Eles
foram uma dessas bandas que passaram batidas no Brasil mesmo tendo
seu LP Steve McQueen (que no Brasil teve seu nome mudado para
Two Wheels Good seguindo a edição americana) lançado
aqui. Nem "When Love Breaks Down", uma das mais belas
baladas da década de 80, conseguiu emplacar, mostrando
que definitivamente o Brasil é um país singular
em termos de gostos. Mas se aqui o Prefab não emplacou,
na Inglaterra virou mania a ponto dos famosos críticos
ingleses colocarem o disco entre os 100 melhores álbuns
da história. Obviamente, foi uma histeria de momento. Mesmo
assim, Steve McQueen é um dos grandes discos desse grupo
que, injustamente, foi esquecido e jogado para o segundo plano.
Liderados
por Paddy McAloon, o Prefab fez uma série de grandes discos
que valem a pena ser caçados, tendo três títulos
lançados por aqui em CD. Aliás, à época
do lançamento, a Sony relançou Steve McQueen
por aqui com o nome original e a preciosidade ficou mofando nas
prateleiras. Uma boa dica para sair garimpando os saldões
da vida. Perigas achá-lo por inacreditáveis três
reais, se tanto. Um crime, mas quem disse que o crime às
vezes não compensa?
Bem, lá vamos nós
novamente. Atendendo vários pedidos dos meus seis leitores
(sete, eu ganhei mais um!) estou revezando bandas “grandes”
com algumas desconhecidas para tentar chamar um pouco a atenção
de novos internautas. Como já falei do PiL e ainda escreverei
sobre Smiths, Talking Heads e outros que não revelarei
por enquanto, chegou a vez de um grupo considerado menor, pelo
menos abaixo do Equador. Eu me lembro até hoje da primeira
vez que ouvi “When Love Breaks Down”: uma típica
balada oitentista, com aquele tecladão (que alguns achavam
cafona e datado e de fato é), um backing vocal e todo o
charme. Mas passou batido por aí, sabe-se lá o motivo.
Foi mais um disco da série “New Rock Collection”,
da então CBS. Mas classificar o grupo de ser uma banda
romântica é injustiça, embora Paddy McAloon
nunca tenha feito muita força para mudar sua figura.
Patrick
(Paddy) McAloon nasceu em Dulham, Inglaterra, no dia 7 de junho
de 1957. Quando garoto freqüentou a Catholic Seminary College,
em Ushaw. Embora talentoso, era um aluno relapso e que não
sonhava com uma carreira acadêmica. Desde garoto mostrava
talento para compor e tocar guitarra e em 1974 formou sua primeira
banda, Avalon, com mais quatro amigos. A experiência durou
apenas um ano e no ano seguinte entrou para a escola Politécnica
de Newcastle ficando até 1978. Para ganhar algum dinheiro,
trabalhava com seu irmão Martin na garagem de seu pai.
Mesmo assim, a música não foi abandonada e nesse
período forma o Prefab Sprout com seu irmão martin
no baico e Michael Salmon na bateria. O nome fora inventado quando
Paddy tinha apenas 14 anos . “Foi um nome que escolhi ainda
garoto. A idéia era parecer com grupos que tinham nomes
estranhos como o T. Rex, Moby Grape ou Grand Funk Railroad.”
Ao invés de regravar clássicos como fazia com o
Avalon, Paddy começou a trabalhar em material próprio.
No começo de 1980, entra Wendy Smith na banda. Ela era
namorada do guitarrista John Sunter, que tocava no Instant Bop,
grupo amigo e com quem viviam se apresentando conjuntamente.
Dois anos de trabalho duro
e o Prefab Sprout monta seu próprio selo, Candle, lançando
as canções: "Lions in My Own Garden, Exit Someone"
e "Radio Love". Em setembro de 1982, a banda grava "The
Devil Has All the Best Tunes" and "Walk On". Feona
Atwood junta-se a Wendy nos backing vocals. O grupo começa
a fazer sucesso em Newcastle e é convidado por Keith Armstrong,
gerente da cadeia de discos HMV local, para assinar com seu selo,
Kitchenware Records (além de Armstrong, faziam parte Paul
Ludford e Phil Mitchell). Em março de 1983, o compacto
inaugural “Lions.../Radio Garden” é relançado
pela nova gravadora. Em julho Michael deixa a banda e começa
um rodízio imenso de bateristas dentro do Prefab. (Veja
no final da matéria a lista completa). Graham Lant é
chamado para as primeiras gravações de Swoon
álbum de estréia. Em outubro, a Kitchenware relança
o segundo compacto do grupo e agenda alguns shows pela Bretanha,
já com um novo baterista, Daniel James. Além de
Daniel, David Ruffy, Steve Dalder, Louis Connoly revezam durante
as apresentações.
