21 - The Police - Live!

Eles tiveram grandes hits e sempre foram aclamados por crítica e público. Seu vocalista, Sting, foi eleito o mais bonito dos anos 80 e "Every Breath You Take", uma das canções preferidas dos leitores das revistas. The Police, porém, nunca fez uma turnê de despedida, apesar dos pedidos dos fãs e de Andy Summers e de Stewart Copeland. Sting permanece irredutível no retorno, mas não descarta uma aventura conjunta com os ex-colegas. The Police foi uma banda que chegou a vender mais de 50 milhões de discos e que deixou saudade nos fãs do rock.


Eu poderia falar do Synchronicity, obra-prima do grupo, de 1983, mas é chover no molhado. Ao invés disso, vamos abordar o disco duplo póstumo Live!, que traz dois shows opostos: um gravado em Boston, em 1981 e outro, da última tour, em 1983, em Atlanta

O primeiro disco mostra uma banda enérgica, mas muito crua, sem a elegância do segundo disco. O Police estava para lançar Ghost In The Machine e promoveu uma excursão com recordes de público na América.

capa do disco Live!O grande mérito é ter músicas pouco lembradas pelos fãs, como "Next To You", "Truth Hits Everybody" e "Fall Out", primeiro lançamento da banda, com letra de Stewart Copeland. Outra novidade é "Landlord", música que não consta em nenhum álbum da banda.

Mas o fino é o segundo: a banda catalisava todas as atenções do mercado pop: haviam lançado um disco primoroso, era a turnê mais disputada dos verões europeu e americano e estavam no auge. Existe um vídeo deste show, que hoje deve ser meio raro de conseguir, mas que vale a pena caçar.

Internamente, a banda não poderia estar pior. Engolido pelo ego de Sting, o baterista e fundador Stewart Copeland não conversava com o baixista. Sobrava para Andy Summers fazer uma ponte nada fácil, além de Miles Copeland, o manager do grupo e irmão de Stewart, acalmar os ânimos.

Sting estava obcecado por Jung e sua teoria da Sincronicidade. Isso fez com que as letras ficassem mais amarradas umas com as outras, coisa que não acontecia nos discos anteriores.

O show abre com a sequência "Synchronicity I" e "Synchronicity II". A banda mostra uma classe exuberante, com duas backing vocals no apoio e um teclado pré-programado. Stewart mostra porque pode ser considerado um dos cinco grandes bateristas da história do rock e Andy dedilha a guitarra mais copiada dos anos 80.

Após a abertura, a terceira música "Walking in Your Footsteps" prepara o clima para talvez, a favorita dos fãs, "Message in a Bottle". É somente em "O My God" que Sting conversa com a platéia. Poucos se lembram dessa canção, uma das mais belas letras do vocalista. Eis um pedaço dela: "Quando você está sozinho e seu coração não pertence a ninguém quando reza. Ó Meu Deus, preencha este vazio, preencha de alguma forma, preencha o espaço entre nós."

A banda ataca a seguir com a música que Sting mais odeia no Police, "De Do Do Do, De Da Da Da". A partir daí, ele volta ao último disco com as belíssimas letras e climas de "Wrapped Around Your Finger", a delicada "Tea in The Sahara". Segue-se "Spirits of the Material World" e a preferida de quem escreve, "King of Pain". O começo, com Stewart no xilofone, e a platéia cantando a complicada letra com o grupo é um dos grandes momentos do disco, senão o maior. Sting se proclama o rei da dor e o público acompanha o carismático líder.

"Don't Stand So Close to Me" é apenas um aperitivo para o maior hit da banda, "Every Breath You Take". Se você acha que é impossível superar a versão de estúdio, ouça aqui. Mesmo sem as cordas, a música ganha uma vida a mais. A história de um homem escravizado pelo amor a uma mulher é das letras mais amargas do pop, podendo ser comparada a "Love Will Tear Us Apart" do Joy Division.

O show poderia fechar aí, mas o Police resolve voltar ao passado com "Roxanne", primeiro grande sucesso, "Can't Stand Losing You" e "So Lonely". Um disco perfeito!

Muitos fãs e até Stewart e Andy topariam voltar com o grupo para fazer uma turnê de despedida, já que o Police encerrou suas atividades por vontade de Sting, sem jamais ter feito um comunicado ao público. Sua audiência sempre foi enorme, e o vocalista foi eleito várias vezes por várias revistas como o roqueiro mais bonito dos anos 80 e "Every Breath You Take "como a melhor canção.

A banda se separou depois por vários caminhos. Copeland compôs trilhas sonoras de Rumble Fish, Wall Street e fez discos estimulados pela música africana. Summers já tinha, mesmo na época do Police, dois discos em parceria com Robert Fripp, do King Crimson, Bewitched e I Advanced Masked. Sting fez dois excelentes discos solos, The Dream of The Blue Turtle, com uma banda de jazz de primeira, em que se destacava a bateria de Omar Hakim, o teclado de Kenny Kirkland e o sax de Branford Marsalis. O segundo, o duplo ao vivo, Bring On The Night, melhorou em muito algumas canções, além de atualizar alguns temas da época do Police. Depois disso, Sting cismou com a Floresta Amazônica, cacique Raoni, Anistia Internacional, fez turnês pelo Brasil, enfim, virou um artista chato, apesar de seu ego achar o contrário.

