64 - Prefab Sprout - Steve McQueen

Eles foram uma dessas bandas que passaram batidas no Brasil mesmo tendo seu LP Steve McQueen (que no Brasil teve seu nome mudado para Two Wheels Good seguindo a edição americana) lançado aqui. Nem "When Love Breaks Down", uma das mais belas baladas da década de 80, conseguiu emplacar, mostrando que definitivamente o Brasil é um país singular em termos de gostos. Mas se aqui o Prefab não emplacou, na Inglaterra virou mania a ponto dos famosos críticos ingleses colocarem o disco entre os 100 melhores álbuns da história. Obviamente, foi uma histeria de momento. Mesmo assim, Steve McQueen é um dos grandes discos desse grupo que, injustamente, foi esquecido e jogado para o segundo plano.




Liderados por Paddy McAloon, o Prefab fez uma série de grandes discos que valem a pena ser caçados, tendo três títulos lançados por aqui em CD. Aliás, à época do lançamento, a Sony relançou Steve McQueen por aqui com o nome original e a preciosidade ficou mofando nas prateleiras. Uma boa dica para sair garimpando os saldões da vida. Perigas achá-lo por inacreditáveis três reais, se tanto. Um crime, mas quem disse que o crime às vezes não compensa?

Bem, lá vamos nós novamente. Atendendo vários pedidos dos meus seis leitores (sete, eu ganhei mais um!) estou revezando bandas “grandes” com algumas desconhecidas para tentar chamar um pouco a atenção de novos internautas. Como já falei do PiL e ainda escreverei sobre Smiths, Talking Heads e outros que não revelarei por enquanto, chegou a vez de um grupo considerado menor, pelo menos abaixo do Equador. Eu me lembro até hoje da primeira vez que ouvi “When Love Breaks Down”: uma típica balada oitentista, com aquele tecladão (que alguns achavam cafona e datado e de fato é), um backing vocal e todo o charme. Mas passou batido por aí, sabe-se lá o motivo. Foi mais um disco da série “New Rock Collection”, da então CBS. Mas classificar o grupo de ser uma banda romântica é injustiça, embora Paddy McAloon nunca tenha feito muita força para mudar sua figura.

Patrick (Paddy) McAloon nasceu em Dulham, Inglaterra, no dia 7 de junho de 1957. Quando garoto freqüentou a Catholic Seminary College, em Ushaw. Embora talentoso, era um aluno relapso e que não sonhava com uma carreira acadêmica. Desde garoto mostrava talento para compor e tocar guitarra e em 1974 formou sua primeira banda, Avalon, com mais quatro amigos. A experiência durou apenas um ano e no ano seguinte entrou para a escola Politécnica de Newcastle ficando até 1978. Para ganhar algum dinheiro, trabalhava com seu irmão Martin na garagem de seu pai. Mesmo assim, a música não foi abandonada e nesse período forma o Prefab Sprout com seu irmão martin no baico e Michael Salmon na bateria. O nome fora inventado quando Paddy tinha apenas 14 anos . “Foi um nome que escolhi ainda garoto. A idéia era parecer com grupos que tinham nomes estranhos como o T. Rex, Moby Grape ou Grand Funk Railroad.” Ao invés de regravar clássicos como fazia com o Avalon, Paddy começou a trabalhar em material próprio. No começo de 1980, entra Wendy Smith na banda. Ela era namorada do guitarrista John Sunter, que tocava no Instant Bop, grupo amigo e com quem viviam se apresentando conjuntamente.

Dois anos de trabalho duro e o Prefab Sprout monta seu próprio selo, Candle, lançando as canções: "Lions in My Own Garden, Exit Someone" e "Radio Love". Em setembro de 1982, a banda grava "The Devil Has All the Best Tunes" and "Walk On". Feona Atwood junta-se a Wendy nos backing vocals. O grupo começa a fazer sucesso em Newcastle e é convidado por Keith Armstrong, gerente da cadeia de discos HMV local, para assinar com seu selo, Kitchenware Records (além de Armstrong, faziam parte Paul Ludford e Phil Mitchell). Em março de 1983, o compacto inaugural “Lions.../Radio Garden” é relançado pela nova gravadora. Em julho Michael deixa a banda e começa um rodízio imenso de bateristas dentro do Prefab. (Veja no final da matéria a lista completa). Graham Lant é chamado para as primeiras gravações de Swoon álbum de estréia. Em outubro, a Kitchenware relança o segundo compacto do grupo e agenda alguns shows pela Bretanha, já com um novo baterista, Daniel James. Além de Daniel, David Ruffy, Steve Dalder, Louis Connoly revezam durante as apresentações.