O grupo começa a
conquistar notoriedade e Armstrong leva uma demo para a CBS que
acaba se interessando pelo som do grupo. Acabam assinando um contrato
para oito álbuns, deixando para a Kithcenware a missão
de empresariar o Prefab. A CBS ficaria com a missão de
distribuir os discos. Animados, o grupo volta aos palcos, sendo
banda de abertura para Elvis Costello. Paddy e Elvis acabariam
tornando-se grandes amigos. Em março de 1984, é
lançado Swoon e partem para uma série
de apresentações por toda a Europa.
Com
Kevin Armstrong na guitarra, Michael Graves nos teclados e Neil
Conti na bateria é lançado Steve McQueen.
Para a produção é chamado um jovem talentoso
chamado Thomas Dolby. Por problemas com a família do ator
norte-americano já falecido, a edição nos
Estados Unidos teve o nome mudado para Two Wheels Good,
inspirado no livro 1984 de George Orwell. Além
da mudança do título do disco, a CBS americana quase
não fez força para promover o álbum chegando
ao cúmulo de escrever Prefab Sprouts nos releases.
Mas na Inglaterra o disco
é saudado pela crítica e público como um
dos melhores lançamentos de 1985 e explode nos topos da
parada com o single “When Love Breaks Down”, canção
que mudaria de forma definitiva a imagem de Paddy.
“Após o sucesso,
fui chamado de cantor romântico e apaixonado por bandas
mais folks. Ok, eu gosto de Steely Dan e tenho alguns discos,
mas eu amo muito mais o Led Zeppelin e ninguém nunca me
pergunta sobre isso.”
Paddy explica que tocou
quase todas as guitarras em Steve McQueen, apesar
de ter recrutado Kevin Armstrong para o instrumento: “Eu
costumo tocar porque escrevo as canções. Mas nunca
fico satisfeito com o resultado, pois não sou talentoso
como gostaria. Minha evolução como guitarrista é
muito lenta e limitada. Eu preciso trabalhar muito durante várias
horas quando preciso tocar alguma parte mais elaborada.”
Percebendo
sua limitação, Thomas Dolby resolveu ajudar Paddy:
“Ele percebeu minha dificuldade e foi um bocado complicado
trabalhar com ele. Eu chegava para ele dizendo que tinha a canção
pronta e que apenas deveríamos tocá-la. Ele concordava
comigo, mas dizia que devia melhorá-la, o que era complicado
para mim. E como era um aluno lento no estúdio, tinha enormes
crises de depressão.”
Apesar dos problemas, Paddy
reconhece a importância de Dolby para sua formação:
Thomas era um cara com apenas 26, 27 anos, mas eu o via como se
fosse um Quincy Jones mais jovem. Imagino o que ele poderá
fazer quando chegar aos 60 anos. Ele me ensinou muito sobre o
uso de teclados. Em “Faron Young” tira um lindo som
de banjo de um Farlight. É um cara extremamente habilidoso
com os arranjos. Várias vezes ele sentava ao piano e dizia
que tal arranjo não funcionaria aos teclados e que ficaria
melhor com duas guitarras. Tudo aquilo foi um enorme aprendizado
para mim.”
Além de mexer na
parte instrumental, Thomas mudou o timbre da voz de McAloon nas
canções. Se em Swoon parecia mais
crua, no segundo disco sua voz soou menos soturna, mais alta,
limpa e apaixonante.
O próprio vocalista
confessa que não esperava tamanho sucesso com “When
Love Breaks Down”: “Era uma linda canção
de amor, meio amarga, mas quando ela explodiu nas paradas, fiquei
meio sem entender o motivo. Ok, tinha uma bela melodia, mas não
esperava de forma nenhuma que tomasse tanto vulto.”
Paddy confessa que sempre
gostou muito de outros estilos de músicas, como a clássica
e até a concreta, cujo maior mentor era o alemão
Karlheinz Stockhausen. “Eu cheguei ao cúmulo de mandar
um carta para ele aos 17 anos, quando resolvi ser compositor.