A banda voltou a tocar para o grande público pela última vez, no show da Anistia Internacional, em 1986. Um não olhava na cara do outro, mas mostraram a velha competência. Em "Invisible Sun", Bono canta com Sting, e, no final do show, o U2 volta ao palco com os instrumentos do Police para fazer uma versão com todos que participaram do evento cantando "I Shall Be Released", de Bob Dylan. Depois disso, ainda editaram uma coletânea. A idéia era regravar todos os hits do grupo, mas devido às brigas no estúdio, fizeram apenas uma regravação de "Don't Stand So Close to Me".

Miles, Andy, Sting e Stewart são agora bons amigos e vira e mexe acabam se encontrando para uma velha conversa ou mesmo uma jam session, como no casamento de Sting, na década de 90. Dois terços do grupo tentam convencer Sting em fazer uma excursão de despedida. O cantor se nega, dizendo que não é saudosista e que está bem hoje em dia.

Muitos sites dedicados ao grupo têm verdadeira ojeriza ao cantor pós-Police e muitos desejam que ele morra. O medo é que mais uma vez ele faça do Police um instrumento de seu talento e que não seja mais o Police do passado. Lógico que não será. Os integrantes já beiram os 50 anos - Andy é quase um sessentão.

Mas por que voltar então? O grupo durou oficialmente seis anos, de 1977 a 1983, lançou discos sempre evoluindo técnica e musicalmente. O medo é que a fase decadente que eles nunca tiveram chegue agora, se bem que os integrantes dificilmente fariam um trabalho decepcionante.

O Police segue sendo um dos grandes nomes do pop e do rock de todos os tempos. Sua despedida lembra a do Led Zeppelin, que anunciou o fim após a morte de John Bonham. E as duas bandas muitos se parecem: ambos possuíam instrumentistas fantásticos. Uma disputa entre Bonham e Copeland seria maravilhosa, assim como o baixo de Sting com de John Paul Jones e as guitarras de Summers com Page. Alguns fãs podem se descabelar com a comparação, mas não precisam se preocupar. Cada um teve sua devida importância em sua época. Duas bandas íntegras e que nunca voltaram para apenas arrecadar uma graninha extra dos fãs.

Fiquem com a letra de "Every Breath You Take".

Every breath you take
And every move you make
Every bond you break, every step you take
I'll be watching you

Every single day
And every word you say
Every game you play, every night you stay
I'll be watching you

Oh, can't you see
You belong to me?
How my poor heart aches
With every step you take
Every move you make
Every vow you break
Every smile you fake, every claim you stake
I'll be watching you

Since you've gone I've been lost without a trace
I dream at night, I can only see your face
I look around, but it's you I can't replace
I feel so cold, and I long for your embrace
I keep crying baby, baby please,
Oh, can't you see
You belong to me?
How my poor heart aches
With every step you take
Every move you make
Every vow you break
Every smile you fake, every claim you stake
I'll be watching you
Every move you make, every step you take
I'll be watching you
I'll be watching you

Traduzindo ficaria mais ou menos assim:

Cada suspiro que você der,
Cada movimento que você fizer,
Cada vínculo que você romper,
Cada passo que você der,
Eu estarei te observando...

A cada dia,
Cada palavra que você disser,
Cada jogo que você jogar,
Cada noite que você ficar,
Eu estarei te observando

Você não consegue perceber?
Você pertence a mim.
Como meu pobre coração dói
A cada passo que você dá

Cada movimento que você fizer,
Cada promessa que você quebrar,
Cada sorriso que você fingir,
Cada alegação que você arriscar,
Eu estarei te observando

Desde que você partiu, tenho estado perdido sem uma pista.
Eu sonho à noite, só consigo ver seu rosto,
Eu olho ao redor mas é você que não consigo substituir.
Eu sinto tanto frio e eu desejo muito que você me abraçe,
Eu continuo implorando "baby, baby, por favor !"
Você não consegue perceber?
Você pertence a mim.
Como meu pobre coração dói,
A cada suspiro que você dá.

Cada movimento que você fizer,
Cada promessa que você quebrar,
Cada sorriso que você fingir,
Cada alegação que você arriscar
Cada movimento que você fizer,
Cada passo que você der,
Eu estarei te observando.

Discografia

Outlandos d'Amour (1978)
Reggata de Blanc (1979)
Zenyatta Mondatta (1980)
Ghost In The Machine (1981)
Synchronicity (1983)
Every Breath You Take: The Singles (1986)
Message in a Box: The Complete Recordings (1993)
Live! (1995)
Every Breath You Take: The Classics (1995)
Greatest Hits (1998)


 

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