O grupo começa a conquistar notoriedade e Armstrong leva uma demo para a CBS que acaba se interessando pelo som do grupo. Acabam assinando um contrato para oito álbuns, deixando para a Kithcenware a missão de empresariar o Prefab. A CBS ficaria com a missão de distribuir os discos. Animados, o grupo volta aos palcos, sendo banda de abertura para Elvis Costello. Paddy e Elvis acabariam tornando-se grandes amigos. Em março de 1984, é lançado Swoon e partem para uma série de apresentações por toda a Europa.

Com Kevin Armstrong na guitarra, Michael Graves nos teclados e Neil Conti na bateria é lançado Steve McQueen. Para a produção é chamado um jovem talentoso chamado Thomas Dolby. Por problemas com a família do ator norte-americano já falecido, a edição nos Estados Unidos teve o nome mudado para Two Wheels Good, inspirado no livro 1984 de George Orwell. Além da mudança do título do disco, a CBS americana quase não fez força para promover o álbum chegando ao cúmulo de escrever Prefab Sprouts nos releases.

Mas na Inglaterra o disco é saudado pela crítica e público como um dos melhores lançamentos de 1985 e explode nos topos da parada com o single “When Love Breaks Down”, canção que mudaria de forma definitiva a imagem de Paddy.

“Após o sucesso, fui chamado de cantor romântico e apaixonado por bandas mais folks. Ok, eu gosto de Steely Dan e tenho alguns discos, mas eu amo muito mais o Led Zeppelin e ninguém nunca me pergunta sobre isso.”

Paddy explica que tocou quase todas as guitarras em Steve McQueen, apesar de ter recrutado Kevin Armstrong para o instrumento: “Eu costumo tocar porque escrevo as canções. Mas nunca fico satisfeito com o resultado, pois não sou talentoso como gostaria. Minha evolução como guitarrista é muito lenta e limitada. Eu preciso trabalhar muito durante várias horas quando preciso tocar alguma parte mais elaborada.”

Percebendo sua limitação, Thomas Dolby resolveu ajudar Paddy: “Ele percebeu minha dificuldade e foi um bocado complicado trabalhar com ele. Eu chegava para ele dizendo que tinha a canção pronta e que apenas deveríamos tocá-la. Ele concordava comigo, mas dizia que devia melhorá-la, o que era complicado para mim. E como era um aluno lento no estúdio, tinha enormes crises de depressão.”

Apesar dos problemas, Paddy reconhece a importância de Dolby para sua formação: Thomas era um cara com apenas 26, 27 anos, mas eu o via como se fosse um Quincy Jones mais jovem. Imagino o que ele poderá fazer quando chegar aos 60 anos. Ele me ensinou muito sobre o uso de teclados. Em “Faron Young” tira um lindo som de banjo de um Farlight. É um cara extremamente habilidoso com os arranjos. Várias vezes ele sentava ao piano e dizia que tal arranjo não funcionaria aos teclados e que ficaria melhor com duas guitarras. Tudo aquilo foi um enorme aprendizado para mim.”

Além de mexer na parte instrumental, Thomas mudou o timbre da voz de McAloon nas canções. Se em Swoon parecia mais crua, no segundo disco sua voz soou menos soturna, mais alta, limpa e apaixonante.

O próprio vocalista confessa que não esperava tamanho sucesso com “When Love Breaks Down”: “Era uma linda canção de amor, meio amarga, mas quando ela explodiu nas paradas, fiquei meio sem entender o motivo. Ok, tinha uma bela melodia, mas não esperava de forma nenhuma que tomasse tanto vulto.”

