Se
você tiver entre 25 e 30 anos irá se lembrar de músicas
como Proteção ou Até Quando Esperar. Diferente
do rock insosso que entope os dials de todas cidades, nos anos
80 você ouvia a Plebe Rude nas rádios após
o sucesso do Mini-LP, o Concreto Já Rachou. E, além
da Plebe, tinha ainda Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Ira!,
Ultraje a Rigor, RPM, Titãs e a mais cultuada de todas,
a Legião Urbana. O rock brasileiro tinha vindo para ficar
de uma vez por todas. Grupos que deixavam seu recado de forma
contudente. Hoje quando você pula de uma rádio para
outra dá vontade de chorar. Mas nem sempre foi assim. Pelo
menos não na década de 80.
Essa
é uma estória antiga. Eu tinha 15, 16 ou 17 anos
e estava começando a dar os primeiros passos no Rock Brasileiro.
O primeiro disco que comprei, para horror de muitos, foi o Queen
Live in Rock in Rio. Depois comecei a ouvir U2, Smiths, Echo
e Joy. Foi depois disso que comecei a ouvir e amar o Rock Brasil.
É claro que tinha aquelas músicas tipo "Menina
Veneno", "Você Não Soube Me Amar",
"Ursinho Blau Blau" e outras breguices. Mas até
o brega era legal. E tinha a turma que fazia rock mesmo: Ira!,
Ultraje, Legião, Capital, Paralamas, Titãs, entre
outras. Até Dr. Silvana & Cia era perdoável.
Eu ganhava de meu pai uma
mesada de 400 cruzados (uns 150 reais mais ou menos nos dias de
hoje). Era sagrado. A grana dava certinha para comprar um LP e
fita Hot Tape da Basf, de 60 minutos, por semana. Aí era
só colocar naqueles pesados walkmans e sair cantando pelas
ruas. Foi assim que comecei a colecionar discos, a gostar de música.
Me lembro bem quando comprei o primeiro trabalho da Plebe. Era
uma capa com os quatro posados, fazendo cara séria. O disco
prometia: além de "Até Quando Esperar"
e "Proteção", tinha "Sexo e Karatê",
"Minha Renda", "Brasília", entre outras
pérolas. Para a minha total frustração nunca
conseguir ver a Plebe ao vivo. Depois do segundo LP da banda,
o Nunca Fomos Tão Brasileiros, eu perdi a banda
de foco e me lamentava por nunca ter visto o grupo.
Pois
a vontade de ver aconteceu apenas no ano 2000, quando eu não
sabia mais deles. O show foi tudo aquilo que eu queria ter visto
anos atrás: muita energia, platéia animada cantando
as músicas. Quando soube que sairia um disco ao vivo do
grupo, saí correndo atrás desesperadamente. O nome
não podia ser mais apropriado: Enquanto a Trégua
Não Vem - Ao Vivo. O disco foi gravado em 15 e 16 de
novembro no Espaço Odeon, no Rio em 1999, e só chegou
às lojas em abril de 2000.
O álbum em si é
um clássico e um dos melhores ao vivo que já ouvi.
Começa com Brasília, com Philippe e Jander dividindo
os vocais como sempre, a grande marca da Plebe. Quando cai em
"Minha Renda", você já está pulando
sem parar. As letras altamente engajadas e corrosivas continuam
atuais neste Brasil globalizado e o show o mesmo de quase duas
décadas atrás (pelo menos foi o que me disseram
os fãs que tiveram a chance de ver os plebeus ao vivo na
década de 80).
A
Plebe pode não ser tão carismática quanto
a Legião, mas com certeza tem um punch que a banda de Renato
Russo não tinha.
Faixa a faixa o disco vai
girando no aparelho de cd sem parar. "Johnny Vai À
Guerra" continua com o mesmo vigor de antes, só que
muito mais crua e punk. Aliás a banda não se esqueceu
de homenagear um grupo brasileiro dos primórdios do punk,
o Cólera. Medo é uma bela canção.
Veja a letra:
Às vezes tenho
medo
Às vezes sinto a minha mão presa pelo ar
E quando olho em volta
Vejo uma multidão presa pelo ar
Às vezes sinto
raiva
Às vezes sinto que a ilusão
Me faz recuar
Pois muita gente mente
Pois muita gente dá à mão
Só para empurrar
Só para empurrar
Eles te dão a mão, te dão a mão
Só para empurrar
Além de Cólera
há uma versão maravilhosa de "Luzes",
da Escola de Escândalos. Veja um pedaço da letra...
Luzes que piscam, gritam
e avisam
Que chegou a hora que você sonhou
São anos de espera, que chegam ao fim
Um frio na espinha, apesar do calor
......
Nos seus sonhos tudo era perfeito
Rodolfo Valentino não faria melhor
Giovanni Casanova não faria melhor...
Havia uma canção
que Renato Russo adorava do grupo e que foi registrada no disco
Mais Raiva do que Medo, tendo inclusive a participação
do legionário: "Pressão Social". A música
acabou entrando no disco.
Os plebeus urram, pedem bis,
e berram Puta Que Pariu na canção "Proteção",
que começa com um simples vocal de Philippe e um violão.
Rapidamente a banda ganha uma chama e emociona.
Para encerrar o disco, lógico
que deixaram o hino "Até Quando Esperar". A platéia
urra, pede mais, totalmente descontrolada. Eu sei porque também
estava neste estado quando vi o show. A Plebe voltou. Talvez não
para sempre. Tudo bem, a saudade foi morta. Mas seria muito legal
que pudesse vê-los de novo.
Um abraço a todos.
Discografia
O Concreto Já Rachou
(1985)
Nunca Fomos Tão Brasileiros (1987)
Plebe Rude (1989)
Mais Raiva Do Que Medo (1992)
Portfolio (edição contendo os três primeiros
LPs, 1997)
Preferência Nacional (1998)
Enquanto a Trégua Não Vem - Ao Vivo (2000)
"R" ao Contário (2006)
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