Era uma carta constrangedora. Em um dos trechos eu perguntei se
ele escrevia suas músicas ao piano, como se 'Gesang der
Junglinge' or qualquer outra pudesse ser escrita dessa maneira.
Eu achei o endereço dele de Colônia, em um “Who’s
who” na biblioteca da escola e ainda assinei Patrick McAloor
para que nunca pudesse me reconhecer. Nem imagino o que ele fez
com ela.”
Muitas das canções
do disco foram escritos ainda nos primeiros meses do grupo no
final de década de 70.
“As músicas
que entraram no disco foram escolhidas por Thomas. Eu tinha um
livro com várias delas e não sabia quais escolher,
porque muitas nem sabia mais quando tinham sido feitas. Algumas
eram do tempo em que eu tocava em pubs e não havia mais
sentido nelas. Acabei deixando a missão para ele, já
que todas eram inéditas para Thomas e ele poderia me dar
uma opinião diferente. Foi o que acabou acontencendo. Compor
é muito complicado porque eu sofro muito com os arranjos
e tenho uma forte tendência de fazer coisas muitos elaboradas
e que acabam soando bizarras e por isso acabo descartando várias.
Sei que preciso tentar muito ainda e aprender bastante.”
Sobre
sua fama de poeta, prefere sair pela tangente: “Várias
pessoas me dizem que sou um poeta, mas eu acho que sou uma pessoa
que gosta de montar quebra-cabeças complicados para os
outros decifrarem. São pequenos truques. As palavras precisam
conter emoções. A vida é complicada demais
e acho isso por demais relevante. Isso não significa que
eu vá ficar ditando leis, mas você pode expor sua
opinião. Isso é o mais importante em minha modesta
opinião.”
Elvis Costello acha que
Paddy é um letrista subestimado, assim como a banda. “Paddy
pode não ser o melhor ou mais profundo letrista do mundo,
mas escreve muito melhor do que as pessoas imaginam e toca guitarra
muito bem. Muitas pessoas odeiam o Prefab por acharem que é
uma banda new wave, descartável, com poucas guitarras distorcendo.
Isso é uma visão errada. É um grupo extremamente
inteligente e com arranjos complexos. O fato de algumas canções
ter pouco solos de guitarra não significa que o grupo seja
descartável.”
Além de Thomas,
Phil Thornalley, que tocava com o Cure de Robert Smith participou
da produção. Phil aliás já havia participado
da gravação do álbum de estréia do
duo feminino Strawberry Switchblade. Completam a lista de músicos
convidados o saxofonista Marck Lockheart e os engenheiros Brian
Evans, Andrew Scarth, Chris Sheldon e Tim Hung.
A banda permanece na ativa
até hoje com excelentes discos. Jordan: The Comeback
e Andromeda Heights foram lançados alguns
anos atrás por aqui e podem ser encontrados por aí.
Se conseguir um exemplar, não deixe passar.
Para terminar, deixo a
lista dos bateristas que passaram pela banda, a letra de “When
Love Breaks Down” e a discografia completa. Até mais!
Bateristas que
passaram pelo grupo
Michael Salmon
Graham Lant
Daniel James
Steve Dalder
David Ruffy
Louis Connolly
Neil Conti
Paul Smith
Mark Drapeau
Richie Morales
When Love Breaks
Down
My love and I, we work well together
But often we're apart
Absence makes the heart lose weight, yeah,
Till love breaks down, love breaks down
Oh my, oh my, have you seen the weather
The sweet September rain
Rain on me like no other
Until I drown, until I drown
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
The lies we tell,
They only serve to fool ourselves,
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down,
Love breaks down
My love and I, we are boxing clever
She'll never crowd me out
Fall be free as old confetti
And paint the town, paint the town
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
The lies we tell,
They only serve to fool ourselves,
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
You join the wrecks
Who leave their hearts for easy sex
When love breaks down
When love breaks down
Discografia
Swoon (1984)
Steve McQueen (1985) - nos EUA saiu como Two Wheels Good
Protest Songs (1989)
Jordan: The Comeback (1990)
A Life of Surprises - The Best of Prefab Sprout (1992)
Andromeda Heights (1997)
38 Carat Collection (1999)
The Gunman and Other Stories (2001)
|