Paddy confessa que sempre gostou muito de outros estilos de músicas, como a clássica e até a concreta, cujo maior mentor era o alemão Karlheinz Stockhausen. “Eu cheguei ao cúmulo de mandar um carta para ele aos 17 anos, quando resolvi ser compositor. Era uma carta constrangedora. Em um dos trechos eu perguntei se ele escrevia suas músicas ao piano, como se 'Gesang der Junglinge' or qualquer outra pudesse ser escrita dessa maneira. Eu achei o endereço dele de Colônia, em um “Who’s who” na biblioteca da escola e ainda assinei Patrick McAloor para que nunca pudesse me reconhecer. Nem imagino o que ele fez com ela.”

Muitas das canções do disco foram escritos ainda nos primeiros meses do grupo no final de década de 70.

“As músicas que entraram no disco foram escolhidas por Thomas. Eu tinha um livro com várias delas e não sabia quais escolher, porque muitas nem sabia mais quando tinham sido feitas. Algumas eram do tempo em que eu tocava em pubs e não havia mais sentido nelas. Acabei deixando a missão para ele, já que todas eram inéditas para Thomas e ele poderia me dar uma opinião diferente. Foi o que acabou acontencendo. Compor é muito complicado porque eu sofro muito com os arranjos e tenho uma forte tendência de fazer coisas muitos elaboradas e que acabam soando bizarras e por isso acabo descartando várias. Sei que preciso tentar muito ainda e aprender bastante.”

Sobre sua fama de poeta, prefere sair pela tangente: “Várias pessoas me dizem que sou um poeta, mas eu acho que sou uma pessoa que gosta de montar quebra-cabeças complicados para os outros decifrarem. São pequenos truques. As palavras precisam conter emoções. A vida é complicada demais e acho isso por demais relevante. Isso não significa que eu vá ficar ditando leis, mas você pode expor sua opinião. Isso é o mais importante em minha modesta opinião.”

Elvis Costello acha que Paddy é um letrista subestimado, assim como a banda. “Paddy pode não ser o melhor ou mais profundo letrista do mundo, mas escreve muito melhor do que as pessoas imaginam e toca guitarra muito bem. Muitas pessoas odeiam o Prefab por acharem que é uma banda new wave, descartável, com poucas guitarras distorcendo. Isso é uma visão errada. É um grupo extremamente inteligente e com arranjos complexos. O fato de algumas canções ter pouco solos de guitarra não significa que o grupo seja descartável.”

Além de Thomas, Phil Thornalley, que tocava com o Cure de Robert Smith participou da produção. Phil aliás já havia participado da gravação do álbum de estréia do duo feminino Strawberry Switchblade. Completam a lista de músicos convidados o saxofonista Marck Lockheart e os engenheiros Brian Evans, Andrew Scarth, Chris Sheldon e Tim Hung.

A banda permanece na ativa até hoje com excelentes discos. Jordan: The Comeback e Andromeda Heights foram lançados alguns anos atrás por aqui e podem ser encontrados por aí. Se conseguir um exemplar, não deixe passar.

Para terminar, deixo a lista dos bateristas que passaram pela banda, a letra de “When Love Breaks Down” e a discografia completa. Até mais!

Bateristas que passaram pelo grupo

Michael Salmon
Graham Lant
Daniel James
Steve Dalder
David Ruffy
Louis Connolly
Neil Conti
Paul Smith
Mark Drapeau
Richie Morales

When Love Breaks Down


My love and I, we work well together
But often we're apart
Absence makes the heart lose weight, yeah,
Till love breaks down, love breaks down
Oh my, oh my, have you seen the weather
The sweet September rain
Rain on me like no other
Until I drown, until I drown
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
The lies we tell,
They only serve to fool ourselves,
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down,
Love breaks down
My love and I, we are boxing clever
She'll never crowd me out
Fall be free as old confetti
And paint the town, paint the town
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
The lies we tell,
They only serve to fool ourselves,
When love breaks down
The things you do
To stop the truth from hurting you
When love breaks down
You join the wrecks
Who leave their hearts for easy sex
When love breaks down
When love breaks down

Discografia

Swoon (1984)
Steve McQueen (1985) - nos EUA saiu como Two Wheels Good
Protest Songs (1989)
Jordan: The Comeback (1990)
A Life of Surprises - The Best of Prefab Sprout (1992)
Andromeda Heights (1997)
38 Carat Collection (1999)
The Gunman and Other Stories (2001)

 

Colunas