora, em 2004 (apesar da banda se encontrar muito que raramente) não veio como uma surpresa para mim. Poucos meses depois chamamos o Clemente e o resto é história. Uma banda é uma caravana. Todos têm que estar em sintonia. Estou muito, muito feliz em ter essa "sintonia" de volta. Foi uma novela e tanto, mas as coisas são o que são, não?

Pergunta: - Você me disse que até sonhou em convidar o Andy Gill para produzir um disco. Eu ouço muita influência do Gang of Four em algumas bandas novas, e ele me disse que gostou do disco de vocês que eu enviei. Eles continuam sendo relevantes para você? Aliás, o que ouve hoje em dia?
Philippe Seabra: - Até um amigo em comum me arranjou o telefone dele, mas como não estaríamos com verba para isso, não queria ser aquele "mala" ligando… A influência do Gang of Four mais do que nunca está por toda parte, e fico feliz em ver isso. Só não me peça para curtir da mesma maneira essas bandas; prefiro a matriz! Mais uma vez agradeço o seu envio do disco da Plebe para o meu "mestre", mas cá pra nós, se não tivesse gostado, será que falaria (risos)?

Vi o Gang of Four semana retrasada em BH, na sua formação original, e fiquei de boca aberta, pulando e cantando a dois metros do palco como os Plebeus mais afoitos. Incrível, simplesmente incrível… Já tinha visto o Gang of Four em Nova Iorque na turnê do Shrinkwrapped e mais uma vez fiquei dois metros do palco. Curiosamente não estava muito cheio. Agora com esse auê em volta da banda (ate a Sofia Coppola vai usá-los na trilha do seu novo filme Maria Antonieta) os shows do GOF devem ser mais disputados. Eles merecem. A sua trajetória me lembra muito o da Plebe. Uma banda mais política, com dois vocalistas (o Andy Gill canta muita coisa também) que estava à margem da grande mídia

. Os shows que vi deles me inspiraram muito. Os shows da Plebe sempre foram fortes também, e não consigo aceitar que algumas das bandas que produzo façam shows inconstantes. Sempre tem que ser incrível. Sempre! É assim que se constrói uma carreira e reputação sólida. Não adianta ter um disco bom (provavelmente editado até a alma, um verdadeiro frankenstein de colagens) se a banda for ruim no palco. Tive que largar algumas das bandas que apadrinhei porque perdi o tesão mesmo. Tem que ter um pouco mais de respeito com o público, e comigo. Não tenho mais tempo a perder. Vou investir em quem vai levar à sério…

Pergunta: - O blog do André é bem divertido. Já pensou em montar um seu?
Philippe Seabra: - Não. Não me exponho dessa maneira. Sou muito mais reservado do que pareço. Já me exponho o suficiente nas letras da Plebe pois eu que as canto. Às vezes queria que o André falasse um pouco menos das entranhas da banda (risos).

Pergunta: - O que você acha das novas tecnologias e de ser "pirateado" via mp3?
Philippe Seabra: - O gato já saiu do saco. Já tentou colocar um gato de volta num saco?

Pergunta: - Existe alguma chance dos primeiros discos da Plebe serem relançados? Como anda a relação de vocês com a EMI?
Philippe Seabra: - Volta em meia a EMI relança uma obra aqui e acolá, ou faz uma coletânea à revelia. Que azar que a gente deu com gravadora… Agora com o novo disco da Plebe, devem relançar alguma coisa.

Pergunta: - O que achou do Capital Inicial regravar músicas do Aborto?
Philippe Seabra: - Bem, sempre falo isso. O Renato nunca gravou aquelas músicas por um motivo, mas acho necessário o seu registro. Não sei se o público da Legião aceitou muito bem, mas tinham somente duas pessoas que poderiam fazer isso, os irmãos Lemos. Mais um capítulo na história do rock de Brasília… Apesar do Capital e Plebe terem tomado rumos, e propostas, bem diferentes, fico feliz com o sucesso do Capital. Ralaram muito, muito mesmo. Ninguém pode dizer o contrário.

Pergunta: - Sinceramente: qual foi o papel da Legião na vida de vocês? O mito Renato Russo foi benéfico ou opressor demais para a sua geração?
Philippe Seabra: - Renato foi um grande amigo na época de Brasília, mas a fama e as drogas afetaram o seu discernimento e acabei me afastando. O grande prejudicado pelo mito Renato Russo foi ele mesmo. Se ele levasse uma vida mais tranqüila e não tivesse tanto sanguessuga em volta, durante a sua vida no Rio, quem sabe não estaria vivo ainda? Mas também não teria sido o Renato. Afinal, letras daquele nível (alguns o colocam no panteão junto com Chico Buarque) só podem vir de uma alma atormentada. Que pena que ele não conseguiu encontrar algum equilíbrio (será que é dali que veio Equilíbrio Distante?). Ele queria amar e ser amado como todo mundo. Estava fora do Brasil quando ele faleceu, mas já sabia que tinha Aids há muito tempo, e com o abuso de substância, ele só apressou esse processo. Aids na época era decreto de morte, e só Deus sabe o que passava por sua cabeça. Tenho saudades daquele Renato que conhecia em Brasília, não do estereótipo, e às vezes caricatura, do "rock star".

Pergunta: - Herbert Vianna disse que você é dono da melhor mão direita no Brasil (músicalmente falando...). Qual é sua relação com a guitarra? Pratica regularmente ou só quando está trabalhando?
Philippe Seabra: - Espero que ele tenha falando apenas "músicalmente"… (risos). Ele sempre gostou da minha pegada. Pegada é tudo. Não existe banda boa sem guitarrista com pegada… Se seu guitarrista não tiver pegada, esqueça. Vai estudar economia…(risos).

Engraçado, raramente me perguntam sobre técnica. Não treino guitarra, na verdade nunca treinei. Já estudei muito violão e piano, e toco bateria, mas o meu estilo guitarra para mim ninguém mexe. Aliás, tive professores sim: Pete Townshend, Joe Perry, Andy Gill, Captain Sensible (The Damned), Johnny Thunders (me rendendo o apelido de "trovoada"), e a lista por aí vai. Sem falar no brasileiro Carlini, o mestre do qual tirei meu primeiro solo, ainda moleque, o de "Ovelha Negra" da Rita Lee. Tive a honra de conhecê-lo em São Paulo, num show que fizemos juntos ano passado. Nao é que ele tinha visto a minha apresentação no "Claro que é rock" (apresentado pelo Frejat), que tinha passado recentemente, tocando uma música antiga (mas bem rock) do Guilherme Arantes, "Coração Paulista"? Me falou que foi ele quem gravou a guitarra! E eu nem sabia! Muito engraçado. Temos que reverenciar esse pioneiros do rock no Brasil. Outro dia, também no "Claro que é rock", o Zé Rodrix falou que a banda brasileira predileta dele era a Plebe. Que honra! Para quem não o conhece, faça uma busca no Google. Esses caras pavimentaram o caminho do rock brasileiro, em condições BEM mais precárias do que a geração 80. Merecem todo nosso respeito.

o Paralama e o PlebeuPergunta: - Ainda sobre o líder dos Paralamas: certa vez li o Herbert criticando a postura de vocês com a EMI. Ele afirmou que vocês não precisavam ser tão "punks" no relacionamento com a gravadora e que se fossem um pouco mais flexíveis, teriam tido mais sorte. Você concorda com isso? E como anda o relacionamento de vocês com o mercado?
Philippe Seabra: - Talvez tivéssemos levado a letra de "Minha Renda" a sério demais. Fomos nos isolando dentro da gravadora, se recusando a fazer alguns programas de TV, brigando com a direção artística…. Isso deixava os executivos malucos.

Se fosse a coisa mais estratégica a fazer, provavelmente não, mas a Plebe era a Plebe. Paciência… Mas mesmo se jogássemos o "jogo", a estrutura interna da banda não estava mais tão sólida, então… Temos a fama de ser muito "difíceis", mas sabe de uma coisa, quem nos conhece de perto vê que não é nada disso. Essa fachada punk nos persegue até hoje.

Pergunta: - O que existe hoje em Brasília, em termos músicais?
Philippe Seabra: - Meus olhos estão voltados para o Brasil. Pensei que poderia ajudar a cena, mas não tem cena. Têm algumas bandas esporádicas que até conseguem causar algum rebuliço, mas devido a shows inconstantes e a falta daquela faísca, daquela urgência que nos movia há mais de vinte anos, não os vejo indo muito além, com raras exceções, é claro. Uma pena. Fiz o que pude através de produção, do estúdio e do selo Senhor F, mas pelo visto não foi o suficiente. Depende mesmo é das bandas. Mas estou eufórico com três das bandas do Senhor F, o Volver (Nordeste), Los Porongas (Norte) e Superguides (Sul). Tenho certeza que não vou me frustrar com eles.

Pergunta: - Por onde anda o pessoal do Escola de Escândalos, do Arte no Escuro, do Detrito Federal, aquela turma toda que veio depois de vocês?
Philippe Seabra: - Tentei até lançar uma coletânea do Escola de Escândalos, mas eles não ajudaram muito, então deixei para lá. Uma pena… O baterista do Escola está de banda nova, que co-produzo, chamada Resistores. Arte no Escuro se debandou rápido demais, e o começo dos meus problemas com a direção artística da EMI foi quando eles optaram pelo Arte, ao invés do Escola. Escola era uma banda sólida, com um público bem grande. Teria sido minha primeira produção em disco (tinha produzido uma demo deles) e fiquei muito puto. A galera do Arte está por aí. O Pedro, baixista, grande amigo meu, está em Londres e a Marielle canta na banda Cores de Flores, em Curitiba. Produzo a banda do filho dela, assumidamente pop chamada Colina. Detrito está por ai, mas o PC Cascão agora é um respeitável advogado. Será que o punk morreu? (risos)

Pergunta: - Como será a vida da Plebe em 2006? Irão cair na estrada? Alguma chance de shows pelo Norte-Nordeste fugindo do batidão Sul-SE?
Philippe Seabra: - Bem, a volta Plebe agora é definitiva. É claro que vamos ao Norte-Nordeste, que sempre recebeu a gente muito bem. Fizemos Bahia duas vezes esse ano… Aguarde!

Pergunta: - Deixe uma mensagem final aos plebeus. Valeu pela chance! Abraço!
Philippe Seabra: - É muito bom fazer uma entrevista com quem sabe o que está perguntando. Valeu! Para os "Plebeus", dêem uma olhada no site da Plebe, o acervo de 25 anos da banda é uma coisa estonteante e vamos dar um chopp grátis a quem conseguir ler tudo. É isso aí. A Plebe tá de volta, quem diria…

Discografia

O Concreto Já Rachou (1985)
Nunca Fomos Tão Brasileiros (1987)
Plebe Rude (1989)
Mais Raiva Do Que Medo (1992)
Portfolio (edição contendo os três primeiros LPs, 1997)
Preferência Nacional (1998)
Enquanto a Trégua Não Vem - Ao Vivo (2000)
"R" ao Contário (2006)


 

Colunas